Meu nome tem cinco letras - DOIS - (14/18)

Um conto erótico de Gui Real
Categoria: Gay
Contém 1302 palavras
Data: 12/06/2024 10:08:07

T– Olavo

Fui chamado na segunda seguinte para um trabalho extra, remunerado pela outra empresa, eu tinha de auditar contas no asilo, a pedido de Chico e Roger. Enfim... lá fui eu para começar o que deveria levar uma semana no máximo, de manhã vi o volume de trabalho, ia ser mais rápido, estava tudo organizado e em ordem e eu não estava tentando achar fraudes, eu estava tentando ver a viabilidade de manter a empresa em funcionamento ou não, houve três saídas de paciente e quatro óbitos durante o ano, um número alto para a quantidade de usuários da empresa e o alarmante é que não ocorreu um só ingresso nos últimos quinze meses.

Mas nada disso interessa. Educado e mal-humorado, Roger estava puto com o ocorrido na última sexta, ele levou o que seria uma suruba maravilhosa para o mais redondo fiasco. E fez isso de uma forma delicada, ele afastou um cara de seu corpo depois de um beijo e disse que não dava.

Na hora do almoço ele e eu comemos no refeitório com todos os funcionários. Ele me pede desculpas por não estar colaborando com o meu trabalho, eu disse que ele estava sendo muito prestativo, todos estavam.

Ele me leva para conhecer a propriedade e alguns dos internos, as mães de Artur, Jaime e Chico eram amigas e conversaram com ele, disseram que era o filho mais presente, elas entravam e saíam daquela casa como desse vontade e visitavam os filhos sempre que quisessem, mas queriam pouco e tinham medo da pandemia. Nós nos despedimos sem nenhum toque, e então voltamos ao escritório.

Roger disse que não devíamos ter feito o que fizemos na sexta. Ainda mais comigo, eu era muito assustado com esse negócio de perder emprego, quem não seria? Aos quase cinquenta, sem parentes influentes, sem grana para curtir a aposentadoria, gay e com dificuldade de esconder meu jeito afeminado, sério que eu não deveria me preocupar? Ele ri, diz que sou engraçado, depois ele diz que sou uma graça, se ele sorri se eu ia pedir para ele foder minha boca e gozar a vontade nela, mas eu não disse isso, só completei que estava sem namorado e sem paquera a quase dois anos e depois fiz a louça que se arrepende de ter falado demais. Ele concorda que falei demais, mas me pede o favor de desabafar comigo, ai G-zuz, ele podia abafar e desabafar o quanto quisesse. Ele conta da amizade entre Artur, Paulo e ele, casamentos, afastamento, separação, reencontro com Artur, desquite, febre (infecção urinária) os delírios e como acordou apaixonado por Renan. Era para aquele idiota colocar esse sujeito num pedestal e adorar, mas eu estava ali de ouvinte e fazia a linha Freud numa boa.

Roger conta de como se sentiu desprezado por Paulo, que não sente repulsa por ele, bem como não sente nada, só uma indiferença que o incomoda, nada mais, que foi um gesto natural, sem nenhuma mágoa ou vingança. Diz da briga com o marido e de como foi expulso, diz que Artur disse que ele não iria a canto algum, que fariam outro quarto o escambau, mas era a casa dele e acabou. Eu o interrompi e pergunto se é uma impressão ou é mais ou menos como se Artur fosse o chefe do bando, ele diz que é exatamente isso, mas se eu falar isso perto de Artur corro risco de ele quebrar alguns ossos meus e sem escolha de quais ossos ele vai quebrar, fiz sinal de zíper nos lábios. Ele sorriu, contou que dormiu a sexta entre Jaime e Dário (aí que inveja), eu engoli tinha pergunta, ele me olhou e perguntou se eu tinha alguma pergunta, eu disse que não, depois eu disse que era melhor dizer que não, ele concordou comigo, disse que isso o impediria de dizer que fizeram sexo por mais de uma hora, claro, fazendo pequenas pausas, alternando papéis, eu fiquei com o queixo no chão.

Ele disse que os caras estavam tentando amaciar ele e o bocó (palavra dele, juro), disse que nunca perdoará ninguém que o mande ir embora, mas Renan... ele era lindo apaixonado, eu sei que se eu pudesse eu o roubaria pra mim, mas quem pudesse viver aqueles segundos em que ele estava mergulhado na tristeza... Ai, chegava a doer em mim, a vontade de dar uma surra em Renan só para o obrigar a pedir desculpas a Roger, ele contou o quanto queria dizer que o amava, eu afastei meu telefone com um dedo em sua direção, ele disse que tentou, mas ambos se feriram muito, disseram coisas horríveis. Ele disse que estava quase dormindo no colo de Artur, engoli em seco, ele revirou os olhos, Artur e Chico no sábado para o domingo, e Vitor e Mauro na última noite. Eu digo que ele poderia estar sofrendo, mas estava passando muito bem obrigado, ele ri jogando a cabeça pra trás, diz que quando tudo isso passar vai dizer que eu estou sofrendo demais e vivo chorando e rasgando dinheiro, eu rio, posso enlouquecer mas louco e consciente do valor do dinheiro. Ele acaricia meu joelho. Felicidade.

Ele diz que os seis o aconselharam a dar um tempo e esperar a crista de Renan baixar, dar um gelo. O telefone dele toca, é o sortudo e ele vibra antes de atender na minha frente, eu morrendo de inveja, o sorriso doce dele, ele coça o saco, diz que não tem tanto tempo assim para conversar (é?), diz que podia ser, que talvez fosse bom ficar uns dias na casa de hóspedes. Desliga com um eu também, ele comemora diz que Renan disse que estava arrependido e ele disse “eu também”, juro que eu estava feliz por ele, pedi para ele ir embora comemorar na copa, eu tinha de trabalhar, pedi uma fatia de bolo, onde tem velho tem bolo, ele deu um cheiro no meu pescoço antes de sair, corri para o banheiro e segurei meu pau duro por aquele carinho no cangote. Delícia de macho.

Duas horas depois eu estava comendo o segundo pedaço de bolo da tarde, ele apertou a própria barriga, disse ser impossível ficar magro ali, eu disse que ele ia ficar magro, era melhor fechar o asilo, ele levou uma bordoada com isso, pergunta se era certeza, preliminar, uma certeza preliminar.

Ele sai um instante e meu telefone toca, era Vitor, ele me dá uma notícia terrível. Arrumo os papéis por alto, pego minha carteira, chaves, celular, e ele chega. Eu peço pra ele sentar, digo que nem sei como dizer, digo que vou ser direto, digo que Renan foi barroado por uma moto de entrega de comida, estava no hospital, Vitor disse para ir primeiro para casa e não disse qual era o hospital, ele ficou estático, chamei um Uber.

Ele me pergunta no carro se Renan estava bem, digo que era uma moto, não um caminhão, tínhamos de achar que sim, ele segurou minha mão como quem quer pegar apoio e um pouco de boas energias. Mas eu sabia que Renan havia sido esfaqueado várias vezes enquanto tentava entrar no carro, não roubaram nada, nem o carro, nem celular, nada. Mataram e foram embora rindo, dois adolescentes de cara limpa, sem tentar disfarçar a autoria do crime. Passamos pelo local onde aconteceu, uma quadra depois de nosso trabalho, tento não olhar para ele não pegar, mas ele chorava rezando e olhando para o outro lado.

Eu o deixo com Vitor, digo a meu chefe o que menti, Vitor respira fundo e diz que foi rápido, ele não sofreu muito, Artur estava resolvendo tudo, Mauro aparece com olhos inchados e urrando de dor, tento ir saindo a francesa, mas ele não solta minha mão e eu vejo aquele abraço no luto.

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