Que mês louco foi esse? Foi uma correria atrás da outra, provas e mais provas pra aplicar, minha irmã que me mandava mensagem a cada uma hora perguntando se eu tô bem e o sumiço do Eric da escola e nada de aparecer no meu apartamento de surpresa... o que será que tava acontecendo? Eu mandei várias mensagens pra ele do meu número alternativo, só visualizou e não respondeu. Por um instante, temi o pior: será que aconteceu alguma coisa com ele? Será que o irmão maluco dele apareceu e... espera... acho que eu tô ficando paranoico de novo... na hora do intervalo, ainda estava na sala de aula do 3º ano, quando o Gustavo, meu aluno safadinho se aproximou da minha mesa, todo saliente, dizendo: “e aí, profi... beleza? O senhor tá legal? Tô lhe achando meio estranho... sei de uma coisa que pode animar rapidinho...” disse isso pegando na pica dele que já estava crescendo dentro do uniforme... eu tinha esquecido da ousadia dele, mas eu não estava com cabeça pra aquilo, aliás, eu não sentia mais desejo nenhum na rola de outra pessoa que não fosse a do Eric, parece que realmente as coisas estavam tomando um outro rumo. Eu apenas respondi: “Gustavo, estamos na sala de aula, não posso te dar esse tipo de atenção...” Ele me olhou com um semblante desapontado e retrucou: “tô ligado, profi... mais tarde passo lá no seu apê, de boa?” Até parece que eu ia dar esse mole pra ele, então inventei uma desculpa: “olha, não vai dar não, desculpa, é que minha irmã está hospedada na minha casa e ela é do tipo superconservadora e não ia gostar nada disso...” Ele arregalou os olhos, percebi que a rolona dele estava diminuindo, o que fez com que ele se afastasse chateado... a Nina conservadora? Até parece! Ela está dando uma mega força pra que eu e o Eric fiquemos juntos e o nosso grupo está diariamente atualizado, então...
Saí da escola mais cedo e resolvi dar uma passada do mercado para comprar algumas coisas lá pra casa, afinal, toda essa ansiedade está me dando a maior larica e eu me pesei outro dia e adivinhem... engordei 2 quilos! Sempre odiei essa tendência a engordar. Enquanto passava pela sessão de laticínios, esbarrei sem querer em um rapaz, pedi desculpas é claro, mas depois de reparar bem, notei uma semelhança muito esquisita, então, peguei meu celular do bolso, entrei no nosso grupo e... ERA O ERNANDO em quem eu tinha esbarrado! Não creio! Com tantas pessoas no mundo eu tinha que ter dado de cara logo com esse lunático! Meu sangue congelou instantaneamente, e tudo o que eu pensava era em sair dali o mais rápido possível, mas ainda precisava terminar de pegar duas caixas de leite integral, o que me deixou ainda mais apressado pra sair daquele lugar... o que aquele palhaço estava fazendo justamente naquele supermercado? E tão perto do meu apartamento... o que me conforta nisso tudo é que ele não sabe que a pessoa que mudou o Eric sou eu, ou então eu já seria carne morta... assim que cheguei no caixa, dei logo uma sondada e não o vi, o que fez parecer que ele já tinha ido indo embora, mas... de repente, alguém fala no meu ouvido: “aê, mano, pode me passar esse maço de cigarro?” Era ele! Nessa hora eu travei, parecia que minha alma ia sair do corpo, então, não resolvi falar nada, apenas peguei o cigarro e joguei na cestinha dele sem olhar pra trás, não passava sinal de wi-fi pra vocês terem uma ideia. Assim que chegou minha vez, fiquei torcendo pra a moça do caixa passar logo as compras e depois de pagar, peguei a sacola com tanta rapidez que a moça achava que eu era maluco, enfim, saí mais do que depressa daquele lugar antes que eu tivesse um treco, eu ia andando rápido pelas ruas da cidade, até chegar no meu apartamento, trancar a porta e as trancas extras que eu tinha colocado, deixei as compras em cima da mesa, entrei no grupo e mandei mensagem:
Newuser_016: Gente! Alguém aí?
HNina: Oi, hermano! Tudo bem? Como foi no trabalho?
Newuser_016: Não muito, você não sabe o que aconteceu... ainda tô tremendo! Cadê o Eric? teve notícias dele?
HNina: @EVasques_M donde estás? Você tá aí, compadre?
Newuser_016: Ele não deu sinal de vida o dia todo, hermana! Tô preocupado! Ele não falou com você?
HNina: Não, não falou...
Newuser_016: Que merda! Aconteceu alguma coisa, só pode...
HNina: Calma, Emerson! Agora me fala o que aconteceu, tô curiosa...
Newuser_016: EU VI O ERNANDO HOJE NO MERCADO!
HNina: Puta madre! Você tem certeza? Não se confundiu, hermano?
Newuser_016: Nina, eu vi a foto que o Eric mandou e comparei, era ele! E eu nunca esqueço um rosto! Era aquele cabron de mierda! E ele é enorme mesmo! Uma montanha! Eu tive tanto medo, hermana! Eu ainda tô em choque...
HNina: Respira! Se acalma! Você quer que eu passe aí com usted?
Newuser_016: Não, Nina, não precisa, eu já tô bem, só estou preocupado com o Eric... não quero pensar no pior...
HNina: Você sabe que o Eric sabe lidar com os problemas, recuerdate? Ele deve tá ocupado com alguma coisa, e ele não mandou mensagem e nem te procurou porque quer te poupar... já pensou nisso?
Newuser_016: Eu sei, hermana... mas depois daquele olho roxo dele eu penso que ele é só um ser humano, ele não é invencível...
HNina: Tem razão, mas não esquenta a cabeça... come alguma coisa, bebe alguma coisa, sei lá...
Newuser_016: Beber? Ainda tá no meio da semana, maluca! Segura a onda!
HNina: kkkkkkkkkk. Ta bien... amanhã a gente se fala! Besos, hermano!
Newuser_016: Beijos... te amo...
Apesar de conversar com a Nina, ainda precisava saber o que aconteceu com o Eric, eu sei que não se passaram nem 24 horas desde o sumiço dele, mas eu realmente estava atribulado, com saudades do meu homem e pensando em como vaporizar aquele imbecil da face da Terra! Eu realmente estava irritado com aquele cara... depois de passar duas horas de butuca no celular, desisti e fui comer alguma coisa, preparei um macarrão instantâneo e comi com um copo d’água, apesar de não estar com fome, precisava colocar um pouco de comida pra dentro. Fui me deitar ainda não eram nem 22h, eu realmente não estava com cabeça pra nada, só queria dormir e esquecer de tudo. Adormeci...
Acordei sobressaltado com a porta batendo com força, parecia que alguém queria arrombar, ainda estava tonto quando levantei da cama, olhei no celular e eram 2h:45min da madrugada, meu primeiro pensamento foi achar que era o Ernando que descobriu tudo, e se ele já sabia? Ele me viu no mercado! Ele descobriu onde eu moro? Ele me seguiu? Meu Deus! É o meu fim! Eu ligo pra polícia? Meus pensamentos foram interrompidos com a batida cada vez mais intensa, então corri e olhei no olho mágico e era ele, o meu professor, o Eric! Olhei bem no rosto só pra confirmar e então abri a porta. Ele estava com o rosto sangrando, mal se aguentava em pé, ele estava com um envelope na mão, ele me olhou e disse baixinho: “me... ajuda...” Na hora me abaixei e perguntei nervoso: “Eric, meu Deus! O que aconteceu?” Ele me abraçou forte e eu o trouxe pra dentro, ele mal conseguia andar, então eu tive que arrastá-lo com o maior esforço até chegar no carpete... ele estava com o nariz sangrando, parecia um soco na cara, então ele me disse: “desculpa... aparecer aqui a essa hora, Emerson...” Eu estava tão aflito que eu disse: “que desculpar o quê, seu doido? Você ficou o dia inteiro sem dar sinal de vida, eu morrendo de preocupação e agora você aparece desse jeito... faz ideia do que eu passei? Eu tive medo, achei que tinha perdido você, Eric...” Eu o abracei novamente e pude sentir que ele estava quebrado emocionalmente, sem contar o sangue que agora estava na minha camisa bege. Corri e peguei um pano estéril molhado e comecei a limpar cuidadosamente seu rosto, até que ele me impediu e disse: “já tá bom, baby... obrigado... eu quase não consigo chegar aqui, mas olha...”, disse ele me entregando o tal envelope com alguma coisa dentro... abri e vi: era o divórcio dele com a Natália! Eu olhei as assinaturas e era oficial! Tinha a assinatura do tabelião do cartório e tudo o mais. Só então a ficha caiu: Eric era um homem livre, mas... e os ferimentos? Não contei tempo e perguntei: “amor, e esse machucado? Foi ele, não, foi? O Ernando?” Com um pouco de dor ele respondeu: “sim! Ele descobriu que o divórcio saiu ontem a tarde e fingiu que queria conversar comigo, mas na verdade ele fez... isso...” e mostrou o seu ombro e tinha duas marcas que pareciam ser queimaduras... na hora eu indaguei: “o que foi isso?” Eric respondeu: “ele apagou um cigarro no meu ombro, aquele desgraçado! Ele tirou um do maço e fez isso...” Um flashback na minha cabeça me fez lembrar de ontem a tarde quando o encontrei no mercado e ele me pediu... cigarros! Foi com eles que ele queimou o Eric! Que filho da puta!!! Eric achou estranho minha reação e perguntou: “tá muito ruim, amor?” Na hora eu me desconstruí e disse: “não muito... precisamos cuidar dos seus ferimentos!” Ele olhou ao redor e parecia procurar alguma coisa: “pode me dar um copo de água?” Levantei e corri pra geladeira e levei logo a garrafa inteira, levei e ele bebeu como se tivesse passado uma temporada no deserto! Coitado, ele estava mesmo desidratado... eu sabia cuidar bem do meu homem... Olhei pras roupas dele e disse: “você precisa de um banho, Eric... pode se mover?” Ele olhou pra mim e assentiu com a cabeça, então, lá ia eu fazendo o maior esforço do mundo pra ajudar a levantar aquele homem que pesava uns 120 quilos de massa muscular, mesmo machucado o Eric nunca perdia o seu brilho, a sua beleza máscula jamais perdia o efeito, eu ficava cada vez mais intrigado com tudo aquilo, seus gemidos de dor invadiam o corredor vazio do meu apartamento, e por fim, conseguimos chegar no meu banheiro, ele estava com uma expressão dividida, um misto de sorriso com um pouco de raiva e dor, o que fazia com eu sentisse ainda mais ódio daquele psicopata.
Com muito esforço, consegui tirar sua camisa, era de cor verde escura, estava manchada de sangue misturada com cheiro do seu perfume, pendurei no cabide atrás do boxe, depois o esforço maior foi tirar sua calça jeans, era de cor escura e estava realmente colada ao seu corpo, então fiz com que ele se equilibrasse em cima de mim, e depois de 5 minutos e suando, consegui tirar sua calça deixando ele só de cueca no meu boxe, que era de cor cinza... ele olhava pra mim sorrindo e eu sorria de volta, cheguei mais perto dele, liguei o chuveiro e a água começou a rolar sobre o seu corpo escultural, e o sangue escorria junto, e eu estava colado ao seu corpo e comecei a chorar, ele ao perceber a minha ação, começou a chorar também... entre soluços eu dizia: “eu tô aqui, meu amor, você não vai mais ficar sozinho, eu prometo... me abraça forte...” Ele obedeceu e me segurou e parecia que o mundo lá fora não existia mais, somente nós dois ali, nosso mundo particular... eu peguei meu shampoo e comecei a jogar na sua cabeça, instruindo: “fecha os olhos...” então comecei a fazer espuma, descendo pelo seu pescoço para seu tórax, eu comecei a massagear lentamente, ouvindo seu gemido de alívio, seu tanquinho estava mais relaxado, lavei seus braçosmenquanto eu via a espuma descendo pela sua cueca... eu olhei no seus olhos e perguntei: “posso?” Ele disse serenamente: “sempre...” Devagar fui tirando sua cueca, seu colosso adormecido até que se animou um pouco, estava ficando meia bomba na minha mão enquanto eu o ensaboava com cautela, tirando um pouco de sebo que estava na sua cabeçona, parece que ele não tinha lavado direito nesse dia, o que não me permitiu críticas a essa altura, só Deus sabe o que ele passou nessas últimas horas, então, fiz todo o trabalho higienizando ele, depois que o enxaguei, desliguei o chuveiro, as gotas pararam de cair sobre o seu cabelo preto macio, seus olhos estavam brilhando agora, seus lábios buscavam os meus, então nos beijamos ali mesmo por alguns minutos, até que ele disse: “preciso me deitar...” O conduzi para fora do banheiro, ele já conseguia andar mais ou menos sozinho, mas eu sempre estava ali sem deixá-lo cair. Levei ele pro meu quarto, peguei uma toalha limpa e o enxuguei bem devagar e depois ele se sentou na cama e eu tratei dos seus ferimentos com meu kit de primeiros socorros. Enquanto limpava seu nariz com cuidado, ele segurou minha outra mão com força, como se precisasse de proteção e era pra isso que eu estava ali, para protegê-lo, não importava o que fosse acontecer depois, mesmo se o Ernando aparece naquele momento, eu faria de tudo pra impedir que ele fizesse mal a mais alguém com quem realmente me importava, e viraria um bicho se fosse preciso e o pau ia comer!
Depois de colocar o curativo, ele se deitou na cama, e eu aproveitei pra ficar do seu lado, seus braços agora relaxados me abraçaram forte, e eu disse baixinho: “você tá seguro aqui, baby... eu vou te proteger, Eric... agora você tem alguém pra confiar de verdade... agora dorme... eu tô aqui com você...” E dormimos ali, pela primeira vez juntos como um casal, pois, segundo aquele pedaço de papel timbrado, Eric estava livre da mulher, da ex-mulher, mas ainda tínhamos um problema para enfrentar: seu irmão violento, o Ernando, que a essa altura estava procurando pelo irmão feito um cão, eu estava louco pra saber a história toda pelo Eric assim que ele acordasse, mas agora eu só queria que ele dormisse, afinal, ele estava moído... minha mão segurou levemente seu rolão, enquanto a outra ficou perto do seu peito, só assim consegui dormi bem.
Acordei com o celular tocando, a princípio pensei que fosse o despertador, mas quando peguei meu celular na mesa de cabeceira, e vi que estavam ligando pra mim, eram duas ligações perdidas da Nina, olhei no relógio e eram 9h:30min, então já era hora de acordar, menos o Eric, que ainda dormia como uma pedra, no caso dele uma montanha adormecida sobre minha cama, o que me permitia admirar todo aquele pedaço de homem... fiquei assim por uns 20 minutos, até que a minha barriga começou a roncar, então, com cuidado fui saindo da cama, entrei na cozinha e fiz um café, olhei para o depósito e vi que não tinha pão, mas eu não ia ter coragem de sair e deixar sozinho, ainda mais depois de ontem, então, não arredei o pé dali, aproveitei que eu tinha comprado pão de forma integral e preparei seis sanduiches com duas canecas, uma com café com leite pra mim e a outra com café puro pro Eric. Levei tudo na bandeja até o quarto e tentei acordar o Eric pra comer comigo... nas primeiras duas tentativas ele nem se mexeu, então, decidir deixar ele acordar por conta própria, então comecei a comer meus dois sanduiches e, quando estava no final, ele abriu os olhos, olhou em volta e me viu com a boca cheia de pão. Na hora eu engoli e disse: “bom dia, meu lindo. Está melhor?” Ele se espreguiçou, tirou o lençol de cima e tinha esquecido de que ele estava pelado, seu pau gigante estava totalmente a mostra, o que ele fez questão de exibir enquanto sorria. De repente ouvi um grito atrás de mim! Na hora quase eu desmaiei de susto, olhei pra trás e era a Nina! Ela tinha visto o Eric totalmente nu sem querer, e ele, coitado, pegou o travesseiro pra cobrir as partes intimas totalmente morto de vergonha! Nina ao me ver disse: “Dios mío de mi corazón! Me desculpa mesmo, Eric! E-eu não sabia que usted... gente, que constrangedor...” Eu fiquei vermelho de vergonha também, ao que eu disse assustado: “Nina, sua maluca! Como entrou aqui? E chega de surpresa! E se a gente tivesse...” Ela interrompeu na mesma hora: “no, no, no! Nem fala, eu já entendi... lo siento!” Eric ainda assustado perguntou: “Como conseguiu entrar aqui, menina?” Nina, olhou pra gente e tirou algo da bolsa exclamando: “Eu tenho uma chave mestra, rapazes! Sou uma garota preparada!” Eu tinha esquecido que a Nina tinha feito curso de detetive e que conseguiu essa geringonça destruidora de privacidade alheia... ainda em choque respondi: “não podia esperar eu te ligar?” Ela me olhou dos pés a cabeça e disse: “bueno, hermano, como você não retornou minhas ligações, fiquei preocupada e resolvi dar um pulo aqui, ainda mais depois do que você viu ontem, eu fiquei preocupada, né...” Eric olhou pra gente, curioso e perguntou: “viu o que? O que você viu, Emerson?” Eu estava fazendo um esforço pra esquecer aquilo, mas me sentei do lado do Eric na cama e disse: “Eu vi o Ernando no mercado onde eu faço compras... eu esbarrei nele sem querer e depois que eu comparei com aquela foto, constatei o óbvio... era ele... Eric, eu fiquei com muito medo, ele tem uma energia muito negativa, eu confesso que eu quase desmaiei...” Eric estava boquiaberto com o meu relato, então, ele abraçou ao lado da cama dizendo: “ele está sondando, está rastreando pra saber quem é a tal mulher... isso foi antes do nosso encontro...” Nina ouvindo tudo indagou: “foi ele quem fez isso com você, não foi?” Ele confirmou junto comigo: “Sim!” Nina respondeu assustada: “puta madre! Seu nariz tá bem inchado...” Eric afirmou com um tom de deboche: “precisa ver como ele tá agora...” Eu voltei minha atenção pra esse papo dele, como ele tinha reagido a tudo aquilo? Será que o porradão foi grande? Ele deve ter detonado o cara! Bem feito! Aproveitado a oportunidade, oferecei pro Eric os sanduiches e o café preto dele: “amor, você precisa comer um pouco...” Enquanto isso, me aproximei de Nina abraçando-a, enquanto ela dizia: “lo siento, hermano y Eric... eu tive um mal pressentimento ontem de noite, por isso liguei pra você, Emerson, e eu estava certa, como sempre... qual o plano agora?” Saiu na hora: “homicídio!” Eric arregalou os olhos e Nina bateu no meu braço me repreendendo: “Credo, Emerson, assim também não!” Eu queria mesmo trucidar aquele nojento, ele era a última coisa entre mim e a minha felicidade, claro que eu não ia matá-lo, apesar de dele merecer, mas eu precisava fazer algo e como o Concílio de Trento estava ali reunido no meu quarto, precisávamos bolar um plano estratégico para tirar o Ernando de circulação sem infringir a lei, o tempo estava passando.
Concordamos e não nos movermos um centímetro fora daquele apartamento até o Eric ficar totalmente recuperado, ainda era quinta-feira e mesmo que quiséssemos faltar aula não poderíamos, então Nina sugeriu que eu fosse pra escola enquanto ela ficaria fazendo companhia pro Eric, o que eu achei um pouco de exagero, tendo em vista que ela tem marido: “Mas, hermana, e o Julian? Ele não vai achar estranho você ficar fora o dia todo?” Ela revirou os olhos e disse: “Imagina, ele sentir minha falta, ele vive em reuniões de negócios, mas eu sei que ele se preocupa comigo, mas relaxa, hermano, se ele ligar eu digo que estou em uma missão, ele sabe que quando me empenho em alguna cosa eu vou até o fim...” Sendo assim, cuidamos logo de preparar o almoço, Nina fez um frango assado com batatas coradas, arroz e macarrão pra acompanhar, nos sentamos os três à mesa e comemos. Eu pude ver o Eric se alimentando bem, ele estava realmente fazendo o maior esforço, e a cada mordida na coxa de frango ele sorria pra mim e eu recostava minha cabeça em seu ombro, o lado que não estava queimado, claro, pois o outro estava com uma pomada que eu havia passado mais cedo. Nina via como nós dois éramos felizes, aquele momento tão simples mas especial, e eu pude notar uma pequena lágrima cair de seu olho direito, que ela limpou rapidamente, mas Eric, ao ver essa cena disse: “Tá chorando, guria?” Ela olhou pra ele com um sorriso bobo e respondeu: “no, compadre, caiu um cisco no meu olho...” Nos entreolhamos risonhos com um ar de “cisco... sei...”, então ela não conseguiu esconder e disse chorosa: “oh, gente... é que é tão lindo ver vocês dois assim, juntinhos almoçando, essa troca de olhares... eu realmente torcia pro Emerson encontrar alguém com quem pudesse contar e dividir a vida e eu espero, Eric, que esse homem seja mesmo usted, senão já sabe, né?” Eric deu uma risadinha e respondeu: “Sim, senhora, capitã!”
Então, me arrumei, peguei minha mochila e saí, ciente de que Nina estaria lá tomando conta do Eric, mas as quatro horas naquela escola pareciam uma eternidade, sinceramente, mas o trabalho também é importante, tendo em vista que o diretor Hermínio está muito atarefado e descontando sua frustração nos professores, como se a gente tivesse culpa... enfim, mais essa ainda, e pra completar, todo mundo perguntando pelo Eric, já que ele tinha prova prática pra aplicar no 2º ano, algo que normalmente ele não deixaria de fazer, mas, devida a sua condição atual, ele não conseguiria chutar uma bola nem se quisesse. Durante o intervalo, peguei meu celular para ver se tinha alguma mensagem do nosso grupo e realmente tinha:
HNina: Emerson? Estás bien, hermano?
HNina: Tá em aula?
HNina: RESPONDE!
Newuser_016: Oi, Nina. Eu estava em aula sim, e o Eric, como está?
HNina: Ele está melhor, hermano, estamos assistindo um filme cabeça! Ele odiou A Sociedade dos Poetas Mortos! Kkkkkkkkkk! Não entendeu nada!
EVasques_M: Ei, eu tô aqui vendo tudo, hein.... kkkkkkkkkkkkk
Newuser_016: Sério que ela te fez assistir esse filme? Sinto pena de você, amor! Kkkkkkkkkk...
EVasques_M: Quantos tempos você ainda tem?
Newuser_016: Só mais um, depois vou dar um jeito de sair de fininho pra encontrar vocês logo... tô morrendo de saudades...
HNina: Nossotros También... Se cuida por aí, professor...
Newuser_016: Tá bom, hermana, preciso voltar, o intervalo acabou.
EVasques_M: Vai lá, baby. Beijos...
HNina: Boa aula, maninho!
Newuser_016: Valeu, gente...
O quarto tempo foi até mais tranquilo, já que eu só precisava corrigir uma atividade da aula anterior e ainda tinha uns três alunos que estavam enrolando pra terminar, então, tive que usar o horário pra fechar essa parte... se eles acham que podem deixar pra fazer a atividade em cima da hora de qualquer jeito, é melhor pensarem direito! Não tolero irresponsabilidade por parte dos meus alunos. Assim que o sino tocou novamente, arrumei meu material e saí da sala com o passo largo, louco pra chegar em casa e cuidar do meu homem, mas quando ia saindo, a professora Suzana me abordou: “Ué, professor Emerson, já está indo embora? Não está sabendo da reunião?” Que droga! Mais uma reunião chata pra não resolver porra nenhuma! E eu não podia dar nenhuma desculpa, já que justamente a professora mais fofoqueira da escola tinha me parado, então, o jeito foi voltar. Depois de 10 minutos de atraso, a reunião começou, claro que a ausência do Eric foi sentida, mas não disse uma palavra, já que pra todos os efeitos eu não sabia da vida dele, tampouco o motivo da falta naquele dia. Enfim, depois daquela chatice, finalmente pude sair dali e ir direto pra casa. Enquanto andava pelas ruas, olhava sempre para os lados, pra me certificar de que não tinha ninguém me seguindo, mesmo sabendo da baixa probabilidade de ser identificado, todo cuidado era pouco. Entrei em casa e não tinha ninguém na sala. Achei estranho, tipo, por que eles estariam no quarto a sós? Eu sei que a minha irmã não teria coragem de... enfim, não tenho nem imaginação pra isso, então, resolvi averiguar logo de uma vez. Entrei no quarto e o Eric estava sozinho, nenhum sinal da Nina, me aproximei dele, ele estava vestindo uma bermuda azul folgada e uma camiseta branca. Cheguei mais perto dele e beijei seus lábios, o que fez ele abrir os olhos espantado e ao me ver eu disse: “calma, sou eu, seu bobo...” Não sei se ele estava sonhando ou coisa parecida. Contei pra ele da reunião de hoje e como foi meu dia na escola sem ele, nos abraçamos, transamos um pouco e depois ficamos pensando no que fazer... foi quando eu lembrei e perguntei: “Eric, cadê a Nina?” Ele respondeu confuso: “não, sei, amor, ela disse que ia no mercado rapidinho mas até agora não voltou...” Na mesma hora perguntei: “faz quanto tempo que ela saiu?” Ele disse coçando a cabeça: “tá quase com uma hora...” Que esquisito! Ela não se atrasaria tanto assim pra uma comprinha, será que o Julian chamou ela pra algum programa? Ficamos então sentados na beira da cama, pensando onde ela estaria, então liguei pro celular dela, mas só dava caixa postal, ela estava offline no WhatsApp, então, não tinha como falar com ela... o jeito foi esperar ela dar as caras. Passado uns minutos, o celular do Eric tocou, ele apanhou do bolso da bermuda e... uma chamada de vídeo do irmão dele! Na certa queria saber onde ele estava, mas... por que uma chamada de vídeo? Ele me instruiu a sair de perto pra evitar que me visse, apertou no botão de chamar e... apareceu o dito cujo, e atrás dele gritos abafados de alguém... quando ele olhou pra ver quem era... Era a minha irmã! Eric quase caiu pra trás... e estava desesperado, quando de repente, ele disse: “é isso aí, mano, eu descobri a vagabunda que tava virando tua cabeça! Essa garota aqui, ó! Vem me encontrar pra gente bater um bapo senão ela vai sentir a pressão do pai aqui! Não vacila comigo não, vou te mandar as coordenadas por mensagem, e nem mete o louco de trazer polícia senão eu mato ela!” E desligou... eu caí em prantos, aquele filho da puta sequestrou minha irmã e agora eu não ia deixar barato... Eric tentava a todo custo me acalmar, mas eu não conseguia nem respirar de tão aflito que eu estava! E se ele machucasse a Nina? Eu jamais ia me perdoar. Eric disse com raiva: “agora aquele desgraçado passou dos limites! Eu vou até lá agora, dessa vez ele morre!” Ao ouvir isso, abracei ele com medo e disse: “não, Eric, você não pode ir sozinho... eu vou dar um jeito nisso, mas se acalma...” imediatamente peguei meu telefone e liguei pra uma pessoa... Agora a guerra estava prestes a ser deflagrada! Esse Ernando vai ver o que é bom pra tosse!
CONTINUA...