• AO SOM DA VITROLA ~ Capítulo 6 [Parte 3/4]

Um conto erótico de Sativo
Categoria: Heterossexual
Contém 5035 palavras
Data: 21/07/2024 13:02:58
Última revisão: 30/10/2024 22:16:39

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• Capítulo 6.3 ~ [Diário 2: João] LIVRE PARA ME AMAR

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Dayana não era uma garota qualquer. Dessas que jamais passa despercebida em nossas vidas. Sua presença é forte, assim como sua personalidade. Ela sempre inspirava leveza e, ao mesmo tempo, uma segurança incomum. Conhecer Dayana foi como um sonho para mim. Um sonho desses que a gente deseja nunca acordar ou revivê-lo todas as noites.

Nós estudamos na mesma escola durante o ensino médio, só que em séries diferentes. Desde que vi a Dayana pela primeira vez, senti-me fisgado por ela. Por outro lado, ela costumava ter vários namorados e todos eles a cultuavam como uma Deusa. Ela conseguia fazer com que todo garoto a venerasse apenas com uma simples conversa. Qualquer garoto que a conhecesse, ou que a beijasse, ou passasse no mínimo algum tempo de qualidade com Dayana dizia em uníssono a mesma coisa: A Dayana é mesmo incrível!

Nós também morávamos no mesmo bairro — inclusive moramos até hoje. Apesar disso, demorei muito a chegar nela para conversar. Sempre imaginei que, por viver sempre rodeada de pessoas a admirando e venerando, ela só me enxergaria como mais um no meio da multidão. De tanto pensar em como parecer especial para Dayana, acabei desistindo e perdendo o interesse por um tempo. Quase nunca interagimos, limitei-me à súbitos cumprimentos quando acabava cruzando o seu caminho pelas ruas do bairro. Falo com certeza que nem meu nome ela sabia nesse tempo.

As coisas entre nós ficaram assim por alguns anos, eu a avistava tão pouco e tinha tão poucas notícias suas que acabei desencanando daquilo e a obsessão que um dia tive por ela foi sumindo pouco a pouco. Foi nesse momento que eu soube do falecimento da mãe de Dayana através do Guilherme, amigo nosso que hoje é fotógrafo na agência que a Dayana trabalha. Não sei exatamente o porquê, mas achei por bem prestar alguma solidariedade e decidi ir vê-la no funeral. Apesar da pouquíssima intimidade que tínhamos um com o outro, minha decisão de ir vê-la partia de um sentimento sincero de empatia e respeito.

Resolvi falar com ela só depois de finalizado o funeral, quando ela já houvesse chorado quase tudo que tivesse para chorar e pudesse controlar melhor as emoções. Seria horrível se eu aparece em algum momento aleatório, durante o ápice de sua tristeza. Então fiquei toda a cerimônia no meu canto, passando quase despercebido até poder ir cumprimentá-la no fim.

Dayana estava se despedindo de alguns familiares da sua mãe quando me apresentei para mostrar minha solidariedade. Ela pareceu bem surpresa e não era pra menos, éramos apenas conhecidos mas não nos conhecíamos.

— Oi, Dayana! — iniciei a conversa com certo nervosismo.

— Olá... — ela estendeu a pronuncia do "olá" como se puxasse na memória o meu nome.

— Perdão. Chamo-me João. Moramos no mesmo bairro, lembras?

— Oh, João. Claro! Lembrei de você, mas não do seu nome. Mil desculpas!

— Relaxa, é que a gente nunca conversou antes mesmo... — eu estava meio nervoso e tentava ser cuidadoso com as palavras — Apesar disso, soube da sua mãe e achei que deveria vir te expressar minhas sinceras condolências.

— Poxa, João. Sinto-me grata por isso. Eu a amava muito.

Reparei que nenhuma das amizades de Dayana do tempo de escola passaram lá para lhe dar um abraço ou desejar algum conforto, com exceção de Estela, uma ex-namorada do ensino médio com quem ela construiu um laço saudável mesmo depois do término. Estela foi a única daquela fase de sua vida que, mesmo não tendo a mesma convivência com Dayana depois do fim do namoro delas, nunca a deixou sozinha em momentos difíceis. Todo o resto do pessoal da escola eu julguei como um bando sanguessugas que só queriam sugar toda aquela energia que emanava de Dayana. E falando em sua energia, mesmo naquele momento de tristeza onde Dayana se apresentava com pouca vivacidade, só de estar tão perto dela senti o seu forte poder de atração e comecei a me lembrar do quanto eu era obcecado por ela anos atrás. Mas já era hora de ir.

— Bem, Dayana, agora preciso ir. Espero que tenhas o conforto necessário para enfrentar esse momento de luto. Cuida-te bem!

— Muito obrigada, João. Qualquer dia desses nos veremos de novo, de preferência em uma ocasião melhor.

— Aah... sim... claro! — falei de maneira atrapalhada.

— Então até outro dia, João!

— Até!

Dayana conseguia ser perfeita em cada palavra que saía de sua boca, em cada expressão de seu rosto e em cada gesto de seu corpo. Ela era dotada de leveza e um ar misterioso que me atraía como um ímã. Agora eu me lembrava outra vez de tudo isso. Quando ela falou que nos veríamos outra vez, soou como um grande passo para mim. Por dentro, eu vibrava de ansiedade. Enfim, em um momento mais propício eu desfrutaria da sua atraente companhia e poderia saber um pouco mais sobre os mistérios de sua vida. Mas, por enquanto, ela passaria os próximos dias vivendo o pior luto da sua existência e eu adoraria poder ajudar com algo, mas não havia muito que eu pudesse fazer sobre aquilo.

* * *

Duas semanas depois do falecimento de sua mãe, para minha total tristeza, Dayana mudou-se para a casa de uma tia dela que morava em outra cidade. Dias depois, andando pelo bairro, avistei a Estela por acaso, perguntei-a sobre Dayana e ela me disse que sua ex amante ficaria com a tia por um tempo indeterminado, afinal Dayana precisava de algum suporte familiar enquanto restruturava seu emocional e sua vida. Depois daquela notícia minhas esperanças de reencontrá-la se esvaíram quase por completo, mas deixando meu egoísmo de lado passei a desejar com toda a força do meu ser que ela se recuperasse plenamente. Decidi que, não importava quanto tempo se passasse, um dia Dayana seria minha!

* * *

Havia se passado, mais ou menos, um ano e meio desde que Dayana mudou-se do nosso bairro, quando, em uma manhã de domingo — enquanto eu fazia minha caminhada pelo calçadão da praia —, a vi, um pouco longe, sentada em uma mureta acompanhada pela Estela e outro rapaz que eu não conhecia. Ansioso, minha caminhada se transformou em corrida sem que eu percebesse. Por coincidência ela se virou em minha direção no momento em que estava bem próximo já olhando fixamente para ela. Dayana me lançou um lindo sorriso e acenou com avidez. Acenei de volta e ela fez um sinal me chamando. De pronto, fui caminhando até onde ela estava com seus amigos.

— João! Como vai a tua vida? — cumprimentou-me enquanto me dava um abraço amigável.

— Vai muito bem e a sua, Dayana?

— Bem melhor que da última vez que nos vimos.

— Acredito.

— Eu te falei que nos encontraríamos de novo em circunstâncias melhores — ela expressou mais um sorriso estonteador ao fim daquela fala.

— Você estava coberta de razão — respondi.

— Eu sempre estou — deu-me um tapinha no ombro seguido de outro sorriso.

— Ah tá, guardarei essa informação com cuidado — respondi sorrindo de volta.

De repente nos flagramos em meio a um silêncio constrangedor por alguns segundos, sem nenhum assunto a mais para ser conversado. Não éramos amigos íntimos afinal. Dayana foi a responsável por quebrar aquele clima.

— Você já conhece a Estela, mas acho que não conhece o Max, não é?! — de súbito ela se voltou para os seus dois amigos, como se tentasse me enturmar com eles.

Foi aí que Dayana me apresentou o Max, o novo amigo que ela conheceu na cidade da sua tia. Era um rapaz magro, pouco mais alto que ela, tinha cabelos cacheados quase dourados e trajes bem tropicais. Sendo preconceituoso julguei na hora que era um surfista. Porém, ele fazia trabalhos como Dj em boates alternativas. Dito isso, foi assim que a Dayana o conheceu. Eu nem o conhecia e já tava transbordando ciúmes em relação ao Max. Por outro lado, ele se comportava como um cara muito legal e, assim como a Estela, parecia ter uma relação genuína com a Dayana. "Mas que relação será essa?!", eu pensava.

Depois de uma conversa descontraída e agradável, compartilhamos nossos contatos e, em seguida, despedi-me dos três. Já caminhava em direção ao calçadão quando um dos três chamou minha atenção de volta com um assobio. Virei-me de súbito, olhando por cima do ombro e vi a Estela com um braço levantado revelando quem havia me atraído com aquele som estridente.

— João, o que vai fazer amanhã ao fim da tarde? — a Estela falava com as mãos em torno da boca em formato de concha para aumentar o alcance de sua voz.

— Nada de muito especial. Por quê?

— Dayana e Max estarão na minha casa, se quiser aparecer também é só ligar!

— Legal! Vou pensar sobre e te ligo dando uma resposta.

Estela fez um sinal positivo com a mão e, ao fundo, o Max sorria de maneira simpática e a Dayana me dirigia seu olhar convidativo. Eu já estava decidido a encontrá-los no outro dia, afinal, a quem eu queria enganar dizendo que ainda iria pensar.

* * *

No dia seguinte liguei para a Estela confirmando que iria em sua casa encontrar meus novos amigos outra vez. Digo "novos amigos" porque mesmo a Dayana e a Estela, até um dia atrás eram apenas garotas que moravam perto de mim e estudaram na mesma escola que estudei, mas nunca tivemos uma relação de amigos. Mas depois daquele encontro na praia tudo começou a mudar.

A Estela me informou que a Dayana e o Max estavam levando duas garrafas de um vinho tinto chileno e ela havia feito uma janta e montado uma tábua de frios com muito cheddar e salaminho para acompanhar o vinho. Perguntei o que eu poderia levar e ela me sugeriu levar algo pra entreter, tipo algum jogo, e também um disco ou CD da minha preferência.

Quando chegou a hora, peguei um de meus álbuns de música na estante. No caminho, lembrei-me do jogo. De que tipo levar?! Passei rapidamente em uma lojinha de jogos diversos e comprei um de perguntas e respostas que parecia interessante. Apesar da minha pressa na loja, acabei me atrasando um pouco e quando cheguei a Estela me recebeu dizendo que já estavam todos lá e tinham acabado de abrir a primeira garrafa de vinho. Estava tocando a música 'Telegram Sam', o Max tinha levado o álbum "In The Flat Field" do Bauhaus. A propósito, eu escolhi levar o "Wish" do The Cure; a Estela, escolheu"Tinderbox" do Siouxsie and the Banshees; e a Dayana, o maravilhoso "Violator" do Depeche Mode. No fim, sem combinar, acabamos por levar álbuns de bandas que possuíam alguma afinidade sonora.

Bebemos, conversamos e comemos petiscos por um bom tempo. Nos preparávamos para a segunda garrafa de vinho e já estávamos bem falantes. Minha mente estava leve como algodão. Eu nem lembrava do ciúme que o Max tinha me causado assim que o conheci, ele era realmente um cara muito legal. A Estela também me surpreendeu muito, por ser uma garota extremamente séria na escola eu a imaginava com um alto grau de antissociabilidade mas, pelo contrário, com os mais íntimos ela revelava uma leveza muito parecida com a de Dayana. Pensando bem, Dayana e Estela tinham personalidades muito parecidas, a única diferença que pareciam ter nesse sentido é que, ao invés do espírito de liberdade tão perceptível em Dayana, Estela era do tipo mais reservado. Ainda assim, ela não era nada reservada depois de várias taças de vinho.

A segunda garrafa já estava na metade quando decidimos jogar o jogo de perguntas que eu havia levado. Devido a minha pressa na hora em comprá-lo, não percebi que o jogo era um tanto quanto picante. Era repleto de perguntas que não fazíamos normalmente para qualquer amigo ou amiga. Todos riram da minha surpresa ao descobrir isso só na hora de abri-lo. Um pouco constrangido ainda sugeri ir trocar o jogo, a loja não era tão distante de lá afinal.

— Não vamos perder essa oportunidade, isso pode ser muito engraçado — manifestou-se o Max em meio a gargalhadas.

— Verdade, não pode ser tão constrangedor assim não é mesmo?! — disse Dayana animada.

— Tenho que concordar com vocês — completou Estela.

— Como preferirem então — respondi por fim.

O jogo era simples. Existiam cartas de duas cores: as amarelas, que possuíam as perguntas mais "leves"; e as vermelhas, com as mais quentes. A cor da carta era decidida ao jogar um dado, cujo os lados tinham as cores das cartas. As cartas ficavam de costas para cima, de maneira que não pudéssemos ver as perguntas nelas contidas, e cada jogador teria sua vez de atirar o dado na mesa, sorteando a cor da carta a ser pega. Uma vez sorteada a cor da carta e a pergunta fosse feita por um dos jogadores, todos o outros tinham que respondê-la.

— Eu começarei jogando! — disse Estela — Eu sou a anfitriã, nada mais justo.

Todos concordamos e quando a Estela estava prestes a arremessar o dado sobre a mesa, ocorreu-me de perguntar sobre os pais dela. Tive receio de eles chegarem de repente e nos apanharem em meio àquela libertinagem. Mas a Estela disse somente o pai morava com ela, que ele trabalhava fora da cidade até tarde da noite e, por isso, as vezes ele pernoitava na casa de sua namorada — que era perto do trabalho dele. Dito isso ela jogou o dado, que rodou, rodou, rodou e, por fim, repousou com um dos lados amarelos para cima.

— Ah, não! Custava cair no vermelho?! — protestou Estela enquanto puxava aleatoriamente uma carta amarela.

"Qual sua orientação sexual?", foi uma boa pergunta para começar o jogo. Mas, com certeza, eu iria surpreender mais do que meus três colegas na resposta. Pelo menos era o que parecia, já que em minha visão estava mais do claro o que cada um deles curtiam. A Estela, por exemplo, era homossexual.

— Eu sou lésbica. Continuem! — disse Estela.

Não falei?! E, continuando, a Dayana com toda certeza era bissexual.

— Quem faz a pergunta não precisa responder, Estela.

— Ah, é verdade. Então começa por você, Dayana.

— Eu sou bi. Acho que todos já sabem — respondeu Dayana, confirmando sem nenhum mistério mais um dos meus palpites.

Bom, já que o Max aparentemente tem saído com a Dayana — detesto ter que lembrar disso —, ele é no mínimo heterossexual.

— Bem, acho que não é surpresa nenhuma dizer que eu sou gay — respondeu o Max.

— Quê?! — vocalizei minha surpresa de forma inesperada e não intencional.

— Por que o espanto, João? — Dayana me perguntou rindo da minha surpresa.

No fundo, eu estava aliviado. Aquilo tirava de uma vez por todas de dentro do mim todo o ciúme que vinha sentindo da Dayana com o Max. Finalmente eu me sentia leve e confortável a me aproximar mais intimamente dela a partir daquele momento.

— Também não entendi a tua surpresa — Max falou também rindo de mim.

— Desculpem-me a sinceridade, mas é que eu achei que vocês dois estivessem saindo. Tipo, de forma mais íntima.

Todos eles se dobraram em intensas gargalhadas por causa dos meus achismos exagerados. "Como pôde pensar...?!", diziam em meio aos risos convulsivos. Quando caí na real, também não aguentei e me pus a rir junto com eles. Estela fingia ser o Max e simulava com Dayana supostas situações íntimas entre os dois de uma maneira tão caricaturesca que nem mesmo o próprio Max pôde segurar a impulsão de seus risos.

Quando nos recompomos, Dayana virou-se para mim insinuando que eu tinha causado tudo aquilo de propósito só para escapar de responder a pergunta. Claro que não foi intencional e ela sabia disso, apenas quis voltar a nossa atenção para o jogo e, ela estava certa, só faltava a minha resposta para prosseguirmos.

— É verdade, mocinho. É a tua vez — disse o Max.

— Ele deve estar com vergonha de ser o único hétero aqui — brincou Estela.

— Não duvido — provocou o Max.

Estela e Max permaneceram brincando comigo por alguns segundos até que Dayana, que me encarava profundamente nos olhos, meteu-se no meio daquela conversação para a surpresa dos outros dois e, confesso, que para a minha também.

— Heterossexual?! O João?! Eu duvido! — retrucou Dayana cheia de segurança.

Os dois se calaram de imediato e a encararam como se esperassem Dayana revelar algo que eles ainda não sabiam. Espantei-me com a afirmação tão categórica de Dayana.

— Como podes ter tanta certeza disso? — perguntei.

— Eu sempre tenho razão, esqueceu?! — Dayana lançou-me uma piscadela de deboche, segura de sua afirmação.

— Ok, Dayana. Eu estou com medo de você... — respondi, por fim, desarmando-me em relação à razão da Dayana.

— Tu és bi ou homo, João? — perguntou-me Dayana percebendo o seu triunfo.

Estela e Max acompanhavam a tudo aquilo com a atenção de quem acompanha o final da sua série de Tv favorita.

— Pois bem, eu sou bissexual. Satisfeita?! — respondi.

— Até demais — sorriu Dayana.

Os outros dois fizeram uma agitação em torno de Dayana e a chamavam de bruxa. O pior é que todo aquele ar de mistério junto com o seu olhar profundo e uma percepção apurada, fazia com que Dayana aparentasse mesmo ter algo de uma feiticeira.

O relógio marcava mais de nove horas da noite. Já jogávamos por mais de uma hora. Diria que o jogo que começou descontraído e engraçado, passou a ser lascivo. As cartas vermelhas saíam pouco a pouco e as perguntas nos deixavam mais apreensivos e excitados. O vinho também contribuiu para isso. Com os desejos aflorados, eu só conseguia pensar em me aproximar de Dayana, confessar-me, possuí-la... ali mesmo, naquela sala. Em contrapartida, percebi que ela e a Estela flertavam durante o jogo. Ao meu lado, o Max vez ou outra me lançava olhares tímidos e em seguida notei que, assim como eu, ele lutava para manter oculto o volume em sua bermuda causado por uma semi-ereção. Comecei a sentir um calor repentino e passei a suar mas, pelo visto, não era somente quem sentia aquilo, pois todos na sala, mesmo com ventilador no máximo e janelas abertas, estavam suando também.

— Pessoal, espero que não se sintam constrangidos mas, eu não tô aguentando esse calor e preciso tirar a minha blusa — dizia Estela enquanto se livrava da blusa deixando à mostra os seus seios pequenos e arrebitados.

Eu jamais imaginaria que, por baixo daquelas roupas largas, Estela escondia um belo corpo. Tinha uma linda cintura e uma barriguinha saliente.

— Fiquem à vontade para fazer o mesmo se quiserem, estamos só nós aqui mesmo — completou a nossa anfitriã.

Dayana a olhou com certa malícia, passando a língua delicadamente sobre os lábios como se os lubrificasse. Foi aí que ela também tirou sua blusa e ficou apenas com seu sutiã e seu short jeans curto. Era perfeita, tudo naquele corpo era meticulosamente bem projetado. Seus seios fartos e redondos quase saltavam sobre o sutiã.

— Finalmente um pouco de frescor. Obrigada, minha Estelinha — agradeceu Dayana com um selinho na boca da amiga seminua.

De um jeito incrível e, aparentemente quase proposital, Dayana parecia conseguir mexer eroticamente com o imaginário de qualquer um que ela quisesse.

— Vocês também, meninos. Não tenham vergonha! — autorizou-nos Estela.

Não fiz nenhuma cerimônia para tirar a minha camisa, já estava incomodado demais com o calor para resistir.

Do meu lado, o Max observava o meu corpo seminu e disfarçou em seguida quando notou que eu havia percebido. Por fim, ele também se desvencilhou de sua camiseta. Seu corpo era magro, mas bem definido. Tinha uma pele pálida que combinava com o dourado de seus cabelos. Por alguns segundos, o Max conseguiu tirar a minha atenção da Dayana. E ele sorriu discretamente quando percebeu isso.

O jogo seguia e restavam poucas cartas para sortear. A segunda garrafa de vinho já tinha acabado e a Estela, embebida pela lascívia do momento, atreveu-se a abrir uma garrafa de vinho do seu pai — a qual bebemos mais da metade. Estela e Dayana flertavam constantemente. Eu e o Max seguíamos tentando controlar o ímpeto de uma ereção. Estávamos entregue à uma liberdade tremenda. Há tempos não me sentia daquela forma, distraí-me em devaneios. Foi quando senti um toque sutil em minha perna, resvalando modestamente em minha virilha, que fez o meu corpo vibrar, trazendo-me de volta à realidade.

— É a sua vez de jogar o dado — alertou-me o Max.

— Perdão!

Joguei o dado que, depois de quicar e rolar sobre a mesa, repousou com a cor vermelha para cima. A pergunta que peguei era bem direta e poderia ditar o fim do jogo naquele momento. Visivelmente estávamos em um estado de grande excitação, estimulado a cada pergunta. E aquela que fiz foi a última do jogo.

— Com qual dos jogadores você transaria nesse momento? Essa é a pergunta.

Eu estava determinado a responder "Dayana" em plenos pulmões, mas a regra não me permitia. Só me restava ouvir a resposta dos meus amigos.

— Essa é fácil. Transaria com a Dayana... de novo. Ha ha ha... — respondeu a Estela.

— Bem, levando em consideração que sou gay e a pergunta deixa claro que tem que escolher entre os jogadores, tenho que dizer que transaria com o João — o Max respondeu me dirigindo um olhar envergonhado — Peço-te perdão se por acaso o constrangi.

— Tudo bem, Max! Entendi. Não te preocupes.

Ele repousou levemente uma das mãos em meu ombro e sorriu com simpatia para mim. Sorri gentilmente de volta. Com sutileza ele percorreu sua mão do meu ombro pelo comprimento do meu braço, até repousá-la nas costas da minha mão e a tomar em afagos. Estava me sentindo estimulado com aquilo mas, ao mesmo tempo, inseguro de como proceder naquela situação. Nesse momento o clima foi cortado quando escutamos um rangido repentino de cadeiras arrastando. Dayana e Estela estavam se retirando da mesa. Ocorreu-me de inquirir a Dayana.

— E você, Dayana? Só falta a tua resposta.

— Estou indo responder ali no quarto com a Estela — lançou-me mais uma de suas piscadelas e partiu com a Estela para o quarto da anfitriã.

Fora de nossas vistas, a voz da Estela ecoou meio abafada e distante.

— Não usem o quarto dos meu pai! — alertou-nos julgando que, assim como elas, nos entregaríamos à fúria de nossos prazeres.

Pelo visto não era só Dayana que julgava com certa razão. O que sucedeu ali alguns minutos depois foi uma promíscua selvageria. A cama de Estela rangia, ela e Dayana soltavam gemidos agudos e abafados; por outro lado, no sofá, eu e o Max escutamos aquilo e trocamos carícias por dentro de nossas bermudas até que, finalmente, o penetrei profundamente por trás enquanto o estimulava com a mão. Dayana e Estela gozaram de lá, eu e o Max de cá. Quando eu pensei que gozaríamos eu e Dayana, juntos... E foi assim que se findou o meu primeiro "encontro" com Dayana. Mas eu jurei que um dia ela seria minha. Não importa o que eu fizesse. Só minha.

* * *

Depois daquele dia inebriante com vinhos, brincadeiras eróticas e muito prazer, nós quatro ficamos mais íntimos. Dayana e Estela não transavam sempre, pois se relacionavam com outras pessoas, mas tinham uma amizade bem resolvida e colorida. Já eu e o Max ficamos com mais frequência, muitas vezes desejava ter a mesma relação com a Dayana mas, mesmo assim, foi muito bom partilhar tantas intimidades deliciosas com meu novo amigo. Entretanto, ele morava na cidade vizinha, veio com a Dayana só para ela ter uma companhia em seu retorno, e cedo ou tarde ele precisaria voltar para sua vida normal. Esse dia chegou depois de algumas semanas. Marcamos uma transa antes de sua partida e, quando saíamos os quatro pela última vez, ele prometeu que qualquer dia voltaria para nos ver.

Um mês depois foi a vez da Estela partir para outra cidade. Seu pai comprou uma casa perto do trabalho e conseguiu um cargo administrativo para ela na mesma empresa. Antes de se mudar de vez, ela chamou a mim e a Dayana para sair e, assim que pôde, Estela me revelou que percebia meu interesse além da amizade por Dayana e que sua amiga-amante também tinha algum interesse por mim. Dito isso, pediu-me para, caso algo rolasse entre eu e Dayana depois de sua partida, que eu nunca a magoasse, pois Dayana era extremamente sensível apesar de não aparentar isso. Eu consenti e Estela se deu por satisfeita.

Alguns meses depois chamei Dayana para sair. Foi quando me deliciei com seu beijo pela primeira vez. Incrível! Dias depois ela me chamou em sua casa e repetimos as taças de vinho do outro dia e brincamos de outro joguinho erótico. Jamais esquecerei daquela sensação inebriante de estar a sós com ela e a possuir inteiramente pela primeira vez. Dayana jogou de vez o seu feitiço em mim e desde então nunca mais me libertei. Ao amanhecer, acordando com ela seminua envolvida em meus braços, pedi-a em namoro. Para a minha decepção, ela ainda não estava inclinada a ter uma relação restritiva. Perguntei-a se ela aceitaria ficar comigo outras vezes, ter algo mais livre que um namoro comum. Dayana prometeu pensar. Enquanto isso, eu era tomado por um ciúme massacrante toda vez que ela saía com outros caras. Como eu sabia?! Ela mesma deixava escapar inocentemente em meio as nossas prosas descontraídas. Mas eu estava desposto a suportar tudo aquilo, com a esperança de um dia convencê-la a desejar somente a mim. Estava decidido.

Quando ela finalmente aceitou ter um relacionamento aberto comigo, senti-me vencendo a primeira batalha. Dayana estava comigo e livre. Livre para entregar seu corpo para outros e outras, mas não o seu coração. Dayana estava livre para me amar. Suportei bem as aventuras extras de Dayana até aqui. Eu até tenho as minhas também para esquecer um pouco as dela. Mas ultimamente venho me mostrando disposto a abandonar minhas aventuras em troca de uma vida a dois com Dayana, a garota que me enfeitiçou para a eternidade. Eu não sou dotado de tal poder, jamais poderia enfeitiçá-la de volta. Então só me restava minar as suas aventuras, preenchendo todo o seu tempo livre com algo exclusivamente para nós.

Com a Estela e Max ocupados com seus respectivos trabalhos e morando em outras cidades, eu estava conseguindo progredir com a minha ambição egoísta. Mesmo quando eles voltavam para nos ver, geralmente conseguia manter Dayana ocupada comigo o suficiente para não aceitar ir as festas com Estela ou assistir aos eventos do Max. Apesar de ela ainda sair com ouras pessoas, consegui fazer com que ela sentisse algo especial por mim. Eu estava perto da minha vitória definitiva. No entanto, aquele maldito adolescente chamado Ícaro, a quem socorri durante uma briga na praia, surgiu em meu caminho e voltou a libertar o ímpeto licencioso de Dayana. A única coisa boa nessa história é que eu conheci o adorável Fernando, melhor amigo do Ícaro, com quem eu estava tendo uma noite incrível antes de receber uma ligação do museu na noite passada. Quando saí daquele museu, tendo ciência do quão longe Dayana havia chegado por causa de alguém que acabara de conhecer, senti-me tomado outra vez por um ciúme avassalador que me fez cair em uma ira quase incontrolável. Quando a telefonei sabia que ela ainda estava por perto, os indícios dentro da capelinha era de uma fuga apressada poucos minutos antes de eu adentrá-la. Decidimos conversar em casa, mas eu não pude me conter em descobrir por quem que Dayana estava indo tão longe em suas novas aventuras desregradas. Julguei que ela esperaria o ônibus no ponto de sempre e acertei. Para a minha absoluta surpresa, era o desgraçado do Ícaro. Quando a vi, antes de subir no ônibus, beijando tão carinhosamente aquele adolescente infeliz, desejei voltar no tempo e deixá-lo sangrar até morrer sobre as areias daquela praia. Meu corpo estremeceu em cólera. Apertei com força o punhal preso em minha cintura e pensei em cortar o mal pela raiz naquele mesmo instante. Mas, respirei fundo e, pensando melhor, parti embriagado de um violento sentimento fui ao encontro de Dayana.

Arrependo-me de não ter conseguido controlar meus impulsos animalescos. Depois de discutirmos Dayana o enviou uma mensagem amável, agradecida pela aventura promíscua e o desejando uma boa noite de sono. Perdi totalmente o controle. Machuquei-a emocionalmente quando a destratei, e fisicamente quando a atirei com violência sobre a cama. Ela chorava amedrontada e com os braços marcados pela minha fúria. Não aguentava imaginar que seus sentimentos por um reles adolescente estava a impedindo de noivar comigo. Confesso que criei essa história de noivado porque estava desesperado para atingir logo o meu objetivo maior. Por outro lado, a criação libertária que a Dayana recebeu de sua mãe era mais forte do que qualquer coisa que eu tentava. Ainda mais agora que o miserável do Ícaro se intrometeu entre a gente de uma maneira tão significativa.

Quando a deixei só em sua casa e parti em minha moto no meio da escuridão da noite, antes de chegar em casa, resolvi parar um pouco, dar um tempo na praia e receber aquela brisa gelada no rosto enquanto me afogava em minhas próprias lágrimas. Lágrimas de decepção, raiva, desgostos e arrependimentos. Foi nesse instante em que percebi que tinha levado o celular de Dayana comigo e juro por Deus que o fiz sem nenhuma intenção. O ciúme me cegara. Eu poderia ter levado de volta, mas, sem pensar direito, decidi fazer mais um besteira. Enviei outra mensagem para o Ícaro, me passando por Dayana. Dizia na mensagem que estávamos noivos. Pensando melhor agora, sei que isso não se sustentará por muito tempo, mas ao menos levará um tempo até que Dayana descubra e possa se explicar. E se ainda conheço bem como funciona a cabeça de um adolescente, isso causará uma tempestade de dúvidas naquele moleque.

Se minhas chances com Dayana estão sendo ceifadas, ceifarei também qualquer chance desse Ícaro tomar de vez os sentimentos dela. Dayana era minha! Dediquei-me por ela todos os dias desde o começo da nossa relação. Ninguém pode tomá-la de mim sem alguma consequência. Preciso me recompor e agir com inteligência, como sempre fiz. Derreterei cada sórdida grama de cera das asinhas desse Ícaro. Eu serei o seu Sol!

(Continua...)

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Comentários

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Até que enfim consegui um tempo para ler todos os novos capítulos.

Elogiar seu texto é ficar chovendo no molhado, mas mesno assim não tem como não elogiar, para mim é um dos melhores se não o melhor da casa.

A história é ótima, a dinâmica perfeita.

Bom só elogios para você porque você realmente merece.

Parabéns meu amigo!

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Whisper, minha amiga, que falta você faz por aqui. Saudade de ler novos contos seus, mas sei bem como é ter o tempo limitado.

Só tenho a agradecer por suas palavras. Grande abraço!

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