A polinização é a dança delicada e mágica da natureza, onde os corações das flores se abrem para receber o toque suave e amoroso dos polinizadores. É um encontro íntimo e sagrado, onde o pólen, como mensageiro do amor, é entregue de flor em flor. Os polinizadores, como bailarinos celestiais, levam consigo não apenas vida, mas também a promessa de novos começos.
Narração Bianca
Aquelas palavras de Fernanda seguido do choro pelas memórias me deixaram desorientada. O beijo de Gabriela e as risadas começaram a passar pela minha cabeça, os dias com Fernanda também. Em um labirinto de pensamentos senti o calor do contato da mão de Fernanda em meu rosto, sua respiração estava tão próxima que eu podia sentir em mim, seus olhos verdes brilhavam com uma mistura de curiosidade e desejo. Sem trocarmos uma palavra nossos olhos conversaram e eu sabia o que ia acontecer, nossos lábios se tocaram e o mundo inteiro parecia desaparecer ao nosso redor. O beijo que começou com um toque leve e hesitante logo se transformou em uma dança apaixonada de lábios e línguas, cada movimento era uma revelação de desejo.
Nos afastamos para tomar fôlego e o sorriso de Fernanda estava mais lindo que o normal, ela me olhou com calma e segurou minha mão.
Bibi, desculpa te beijar assim, eu sei que o que você passou te deixou com receios, mas eu tinha que arriscar.
Feh, eu estou surpresa e sem palavras. Mas não posso negar que existe algo aqui, eu só preciso de um tempo para colocar minha mente em ordem.
O olhar de Fernanda antes tão vivos e radiantes, agora refletiam uma tristeza. Me doeu o coração ver aquilo então a puxei mais uma vez para um beijo tão doce quanto o primeiro, e com tanta ternura que senti as lágrimas de Fernanda em meu rosto. Nos afastamos mais uma vez.
Feh, eu não vou sumir da sua vida. Só preciso de tempo para processar o que está acontecendo. Meu primeiro beijo foi roubado e virou chacota, eu preciso organizar meus pensamentos. Mas saiba de uma coisa, eu quero continuar compartilhando meus dias com você.
Fernanda sorriu novamente e concordou. Conversamos mais um pouco e percebemos que já estava escuro, decidimos jantar e irmos para nosso quarto. A noite seguiu como de costume, esperamos a checagem e Fernanda veio para a minha cama, não nos beijamos ali, mas nosso carinho estava presente.
No sábado, temos a opção de ficar ou ir para casa, como de costume eu ficava com minha tia e retornava no domingo à tarde. Senti a falta de Fernanda, mas aquele tempo seria bom para eu começar a pensar em tudo. Sabia que o que eu tinha com ela poderia mudar completamente de acordo com o que eu dissesse, eu sabia do passado dela e ela sabia do meu, eu só precisava ter calma.
Naquele fim de semana minha tia me levou para conhecer o Cabo da Roca. Para os turistas que vão ali a primeira vez, como eu, é fácil sentir que as rochas desgastadas pelo tempo contam várias histórias, as águas do oceano Atlântico a perder de vista. Tudo ali era um convite para refletir sobre a vastidão do mundo natural e sobre a nossa própria vulnerabilidade. E com esse contato eu entendi duas coisas, eu estava magoada por ter tido meu primeiro beijo roubado, mas isso não dava mais para trazer de volta, a segunda coisa não veio de forma simples pra mim.
Bianca, você está bem? Parece meio distante.
Tia, eu estava pensando em tudo o que aconteceu comigo, estar aqui nesse lugar maravilhoso e mesmo assim não entender como.
Minha querida, às vezes o universo faz isso pois estávamos no lugar errado, talvez agora você esteja no lugar que deveria estar desde o começo. Ou esse é apenas o caminho.
Tia, desculpe a pergunta, mas tem algum motivo pra senhora ter saído do Brasil e estar aqui?
Os motivos são muitos, mas o principal foi ter um oceano entre o passado e o presente. Precisei da distância para superar algumas coisas. E eu tive, além de muito esforço, muita sorte Bia, pois consegui ser aceita em uma boa universidade aqui, e depois um bom trabalho.
O passado machuca né.
Só se você permitir. E cuidado para isso não afetar seu presente e o seu futuro.
Obrigada tia.
Seguimos até a hora do almoço ali, à tarde fomos para a Praia Grande, ao entardecer retornamos para casa. Ao deitar na minha cama senti falta de Fernanda, rapidamente a conversa com a minha tia fez todo sentido. Eu iria deixar de estar com alguém que eu gosto e me sinto bem por causa de algo do meu passado? Ouvi uma vez de minha mãe que o pior arrependimento é o de algo que não fizemos. Deixei o sono tomar conta do meu corpo e da minha mente. No domingo acordei mais tarde que o habitual, tomei café com a minha tia.
Bianca, que tal almoçarmos na casa de uns amigos meus hoje?
Podemos sim tia, já vou organizar minha bolsa para o retorno ao colégio.
Certo, acredito que irá gostar do nosso almoço.
Por volta do meio dia saímos para o almoço. Ao chegar no local tive a mesma impressão que tenho com todas as casas da cidade, mais uma casa típica cheia de história. Minha surpresa aconteceu ao entrar e ver como conseguiram manter o exterior projetado para harmonizar com o ambiente natural exuberante da região e um interior moderno, os móveis cuidadosamente escolhidos combinavam o estilo moderno com toques clássicos, onde a funcionalidade se encontrava com o bom gosto estético, cada canto da casa contava uma história de autenticidade e liberdade. E ali no meio das pinturas e dos quadros estava uma bandeira com as cores do arco-íris, eu não conseguia conter o sorriso ao ver aquilo, e minha tia percebeu e sorriu de volta.
Talvez com aquele gesto minha tia estivesse me dizendo o que as palavras talvez pudessem negar, ela sabia o que eu sentia e estava tudo bem ser quem eu sou, pois ela estaria do meu lado. Me senti tão bem naquele almoço, ao conhecer todos os amigos de minha tia e ouvir um pouco sobre eles. Estava revigorada, e decidida a conversar abertamente com Fernanda sobre tudo. Voltei ao colégio no final da tarde, entrei no meu quarto e ela estava lá, deitada lendo um de seus livros, me aproximei e a beijei com toda a vontade que estava em mim e ela retribuiu.