Meu Desejo - Capítulo Catorze

Da série Meu Desejo
Um conto erótico de M.J. Mander
Categoria: Gay
Contém 8974 palavras
Data: 29/07/2024 01:09:59
Assuntos: Gay, Homossexual, Sexo

CAPÍTULO CATORZE

*** PEDRO FERNANDES ***

Não acredito que me esparramei, abri as pernas e deixei Hugo me devorar sobre a bancada da cozinha como se eu fosse uma refeição. Empurro essa incredulidade para o lado e a tranco junto com um milhão de outras razões pelas quais eu estar seminu, ofegante e ter acabado de gozar na boca desse homem é um problema. Não, agora, a única coisa que importa é que ele cumpra a promessa que me fez há quase uma semana: termine o que começou.

Respiro com dificuldade, agarrado ao pescoço do maldito irresistível de quem não fui capaz de fugir nem por sete dias completos. Que vexame. Chuto esse pensamento também.

— Eu quero você na minha cama — diz, chupando meu queixo.

— E se a Beatrice acordar? — Meu Deus! E se ela tivesse acordado?

— Ela nunca acorda. Beatrice dorme feito pedra desde que era um bebê.

— Graças a Deus — sussurro e ele ri.

— Um pouquinho de confiança em mim cairia bem.

— Eu não estava sendo muito racional quando deixei você me devorar como se eu fosse um lanchinho da madrugada — respondo, ainda no modo sem filtro, sem senso, sem racionalidade.

— Lanchinho? Não, Bela Armadilha. Você é um verdadeiro banquete e eu ainda estou muito longe de acabar com você. — Estreito os olhos, me decidindo entre perguntar sobre o apelido e morder a isca da promessa. É uma escolha fácil.

— Isso é uma promessa?

— Pode apostar que é!

— Então me deixa vestir as minhas calças pra você cumpri-la.

Hugo se afasta com um protesto engraçado, mas não se mantém longe por muito tempo. No instante em que minha bunda está vestida, ele me agarra pela cintura e cola a boca na minha com uma urgência que seria capaz de transformar gelo em fogo.

No meu corpo em brasas, a necessidade demonstrada por ele funciona como um ventilador, atiçando o calor até que ele exploda em labaredas que lambem minha pele e transformam o sangue em minhas veias em ácido, consumindo-as de dentro para fora.

Ele tira meus pés do chão e eu me prendo aos seus quadris mais uma vez. Porra de homem gostoso. Jogo a cabeça para trás quando sua boca lambe meu queixo e ele atende ao meu pedido silencioso, e desliza a língua pela minha garganta antes de chupar ali. Eu gemo, já terrivelmente duro de novo, lambuzando o moletom emprestado com a minha excitação.

Subimos as escadas entre beijos, lambidas, mordidas e carícias. Leva algum tempo para que Hugo consiga abrir a porta do seu quarto sem que nenhum de nós dois esteja prestando atenção no que está fazendo. Mas assim que atravessamos o batente, em poucos passos, ele me joga sobre a cama e se lança em cima de mim ainda vestido.

Agarro a barra da sua camiseta e a puxo para cima, arrancando-a do seu corpo, ansioso para sentir os músculos duros sob os meus dedos. Seu abdômen definido enche minha boca d’água e eu pressiono minhas coxas ao seu redor e impulsiono o meu corpo. Ele aceita que mudemos de posição, e eu fico por cima enquanto ele acaba deitado de barriga para cima, com a metade das pernas para fora da cama.

Suas palmas grossas se mantêm firmes em minhas coxas, subindo e descendo em uma provocação lenta que só aumenta a dureza no meu centro de prazer. Arrasto as unhas em sua pele bronzeada e rígida e me inclino para lamber o peito. Deslizo a língua até alcançar os dois primeiros gomos da sua barriga e subir outra vez. Lambo seu pomo de adão, mordisco a barba, esfrego o nariz no pescoço e meus quadris começam a se movimentar em espasmos incontroláveis.

— Eu deixo você brincar comigo depois — avisa, enfiando uma das mãos por meus cabelos para manter a minha cabeça firme onde ele quer, diante dos seus olhos. Minha respiração que nunca chegou a reencontrar um ritmo normal, desde que deixamos a cozinha, falha com a perspectiva do que está por vir. — Agora eu vou te comer, Pedro. Preciso sentir esse cu apertado mamar meu pau — diz, já invertendo nossas posições outra vez e saindo da cama.

Hugo arranca os shorts que usava, revelando-se completamente nu sob ele e eu arfo. Puta merda. A cabeça larga está brilhante, úmida de pré-gozo e as veias saltadas sob a pele esticada ao máximo na ereção dura, apontando para cima.

O excesso de tecido e a pressa ainda não tinham deixado que eu sentisse sua extensão direito e puta merda! Ele é enorme! Enorme de verdade. Enorme de um jeito que faz eu tentar me lembrar das aulas de anatomia básica da escola. Quantos centímetros em média tem o canal anal mesmo? Mordo o lábio e a surpresa deve ficar estampada em meus olhos, porque ele ri.

— Arrependido de me provocar? — pergunta e eu ergo os olhos para o seu rosto.

— Vem com uma placa de cuidado com o perigo?

— Algo me diz que se viesse, você a ignoraria — responde, antes de puxar minhas pernas e arrastar meu corpo até a ponta da cama. Pela segunda vez, as calças são arrancadas das minhas pernas com pressa e abandonadas numa bola volumosa de tecido pelo chão.

Eu mesmo me encarrego de puxar a camiseta pela cabeça e os olhos de Hugo acariciam meu corpo nu com uma lentidão agoniante enquanto ele caminha de costas até uma porta, que eu descubro ser o closet quando se abre.

Sem desviar os olhos de mim, ele vai diretamente até uma gaveta específica, tira uma nécessaire lá de dentro e volta para a cama. Hugo se curva sobre o meu corpo e enfia a cabeça entre as minhas pernas outra vez.

A língua decidida me lambe das bolas até o cu, os pelos ásperos da barba judiam da minha pele. Eu grito. Ele circula meu ânus com a língua, brincando ali.

— Que delícia! — exclamo, não conseguindo guardar a surpresa com o prazer súbito para mim. Hugo se levanta rindo e há a sugestão de uma promessa silenciosa nessa risada. Me remexo na cama, desesperado por qualquer contato, qualquer atrito.

— Quieto! — ordena enquanto pega um preservativo na bolsa que trouxe do closet e o veste.

— Você tá demorando demais. — Agora, sua risada rouca não deixa dúvidas sobre conter uma promessa silenciosa.

— Ah, Pedro! — Estala a língua, me matando de inveja da mão que acaricia a própria extensão para cima e para baixo. — Eu vou te ensinar que me desafiar nunca é uma boa ideia, mas quando você está nu e com esse cuzinho apertado arreganhado na minha cara, é uma ideia fodida de tão ruim — diz, colocando-se de joelhos na cama, entre as minhas pernas.

Ele afasta os meus joelhos com as próprias coxas enquanto se arrasta até que minha bunda bata contra as suas pernas dobradas. As mãos grandes e cobertas por veias agarram minhas coxas e as escancaram ao limite antes de ele erguer minhas pernas e apoiá-las contra os seus ombros.

Com os olhos fixos nos meus, Hugo pincela o pau grosso e longo em meu buraco, me arrancando choramingos e fazendo com que eu rebole involuntariamente. A sensação é a de que meu corpo foi envolvido por uma rede elétrica de prazer que dispara impulsos infinitos, sobrecarregando meus nervos mais sensíveis.

Ele levanta o pau e o deixa cair em minha virilha a uma curta distância. O impacto é pequeno, mas sobre meu pau latejante é como uma chicotada. Hugo repete o movimento mais algumas vezes antes de se encaixar em meu cu e me penetrar de uma vez, sem aviso.

—Puta que pariu! — grito, com olhos e boca abertos quando o meu corpo arqueia para fora da cama.

— Quer me desafiar, Bela Armadilha? Então aguente as consequências — avisa, saindo lentamente de dentro de mim, e mesmo que eu me prepare para a sua próxima investida, quando ela vem, eu não estou pronto.

A penetração rasga o meu cu ao meio, roçando minhas paredes, arrastando a sensação de ardência por cada centímetro do meu interior e me alargando do jeito mais delicioso possível, me arrancando um grito descontrolado depois do outro.

Hugo não se compadece. Ele mete assim por algum tempo, saindo devagar antes de voltar de uma vez até que eu tenha me acostumado com seu tamanho e esteja gemendo loucamente enquanto seus quadris se movem para frente e para trás, entrando e saindo de mim da maneira que quer, me deixando suado e sobrecarregado de prazer.

Minhas pernas são abraçadas, e os quadris batendo contra os meus passam a estocar curto e rápido. Agarro os lençóis, afundando minhas unhas nas palmas das minhas mãos através deles, achando que não serei capaz de aguentar mais e é quando ele solta minhas pernas, dobra meus joelhos e as pressiona ao redor das suas, mantendo-me apertado ao seu redor, e rebola com uma lentidão excruciante. A mudança abrupta de ritmo e ângulo me faz ver estrelas.

Desisto de acompanhar ou me importar com os sons que saem da minha boca. A pélvis de Hugo roça na minha, estimulando meu pai, e o abdômen duro se esfrega em mim, arrepiando-me inteiro a cada contato rebolado do corpo grande, duro, gostoso.

— Puta que pariu, Pedro! — Meu nome em sua voz dominada pelo prazer de estar dentro de mim é só mais um estímulo afrodisíaco e antes que eu entenda o que está acontecendo, explodo, sem nem mesmo ter sentido sua boca na minha outra vez.

O orgasmo me arrasa com um grito e Hugo enfia a mão entre nós dois. Ele pressiona o meu pau, prolongando meu gozo e me deixando desesperado para ser libertado da agonia do alívio.

— Hugo! — imploro, com os olhos fechados. Seu corpo cobre o meu por completo, sua boca assalta a minha, sua língua faz miséria de mim, dominando-me sem se importar com as consequências.

Meu gozo se mistura à minha excitação e a penetração se torna mais barulhenta como prova disso. Sem sair de dentro de mim, Hugo inverte nossas posições e senta na cama, deixando-me montada sobre ele. Minha pele está vermelha, meus cabelos uma bagunça completa e minha garganta seca, de tanto gemer e gritar. Ele espalma as mãos na minha bochecha.

— Cavalga no meu pau, Bela Armadilha — pede e me beija outra vez, agora, devagar, e no ritmo do beijo, movimento os quadris, rebolando no pau enterrado até o fundo dentro de mim.

Cada movimento me alarga além do limite que achei ser possível, mas é delicioso e eu gemo na boca de Hugo. Ele engole cada um dos meus gemidos, gritos e choramingos exaustos enquanto me entrega também os seus. Seus dedos se afundam em minha bunda com força, imprimindo em minha pele a extensão do seu prazer.

— Eu vou gozar — aviso e um segundo depois sou novamente uma confusão de mais tremores, incapaz de manter o controle dos movimentos, e Hugo os assume outra vez.

Ele impulsiona os quadris para frente e para trás, me comendo curto, tornando todas as sensações que me atravessam ainda mais intensas. Todo o meu corpo está tão sensível que estou consciente de cada ponto de contato entre nós, de cada gota de suor deslizando pela minha pele, de cada fio de cabelo colado em minha testa.

Um urro grave anuncia seu orgasmo. Ele continua a se movimentar para dentro e para fora de mim até que seu corpo pare de tremer e só então nos deixa cair para trás, deitados na cama em um conjunto confuso de membros amolecidos.

O cheiro de suor, perfume e sexo flutua no ar como a única testemunha além de nós dois do que acabou de acontecer.

— Agora, sim, você pode brincar comigo o quanto quiser — declara, ofegante, me fazendo rir.

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— Onde você pensa que vai? — Hugo pergunta quando ameaço me levantar depois que os primeiros raios de sol se infiltram pelas persianas fechadas. O corpo grande gira na cama, agigantando-se sobre o meu.

— Pro seu quarto de hóspedes. Se eu quiser conseguir continuar a ser capaz de andar, precisamos parar agora — brinco, mas falo sério.

Depois do tempo que eu passei sem transar, uma noite de sexo seria o suficiente para me deixar dolorido. Uma noite inteira de sexo com Hugo Monstro Maldonado me destruiu. Mas já que era para me arrepender, que pelo menos fosse com propriedade.

Matheus vai ficar orgulhoso, o que, definitivamente, significa que eu preciso repensar minhas ações. Nenhuma decisão que desperte orgulho no meu amigo pode ser considerada boa. Lábios quentes procuram os meus para um beijo suave. Aspiro o cheiro gostoso de Hugo misturado com o cheiro de sexo impregnando o quarto.

— Você não precisa sair correndo só por isso, Pedro. É cedo, nós podemos dormir um pouco.

— Eu vou dormir. — Franzo as sobrancelhas. — Só não na sua cama. Quer dizer, teoricamente, a cama em que vou dormir é sua. Mas não vai ser com você.

— E por que não? — O nariz provoca minha pele sensível e meu cuzinho kamikaze pisca.

— Não achei que você fosse do tipo que gosta de se aconchegar no pós-sexo — provoco, e Hugo salpica beijos em meu pescoço e colo, num claro esforço em me dissuadir de me levantar. Puta merda, como é gostoso!

Ele ergue o rosto, fixa os olhos escuros em mim e pendura o sorriso debochado que já considero velho conhecido no canto dos lábios como se soubesse de algo que eu não sei. Inclino a cabeça em um questionamento mudo. Ele dá de ombros.

— Durma bem, então — deseja antes de sair de cima de mim e sentar ao meu lado, com as costas apoiadas na cabeceira. Mordo o lábio e afasto os lençóis. Saio da cama e o olhar de Hugo acompanha cada um dos meus movimentos.

— Você vai ficar encarando? — Me abaixo para pegar as minhas roupas.

— Pode apostar que eu vou. — Bufo e viro o rosto para esconder o sorriso. O homem é incorrigível. Visto a calça e a blusa rapidamente e caminho até a beirada da cama, do lado onde Hugo está sentado. Sento-me na beirada do colchão e mãos grandes imediatamente procuram a minha pele.

— Bem, foi divertido. — Tenho dificuldades para me manter firme na resolução de ir embora quando as palmas grossas reacendem o calor, aparente insaciável, pelo meu corpo.

— Divertido, hein?

— Por que você está me olhando desse jeito?

— É o único jeito que eu sei olhar.

— Não é não. — Sua risada é gostosa quando ele enfia os dedos pelos meus cabelos e puxa minha boca na direção da sua. Hugo começa o beijo devagar, degustando o contato com uma lentidão provocativa que vai crescendo até que eu praticamente arremesso meu corpo para longe do dele, me levantando da cama.

— Bom dia — me despeço, e tudo o que ele faz é sorrir e limpar o canto dos lábios, molhados pelo beijo pornográfico.

— Bom dia, Bela Armadilha — deseja, e eu abro a boca para perguntar o que diabos significa o apelido, mas tenho a sensação de que ele tê-lo usado nesse momento é exatamente isso, uma bela armadilha e eu me recuso a cair nela.

Viro as costas e saio do quarto sem me dar chance de pensar ou olhar para trás.

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*** HUGO MALDONADO ***

Manter a concentração na televisão se mostra uma tarefa quase impossível quando a novela rolando por trás dos meus olhos é muito mais interessante do que aquela diante deles. Talvez, novela não seja um nome apropriado para as cenas em minha mente, filme pornô, parece mais adequado.

Se manter Pedro longe dos meus pensamentos havia se tornado uma tarefa totalmente dependente de exercícios físicos intensos depois que nos beijamos, agora que sei qual é a sensação de ter seu gosto em minha boca, o cheiro da sua excitação no meu nariz, o seu cu apertado ao redor do meu pau, nenhum dos aparelhos da academia serão capazes de operar esse milagre. Principalmente com o Bela Armadilha tão perto.

O som da porta da sala sendo aberta me faz virar o pescoço e é impossível conter o sorriso quando Pedro aparece, hoje vestindo roupa em seu tamanho. Apesar da chuva estar no seu caminho para voltar para casa, não o impediu de ir ao shopping hoje mais cedo e comprar algumas mudas de roupa.

O corpo pequeno está vestido por uma calça cinza folgada e camiseta estampada pela protagonista do filme RED, a atual animação favorita da minha filha, que voltou do shopping com uma versão igual, mas em tamanho reduzido e fez questão de usá-la na hora do jantar, porque Pedro usaria a sua.

Beatrice adorou o passeio, como adora tudo que envolve o professor. A princípio, fiquei meio receoso, mas Pedro garantiu que estava tudo bem e que adoraria a companhia. Be me encheu de beijos quando eu lhe disse que poderia ir e isso quase compensa o fato de que essa foi mais uma noite em que fui dispensado do trabalho de contar histórias. Quase.

— Não consegue dormir? — Olho para o relógio, constatando que são uma da manhã.

— Desculpe, eu não sabia que você estava aqui. Não queria incomodar.

— Sério? — Inclino a cabeça e me poupo de revirar os olhos. Ele realmente acha que essa formalidade forçada vai funcionar? Ao longo do dia, entendi, havia funcionários e Beatrice por perto, mas agora?

— O quê? — Sua postura desafiadora habitual emerge e isso me faz sorrir.

— Você pode não querer mais transar Pedro, mas isso não apaga o fato de que eu estive dentro de você há menos de vinte e quatro horas. Não faz sentido agir como se nada tivesse acontecido. — Principalmente porque muito em breve voltará a acontecer. Mas isso, eu guardo pra mim.

Pedro está mantendo essa ilusão de que o tivemos foi coisa de uma noite só e não sou eu quem vai lhe dizer o contrário, porque não tenho dúvidas de que ele não vai demorar a perceber sozinho. Não funcionou da primeira vez, não vai funcionar agora.

Não foi necessário mais do que um momento a sós depois do beijo, me pergunto se há alguma maneira de quebrarmos esse recorde. A julgar pelo fato de que o professor continua parado no batente, como se tivesse medo do que pode acontecer se entrar na sala, eu diria que elale já está percebendo.

— Eu vou voltar pro quarto.

— Covarde. — Finjo uma tosse e sussurro a palavra.

— Por que você precisa ser tão irritante?

— Eu poderia fazer a mesma pergunta — respondo e ele grunhe, deixando os ombros caírem e finalmente entrando na sala.

— O que você está assistindo?

— Avenida Brasil.

— Hum... Essa eu não vi.

— O quê? — Olho para ele tão alarmado pela declaração, que ignoro o fato de Pedro sentar tão longe de mim quanto é possível, deixando cinco assentos entre nós, no sofá.

— Eu era uma criança que dormia cedo — explica e eu mordo o lábio, entendendo. — Eu tinha poucos anos na época — responde a pergunta que não fiz. Porra! Coço a sobrancelha e Pedro estreita os olhos. Um sorriso provocativo pinta seus lábios.

— Isso te incomoda? Porque como é que você disse ainda agora? Há menos de vinte e quatro horas…

— Ok, ok! Eu entendi seu ponto! — a interrompo e Pedro joga a cabeça para trás em uma gargalhada escandalosa.

— Ah, meu Deus! Minha idade te incomoda!

— Não me incomoda, porra. Mas pensar que há dez anos você era uma criança com menos do dobro da idade da minha filha não é exatamente confortável.

— Não se preocupe, você até que dá conta! — Pisca para mim e eu ergo as sobrancelhas.

— Então agora nós estamos falando sobre isso? — O momento em que ele percebe que cometeu um erro é claro como água. Pedro vira o rosto, amaldiçoando baixinho a si mesmo.

— Não tem nada pra falar. Você tá certo, não faz sentido fingir que não aconteceu, mas também não tem porque ficar falando sobre. Aconteceu, foi divertido.

— Divertido — falo junto com ele sem conseguir evitar o desdém que adquiri pela palavra essa manhã.

Foda, gostoso, quente, viciante e surpreendente para a porra são só alguns dos adjetivos que eu usaria para descrever a noite que tive com Pedro. Divertido com certeza não é um deles.

— Isso. Mas como eu disse, passou.

— É por isso que você está sentado a cinco assentos de distância? Por que passou?

— Não. Eu estou sentado a cinco assentos de distância porque você é o meu chefe. Tivemos uma noite, acabou. Fim.

— Uhum — concordo, sem nem fingir me esforçar. — Como você está se sentindo?

— Como assim?

— Dolorido?

— Um pouco — admite e logo depois um sorriso se revela em seu rosto. — Mas… — começa e, logo em seguida, percebe que estava prestes a me dar uma informação que não pretendia. Pedro limpa a garganta. — Estou bem.

— Tudo bem. Se precisar de alguma coisa, é só me dizer. — Seus olhos se estreitam.

— Só isso? — pergunta.

— O que você quer dizer?

— Que… — Outra vez, se interrompe depois de uma única palavra. Pedro me observa com atenção por quase um minuto inteiro. — Quer saber? Deixa pra lá! — A frase é dita em um tom de desafio.

— Tudo bem. O que você quer ver?

— Você vai me deixar escolher? — Dou de ombros.

— Por que não? — Pedro morde o lábio, desconfiado. — O que eu posso dizer? Eu sou um homem simples. — Ele ri de um jeito gostoso.

— Não, você não é.

— Quer escolher ou não? Última chance — aviso, estendendo o controle em sua direção. Ele se estica sobre o sofá e pega o controle da minha mão, tendo todo o cuidado possível para que nossas peles não se toquem.

— Quero.

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*** PEDRO FERNANDES ***

O calor do corpo ao lado do meu é quente e eu me aninho até encontrar uma posição mais confortável. O cheiro gostoso dispara arrepios suaves em minha pele e eu tenho quase certeza de ronronar, mas mantenho os olhos fechados. Uma risada rouca soa em algum lugar e eu resmungo, não querendo ser acordado. Tão gostoso. Me remexo mais uma vez.

— Pedeo. — Meu nome é sussurrado ao mesmo tempo em que uma carícia suave toca meu rosto.

— Huuuuum... — reclamo, me recusando a abrir os olhos.

— Vamos pra cama. — Essas palavras ditas por essa voz me despertam imediatamente.

Assustado, abro os olhos para me deparar com olhos escuros perto, muito perto, perto demais. Assim como a boca. A barba áspera cobre parte da minha bochecha e a expiração morna bate sobre a ponta do meu nariz.

Hugo tem os braços ao meu redor, e o seu cheiro, seu toque, puta merda. Como eu vim parar aqui? Eu deveria me mover, não deveria? Mas não consigo, todo o meu corpo parece refém da carícia suave executada pelas pontas dos seus dedos e quando elas se infiltram pelos meus cabelos e massageiam o meu couro cabeludo, é impossível segurar o gemido baixo.

Hugo ri outra vez e eu suspiro. Aqui, agora, essa não parece uma ideia tão ruim, então não me movo. Ele aceita minha imobilidade como permissão e abaixa o rosto. Seu nariz brinca em minha pele. Puxo uma inspiração profunda, aspirando seu cheiro, sua presença, e segundos depois, sua boca cobre a minha.

O beijo não tem nada de suave. A língua de Hugo é persistente, dominadora, explorando a minha boca com determinação e com uma perícia que não deveria ser tão fácil após apenas uma noite. Uma noite. O pensamento finalmente desperta minha consciência e eu interrompo o beijo abruptamente, afastando-me. Hugo grunhe.

— Você realmente vai continuar com isso, não vai? — pergunta, mas contrariando o som que deixou sua garganta quando pus fim ao beijo, agora, ele está rindo.

— Vou.

— Tudo bem, Pedro. Vamos fazer do seu jeito, então. Só não espere que eu facilite as coisas pra você. — Beija meus lábios uma última vez, agora, com suavidade, antes de se levantar. — Boa noite.

Ele passa pela porta e meu cérebro, ainda dopado de hormônios pós-beijo e lerdo por ter sido arrancado do sono da maneira que foi, leva um tempo para se fazer a pergunta óbvia. Que diabos ele quis dizer com isso?

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Arrependimento.

Essa é a palavra que define o meu dia e ainda não são nem sete horas da manhã. Como é que eu achei que correr, de manhã cedo, seria uma boa ideia?

Nunca na história da minha vida eu fiz exercícios físicos de maneira voluntária, mas com meu corpo parecendo prestes a entrar em colapso, eu precisava arranjar alguma maneira de colocar toda essa energia para fora, e que não envolvesse invadir o quarto do Hugo de madrugada.

Principalmente porque isso envolveria voltar como um cão arrependido, com o rabo entre as pernas, menos de vinte e quatro horas depois de ter interrompido aquele beijo na sala de televisão.

O Google disse que exercícios físicos eram a melhor opção. Bom. O Google estava errado. Resmungo, internamente, sentindo o suor se misturar às gotas da chuva que esta manhã diminuiu seu ritmo, depois de dois dias inteiros caindo torrencialmente.

As gotas são finas, quase como poeira. E eu, tolo, achei que isso era um sinal de que eu deveria ouvir o que a internet havia me dito e decidir correr no domingo quando a regra é clara: se você não correr de segunda a sexta, por que diabos correria no domingo?

Ainda assim, pedi um par de tênis emprestados à Silvia, vesti as roupas provisórias mais confortáveis entre as mudas que comprei e saí para o mundo. O caminho de ida até que não foi tão ruim, mas, agora, na volta, Deus do céu!

Meus pulmões parecem prestes a explodir e tudo o que meu cérebro sabe fazer é me amaldiçoar, dizendo que se a intenção era adiantar o colapso ao invés de impedi-lo, era melhor ter deixado que meu corpo implodisse de tesão ao invés de exaustão. Eu estou morrendo e ainda falta pelo menos um quilômetro para que eu alcance a entrada do condomínio.

Não aguento e paro de correr, puxo uma inspiração profunda, tentando recuperar o fôlego. Dobro o corpo, apoiando as mãos nos joelhos. Talvez eu deva andar, agora. Sim! Andar parece uma boa ideia.

O som de pés batendo contra o chão surge distante, mas eu não me digno a olhar. Não sou obrigado a lidar com a imagem de alguém que sabe o que está fazendo esfregando isso na minha cara. Porque há apenas dois tipos de pessoas que poderiam estar cometendo a insanidade de correr num domingo chuvoso pela manhã: as como eu, tentando descarregar frustrações na corrida e se arrependendo dez passos depois, e aquelas que correm todos os dias. Faça chuva ou faça sol.

Decido que só vou levantar depois que o outro corredor ou corredora já tiver passado por mim e estiver longe o suficiente para não ver a minha cara de derrota e desespero. Mas é claro que a vida tem outros planos.

— Preciso chamar um reboque? — Ah, Deus! Não, por favor, não. Aperto os olhos, implorando para que eu esteja ouvindo coisas, mas ao invés de a voz familiar sumir como fumaça, o cheiro inconfundível assalta meu nariz e um corpo grande o suficiente para fazer sombra, caso houvesse sol, para na minha frente. — Eu não sabia que você corria — Hugo comenta quando não respondo a sua provocação.

— Eu não corro.

—Bem, você está parado na chuva, a mais de um quilômetro de distância de casa por quê...? — Ergo um olhar de morte em sua direção e ele joga a cabeça para trás, gargalhando. Grunho e expulso o ar dos pulmões com violência antes de endireitar a postura e marchar para longe do infeliz, batendo os pés no chão. — Precisando gastar energia, Pedro? — Com pernas muito maiores que as minhas, ele rapidamente me alcança e para na minha frente, obrigando-me a parar de andar.

— Você devia voltar a correr, Hugo.

— É isso que você quer? — pergunta e eu não consigo manter meus olhos longe dos seus. Sua boca chega perto e eu desejo que ele me beije. Ele é tão maior do que eu, como eu poderia resistir se me beijasse? Foco, Pedro! Foco! Me repreendo.

— É — digo quando ele roça o nariz atrás da minha orelha. Só então me dando conta de que alguma coisa se apossou do meu corpo e apoiou minhas mãos nos ombros largos. Hugo recua, voltando o rosto para a frente do meu.

Ele sorri daquele jeito ferino e mais rápido do que eu sou capaz de impedir, lambe meus lábios tão devagar que quase me convence a abri-los.

— Mentiroso! — sussurra, afastando-se rápido demais.

Um arrepio violento de desejo percorre meu corpo exausto e eu entendo o que Hugo quis dizer com “Não espere que eu facilite as coisas pra você.” Porque não pode ficar pior do que isso. No entanto, antes que eu possa protestar, Hugo já deu meia volta e está correndo, fazendo exatamente o que eu pedi.

Ele vira o rosto e me olha por cima do ombro com um sorrisinho maldito, dizendo, silenciosamente, que sabe estar me deixando para trás muito mais excitado do que eu estava quando ele me encontrou.

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Hugo está nu.

E eu não consigo evitar pensar que sim, podia ser pior do que a lambida não solicitada em nosso encontro inesperado essa manhã. Puta que pariu!

Tudo bem, talvez dizer que ele está nu seja um exagero da minha parte, mas o homem está usando somente uma sunga de banho e esfregando aquelas coxas musculosas, abdômen trincado e peito duro na minha cara.

A lembrança do gosto da sua pele em minha língua me faz ter vontade de fechar os olhos, mas eu resisto e os mantenho abertos, não querendo perder um segundo sequer da caminhada erótica de Hugo Maldonado. Você poderia ter mais do que uma caminhada, se quisesse. Não poderia, não.

Tudo bem, talvez ele não esteja exatamente fazendo isso, mas a temperatura é de dezoito graus célsius! Quem, em sã consciência, nada às onze da noite de um domingo enquanto chove torrencialmente? A piscina com certeza é aquecida, Pedro. Meu cérebro me lembra enquanto faço a única coisa possível em uma situação como essas: espiono atrás da porta, o que é, ao mesmo tempo, um desafio e um convite, já que elas são de vidro.

Eu estava na cozinha quando o vi passar e não posso sequer dizer que a curiosidade me venceu, porque eu nem mesmo tentei lutar contra ela. Praticamente corri atrás do homem da maneira mais silenciosa possível, curioso para entender o que faria Hugo andar seminu pela casa, ansioso para acusá-lo de provocação e arrumar uma briga que eu intimamente desejava que acabasse com ele me fodendo em qualquer posição que fosse, do jeito que ele quisesse.

Mantendo-me afastado apenas alguns passos para que Hugo não percebesse minha presença, descobri que no andar subterrâneo há uma piscina olímpica coberta. Ele passou pelas portas de vidro, entrou debaixo de um chuveiro e eu quase babei enquanto observava os braços definidos empurrarem os cabelos para trás. A inveja que senti das gotas de água escorrendo pela sua pele carimbaram meu atestado de insanidade.

Deliciosamente molhado, Hugo se posiciona na borda da piscina, preparando-se para entrar na água e seus olhos parecem se focar na minha direção por um segundo antes de ele movê-los para o lado. Eu estou ficando louco, pelo amor de Deus, como ele me veria se estou praticamente inteiro escondido atrás de uma parede?

Ele salta em um mergulho perfeito que evidencia cada um dos músculos do seu corpo e a cada volta que ele dá na piscina, esticando os braços e batendo as pernas, a dureza descontrolado em meu sexo, que não sei quando começou, aumenta. Imagens da noite de sexta se misturam com a minha observação silenciosa do corpo escultural se movendo com precisão exatamente como fez na cama.

As mãos deslizaram pela minha pele, sabendo onde tocar, como apertar. A boca me beijou, lambeu, chupou, mordeu. E o pau! Homem nenhum deveria ter uma arma tão poderosa entre as pernas. O ego deles já costuma ser grande sem essa dose cavalar de autoestima. O homem sabe foder. Porra, e como sabe.

Minha respiração se descontrola e minha boca seca, meu corpo inteiro protestando por não poder ter mais da melhor transa que já teve na vida. Lembro-me da cara de Hugo nas duas vezes em que eu reduzi a noite que tivemos a “divertida”. Minutos antes de deixar seu quarto e, depois, ontem de madrugada, na sala de televisão.

Dizer que nossa noite foi divertida é o eufemismo do século, mas se eu repetir que não passou disso por vezes o suficiente, talvez eu comece a acreditar. Talvez minha decisão de não repeti-la seja mais fácil de manter.

Viro-me, abandonando a visão clara que tinha do exercício de Hugo e encostando-me à parede em minhas costas, ficando completamente escondid9 pelo corredor. Fecho os olhos e tento recuperar o controle do meu próprio corpo. Minha mente está tão entorpecida pelo desejo súbito que a tomou que seria um milagre eu conseguir ouvir qualquer coisa, de tão altas que são as batidas do meu próprio coração.

Sopro o ar pela boca, mas não adianta. Minha pele vibra de vontade. A noite de sexo deveria ter servido para aplacar o desejo descontrolado que me dominava todas as vezes em que Hugo e eu nos encontrávamos.

Então por que, em nome de Deus, ao invés de me sentir aliviado e em paz, eu estou tomando decisões patéticas como sair para correr em busca de alívio físico ou seguir o homem pelos corredores da sua própria casa e me sentindo excitado a ponto de considerar seriamente me masturbar em um lugar completamente inadequado apenas com a visão do corpo gostoso molhado?

Minha pulsação é uma batida frenética de bateria de escola de samba e decreto meu total e absoluto descontrole quando o cheiro de couro e terra molhada invade meu nariz. Como se não bastasse eu tê-lo sentido nos lençóis que dormi depois de ter beijado Hugo ontem à noite, agora também vou senti-los em corredores aleatórios?

— Gostou do show, Pedro? — A voz rouca não esconde o desejo e eu quase a confundo com a que eu escutava em minha própria cabeça, exceto que eu nunca havia ouvido essas palavras na voz de Hugo antes, então não poderia ser uma lembrança.

Abro os olhos alarmado e descubro que sim, fui pego em flagrante. O corpo molhado está diante de mim e basta que eu reconheça sua presença para que Hugo elimine quase todo o espaço entre nós. Ele espalma as mãos ao lado da minha cabeça e seus bíceps saltam ainda mais aos olhos. Centímetros miseráveis são a única distância que Hugo mantém entre seu corpo deliciosamente molhado e o meu. Entreabro os lábios, desesperada por qualquer fonte extra de ar.

— Gostou? — repete a pergunta. Mordo o lábio enquanto acompanho quase obsessivamente o caminho que uma gota de água faz do seu maxilar até o abdômen. Covarde demais para negar e completamente incapaz de fugir, como sei que deveria, assinto quando perco a gota de vista no momento em que ela é absorvida pelo tecido da sunga. Inutilmente, passo a língua seca sobre os lábios quando percebo o volume ali. Levanto os olhos. — Ótimo. Agora você precisa pagar pelo ingresso. — O sussurro rouco não pergunta, mas os lábios que se aproximam dos meus pairam sobre eles sem se mover por tempo o suficiente para que eu entenda que se trata de um pedido por permissão.

Chuto a racionalidade. Assalto a boca sobre a minha com todo o desespero que está sendo expulso do meu baixo-ventre em ondas quase táteis. Hugo também não finge calma. Suas mãos agarram a minha cintura imediatamente e ele me ergue no ar.

Cruzo as pernas ao redor dos seus quadris. O tecido molhado de água da sua sunga esfregando-se contra a minha cueca arruinada pelo tesão. O gemido que escapa por entre meus lábios é engolido pelos seus.

Uma das suas mãos agarra minha coxa e a outra vai direto para o meu pescoço, imobilizando-me antes da sua língua descer pelo meu queixo, lamber minha garganta e continuar o seu caminho pelas minhas clavículas.

Gemo alto e rebolo contra a ereção pressionada entre as minhas pernas. Hugo esfrega-se em mim, ajudando com a fricção, mas nenhuma das suas mãos se move e quando seus olhos desafiadores procuram os meus, eu sei que isso não vai mudar. Seu olhar diz: “Quer? Então venha buscar!”

E eu não deveria, mas vou. Deslizo os dedos pelo pescoço forte e empurro a cabeça de Hugo contra o meu peito ao mesmo tempo em que arqueio as costas e impulsiono meus quadris. Eu me ofereço inteiro para ele, esfregando o pau completamente duro na ereção que já escapa da sunga, devido aos movimentos intensos dos dois corpos, e ditando o ritmo com que sua boca mama meu peito.

O orgasmo vem rápido, atravessando meu corpo e o partindo em dois, quase ao mesmo tempo em que Hugo morde meu mamilo, e eu sinto o calor molhado do seu gozo escorrer em minha pele e ser espalhado pelo meu pau e cueca quando ele continua o rebolado até que não haja mais nenhuma gota a ser esporrada.

Seus músculos tremem sob os meus dedos e eu sei que não há a menor possibilidade de eu conseguir manter meus planos quando ele levanta os olhos e apenas uma pergunta deixa seus lábios, que continuam ao redor da minha pele.

— E isso? Foi divertido, Pedro?

— Você não presta!

— E você vai deixar eu te levar pra minha cama e te mostrar todas as maneiras diferentes que eu sei de não prestar? — Mordo o lábio, mas a quem eu pretendo enganar?

— Só mais uma noite — murmuro, e a única resposta que recebo é uma risada rouca antes de Hugo tomar minha boca num beijo que deixa muito clara a sua opinião sobre o meu decreto: nem fodendo.

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*** HUGO MALDONADO ***

— E essas mudanças serão o suficiente, Teodoro? — De pé no meu escritório, diante das amplas janelas voltadas para o interior do prédio, observo a movimentação intensa nos andares inferiores, onde a parte administrativa da filial funciona a todo vapor.

— Acredito que sim, essas e as que já fizemos devem deixar os centros de distribuição prontos para receberem o novo equipamento de embalagens — o gerente de operações responde.

— Muito bem. Então está resolvido — concordo e Teodoro assente em confirmação.

— Isso vai reduzir os custos de envio em quinze porcento, Hugo. É um grande acerto.

— Fico feliz de estar aqui pra ver acontecer. — Estendo a mão para o homem magro e alto que usa um cavanhaque escuro. Ele entende a dispensa silenciosa, se levanta da cadeira em que estava sentado, de frente para a minha mesa, e aceita o cumprimento.

— Qualquer coisa, eu estou a um e-mail de distância.

— Obrigada, Teodoro. — O homem sai da sala, e minha mente divaga por todas as informações que já recebeu no dia , desde relatórios que preciso analisar ainda hoje até o planejamento necessário para a instalação das máquinas de que o Teodoro falava.

Entretanto, basta um instante de divagação para que, como se estivesse apenas esperando por uma oportunidade, a imagem de Pedro nu, embolada nos lençóis da minha cama preencha os meus pensamentos. Sorrio me lembrando da sua tentativa de me seguir furtivamente ontem à noite.

Não levei nem mesmo um minuto para perceber que ele estava atrás de mim. Ao contrário do que seria esperado de alguém com a sua estatura, Pedro é péssimo se escondendo. Eu sabia que ele estava na cozinha e fiz questão de passar pelo cômodo apenas para provocá-lo. Avisei que não facilitaria as coisas, mas as consequências de ter me seguido estão todas na conta dele.

Eu achei que depois de uma breve espiada, o professor daria meia volta e iria embora, mas é claro que ele não fez isso. Desde que o conheci, Pedro se recusa a fazer o que espero. Ele ficou. Dei cinco voltas na piscina muito consciente do seu olhar, e quando achei que ele iria embora, ele simplesmente se escondeu.

No momento em que passei pela porta, fui capaz de sentir o cheiro do seu pau excitado. Gozei como um adolescente punheteiro, se esfregando na namorada virgem e foi bom pra caralho. Balanço a cabeça, negando. Quais eram as chances? De todas as pessoas por quem minha filha poderia cair de amores...

A luz do telefone em minha mesa acende, avisando sobre uma chamada interna. Sento-me em minha cadeira e pressiono o botão, aceitando-a.

— Senhor Maldonado. — A voz da minha secretária ecoa através do alto-falante.

— Sim? — pergunto, abrindo a primeira pasta da pilha que precisa ser analisada e tiro um maço de papéis repleto de números lá de dentro.

— Sua mãe está ligando pela terceira vez hoje. Ela também ligou na sexta e no sábado, mas o senhor não retornou as ligações.

— Diga a ela que retorno mais tarde, por favor.

— Tudo bem — concorda antes de encerrar a chamada.

Aperto a ponte do nariz, sentindo-me tonto apenas com o pensamento de passar a tarde inteira analisando números. A percepção de que provavelmente não colocarei Beatrice para dormir hoje me faz torcer os lábios, mas saber que Pedro estará lá para lhe contar sua história espalha um calor estranho no meu peito. A mesa de vidro treme e produz um som irritante quando meu celular começa a vibrar em cima dela.

Desvio o olhar dos relatórios apenas por tempo o suficiente para ver uma foto da minha mãe sorrindo com Beatrice em seu último aniversário acesa na tela do telefone. Estico o braço, atendendo a ligação.

— Achei que ia me ignorar por aqui também — me saúda.

— Boa tarde, mãe.

— Boa tarde — responde, mas pelo seu tom, sei que está chateada. Suspiro e passo a mão pelos cabelos antes de soltar os poucos papéis que tinha na mão e espalhar as folhas sobre a minha mesa. — Por que você não retornou as minhas ligações?

— As coisas estão um pouco complicadas por aqui.

— Isso não é uma desculpa pra você se isolar, Hugo. Uma coisa é você fazer isso aqui, perto da sua família. Mas em outro estado é completamente diferente.

— Eu não estou me isolando, só estou trabalhando.

— Você está há três dias ignorando as minhas ligações e isso porque eu não liguei ontem, senão, tenho certeza que seriam quatro.

— Eu sabia que se fosse sério você ligaria pro meu celular. Aliás, onde é o incêndio?

— Quero ver minha neta.

— Beatrice disse que falou com você ontem.

— Ao vivo, Hugo. Vou buscá-la no próximo fim de semana.

— Você quer dizer, “Posso buscá-la no próximo fim de semana?”, certo? — repito as palavras acrescentando o tom interrogativo e minha mãe bufa.

— Eu te coloquei no mundo! — Stelle reclama e é a minha vez de bufar.

— E eu coloquei Beatrice no mundo. — Posso sentir o revirar de olhos da minha mãe mesmo a mais de mil quilômetros de distância.

— Posso? — Se dá por vencida e pede, claramente desgostosa por precisar fazê-lo.

— Pode. Mas eu a quero de volta no domingo à noite. — O gritinho satisfeito da minha mãe me arranca um sorriso contrariado. — Agora eu posso voltar a trabalhar?

— Pode, mas atenda as minhas ligações! Não me faça te visitar, Hugo! — ameaça. — Eu não vou ficar em um hotel e você não vai gostar disso. — Apenas a perspectiva de ter minha mãe hospedada em minha casa me faz gemer. — Exatamente! — Percebo que emiti o som mais alto do que deveria quando ela concorda comigo. — Posso contar para Beatrice?

— Pode.

— Bom trabalho.

— Obrigado, mãe. E tente não planejar nada muito megalômano para o fim de semana.

— Vou tentar.

— Não, você não vai.

— Não mesmo — concorda aos risos antes de desligar o telefone.

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Encosto-me ao batente da porta da biblioteca e observo um Pedro concentrado dividir sua atenção entre fazer anotações em um caderno, digitar algumas coisas e ler outras na tela do notebook sobre a mesa diante delale. O rosto bonito tem uma ruga na testa e vez ou outra ele morde o lábio.

Passo alguns segundos observando. Pedro é tão jovem, mas se as últimas duas semanas me mostraram alguma coisa é que ele também é extremamente responsável. Eu não tinha dúvidas sobre o profissional que ele é, o IABE não contrataria alguém que fosse menos que excelente. Mas Pedro tem mais do que competência, ele é apaixonado pelo que faz e isso é notável.

Os cabelos estão presos no alto da cabeça e o corpo está vestido por um moletom cinza com estampa do piu-piu e calças pretas . Acho que ele precisou ir às compras outra vez, e se o proprietário de sua casa alugada, com quem tive uma conversa hoje, estiver certo, é possível que ele precise ir às compras uma terceira vez.

Há fones intra-auriculares em seus ouvidos e sem me ouvir, ele só percebe minha presença quando gira o pescoço à procura de alguma coisa na sala.

— Oi — diz, retirando os fones. — Precisa de alguma coisa? — A pergunta é inocente, mas o olhar que desliza pelo meu corpo não.

— Atrapalho?

— Não, só estou adiantando alguns planos de aulas. — Assinto e entro na sala. Alcanço a mesa diante da qual Pedro está sentado e encosto-me a ele. O homem gira a cadeira de rodinhas levemente, parando-a de frente para mim. O corpo pequeno é praticamente engolindo pela cadeira espaçosa.

— Eu estava passando e vi as luzes acesas.

— Eu gosto de tirar as noites de segunda pra planejar.

— Você nunca me disse por que escolheu ser professor.

— Você nunca perguntou.

— Precisamos corrigir isso, então. Por que o magistério? — Pedro inclina a cabeça, parecendo surpreso com o meu interesse. Eu estou surpreso com o meu interesse. Mas foi inevitável.

— Houve um momento na minha vida em que eu precisei ser salvo, eu achei que me afogaria, fiquei muito tempo na água, ninguém me via, ninguém me ouvia, quer dizer, muita gente me olhava, mas ninguém me via de verdade, sabe?

— Quando você perdeu seus pais. — Entendo e ele concorda com um aceno.

— Eu tinha a idade da Be. Ninguém tá preparado para a dor da perda, mas uma criança de sete anos... — Os olhos de Pedro se tornam vítreos e, por um instante, é quase como se ele estivesse visitando esse passado distante.

— Um professor te enxergou.

— Uma professora me enxergou. Carla Miranda. — O sorriso ao dizer o nome da mulher transborda emoção e eu acabo sorrindo também.

— E você? Eu sei que você dirige uma companhia, mas o que exatamente você faz?

— Agora? Analiso relatórios e assino documentos, basicamente.

— Não parece muito divertido.

— Não é.

— E por que você continua fazendo?

— Como assim? — Estranho a pergunta. — Ser adulto não é muito divertido na maior parte dos dias. É como as coisas são.

— Eu discordo de você. Claro, há dias ruins, mas são dias. Não é a maior parte das vezes. Eu acho ser adulto muito divertido. Eu dispensaria facilmente a parte dos boletos, é claro. Mas gosto do resto. — Umedeço os lábios e a pergunta sobre o motivo de ele não usar o dinheiro da família quase me escapa, mas não sei como Pedro vai receber minha curiosidade e tenho medo de estragar o momento. Não quero que ele acabe e é por isso que continuo falando.

— Eu queria ser um hacker.

— Jura? — Ele soa extremamente surpreso.

— Por que a incredulidade? — Seus olhar desliza pelo meu corpo, analisando a camisa com os dois primeiros botões abertos, as mangas dobradas, a calça do terno, depois sobem de volta para o meu rosto.

— Você não se parece muito com a ideia que eu tenho de um hacker.

— Sou sexy demais para ser um hacker? — brinco e ele gargalha. Eu adoro o som.

— Não é sobre ser sexy. É só sobre você ser engomadinho.

— Engomadinho? — Uma risada incrédula arranha minha garganta e os olhos de Pedro, outra vez, me analisam de cima a baixo.

— Definitivamente, engomadinho.

— Eu costumava ser muito descolado.

— Eu não posso imaginar como. — Dá de ombros e eu estreito os olhos. Pedro parece ainda mais satisfeito consigo mesmo e eu estalo a língua. — E como foi que você foi de aspirante a hacker para CEO?

— Eu criei um site e ele deu certo.

— Simples assim?

— Simples assim. Essa não é a versão que eu dou pra imprensa, mas a verdade é que eu só segui o fluxo. Estudei e trabalhei muito, é claro. Ainda trabalho pra caralho. Mas as coisas aconteceram e eu andei conforme a banda tocava. — Ele balança a cabeça.

— Prometo que seu segredo está seguro comigo — sussurra, me fazendo sorrir.

— É bom saber que você é confiável. — Dou uma piscadinha para ele e Pedro morde o lábio. — Conversei com seu senhorio hoje. — Trago à tona o assunto sobre o qual eu queria conversar desde hoje à tarde.

— Boas notícias? — pergunta esperançosa.

— Na verdade, não. — Seu semblante cai imediatamente e eu me arrependo um pouco de ter falado sobre isso. — Além da dificuldade de acesso ao Ribeirão, parece que a vila onde sua casa está alagou. — Os olhos de Pedro se arregalam. — Acha que pode ter perdido algo de valor?

— Não. — Balança a cabeça em negativa. — Eu só trouxe roupas.

— Infelizmente precisamos esperar parar de chover. — Um silêncio incômodo se instala. — Hoje já choveu bem menos — digo, tentando apaziguar não sei o quê.

— Entendi — diz baixinho e vira o rosto, arrancando os olhos grandes dos meus. Não consigo me conter. Estendo o braço e apoio os dedos indicador e médio sob o seu queixo, exigindo com delicadeza o seu olhar de volta.

Ele suspira quando o toco e seus olhos piscam devagar, como se Pedro estivesse se controlando para não demonstrar todo o prazer que o contato simples proporcionou. Não preciso que ele me diga, eu o sinto. A coisa física entre Pes4o e eu tem uma natureza irresistível. Mas a verdade é que conversar com ele é sempre tão gostoso quanto tocá-lo.

— Sinto muito — digo sinceramente. Sua estadia forçada durante o fim de semana veio a calhar para que ele não pudesse fugir de mim, é verdade. Mas entendo sua chateação por não poder ir para casa. Pedro conquistou sua independência cedo, imagino que seja difícil para ele perder a liberdade de ter o próprio espaço.— Você gostaria de ver outro lugar pra você? — ofereço, e embora saiba que a sugestão é justa, ele deixa um gosto estranho em minha boca.

— Você está me expulsando? — A pergunta é feita em tom de brincadeira.

— Sinceramente?

— Sempre.

— Estou oferecendo porque é um direito seu, mas não acho que você dormir o mais longe possível de mim seja ainda uma ideia tão divertida assim. — Isso faz Pedro sorrir e por algum motivo, eu me sinto bem pra caralho. — E eu nem sou o morador dessa casa mais entusiasmado com a possibilidade de você passar mais algum tempo por aqui.

— Ah não?

— Não me leve a mal, eu realmente gosto dessa ideia. — Deslizo a mão pelo rosto até que as pontas dos meus dedos alcancem a nuca de Pedro. Acaricio ali e ele ronrona. O som é uma delícia. — Mas acontece que você roubou o lugar de melhor contador de histórias para dormir. A culpa disso é toda sua. — Elale sorri um sorriso sincero, afastando a nuvem que tinha nublado seu rosto quando dei a notícia sobre o alagamento da vila e se houvesse um marcador de satisfação pessoal, o meu teria subido mais alguns pontos agora.

— Não é minha culpa se o contador de histórias anterior não sabia fazer as vozes dos personagens.

— Ele era um contador de histórias muito bom, apesar disso.

— Foi o que me disseram — concorda rindo. Mais silêncio, dessa vez, permeado por uma troca de olhares intensa. — Você chegou tarde.

— Foi um dia e tanto e amanhã não vai ser muito melhor.

— Sinto muito.

— É parte do trabalho. Eu te disse, é como as coisas são. Eu não me importo. Só lamento por não ter conseguido colocar a Beatrice pra dormir.

— Ela ficou satisfeita com a chamada de vídeo.

— Minha filha é uma criança fácil demais de agradar.

— Eu espero que isso não seja uma insinuação sobre o meu troféu de melhor contador de histórias. — Ergue um olhar de desafio e eu gargalho antes de erguer as mãos em sinal de rendição e entortar os lábios.

— Longe de mim.

— Pois muito bem. Não precisamos ver outra casa ainda. Vamos esperar pra ver o tamanho do estrago depois que a chuva parar.

— Parece uma boa ideia. Que história você contou hoje?

— Os três porquinhos.

— Ah, não! Não acredito que perdi essa. — Finjo decepção. — Por que você não me coloca pra dormir também? — O rosto de Pesro congela por um instante antes de nós dois gargalharmos.

— Essa, sem dúvida, foi a pior cantada que eu já ouvi na vida! Horrível, Hugo! Horrível! — diz entre gargalhadas.

— Admito, não foi um dos meus melhores momentos. — Gargalho também.

— Não mesmo.

— Você quer me dizer qual foi?

— Você precisa parar com isso.

— Parar com o quê?

— Você sabe com o quê.

— Passa a noite comigo? — Faço o convite sem rodeios e Pedro arfa. Desço os dedos pelo seu maxilar até roçar o polegar sobre os seus lábios. A mudança no ar é imediata e arrasadora, como estou começando a perceber ser um padrão quando o assunto é o Bela Armadilha.

— Isso é um erro — repete as palavras que disse depois que nos beijamos pela primeira vez e fecha os olhos, entregando-se à sensação do meu toque.

— E você vai se arrepender disso. — Sigo seu roteiro quando forço a separação dos seus lábios com a ponta do polegar. A língua de Pedro sai da sua boca somente o necessário para roçar a ponta do meu dedo e eu imediatamente enfio a mão livre por seus cabelos, colando o corpo pequeno ao meu no exato instante em que ele se levanta da cadeira.

Nos encaramos, respirando o mesmo ar por algum tempo e eu fico esperando a última frase da tríade de Pedro, e quando ao invés de dizer “não vai passar disso” ele me beija, tem gosto de início da vitória. Uma pela qual eu estou muito ansioso.

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Comentários

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O conto é lindo. Sem motivos para colocar obstáculos. O tesão está no ar. O patrão já está apaixonado, a filha adora o prof. que por sua vez adora trepar com o paizão gostoso. Esperar mais o que para ser feliz?

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