XVII
Era como se eu estivesse retornado ao ensino médio, senti uma bola de papel bater na minha orelha, e ao abrir o papel amassado havia uma rola desenhada.
- Quem foi o idiota? - eu disse para a turma.
O professor ainda não havia entrado na sala e os meninos mais ao fundo ainda com marcas de espinhas na cara, pareciam ter saído de uma das temporadas de Elite de tão filhinhos de papai que cheiravam ser.
- Qual foi boqueteiro! - um deles de cabelos lisos caindo pela testa e pelas orelhas exclamou. - Tá achando que aqui é estúdio pornô errou de curso.
- Vai se foder, - respondi.
Umas meninas ao lado ficavam suspirando contendo gritinhos.
- Acho que você errou de curso e de instituição meu chapa - esse mesmo atrevido disse - melhor ir para uma das publicas onde só tem maconheiro e veado igual você!
Uma mulher de cabelos crespos soltos e uma tiara de tecido avolumando o cabelo atrás, entrava na sala e colocava a sacola parecendo de fibra biodegradável sobre a mesa, nesse mesmo instante.
Ela olhou para mim e depois para o garoto mais ao fundo. Eu suspirei e sentei no meu lugar.
- Você é? - ela disse compassadamente.
- Yuri, - respondi.
A voz do cara já estava insuportável para os meus ouvidos minha vontade era voar em cima dele e arrancar aqueles cabelinhos.
- Daquele vídeo professora, - o cara falou. - Aquele que discutimos na sua primeira aula.
Ela abriu um sorriso de bochecha a outra, puxou uma garrafa com água de dentro da sacola, bebericou, e olhando para mim disse:
- Realmente Erick, discutimos sim, um vídeo que pelo visto foi feito de forma ilegal e divulgado em mídias sociais, com graves riscos a dignidade de um dos envolvidos.
- Mas está na cara que ele sabia que estava sendo gravado.
Ela passou uma mão contra outra e suspirou:
- Yuri, eu leciono direito e comunicação. Ninguém nessa sala informou que o vídeo que está circulando, tinha um dos nossos alunos. Por isso eu...
Antes que ela terminasse de falar eu a interrompi.
- Não tem problemas - eu falei - na verdade, eu estava bêbado, e não pensei que fossem gravar.
- Ah para! - Erick voltou a dizer.
- Estou falando sério.
Os olhares de reprovação estavam estampados nas caras de todos os meus colegas e embora eu estivesse conhecendo eles naquele momento, senti um estremecimento de vergonha por ser o centro das atenções.
A professora seguiu a aula sobre direito de imagem e a lei Carolina Dieckmann, após o incomodo inicial, deixei de pensar em mim como o objeto central daquela aula. Mais ou menos como aqueles caras que pousam pelados para os outros pintarem.
Eu estava naquela situação e eu mesmo havia me colocado naquela situação.
Maicon e eu fomos bater perna pela cidade e acabamos em um açaí no centro.
- Eu e meu primo somos - e encheu a boca com açaí - apaixonados um pelo outro desde moleques.
- E por que não se acertam logo?
- Aí é que está, - ele disse abrindo a boca e reclamando do gelo - a gente só se acerta na cama.
- Nossa - falei maldoso - já foram tantas vezes assim?
- Digamos que... algumas... - Maicon arregalou os olhos. - Mas em todas éramos adultos já há muito tempo!
Ele achou conveniente salientar e eu mordi o lábio inferior "nossa, fui um safado desde a puberdade", pensei comigo mesmo lembrando das safadezas ainda antes do ensino médio.
Conversa vai, conversa vem, pedimos algumas bebidas e eu comecei a ficar um pouco alto. No final das contas voltei para casa em um Uber mais dormindo que acordado.
- Betão? - chamei do batente da porta. - Beeetãooo...
"Ah os remédios!", pensei meio tonto, e com o dedo entre os lábios fiz "xiiii" para ninguém em especial.
Eu caí de cara na cama e despertei com um corpo colado ao meu abaixando a minha cueca.