Três Colinas: Capítulo 3 - Dentro

Da série Três Colinas
Um conto erótico de Maciel Petrópolis
Categoria: Homossexual
Contém 5979 palavras
Data: 07/07/2024 10:27:23

Não demorou até chegarmos ao nosso destino, alguns policiais nos esperavam do lado de fora da passagem estreita. Junto a eles, dois cachorros da equipe policial estavam ali. Havia apreensão no ar.

As cavernas eram úmidas e frias, onde se ouvia sons de gotas caindo para todos os lados e tudo era escorregadio demais. Era preciso ter cuidado naquele lugar. Fomos eu, ele e outro policial, para o local indicado, enquanto outros já estavam dentro mapeando a região e isolando a área.

Entendi que eram sim marcas de sangue, e dada a forma como estava acreditei que a vítima foi carregada e que se machucado na pedra em que encontramos a marca, sem que houvesse sinal de resistência ou luta apenas o transporte. Com certeza, quem a carregou naquele momento deve ser escorregado. Seria difícil encontrar impressões digitais, mas mandei uma equipe buscá-las na área. Aquela descoberta tinha sido a poucos minutos atrás, e nesse caso, deverias manter aquela informação no máximo de sigilo possível até darmos o melhor encaminhamento possível. Nessa altura, tanto eu como Marinho acreditávamos que poderia haver vazamento de informações privilegiadas por parte da equipe policial. Mas não demos publicidade a isso, mantivemos entre nós dois, meu supervisor e um policial do seu departamento que era seu braço direito, que por sinal estava muito perto da aposentadoria. Na caverna, o musgo no chão estava bastante desgastado em algumas partes, que entendi ser onde a pessoa que carregava a vítima escorregou, mesmo assim o calçado era apropriado para aquele ambiente. A marca parecia ser de botas de caça, mas não grandes o suficiente para um pé masculino. Comecei a pensar na hipótese de que a vítima estava sendo carregada por uma mulher, especialmente pelo aspecto estreito da caverna em que estávamos, ou então por alguém com pés pequenos no geral.

Marinho tomou nota de tudo, e buscamos seguir a trilha. Depois de aproximadamente 20 min, mesmo já não havendo rastro de sangue a seguir, chegamos em uma piscina natural que marcava o fim do nosso percurso. Havia um breve resquício de sangue na margem, sem sinal de continuidade. Não encontramos nada material além disso. Sabia o que precisava ser feito, e estava pensando que uma equipe de mergulho deveria agir rapidamente ali, pois o sangue era fresco; ao mesmo tempo que pensava que precisaríamos mergulhar ali nós mesmos imediatamente. Quando eu disse isso a Marinho, percebi que seu olhar mudou rapidamente, como se pensasse no que fazer.

Eu e o policial olhavámos para aquela situação, mas Marinho parecia concentrado. Eu um gesto rápido ele tirou seus sapatos, me entregando o celular e a arma, e colocando na boca uma lanterna, explicando que ia mergulhar para o outro lado. Eu não consegui raciocinar com aquela informação pois tudo foi muito rápido. O policial que apenas olhava, disse que iria fazer guarda, chamando reforços em seguida e explicando a situação por rádio, dizendo que era uma situação de emergência.

Mal me entregou seus pertences e mergulhou, sumindo de vista. Fiquei com o peito aflito, e naquele momento me vi em completo desespero. Só queria que ele voltasse o mais rápido possível, sentia um medo indescritível e irracional de não vê-lo outra vez, mesmo entendendo que ele sabia o que estava fazendo. A angústia tomou conta de mim, enquanto eu pensava no que fazer. Peguei algumas células de iluminação e as joguei no fundo da cratera, de forma que ela poderia coordenar o caminho de volta do delegado. Nesse momento, eu já analisava o ambiente e buscava uma lanterna ao meu lado, sabendo o que precisava fazer em seguida.

Foram pouquíssimos minutos, que me fizeram fazer o que fiz. Em um pico de coragem tirei minha jaqueta, me preparando para mergulhar também. Eu não pensava muito bem no que fazer, mas apenas a ideia de não vê-lo mais me atormentou de uma forma absurda. Marinho portava uma lanterna em suas mãos o que ajudava com a visibilidade nas profundezas. O medo só crescia, já que não aparecia sinal dele naquelas águas. Eu mergulhei vendo muito pouco, em uma tentativa desesperada de encontrá-lo.

Notei um breve feixo de luz vindo das profundezas, e não pensei duas vezes antes de mergulhar ainda mais profundamente, sentindo meus pulmões apertarem no meu peito. Ele tinha uma garota nos braços, que peguei e emergi, enquanto ele também nadava para cima. Entreguei a garota nos braços do policial, que parecia não acreditar no que estava acontecendo. Imediatamente, a menina começa a chorar em um grito absoluto, tão alto e claro como se estivesse reivindicando sua vida. E de fato estava: uma vítima viva, consciente e aparentemente sem nenhum arranhão a não ser um corte no joelho.

Mergulhei novamente e entrelacei um braço em volta do delegado, que nadava com dificuldade. Nadamos até a superfície, de forma desesperada. Respiramos aliviados quando sentimos que era possível, eu não conseguia soltar ele tamanha era a angústia desse momento. Ele parecia fraco, e pude sentir todo o desespero dele naquele momento, que apoiava-se em mim sem medo, mesmo sabendo que não estávamos sozinhos. Eu o segurei como se fosse a coisa mais importante do mundo para mim, e naquele momento ele era. O coração dele batia acelerado, eu sentia isso ainda o segurando com meus braços. Seu peito era forte e os músculos ali revelavam hábitos de uma pessoa preparada para as eventualidades do trabalho em campo.

Saímos das águas nos arrastando, tossindo e ofegantes. Ele possuía um corte no braço que sangrava. Sua cara de dor me partia ao meio e me desesperava profundamente, por um momento esqueci que aquele homem acabou de resgatar uma das garotas sumidas, sã e salva. Eu ainda tinha ele em meus braços, onde o homem buscava se acalmar intercalando entre respiração e olhares para mim. Eu estava sentado, apoiado em uma pedra com seu rosto apoiado no meu tronco, sentia sua barba áspera no meu braço passando pela blusa que cobria minha pele e isso me deixava com uma sensação boa – ele estava ali e vivo. Eu era apertado por ele o que chegava a me machucar um pouco, mas sinceramente não me incomodou. Ele iria ficar bem, e naquele momento eu sabia que o queria. Não sei se pelo caos do momento, pela onda de coisas que acabaram de passar pela minha cabeça naquele breve espaço de tempo, mas sabia que estávamos juntos daquele momento em diante em mais um pacto silencioso que fazíamos.

Não dissemos nada, só senti que ele apertou com força minha mão, parecendo não querer soltá-la, enquanto repousava sobre meu corpo na margem daquelas águas me pedindo ajuda para levantar. Saímos de lá com dificuldade, notando que o mesmo havia entrado em confronto. Mesmo com um corte superficial, notei que ele pressionava sua coxa o que provavelmente seria resultado de alguma pancada que ele sofreu.

Logo, vários outros policiais estavam no local. Desse momento em diante corremos para sair dali e buscar alguma ajuda médica para os dois. Antes de irmos para o hospital, Marinho ordena da ordens para a equipe, enquanto eu instruí algumas buscas externas na região na direção da saída dos túneis. De forma imediata, os policiais agiram. A notícia se espalhou rápido e agentes estavam lá como abelhas em uma colmeia em enxame. Já no hospital, a garota estava bem, sem sinal de violência ou desnutrição, mas estava assustada, o que era bastante compreensível um estado de choque naquele momento.

Notei quando a família chegou chorando e abraçando a criança, um momento único dado as circunstâncias... um verdadeiro milagre. A esperança habitava o coração de todos ali naquele momento. Uma nova via da caverna foi descoberta graças a coragem de Marinho, fazendo com que mais duas jovens fossem encontradas em situações semelhantes, perfeitamente bem. Dessa vez, um grupo de resgate foi acionado, o que trouxe alívio para mais duas famílias.

Mesmo que ainda faltasse três jovens a serem encontradas, nossa moral estava mais alta. Percebia isso na equipe de policiais, que parecia elétrica e atenta a tudo, naquelas mesma manhã mais duas pessoas foram detidas em custódia, agora pertencentes a uma comunidade pesqueira ali da região.

Eu esperava do lado de fora da sala que Marinho era atendido, ele ainda estava pálido e abatido. Por sorte, nada de grave aconteceu, apenas uma pancada na coxa e um corte no braço feito com uma faca muito afiada. Levou alguns pontos, tomou analgésicos e já estava dispensado para repouso, a segurança do local tinha sido reforçada e as buscas nas minas intensificadas. Na verdade, o médico pediu pediu que ele ficasse em observação, mas ele se deu alta. A teimosia típica dele, que assim como uma mula faz coisas como estas desde que o conheço.

O delegado estava feliz, apensar da dor e do estado atônito dele. Policiais e profissionais da saúde cumprimentavam-o em sinal de respeito, também fui parabenizado por alguns dado a pista da água com concentração calcárea, algo simples mas que havia dado um bom resultado... Melhor do que imaginávamos. Eu não conseguia pensar em nada naquele momento, só que queria ir embora dali e cuidar melhor dele em casa.

Ele permaneceu em silêncio durante o caminho, apresentando um semblante de dor, mas satisfação dado aos resultados. Eu dirigia seu carro, rumo a nosso lugar. Nesse meio tempo, ele me explicou que foi atacado, mas que não conseguiu ver o rosto de quem o agrediu, completou explicando que parecia algo feito no susto e que não existia visibilidade na câmara do outro lado da piscina natural. Nessa altura, ele tirou uma tipóia que apoiava o braço e jogou pela janela, me fazendo achar a situação engraçada.

Ele olhava o pôr do sol pela janela do carro, admirando raios de luz dourados por entre um céu que começava a ficar nublado. A vista dali era realmente muito linda. As vezes ele fechava os olhos, outras apenas contemplava a paisagem. Notei que ele provavelmente não queria falar nada e o deixei em paz. Quando quisesse, falaria.

***

Quando chegamos ele foi direto para o quarto em passos lentos. Eu estava preocupado com a possibilidade dele estar mais machucado do que aparentava, e não contar isso por pura teimosia. "Estávamos finalmente em casa", ei pensei.

Eu estava tão exausto que só pensava em deitar e dormir, de preferência com o rosto dele no meu peito e sentindo o cheiro de seu cabelo. Algo em mim dizia que era a mesma vontade dele. Eu tomei a frente e direcionei uma série de ordens de ação para a equipe de forma que senti que poderíamos respirar nem que fosse por alguns momentos para ter certeza que ele estava bem, os policiais concordaram que o delegado precisava de descanso.

Eu estava um pouco pensativo. Todas essas coisas aconteceram em um dia praticamente, e a adrenalina no meu corpo parecia não diminuir um segundo. Ainda pensava nas outras garotas, em como resgatá-las, se estariam vivas... Pensava no que sentia por Marinho, em como tudo foi tão rápido. Seria tudo um grande delírio da minha mente ou eu estava vivendo algo real? Como eu, que já nem acreditava no amor, agora me vejo completamente preocupado com alguém assim para além do cuidado profissional!? Acho que nem no meu último relacionamento eu me senti assim tão preocupado com alguém, e olhe que ambos trabalhávamos em situação de risco.

Na minha cabeça, era como se fossemos cônjuges, e isso me atormentava. Eu não acreditava que esses sentimentos rápidos e violentos fossem durar. Na minha mente, pensava que quando fosse embora dali não o veria mais, e tudo voltaria a ser como antes. Por Deus, eu não quero que nada volte a ser o que era antes... Eu o quero, e sabia que queria. Apensar de estar com a mente fervendo, parei para respirar e pensar onde estava. Marinho estava machucado, e naquele momento eu só queria dar assistência para ele. Pedi que fosse tomar banho, o que ele fez de forma silenciosa e afirmativa. Ele ainda estava com uma expressão preocupada. No banheiro, escuto um alto gemido de dor, corro imediato para lá. Não me preocupei em vê-lo nú, adentrei o banheiro o segurando pelo braço e o apoiando. Não me preocupei em ficar molhado, só queria que ele não caísse e se machucasse mais.

Ele reclamava de dor na coxa e nas costelas, o que dificultava sua movimentação – o desgraçado acabou omitindo que também estava com as costelas machucadas de forma superficial, muito típico da parte dele. O coloquei apoiado na parede e tirei minha roupa já molhada, então comecei a dar o banho. Ele insistia que não precisava, o que me fez mandá-lo calar a boca se não daria outra surra nele, dessa vez muito pior. Isso o fez ter uma crise de riso, e eu ri de volta. Ele pareceu mais calmo quando eu estava massageando seus cabelos. Tratei também de lavar com cuidado os ferimentos e a pancada na coxa, que estava roxa e cortada.

Ele também ia se ensaboando onde dava. Ficamos excitados algumas vezes no processo, mas nada além do normal. No geral, era um momento de cuidado. Eu estava a todo momento apoiando ele no meu corpo, e quando acabou ele só me agradeceu, queria ter pedido antes, mas ficou com vergonha, como sempre: típico dele. Nesse momento, eu só abracei e fiz um leve carinho no seu rosto, dizendo que estava tudo bem e que era melhor sairmos dali. Precisava trabalhar nele que não era errado pedir ajuda. Na verdade, nós dois precisávamos trabalhar isso em contextos pessoais.

Ajudei ele a se secar e o deixei deitado enquanto voltava para a cozinha, ele estava de olhos fechados entre as cobertas. Ainda pediu pra eu ficar um pouco e o dei um remédio para febre, nessa altura percebi que ele estava quente. Deitei um pouco com ele enquanto secava melhor seu cabelos, mas expliquei que precisava terminar nossa refeição, e que enquanto isso ele iria dormir um pouco. Depositei um beijo demorado em seu rosto e voltei para nosso jantar, nessa altura sabia que ele dormia, mesmo que um sono provavelmente agitado.

Na cozinha, comecei a preparar uma refeição adequada para nós dois. A essa altura já sabia que não iria embora dali e que passaria a dividir a cama com ele, e no fundo já esperava que a vida também. Liguei na mesma estação de rádio que ele costumava ouvir, acabou que eu passei a curtir também o som. Depois de um tempo, tudo estava pronto, aproveitei e coloquei algumas coisas no lugar também. Como percebi a casa um pouco desorganizada do ponto de vista do tempo após o divórcio, fiz com que ali parecesse mais com um lar sem é claro apagar os vestígios da sua ex esposa e filha, que continuavam a ser sua família. Já que ele dormia, tomei a liberdade de pegar seu celular e resolver algumas coisas do trabalho. Pedi a um policial algumas documentações da delegacia, e ele trouxe para mim, ficando um pouco contrariado quando me viu ali apenas de short de dormir com várias caixas de evidências no chão da sala. Ele perguntou por Marinho, no qual me adiantei em falar que estava dormindo. Ele se foi e organizei tudo, resolvendo outras coisas pelo telefone em seguida. Também estava cansado e me dispus a descansar ao lado dele, ambos precisávamos de uma noite tranquila pelo menos por hora.

Entrei no quarto na intenção de chamá-lo. Ele dormia profundamente, parecia calmo finalmente, gostaria de saber com o que estava sonhando... Mesmo sem querer tive que acordá-lo. Estava com minha mala nas mãos, e comecei a tirar algumas peças de roupa e organizar no guarda roupas dele, ainda sonolento ele me indicou onde deveria colocá-las, cedendo um bom espaço para mim. Ele só me olhava terno. Eu me virei para o mesmo e perguntei se ele estava bem, ele disse que sim só estava com dor. Deitei ao seu lado por um momento e o mesmo apoiou sua cabeça em meu peito, mesmo estando muito grogue ainda ele me dizia que o problema era a perna, o resto era suportável.

Expliquei que nossa refeição já estava pronta, mas ele não queria levantar. Eu tratei de falar que depois voltaríamos a deitar juntos, ele apenas sussurrou um "tudo bem" e se aconchegou ainda mais no meu peito de olhos fechados. Eu esperei alguns minutos para levantar, na verdade eu queria passar o resto da noite assim. Foi um verdadeiro sacrifício sair daquele momento onde aquele homem grande agora parecia caber no meu bolso.

Avisei que iria tomar um banho e que podíamos jantar em seguida. Ele concordou e ficou ligando para alguém no celular, pedindo uma busca que não ouvi direito – antes disso me agradeceu por ter adiantado o serviço enquanto dormia. Após meu banho, encontro ele na sala, assistindo TV agora com seu celular carregando longe de seu corpo, parecia querer repousar e descansar. Troquei o curativo do braço e do rosto, que encontravam-se já ensaguentados. Aproveitei e troquei os lençóis de cama, que também estavam manchados de sangue que naturalmente saia dos meus machucados em algum momento de movimentação abrupta.

Eu fazia um suco olhando para ele, que agora aparentava ter um olhar mais calmo de alguém que estava prestes a cochilar vendo um programa qualquer de perguntas e respostas. Em um gesto rápido ele desligou o televisor, ficando no ambiente só a música da rádio – um country muito antigo, que me despertava coisas boas.

Mancando e ainda pelado, ele foi até a janela e ficou olhando a parte da floresta que mostrava a cidade mais abaixo. A casa era verdadeiramente excelente. Enquanto a chuva fina começava a cair, eu observada o homem contemplando a vista, muito concentrado naquela ação.

Não resisti e fui até ele, o abraçando por trás. Ele por sua vez apoio-se em mim. Beijei diversas vezes seu pescoço enquanto se arrepiava. Suas mãos repousavam nas minhas, e senti que ele não queria sair dali. Vendo seu silêncio novamente perguntei se estava tudo bem, ele concorda dizendo apenas estar um pouco cansado.

Eu sentia sua bunda durinha roçando no meu cacete, que por essas horas já estava duro. Mas era tudo muito involuntário, se eu dissesse que minha intenção era comê-lo ali mesmo eu estava mentindo. Tê-lo ali comigo em meus braços era uma dádiva, sabia que as coisas poderiam ser bem diferentes do que estavam sendo caso ele tivesse tido outra sorte. Pelo reflexo, eu via seu semblante sério e talvez a formação de um olhar choroso. Ele era forte, mas que que de tão forte acostumou-se a não ser mais vulnerável, e agora não conseguia chorar. Mesmo com tesão, meu foco agora era outro: cuidar do bem-estar dele naquele momento.

_ Tá tudo bem mesmo, Marinho? – Pergunto vendo seu reflexo pela janela que ia do chão ao teto, vendo também lá fora a densa floresta e as luzes distantes mergulhadas em uma chuva fina.

_ Eu tô bem, só tô pensando na minha filha. Eu tive muito medo... – Disse falhando a voz, sem me olhar, mas retribuindo o meu abraço se apoiando dentro dele. Sentia seu corpo todo colado ao meu, e nunca antes eu tive essa sensação desesperada de proteger alguém. Meu Deus, o que diabos estava acontecendo comigo? Como assim cuidar dele, protegê-lo? Eu não sabia o que era, mas meu corpo e alma estavam com ele, e eu não sabia como reagir se não vivendo o momento. Não me questionava de nada, apenas fazia todo o possível para estar ali durante esse momento. Em outra ocasião estar nú dessa forma com outro homem só em um foda, fora disso eu já nem esperava mais ter esse tipo de intimidade com alguém. E agora estava ali, com ele completamente nú de corpo e alma para mim e tudo o que eu conseguia pensar era em uma forma de fazê-lo bem de verdade.

_ Também tive medo, mas passou. Olha pra gente agora e deixa isso de lado um pouco. – Falei, sem saber o que dizer. Ele recostou ainda mais a cabeça no meu ombro e olho para o teto, a música continuava no ambiente e eu sentia sua respiração cada vez mais pesada. Ele parecia pensar em alguma coisa, talvez estivesse caindo a sua ficha que estava abraçado com um quase desconhecido na sala da sua casa. Mancando, ele se vira pra mim, tomando todo o meu ar e pensamentos.

Tínhamos o mesmo tamanho, então foi fácil manter nossos olhos concentrados no outro. Aos poucos eu senti que tudo foi diminuindo de tamanho, ao ponto que ali só restava eu e ele. Até o som da estação de rádio havia sumido, e agora os lábios de Marinho tocam os meus. Como descrever a sensação?

Foi como voltar para casa. Era como mergulhar no mar pela manhã cedo, sentindo a água fria lavar meu corpo. Era como abrir as janelas de casa e deixar o sol entrar por toda parte, e ver como os cômodos realmente eram. Foi como abraçar pela primeira vez o filho que eu nunca tive, e o filho dele que com uma voz doce me chama de "avô". Foi como banho de chuva, ou ouvir minha música preferida pela primeira vez. Todas as coisas ainda eram pouco comparado ao que eu senti. Foi como abraço de mãe, a mãe que eu já não tinha mais. Eu sentia saudades de tudo. Ali, me fiz gente... No beijo dele eu me encontrei.

Aquele beijo não tinha pressa em acabar, e tratei e abraçá-lo sem que se machucasse ainda mais. Ele entrelaçou suas mãos nos meus cabelos e ficamos longos minutos ali, enquanto eu sentia os lábios doces dele e me permitia ser arranhado com sua barba. A essa altura nossas ereções se atacavam, de forma que meu tesão fazia querer percorrer todo seu corpo com a minha língua. Em um momento de mais intensidade, ele da um grunhido quando passo sem querer minha mão por suas costelas. Imediatamente eu paro o toque e me afasto dele, que disse que sentia dor, mas não contou me repelindo, voltando a me beijar carinhoso em seguida. Paramos quando ele me pediu remédios de novo. Não dissemos muito, mas todos os gestos de carinho valiam mais que qualquer carta de amor que eu poderia vir a receber.

Coloco a mesa vendo ele acender a lareira e apagando a maioria das luzes, deixando o ambiente ainda mais aconchegante. Gostei do que ele fez.

Antes do jantar, ainda refiz os curativos mais uma vez, porque segundo ele estavam pinicando e apliquei uma pomada analgésica em sua pancada. Sabia que ficaria bem, eram superficiais e ele era forte. Acabou que ele decidiu ficar nú sem cerimônia alguma o resto da nossa noite. Pedi para que não bebesse por conta dos fortes remédios que estava tomando, e ele não se opôs; só seguiu o que pedi sem questionar e em troca sempre buscava acarinhá-lo.

Durante o jantar, o delegado elogiou a comida e pediu para que eu colocasse mais, o que me deixou bastante feliz. Eu já não tinha muito pudor em mim, e queria muito que ele também não tivesse. Após um belo gole de suco, ele me olha de forma serena e fala:

_ Então vai ficar? - Falou com apreensão em sua pergunta.

_ Vou! - Falei retribuindo o olhar e sorrindo se forma involuntária.

_ Eu quero que fique. Não gostaria de estar sozinho hoje. Mas não é só isso, queria que fosse com você. – Falou, desviando o olhar de mim para suas mãos, que pareciam cortadas, então coloquei minha mão sobre a dele.

_ Você está bem mesmo, Marinho? Você sabe que pode me falar... – Perguntei, sentindo algo estranho nele. Assim que terminei a frase, ele desabou em lágrimas. Foi um choro silencioso, mas muito dolorido. Tudo o que ele havia passado nesses últimos tempos muda qualquer pessoa, isso nos leva ao limite físico e mental.

Só consegui ser presente naquele momento enquanto ele chorava de forma violenta, como se cada lágrima pesasse uma tonelada. Aos poucos ele foi se acalmando. Não consegui chorar, mas havia uma tranca em meu peito. Eu sabia que ele estava fragilizado, e queria de alguma forma poder ajudar. Quando parou, seus olhos estavam em mim, me sentia conectado como nunca experimentei antes com ninguém.

Olhando para ele, ele aproximou seu rosto do meu, mas com vergonha e cautela. Dessa vez eu me adiantei e o beijei. Uma onda de alegria percorreu meu corpo. Sentia seu cheiro e sua respiração próximos a mim, e era como se tudo fosse leve outra vez. Sentia que o mundo era reduzido a nós dois naquele momento, e a luz baixa da casa ajudava nisso, deixando o ambiente com um toque de magia.

Ficamos bons minutos nos beijando, sem que nos soltarmos em nenhum momento.Acabei ficando nú a medida que ele me tocava e fomos rumo a cama dele, que agora sabia que seria minha também. A intensidade dos beijos foram aumentando, até eu deitá-lo lá com calma. Mesmo com medo de machucá-lo, parecia que naquele momento não havia nenhuma dor. Ele era meu, e eu era dele.

Ele foi beijando meu pescoço e descendo até meus mamilos, percorrendo com seus lábios toda minha barriga até chegar no meu pau, que estava feito pedra. Não demorou muito até ele engolir tudo, sempre olhando para mim. Eu estava delirando de prazer, sentindo algo que não sentia a tempos.

Me sentia vivo outra vez. Eu já estava completamente entregue ao momento, e num gesto rápido peguei ele pelos braços e o virei na cama, e em cima dele voltei a beijá-lo novamente, sentindo meu gosto em seus lábios. Ele então se apoiou na cabeceira da cama, no qual me abaixei em meio a suas pernas e comecei a chupá-lo.

Estava com tanto tesão que chegava a ser desesperado no ato. Ele apenas gemia e ofegava, ora passando a mão em meu corpo, ora afagando meus cabelos e pressionando minha boca para engolir mais do seu pau. Em um determinado momento ele me deitou na cama ficando por cima de mim, me beijando com tanto desejo que chegava a machucar meus lábios. Não percebi, mas o mesmo havia colocado uma camisinha e se preparava para me penetrar. O tesão do momento era tanto que não houve muita resistência, somente prazer. Um prazer tão grande, que eu perto dos meus 36 anos já não esperava sentir mais, com todos aqueles toques, beijos e sensações, eu gemia sem pensar em ser ouvido. Fazíamos amor.

Ele começou em movimentos lentos, intercalando entre olhar nos meus olhos e me beijar de forma apaixonada, mas com muito desejo também. Ele beijando meu pescoço enquanto me comia, deixando marcas em minha pele. Eu estava gemendo muito e dizendo que agora eu seria dele, enquanto seus braços fortes apertavam meu corpo contra o seu. O suor banhava nossos corpos, e eu me sentia completamente dormente na ocasião.

Quando dei por mim, ele já me fodia com a força de um animal, gemendo e me xingando de todas as forças possíveis. Sabia que ele estava perto de gozar, e eu também. Em um gemido feroz, ele urra ainda mais alto e cai em cima de mim completamente ofegante, cheirando meus cabelos e beijando meu rosto. Eu não conseguia falar, acabei gozando sem ao menos me tocar gritando de tesão no processo.

Eu só consegui abraçá-lo, enquanto buscava voltar a respirar normalmente. Sua respiração foi ficando cada vez mais lenta, até o ponto de eu ouvir um leve ronco vindo do mesmo. Não queria acordá-lo, mas precisava. Quando chamei, ele levantou me olhando com uma expressão perdida e engraçada. De forma suave, sorriu para mim e ameaçou levantar, mas não deixei, abraçando em seguida e puxando ele para mais perto.

_ Assim não vou sair nunca daqui, e ainda preciso de ajuda para novos curativos. - Disse de forma brincalhona. Sorri também, olhando para ele assim, sabia que nunca iria enjoar do seu sorriso. Eu apenas concordei, feliz como nunca. Em alguns momentos ele gemia de dor.

_ A gente deveria ter feito isso depois, Marinho. Fico com medo de você se machucar mais ainda. – Falei em tom sério.

_ Tá doido, cara!? Nem se eu estivesse furado de bala eu deixaria passar de hoje. – Falou bem humorado, me fazendo sorrir também.

_ De todo forma vamos retomar ao hospital amanhã não só para ver as vítimas, mas para você ser avaliado com mais cuidado.

_ Não se preocupa, investigador, eu estou bem mesmo. Amanhã acordo novo! – Falou de forma convicta. Eu apenas disse que ele seria reavaliado e que não iríamos mais discutir isso. A contragosto, ele concordou. No fundo, sabia que ele entendia que eu estava correto e que minha preocupação era apenas por motivo de cuidado. Ele beijava minha barba nesse momento, e disse que faria o que mandei.

Eu sabia que era perigoso sentir isso, esse sentimento que cresce dentro do peito e toma todos os nossos sentidos. Mas não há muito o que se fazer, uma parte minha sabia que uma paixão começa a surgir muito antes daquele momento, e dada a forma com a qual ele repousava comigo, sabia que era recíproco. Ele se aninhou, cobrindo o parte do seu rosto com as mãos. Alisei seus cabelos, enquanto sentia todo seu peso cair sobre mim. Mesmo tendo portes físicos bem parecidos, senti que ele ficou mais uma vez pequeno naquele momento.

Mesmo sem querer, nos levantamos. Fizemos todo o ritual: tomamos um banho juntos, comemos sobras, lavamos a louça e deitamos novamente, e claro, refiz os dois curativos e apliquei os demais medicamentos.

Nesse meio tempo ele ligou para a filha, enquanto estávamos dando um tempo na sala, pegando um pouco de calor da lareira, que agora mais baixa queimava a lenha com muita paciência. A chuva lá fora engrossou muito, o que aumentava minha vontade de permanecer com ele ali por horas a fio.

Depois de muitos minutos conversando com sua filha, ele desligou o celular. Marinho contou uma história para ela dormir, o que achei muito fofo da parte dele. Era engraçado, pois não imaginava algo assim vindo de alguém que partiu uma porta ao meio algumas horas atrás. Ele bocejava me buscava para mais um cafuné, enquanto eu estava no sofá lendo alguns documentos.

Eu o fiz, sabendo que ele merecia isso depois do nosso dia extremamente caótico. Ele também me afagava, com sua mão passando pela minha barba, até a minha orelha, a tocando com bastante delicadeza. Mesmo tendo mãos ásperas, sentia toda a dedicação dele naquela demostração de afeto. Notei que ele sorria novamente, um sorriso que fazia meu peito queimar. Mesmo estando ótimo ali daquela forma, falei que precisávamos deitar. Só quem sabe o que é estar apaixonado de verdade por alguém sabe do impacto que é receber um sorriso da pessoa amada em um momento como esse, parece que tudo dentro de você derrete.

Como na noite anterior, estamos abraçados agora na nossa cama, a única diferença sendo eu o abraçando por trás, sendo a concha maior. Ele estava mais calmo, sabia que precisava ter paciência com tudo o que ele vem passando, que estávamos condicionados a agir de forma dura muitas vezes pela necessidade das circunstâncias, mas que no fundo todos queríamos alguém para nos abraçar no final do dia. Eu estava ali o abraçando, e o mesmo demostrava gostar muito daquilo. Ainda percebi um pouco de preocupação em Marinho, tratando de me adiantar perguntando se estava tudo bem pela centésima vez. Ele então começa a falar:

_ Eu era estagiário na delegacia quando o primeiro crime aconteceu. Vimos os corpos sendo encontrados de um por um, até que com o último, o delegado do caso se quebrou de uma forma irreparável. Ele era meu pai, e se matou em uma sexta feira de agosto, não deixou cartas ou avisos, apenas o fez. Eu lembro até hoje quando cheguei em casa e vi minha mãe de costas na cozinha chorando. Estava com medo do mesmo acontecer comigo nos próximos dias. - Falou de forma melancólica, se segurando para não chorar novamente. Sabia que ele ainda se sentia cansado.

_ Quando vi aquela marca, não pensei em mais nada se não salvar alguma das vítimas. Não senti medo de morrer, mas pensei muito em minha filha. Quem estava com a menina sequestrada teve medo e surpresa, mal sabia ela que eu estava com medo igual, talvez maior. Eu não sei se sou tão forte assim, parte disso é mais pelo costume. Não pensei em mais nada e mergulhei de volta com ela em meus braços, a pior parte foi convencer ela a segurar o fôlego. - Disse dando outra pausa.

_ Quando estava fazendo os curativos e soube que mais duas garotas foram resgatadas, uma sensação muito grande de alívio surgiu em mim. Eu não quero fracassar nisso. Toda vez que vejo algum dos corpos, eu lembro da minha filha e isso dói muito. Eu só quero resolver isso e tirar férias, coisa que eu não faço há muitos anos. – Falou, entrelaçando seus dedos nos meus.

_ Quando tudo isso acabar tiraremos férias juntos. Ficaremos em alguma praia, aproveitando os dias de maresia e calor. - Falei, enquanto ouvia ele rindo divertido disso. Ainda acrescentei:

_ Você leva sua filha junto... Assim descansa e aproveita a presença dela também. – Conclui de forma descontraída.

_ Mesmo que seja só por uns dias, eu gostei de tudo o que aconteceu. - Ele falou, em um tom triste. Prosseguindo:

_ Somos maduros o suficiente para sabermos que isso pode não durar, mas mesmo assim, sou grato por ter você aqui comigo agora. - Falou, definitivo.

Eu fiquei pensando naquilo, e não falei nada. Invés disso, abracei ele com mais força e beijei sua nuca e fiquei cheirando seus cabelos. Não sei explicar, mas o homem tinha um cheiro único. Nossas mãos continuavam entrelaçadas e ele parecia gostar da sensação. Por fim, eu disse:

_ Eu quero ser honesto, e não vou te prometer nada além da minha amizade. Mas uma coisa é certa, vamos tirar férias quando isso acabar e sua filha vai junto, e comemorarmos todas as vítimas estarem salvas. A gente vai passar o dia brincando com ela na praia, e a noite vamos ficar bêbados até cair nos quiosques de Terra Vermelha ou outro litoral. Vamos gabaritar todos eles. – Falei, fazendo-o sorrir. Ainda continuei:

_ Por enquanto só quero dormir. Outra coisa, qual seu primeiro nome? - Ele sorri brando, enquanto responde.

_ Luciano e o teu?

_ Otávio... – Sinto agora ele beijar minha mão, de forma que retribuo o carinho. Nessa altura eu já estava completamente apaixonado, mas não achava que seria certo dizer. Esperaria que ele falasse primeiro.

Eu já havia me relacionado a meses com algumas pessoas, e não sentia nem um centésimo do que sentia com ele. Me questionei se estava drogado ao algo do gênero, mas decidi apenas aproveitar seu colar ao som da chuva lá fora. Queria aproveitar essa dádiva em meio a uma vida tão sem cor que era a minha por pelo menos uns dez anos.

Ele bocejou se aconchegando ainda mais em mim. Aproveitei e abracei mais forte aquele homem que já representava tanto na minha vida, ele parecia gostar muito de ser apertado, acho que não recebia carinho com frequência. Fiquei pensando se ele não se relacionava com alguém, mas pelo que percebi notei que ele estava só a muito tempo, mesmo com alguém. Eu estava igual. O homem ainda me pediu água, mas não pediu antes porque não queria se desgrudar de mim. Acho que finalmente encontrei alguém como eu , um cordeiro em pele de lobo.

Alisava seu peito peludo e beijava sua nuca, sentindo o cheiro amadeirado e fresco que vinha dele. Enquanto ele falou já de olhos fechados e com a respiração ainda mais pesada, depois de outro bocejo:

_ Que bom que você decidiu ficar!

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Foto de perfil genéricaMaciel Petrópolis Contos: 7Seguidores: 10Seguindo: 0Mensagem Escrevo por diversão, e por isso agradeço a todos que me incentivam de alguma forma. Espero que aproveitem a leitura. No mais, deixo um abraço para cada um de vocês.

Comentários

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Que bom que você resolveu escrever!

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Obrigado por acompanhar. Acabei de postar mais um capítulo e espero que aproveite a leitura. Abraço!

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É fato: estou vibrando por e vidrado nesse casal.😍😍😍😍😍😍😍

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Obrigado por acompanhar. Ainda hoje postarei o quarto capítulo após sua revisão. Mais uma vez muito obrigado por acompanhar a história, cara. 👉♥️

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