Quando pensava em dar meia volta, sair dali, não acreditou no que os seus olhos lhe mostravam: através da grande janela de vidro da sala, viu Paul, nu e com o pau ereto, parado. Em seguida, uma linda morena, com a idade parecida a dela, se ajoelhou aos seus pés e começou um boquete pra lá de caprichado.
Atônita, pensando que ele pudesse estar traindo a Anna, que talvez a amiga estivesse viajando ou algo assim, se surpreendeu ainda mais ao vê-la entrando no ambiente e indo diretamente beijar o marido. Anna também se ajoelhou, beijou a morena e começou a dividir com ela o pau do marido. De olhos fechados, Paul parecia estar no paraíso.
Mari estava petrificada, sentindo a xoxota comichar de prazer. Quando a viu, Anna imediatamente se levantou, tirou um roupão não se sabe de onde, o vestiu, fechou as cortinas da sala e veio correndo até ela.
Parte 02: A esperança é a última que morre.
Mari, constrangida, não conseguiu acelerar o passo e foi alcançada por Anna antes que conseguisse cruzar o portão. Esbaforida, a amiga tentou rapidamente se justificar:
— Espera! Eu posso explicar o que você acabou de ver.
Sem saber onde enfiar a cara, Mari apenas continuou andando. Anna insistiu:
— Por favor, Mari. É importante que você me escute e não tire conclusões precipitadas.
Sem saber muito bem porque, mas curiosa, Mari achou melhor se acalmar e ouvir. Tentou, pelo menos, não criar falsas teorias em sua cabeça. Ela parou, mas não conseguiu encarar a Anna:
— Me desculpe, amiga. Eu não tinha o direito de invadir a sua privacidade. Você não precisa explicar nada. A errada aqui sou eu.
Anna, segurando delicadamente em seu braço, pediu:
— Venha comigo. Vamos conversar num lugar mais calmo.
Ainda relutante, Mari a seguiu até os fundos da casa, percebendo que lá se encontravam mais algumas pessoas e todos estavam bem à vontade. Algumas mulheres até sem a parte de cima do biquíni. Passando pela lateral, um pouco distante do pessoal, Anna a conduziu até a casa da piscina, uma edícula muito bem decorada. Mari voltou a se desculpar:
— É sério, amiga. Não precisa dizer nada. Eu não quero criar problemas para você e seus convidados.
Anna parecia se divertir:
— Mari, relaxa. Você não está criando nenhum problema. Por que veio aqui? Por que não me ligou, não avisou que estava vindo?
Mari se sentia diminuindo:
— Eu só vim … precisava de alguém para conversar. Celo e eu não estamos bem. Acho que … Acho que fui invasiva, indelicada. Não se chega, do nada, na casa das pessoas e, ainda por cima, se entra sem ser convidada. Você está ocupada, está recebendo convidados …
Anna foi direta:
— Sobre o que você viu …
Mari estava muito constrangida e acabou interrompendo:
— Não, amiga … é sério. Você não me deve explicações. O que você faz dentro da sua casa não me diz respeito.
Anna colocou a mão em seu ombro, a acalmando, pedindo a palavra.
— Paul e eu somos liberais, Mari. Acredito que você saiba o que significa. É isso que está acontecendo aqui. Uma reunião liberal entre amigos.
Mari entendeu. Sabia o que era uma relação liberal. Mas, pega de surpresa, acabou não processando a informação tão rápido como deveria. Ela só queria sair dali e deixar de ser inconveniente.
— Tudo bem, Anna. Quem sou eu pra falar como as pessoas devem viver a própria vida. Justo eu que nem consigo satisfazer meu próprio marido … — Sem querer, acabou se traindo e falando mais do que deveria.
Imediatamente, Anna entendeu que o casamento da amiga não ia bem. Invertendo os papéis, ela decidiu também não ser invasiva. Achou melhor deixar Mari decidir se ficaria ou iria embora. Mas antes, achou que deveria apresentar os amigos presentes na casa.
— Eu não vou te segurar mais. Já disse o que precisava e acho que o mal-entendido foi desfeito. Só quero que conheça meus amigos. Eles são pessoas importantes para mim e gostaria de apresentá-los a você.
Sem opções, Mari a acompanhou até a área da piscina, onde outros dois casais, além do Paul, um pouco receosos, sorriram para ela. Anna os apresentou:
— Amiga, essa mulata linda, com esse sorriso largo, é a Coralina …
A mulata a interrompeu:
— Só Cora, por favor. Coralina eu deixo para minha mãe. — A mulata, lindíssima, lhe estendia a mão.
Enquanto Mari aceitava o cumprimento, Anna continuou:
— E esse é o Gilberto, ou Giba, marido da Cora.
Gilberto era loiro, alto, de sorriso faceiro e cara de cafajeste. Tão lindo quanto Paul, mas Marcelo, o seu Celo, não devia nada aos homens ali.
— Agora temos a Fabianne, a nossa Fabi e, finalmente, O Cris. Cristian e Fabi estão noivos e se casarão muito em breve.
Mari aceitou todos os cumprimentos e foi cortês ao retribuir. Cristian também era um belo exemplar de homem. Moreno, mais baixo que Giba e Paul, mas em compensação, mais forte e musculoso. Fabi era ruiva, totalmente natural, olhos verdes acinzentados e boca carnuda. Um pecado de mulher.
Mari estava cercada por pessoas belíssimas e se sentiu um pouco diminuída na presença delas. Sempre se sentia assim, mesmo que Celo se cansasse de dizer o quanto a esposa também era linda, ela jamais acreditou. Se sentia deslocada e achou melhor se despedir:
— É um prazer conhecer todos vocês, mas preciso ir. Obrigada por me receberem.
Paul achou melhor ficar quieto, percebendo que Anna já tinha dominado a situação e esclarecido as coisas com a nova amiga. Anna fez questão de acompanhá-la até o portão e a pegando de surpresa, convidou:
— Em duas semanas, faremos a despedida de solteira da Fabi. Sou eu a organizadora e gostaria muito de contar com a sua presença. Não será nada demais, apenas algumas amigas e uma noite de festa entre garotas.
Mari não sabia o que dizer e antes que ela pudesse negar, Anna insistiu:
— Pense bem e depois me responda. Apesar da forma inusitada e triste em que nos conhecemos, sinto que existe uma forte ligação entre nós. Eu gostaria muito de aprofundar essa amizade. Isso se você me der uma chance, né? Depois do que viu hoje, não sei se você vai querer nos encontrar novamente.
Feliz pelas palavras da Anna, Mari respirou fundo, criando coragem para falar. Ela também sentia essa ligação com a nova amiga. Queria muito que a amizade entre elas se fortalecesse. De forma muito sincera, respondeu:
— Eu também sinto essa ligação entre nós. Vou pensar com carinho no convite. Prometo. — Com dois beijos na face, um em cada bochecha, as duas se despediram.
Mari, enquanto dirigia de volta para casa, se sentia mais excitada do que o normal. Constantemente embarreirada por seus próprios pensamentos, decidiu que precisava se entender com o marido. Sabia o que ele queria verdadeiramente e estava disposta a surpreendê-lo.
Não demorou a chegar e encontrou o Celo no sofá, ainda de cara amarrada. Há dias o clima entre eles estava pesado. Celo, cansado das constantes recusas da esposa, magoado, havia perdido as esperanças em algo novo. Ao ver a esposa entrar em casa, preferiu continuar na dele, apenas a cumprimentando com um chocho aceno de cabeça.
Mari, decidida a dar fim ao clima ruim, resolveu arriscar. Se sentou ao lado do marido no sofá e sem que ele esperasse, tascou-lhe um beijo molhado e cheio de amor em sua boca. Com os movimentos do lado direito ainda prejudicados, ele foi presa fácil.
— Vou preparar seu banho. Tem tempo que não usamos o ofurô. Ele vai acabar ficando inutilizável.
Sem dar tempo para protestos, ela se levantou e saiu da sala. Celo, naquela altura do tratamento e com fisioterapia constante, já caminhava melhor com a ajuda de uma bengala, mas estava tão surpreso, que resolveu esperar.
Dez minutos depois, vestida com uma roupa bastante ousada, um hobby de seda branco, sem nada por baixo, coisa que Celo ainda não tinha ideia e se surpreendeu, Mari veio buscá-lo.
— Vamos, o ofurô já está enchendo. — Mari se postou ao seu lado, oferecendo seu braço como apoio.
Celo não estava entendendo nada, mas um fio de esperança ganhou força dentro dele. Cansado de conversas infrutíferas, pagou pra ver e segurou no braço da esposa, caminhando com ela até o quintal. Mari o ajudou a entrar no ofurô e, o deixando cada vez mais surpreso, se posicionou as suas costas, iniciando uma massagem relaxante em seu ombro.
— Eu tenho sido uma péssima esposa … você seria capaz de me dar outra chance? Teria paciência para me aturar mais um pouquinho, enquanto eu tento lidar com tudo o que me impede de ser uma mulher melhor para você?
Celo ficava cada vez mais confuso, mas não podia negar o quanto as palavras dela eram sinceras. Celo amava a esposa de todo o coração e por esse amor, era capaz de dar quantas chances fossem necessárias para que Mari mudasse.
Numa atitude inesperada, Mari desceu a mão carinhosamente até o pau do marido. Sem que ele percebesse, ela já tinha tirado o hobby e estava nua, esfregando os seios em suas costas. Beijando seu pescoço, ela começou uma punheta delicada, sentindo o pau crescendo lentamente em sua mão.
— Eu amo você, sua boboca. Mas não podemos continuar assim, pelo bem do nosso casamento …
Mari saiu de trás dele e se ajoelhou à sua frente. Apesar da vozinha continuar falando dentro de sua cabeça, a repreendendo, ela foi forte. Celo admirou sua ousadia, entendendo o quanto aquilo era novo e deveria estar sendo difícil para a esposa. Ele estava embasbacado, não acreditando que aquilo estava mesmo acontecendo.
Quase perdendo a coragem, ao não ver nenhuma atitude do marido, Mari, por pouco, não deu pra trás, começando a se autodepreciar:
— Eu estou gorda, né? Entendo que você não queira me tocar …
Celo agiu rápido, abraçando Mari, apertando fortemente sua bunda e falando ao pé do seu ouvido:
— Você é linda. Eu amo cada parte do seu corpo. Eu jamais deixei de desejar você e é por isso que fico tão irritado, por saber que você não me deseja o tanto quanto eu a desejo …
Celo passou das palavras à ação, tomando a esposa de vez em seus braços e sugando os seios com muita vontade. Ele dava atenção igual aos dois, mordendo levemente os biquinhos, sugando mais forte, apalpando a bunda ainda firme da Mari e beijando sua boca com muita paixão.
Mesmo não tendo sua mobilidade completa, ele fazia o melhor que podia e mesmo que a Mari não ajudasse muito, só o fato dela não rejeitar suas investidas, já era uma vitória. Ela continuava manuseando o pau do marido, punhetando com um pouco mais de entrega e desejo. Celo pediu:
— Deixa eu chupar essa buceta? Tenho saudade do gosto, do cheiro … eu adoro te dar esse prazer.
Ele quase não acreditou ao ver Mari se posicionando na borda do ofurô, abrindo as pernas e se oferecendo para ele. Completamente surpreso, ele não perdeu tempo, tentando aproveitar antes que ela desistisse. Celo se aproximou e respirou fundo, sentindo o odor que o embriagava, passando a língua lentamente por toda a xoxota da esposa, terminando com um beijinho delicado no grelo. Mari, diferente do que sempre fazia, gemeu manhosa:
— Aí, amor … que gostoso … como eu posso ser tão relutante com uma coisa tão deliciosa?
Celo achou que estava sonhando, e sem querer acordar, passou a caprichar com a língua, estimulando o grelinho e arrancando novos e excitantes gemidos da Mari:
— Assim mesmo … como isso é bom …
Celo sugava, ora carinhosamente, outras vezes de forma mais intensa, arrancando espasmos e contrações do corpo da esposa. O néctar do prazer escorria farto de dentro dela, lambuzando seu rosto e o impulsionando a se doar cada vez mais, mostrar a Mari que nada daquilo era errado, e que entre um casal que se ama, sexo, mesmo safado, não é falta de respeito.
— Você tá acabando comigo … não acredito nisso … estou quase, amor … não me deixa parar … eu quero muito ser uma esposa melhor para você …
Celo aumentou o ritmo das carícias. Sua língua serpenteava por toda a extensão da xoxota, induzindo Mari a picos de prazer que ela só sentira antes na juventude, quando ainda se permitia ser uma amante ousada e generosa, diferente da esposa pudica e careta de agora.
— Não para … estou gozando, amor … Meu Deus, como isso pode ser errado? Que delícia … como eu precisava disso …
Mari não tinha um orgasmo tão intenso há anos. Nem lembrava mais da última vez em que se sentiu tão completa como mulher. Mas, como nada é perfeito nesse mundo, junto com aquele orgasmo incrível, um medo proporcional também começou a tentar tomar conta dela.
“Agora não, por favor. Celo merece o melhor de mim. Eu preciso, ele merece … por favor, não agora …”. Seus pensamentos, aquela vozinha implacável, tentava assumir o controle. Mari tentou ser forte, lutar contra.
Visivelmente empolgado, Celo queria mais. Não podia deixar o momento se perder. Não queria forçar nada e achou melhor ser inteligente ao invés de exigente. Puxou a esposa para o seu colo e, enquanto beijava sua boca, foi conduzindo o corpo da Mari para encaixar perfeitamente o pau em sua buceta. De olhos fechados, Mari aceitava sua condução, lutando para calar a voz dentro de si.
Como ainda estava impossibilitado de ser um amante totalmente ativo, ele teria que deixar a esposa ter o controle da situação. Estava empolgado demais para perceber que ela murchava aos poucos, enquanto travava uma batalha contra o que a impedia de ser o que Celo sempre esperou. Mesmo em conflito interno, lutando contra seus demônios, Mari se forçou a aceitar e o pau foi ganhando profundidade dentro dela, se enterrando totalmente em sua buceta.
O prazer daquele momento se transformou em combustível para sua luta interna e aos poucos, determinada a continuar, o prazer começou a sobrepujar os pensamentos ruins. Se forçando a vencer aquela batalha, Mari começou a movimentar o quadril, subindo e descendo, calando seus fantasmas com os beijos apaixonados e deliciosos que recebia.
Celo não era bobo, conhecia a esposa e rapidamente percebeu o que acontecia. Estava tão orgulhoso da atitude dela que em vez de reclamar, recebeu seus esforços com gratidão. Resolveu incentivar, mexer com sua autoestima:
— Nossa, amor! Isso está perfeito … que bucetinha quente e apertada … que saudade de fazer amor com você … você é linda, eu a amo cada dia mais …
Mari lutava ferozmente para não ceder. O medo de Celo a achar uma puta, uma piranha, uma mulher sem valor, era constantemente lembrado pela voz irritante que teimava em surgir dentro dela, a amedrontando, a apavorando com verdades que a vida lhe tinha jogado na cara no passado.
Celo segurou firme em suas ancas, forçando a esposa e a ajudando a manter os movimentos. Sugando novamente os seios, intercalando com longos beijos apaixonados em sua boca, sentiu o corpo dela estremecer, o xoxota mastigando o pau em espasmos frenéticos e logo ela anunciou:
— Vou gozar de novo, amor … por favor, não me deixa parar, me force a ir até o final … eu preciso de você … ai, meu Deus … isso é incrível …
Celo também não conseguiu segurar o impulso, gozando praticamente junto com a Mari, os dois se abraçando bem forte, parecendo não querer nunca mais soltar um ao outro.
Após o gozo, a culpa veio forte e disfarçando, com a cabeça repousada no peito do marido, Mari se sentia culpada. Não só a voz em sua cabeça, mas também as lembranças do que presenciou na casa de Anna e Paul.
“Acabara de se entregar ao marido por amor? Por culpa? Por tesão pelo que viu? Por curiosidade? Fez amor com o marido para dar vazão ao tesão que sentiu antes? Não!
Absolutamente, não. Amava Celo. Amava o marido de todo o coração e ele era o único homem capaz de despertar nela tanto desejo. Estava mentindo para si mesma? Por que pensava no Paul, na Anna e na morena que viu com os dois? A morena não era a Fabi ou a Cora. Quem era ela?
Não, para! É claro que desejava o Celo e já deveria ter tomado uma atitude de conciliação muito antes. Não se entregou ao marido apenas pelo que viu, mas porque viu e era com ele que queria estar. Ficou curiosa sim, mas quem não ficaria?” Seus pensamentos estavam a mil por hora.
Mari sabia que precisava de ajuda. Essa era uma regra de ouro da profissão: “como ajudar alguém sendo que eu mesma preciso de ajuda?”. É comum um terapeuta precisar de terapia também. As consequências positivas surgem tanto para o profissional quanto para os pacientes, levando a uma atuação melhorada.
Celo não era idiota e sabia que a esposa estava se esforçando para agradá-lo. Não era momento de confrontação, mas sim, de agradecer aquele avanço inesperado, aquela vitória que veio do nada. O casamento deles ainda tinha uma chance.
Mari banhou o marido e o ajudou a voltar para dentro de casa. Assistiram juntos a um filme e pediram comida para o jantar. Mari estava calada e Celo sabia que ela estava processando tudo o que acontecera. Ele apenas lhe deu muito carinho e espaço para colocar sua cabeça em ordem, sabendo que após vinte e tantos anos de casamento, aquela não era uma mudança fácil para ela. Estava, além de agradecido, muito esperançoso com o futuro do seu matrimônio.
No final daquela noite, Mari ajudou Celo a se deitar, mas inquieta, precisando entender o que acontecia em seu íntimo, assim que o marido pegou no sono, ela se levantou e foi para a sala. Abriu o notebook e começou a pesquisar. Tinha acesso a um grande acervo de estudos e pesquisas e começou a tentar entender melhor seus próprios problemas.
Não era uma especialista na área que precisava de ajuda, pois seu campo de trabalho era outro. A psicologia, a psicanálise, assim como qualquer campo da saúde mental é muito vasto, sendo impossível um conhecimento geral do tema. Cada profissional acaba optando por um determinado tema e se especializando nele.
Após quase quatro horas de leituras e reflexões, se deparou com uma especialista da qual gostou muito. Em sua publicação, a especialista explicava:
"Para nos protegermos da dor emocional que situações traumáticas podem causar, desenvolvemos comportamentos de defesa nas relações futuras que podem se manifestar de diferentes formas: ciúmes excessivos, dependência e codependência emocionais, dificuldades para estabelecer limites, ansiedade por agradar, envolvimentos repetidos em relacionamentos abusivos, dificuldade para estabelecer entrega e vínculos de intimidade e uma série de outros padrões disfuncionais”.
Mari, começando a entender seus erros, pensou: “Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente da tua ignorância e serás sábio”.
Normalmente atribuída ao filósofo grego Sócrates (479 a 399 a.C.), a frase “conhece-te a ti mesmo…” é, na verdade, a inscrição que se via na entrada do Oráculo de Delfos. Neste local, dedicado a Apolo (na mitologia grega, o deus da luz e do sol, da verdade e da profecia), buscava-se o conhecimento do presente e do futuro por intermédio de sacerdotisas.
Na filosofia socrática, o “conhece-te a ti mesmo” se tornou uma espécie de referência na busca não só do autoconhecimento, mas do conhecimento do mundo, da verdade. Para o pensador grego, conhecer-se é o ponto de partida para uma vida equilibrada e, por consequência, mais autêntica e feliz.
Mari era uma profunda conhecedora da mitologia grega, entusiasta em especial, das máximas délficas ou máximas de Delfos. Desde a faculdade se interessou pelo tema. Eles são um conjunto de 147 aforismos inscritos no Templo de Apolo localizado em Delfos, na Grécia. Originalmente, disseram que eles foram dados pelo Oráculo do deus grego Apolo e foram, portanto, atribuídos ao próprio Apolo.
Juntando tudo o que havia pesquisado e aprendido, Mari se deu conta do quanto tinha dificultado a vida para o marido. Entendeu também que se ele ainda estava ao seu lado, apesar de tudo, era porque a amava. Satisfeita com o resultado de sua pesquisa, voltou para o quarto e, se aconchegando ao marido, dormiu finalmente.
Na manhã seguinte, acordou com um café caprichado preparado pelo marido. Mesmo na situação em que se encontrava, se recuperando de um acidente, Celo reconheceu o esforço da esposa e tentou retribuir com gentileza. Ao invés de aproveitar, Mari se sentia mais culpada. Mesmo com seus problemas de autoestima e traumas, jamais mentiu ou omitiu qualquer coisa para o marido. Precisava ser honesta e tirar aquela culpa do peito.
— Amor, ontem aconteceu uma coisa totalmente inusitada …
Sendo fiel aos detalhes, Mari contou absolutamente tudo o que aconteceu na casa de Anna e Paul para o marido. Incrédulo, ele ouvia com atenção. Queria ter mantido a ilusão de que o dia anterior fora uma tentativa da esposa de aproximação entre o casal, mas entendendo errado, como não poderia ser diferente, achou que tudo não passou de uma desculpa, uma forma dela extravasar o que presenciou. Se sentiu usado, e aquela pequena sensação de vitória do dia anterior, desapareceu completamente.
Acabou, sem querer, sendo sarcástico:
— Talvez devêssemos ter um casamento aberto também. Liberal que fala, né? Talvez assim …
Celo se calou, pois sabia que continuar só pioraria ainda mais o que estava sentindo. Mari tentou remediar a situação, se defender:
— Sei o que está pensando e garanto a você que não é nada disso. Eu precisava dar esse passo, ser mais ativa no nosso casamento. Por favor, tenha paciência comigo, eu prometo que vou melhorar. Ontem foi apenas o primeiro passo. Eu vou buscar ajuda e serei a esposa que você sempre sonhou. Jamais duvide do meu amor por você.
Mesmo cético, o que Celo ainda tinha a perder? Lutar pelo casamento mais um pouco, ainda mais com Mari demonstrando em atitudes, não apenas com palavras, era um risco que ele podia correr. Não importava o que motivou as mudanças, a verdade é que elas estavam acontecendo e pareciam promissoras. Que mal havia em tentar mais um pouco?
Continua ...
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