No último conto, contei sobre a descoberta de mais uma traição do meu namorado. Dessa vez não eram suposições ou postagens ou mesmo conversas, de fato ocorreu e ele reconheceu o fato. Mas justificando que não era sempre e que foi algo pontual e não planejado. Havia ficado a manhã à toa no trabalho e baixou o grindr pra ver se achava alguém. Outra justificativa é que estava conversando com casais que tinham relacionamento aberto para entender como era e, quem sabe, propor para nós.
Como relatei na primeira parte, eu já estava acompanhando e fiscalizando ainda mais a vida de Felipe, depois das últimas descobertas. Mas até esse dia, início de maio, não havia nada suspeito. Ele somente via umas mídias e vídeos no telegram (grupos de putaria), era a forma de recompensar os estímulos que teve que tirar depois que eu terminei com ele. Minha ansiedade era fruto de ciúmes, porque sabemos que todo homem vê essas coisas, inclusive eu. Seria hipocrisia recriminá-lo por aquilo.
Depois das inúmeras conversas, dias separados e da recaída que descrevi no último conto, nos propomos a tentar conversar mais sobre nossos desejos e fazer coisas novas para apimentar a relação, etc. Os dias foram passando, eu voltei a dormir com ele e a rotina se tornou cada vez mais intensa, nos vendo dia sim, dia não. Não falei que tinha perdoado ou que ia voltar como fiz das outras vezes. Na minha cabeça ele estava num teste. Eu ia analisá-lo sem me apegar e, ao mesmo tempo, ia tentar seguir minha vida.
A descoberta de que ele havia voltado a usar o grindr despertou uma nova curiosidade na minha mente investigadora. Então baixei o app, não para usar, mas para ver se ele voltaria a usar e, sem me identificar, pegá-lo num possível pulo. Criei um perfil que poderia ser atraente para ele e sempre ficava procurando se não aparecia algo, mas nada. Parece que ele tinha apagado de vez.
Contudo, no final do mês, no meio das minhas paranoias e tendo acordado no meio da noite, pensei: ele pode não estar usando, mas deve haver uma conta com os registros das conversas. Dessa forma, conseguiria descobrir quem foi o dito cujo da última vez. Baixar um app no celular dele não era mais uma dificuldade. Assim fiz e obtive sucesso. Onde eu estava me metendo? Loguei com o email que ele usava pra tudo e a senha mais difícil e foi. Abriu um perfil que já existia. Meu coração começou a acelerar. Sabia que poderia encontrar coisas que não gostaria de ver (ou gostaria?). Felipe tinha o sono muito pesado e eu sempre me cobria todo para, se acaso acordasse, a luz não me denunciar.
Quando fui para as conversas, não achei uma ou duas, mas dezenas desde o dia que conversamos até meses antes, mesmo estando juntos já há dois anos. Porra. Sempre esteve claro tudo: as conversas, os posts e comentários no twitter (inclusive troca de nudes), os relatos pro amigo. Eu sabia que era verdade, mas e se não fosse? Quando ele me olhava nos olhos e dizia que não fez ou não foi daquela forma, eu tentava ponderar, mas era exatamente do jeito que eu imaginava e ele não era nenhum inocente. Eu tinha provas suficiente agora, inclusive pra fuder a vida dele, pois não é assumido, depende exclusivamente da mãe que é super preconceituosa.
Eu estava descobrindo o monstro que dormia do meu lado e talvez me tornando um também. Aquelas conversas iam ser um prato cheio para mim. Ao mesmo tempo em que eu estava triste e decepcionado, estava curioso para ver até onde ele era capaz de ir. Eu sempre fui declaradamente safado e aprontei várias coisas na vida. Achava que até mais que ele, mas aquelas conversas me surpreendiam, pois Felipe sempre se fazia de bom moço e ter uma conversa safada era coisa rara.
Confirmei depois que ele usou o app até o sábado, depois que havia lhe dado a prensa e dia do curso preparatório de residência, mas as respostas chegaram até a segunda/terça, o que me levou a interpretar que ele havia continuado a sair mesmo depois das duras discussões. Eu comparei cada conversa com as datas das nossas mensagens e lembrando o que havia acontecido naqueles dias.
No dia que viajei para o casamento, ele não estava fumando com as duas amigas, tinha ido de fato mamar um boy (também comprometido) dentro do campus da universidade (que estava em greve), por isso a localização mudava constantemente, pois eles entravam nos prédios escuros e fechados onde não podiam ser vistos. A conversa mostrava a felicidade após a ficada e o quanto a aventura havia sido empolgante. Quase tinham sido pegos pelo guarda e eu desejei muito que isso tivesse acontecido. Esse carinha era alto, cavanhaque e bigode, meio parrudo, branco. Ficou claro que não havia um perfil especial como eu pensava, podia ser qualquer um: o vício era mamar qualquer rola que fosse apetitosa. E foram muitas.
Eu não conseguiria ler todas as conversas em uma noite, mas também não conseguiria dormir. Desinstalei o app do celular dele e abri no meu, pois teria tudo na palma da mão para ver quando quisesse. Aquele dia quebrou todos os paradigmas e expectativas. Ele havia ficado com esse na sexta, com o outro na terça e todos os dias falava com outros: de manhã, à tarde ou à noite. Não sei como ele fazia para apagar o app todos os dias, já que nos víamos quase sempre. Estava explicado as vezes que perguntava o que estava fazendo ou que horas ia viajar, se teria aula ou não. Era o intervalo perfeito para o crime. Mas pelas datas e horas, ele usava inclusive quando eu estava perto.
No domingo anterior a essas ficadas e ao casamento, eu tinha passado quase o fds todo com ele. Quer dizer, na sexta dormi em casa e no sábado fomos a um evento no centro da cidade, dormimos juntos e no domingo à noite Felipe me perguntou se eu não enjoava dele e eu só brinquei: Enjôo, inclusive estou agora e vim embora. Eu fiquei muito ansioso aquela noite, não por aquela fala em particular, mas por toda a situação já desenhada. Como minha intuição não falha, ele só esperou eu sair mesmo pra baixar o app e ir procurar algum macho pra sair. Me surpreendia essa disposição.
Ademais, Felipe contava mentiras sobre si, sua família e seus amigos de casa. Esperava eles viajarem pra poder aproveitar a casa ou então dizia que estava com uma prima de visita (eu era a prima), mas que tinha carro e podia buscar e ir para algum lugar. Tentava marcar de manhã cedo, ou dizia que podia pedir pra largar mais cedo do trabalho ou ir no fim da tarde. Ele queria mamar e tomar leite de macho a qualquer custo.
O grindr disponibiliza uma função que você pode favoritar alguns contatos e havia muitos e com comentários: pau bonito, pau grosso, transa bem, bonito de rosto... Puta que pariu. Uma das conversas era com um novinho (sei nem se era maior de idade) meio noia. Se trocou por um beck. Era bem desarrumado e não tinha cara de gay. Devia estar a fim de f1 e conseguir algum dinheiro. Ele se colocava na situação de coitado e sempre apressando a ocasião. Depois do ocorrido, ele pediu dinheiro pra Felipe para fazer um lanche. Felipe mandou. Eu havia visto o comprovante na galeria, mas não sabia de quem era. Além de outras e outras, inclusive quando ele viajou para a cidade dele. Eu achava que lá ele não fazia nada por estar perto da família, engano meu. Nos telefonávamos dia sim, dia não, mas nos momentos de tesão, ele ia buscar a diversão dele.
Eu aproveitei a noite para fazer toda a minha coleta de fotos, prints, contatos que ele agendava para repetir depois. Naquele momento, eu sentia nojo da pessoa e fiquei bem longe para não encostar. Não passava pela minha cabeça que tudo que eu imaginava que não podia acontecer, já tinha acontecido: Mamar gente no carro novo, que eu me sentia privilegiado por sempre ter meu lugar e trazer gente para cama que a gente dormia sempre. (O que ele havia jurado junca ter feito: trazer gente para a cama que a gente “fazia amor”.) Balela! Ele deu o cuzinho nessa cama mesmo enquanto os amigos estavam viajando e eu também.
A noite demorou a passar. Quando o sono chegou já era de manhã. Percebi Felipe levantando da cama e pegando seu kit para f1. Novidade... Normalmente a gente acordava junto e ficava na cama fazendo carinho e às vezes rolava algo. Como eu já não tava ligando, nem me importei. Fiquei um tempo na cama para disfarçar, depois levantei, troquei de roupa e saí. Ele estava preparando café da manhã pra gente. Tinha acordado cedo pra isso. Só que aquele carinho era tarde demais: eu já tinha tomado a minha decisão. Mas como sou um belo ator, tentei agir normalmente. Mais uma vez ele ia ser punido pelos atos do passado. Podia estar a x dias sem fazer nada e ter se arrependido, mas a mentira era grande demais. A forca estava pronta. Tomei o café rápido, engolindo. Ele fez uns biscoitos fritos de queijo e me deu os primeiros, pois eu já tava querendo ir embora. Estava mesmo atrasado e nem queria ficar ali. Já havia recolhido tudo que eu tinha lá: short, camisas, chinelos. O resto eu deixei, pois não queria ter lembranças. Quando saí ele me abraçou e eu mais seco que tudo.
Depois daí começou a vingança, cheia de muito sofrimento talvez. Mas se estava morrendo uma puta, estava renascendo outra e vocês não perdem por esperar o que o puto aqui aprontou.
(Detalhe: Eu sempre tive nojo de porra. Pensar que ele mamava os boys e bebia isso e depois me beijava, me deu uma sensação de repulsa. Que dessa vez eu nem me importava de não ter que ficar com ele de novo).