A republica dos machos (1)

Um conto erótico de Yuri
Categoria: Homossexual
Contém 931 palavras
Data: 14/07/2024 15:40:45

I

A cara do Duval assim como seu nome lembravam o estereótipo pai de família dos anos 80, com três filhos, casado há vinte anos.

Mas era apenas um aluno de medicina com entradas na cabeça uns bigodes enormes em cima do lábio superior um peitoral peludo e malhado, braços grossos e peludos, vestindo jeans, sem cueca, e calçando chinelos e camisa de botões.

- Eu tenho vinte e sete, - e sorriu descarado. - E vinte e dois.

Duval disse para a cobradora que tinha acabado de perguntar a idade dele:

- Então está explicado, - ela sorriu também safada.

Eu respirava o cheiro de suor, perfume, e cigarro que circulava pelo ônibus enquanto passávamos pela catraca. Duval era uns quarenta centímetros mais alto que eu, e cem por cento mais safado.

- Estou comendo uma vagaba, - e passou o indicador nos lábios - dezoito aninhos! Eita ferro!

Eu sorria das maluquices dele achando bizarro que uma mulher, qualquer que fosse, aceitasse transar com um cafuçu boca porca como o meu amigo Duval. A mala entre as pernas era um atentado ao pudor.

- Moleque veste uma cueca pô, - eu dizia com as bochechas rubras - as pessoas percebem Duval.

- Foda-se!

- A cobradora quase chama a polícia - falei - também andando armado por aí.

Ele ergueu o braço coçando a nuca e sacodiu a cabeça fazendo aquele barulho de unhas coçando os pelos da barriga por cima da camisa.

- Eu tô me fodendo para o que acham - e sacodiu os ombros - os caras lá do cafofo são iguais a mim ou piores, tô achando que tu vai vazar de lá logo, logo, é muito fresco.

Ele espalmou a mão em cima da minha cabeça bagunçando meus cabelos. Eu tinha dezoito anos e acabara de passar para jornalismo em uma PUC, com a nota do prouni. Duval era meu único conhecido na cidade.

- Falta muito? - perguntei enquanto subíamos uma das muitas ladeiras.

Nos paramos diante de uma casa que lembrava uma velha segurando uma bengala, as tintas da fachada comidas por salitre, os telhado negros, e um varandado de madeira.

- Oh Betão! - gritou Duval - Betão desgraça!

A casa parecia ter sido construída no século dezenove. Logo na entrada no telhado havia um buraco com uma sacola plástica improvisada como telhado no lugar.

- Já vai caralho! - responderam do outro lado da porta.

Um homem com uns dois metros de altura surgiu na minha frente vestindo um short tactel e o corpo todo suado. Ele resfolegava, tinha bochechas salientes e a cabeça raspada estilo militar.

- Demora da porra tava cagando?

- Não, tava batendo uma punheta pensando na tua irmã, aquela cachorra gostosa! - ele rosnou.

O cara voltou a sumir dentro da casa e Duval entrou junto eu vacilei para a frente vendo tudo meio escuro. Havia uma barra de ferro em cima do batente superior da porta pelo lado de dentro. "O tal Betão devia está fazendo barra ali", pensei comigo.

Quando pisei o pé direito dentro do piso antigo da casa, o cheiro quase me espantou para fora de volta. Uma mistura de suor de homem, perfume ou pós barba.

- Bem vindo novato, - disse um rapaz magro de cabelo grande - sou Fabrício, faço Química na federal, você chegou num dia meio merda porque a casa tá uma zona, mas nem sempre é assim não.

Um negão de peitoral despido e uma barriguinha de cerveja ergueu-se do sofá onde estava deitado, e sacodiu a cabeça.

- Essa desgraça é daqui para pior pai, - disse e gargalhou - me chamo Juarez, Duva falou de tu...

Ele levantou coçando o saco por cima do short. "Nessa zona toda perderam as camisas?", ruminei enquanto olhava para a sala, o magrelo segurava um livro.

- Eu... eu... - gaguejei - sou... sou...

- Caralho! - Duval gritou - eu pensei que tu tava me seguindo! Que porra! Sacanagem, fui mostrando o cafofo, pensando que tu tava me seguindo. Galera esse aqui é o Yuri, um irmão para mim.

O homem mais bonito de todos ali apareceu atrás de Duval, era mais alto que ele, devia ter uns dois metros. Estava fazendo a barba e como os demais sem camisa. Tinha os cabelos grandes quase cobrindo as orelhas e olhos verdes.

- Seja bem vindo Yuri, - ele disse - e só temos uma regra aqui...

- Ah é...? - consegui dizer com as bochechas vermelhas.

Ele limpou uma parte da bochecha direita passando o estojo com aquele barulho da lâmina comendo os pelos e completou:

- Gostar de boceta!

Meu estomago se fechou como um envelope. Eu sorria procurando onde enfiar a cara. O cheiro e a imagem daqueles caras na minha frente era como entrar em um conto erótico estilo Kherr!

"Como assim gostar de boceta era a regra!?", eu olhava para eles meio assustado "Então sou fora da lei por aqui", pensei respirando pesado.

- Yuri é gay, - disse Duval - e ninguém tem nada haver com isso.

- Eu sou o quê?! - gritei para Duval.

- Oxe e não é? - ele respondeu de volta. - Todo mundo sabe disso Yuri, desencana.

- Porra! - disse o cara com o estojo no rosto. - Tu já chegou quebrando as regras? Então vai ter que liberar essa cuceta!

Eu estava plantado no mesmo lugar há alguns minutos sem conseguir sair da mesma posição.

Eu queria correr de volta para a rua e descer as ladeiras de volta ao ônibus lotado, correr as cinco horas de viagem de volta para a proteção da minha cidade do interior.

Mas é óbvio que não fiz nada disso apenas sorri novamente e fui conhecer minha nova casa pelos próximos dias. "Poucos assim espero!" e a cada passo que eu dava pensava como a Gretchen na Fazenda "esse não é o meu mundo!".

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Comentários

Foto de perfil de Jota_

Ei cara!! Que início espetacular esse! Já ansioso para ler os próximos. Você escreve bem pra caramba!

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Azinho, gostei de tua narrativa. Promete... Conte-nos mais sem demora, por favor. Ansioso no aguardo.

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