NARRADOR: NEXUS
Como já dizia Sigmund Freud: "Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte". Eu já aceitei. Não existia outro caminho para mim, apenas destruição e sofrimento. Sozinha, levantei um império e uma fortaleza do mal. No universo do crime, sou conhecida por não ter pena dos meus inimigos.
No início, sofri para me adequar aos padrões dos super vilões, mas, aos poucos, e com bastante treino, facilitei a minha entrada no hall de bandidos que são temidos. Era uma vida complicada, mas favorecia o meu objetivo final, que era acabar com os heróis de uma vez por todas.
Nos últimos meses, a minha equipe de tecnologia desenvolveu um gás que pode afetar os heróis. É um componente químico que queima as pessoas que nasceram com a mutação no DNA e transforma os humanos em meros fantoches.
— Boa tarde, filho. — desejei ao Hodin, o meu principal cientista.
— Temos alguma novidade da solução N? — questionei, analisando os últimos resultados de Hodin.
— Senhora, apenas me impressiono com esta criação. O resultado é magnífico. — afirmou Hodin, olhando para o microscópio.
— E se a gente maximizar o poder da solução? — sugeri, já pensando em formas de derrotar os heróis.
— Pode ser. Até segunda eu entrego os dados para a senhora. — ele me reverenciou.
Eu amo ter o poder. Ele nasceu comigo. Há alguns anos, ele me pressionava, hoje, eu o controlava em toda a sua glória. Tecnologia, servos e planos perfeitos, eu sou uma força da natureza e nada vai me deter.
— Senhora, ouvi boatos que o Garra já está terminando o treinamento com a armadura. Isso é verdade?
— Sim, Hodin. Vou dar início a parte um do plano. Então, contratei o melhor para o serviço. — expliquei, andando na direção de Hodin. — Espero que esteja preparado. — pegando em seu ombro e apertando.
NARRADOR: OTTA
Ah, que inferno de aula. Eu detesto esse professor. E, por favor, quem faz aula de história da arte às 8h? Os meus amigos estão prestando atenção em cada palavra, nerds! A minha atenção, por outro lado, está voltada para as costas do Léo. Os seus cabelos castanhos exalam um cheiro doce que invade toda a sala. A Brunessa não o deixa em paz. Ela parece um carrapato.
— Esse carrapato pequeno e...
— Quem é carrapato, senhor Otaviano? — questionou o professor José, um homem magro e alto, que mais parece o Slanderman.
— Er. — dei uma risada amarela e fiquei calado.
Olho para a janela e consigo visualizar uma equipe de heróis. Ultimamente, esses vermes estão aparecendo aos montes na faculdade. Eles têm medo de um próximo ataque aos alunos. Do jeito que eles são desengonçados existe uma grande chance que tal coisa aconteça. Eu não confio a minha vida na mão deles. Os meus pais confiaram, olha só no que deu.
Por sorte, o Tio Ronaldo me "adotou" e não deixou nada faltar. Pelo menos, no quesito material eu tive tudo, ainda mais depois que abri o meu canal. Hoje tenho mais de um milhão de seguidores e o número só cresce. Isso é uma forma de ganhar afeição? Talvez, mas funciona para mim.
De repente, o professor José me faz uma pergunta e não sei o que responder. Graças aos deuses, que o Cláudio consegue me salvar. Na hora do intervalo, eu decido comer uma pizza de camarão que custa uma fortuna. As bancas de alimentos da universidade devem fazer parte de alguma máfia. Mesmo contrariado, eu compro a fatia de pizza e vou para o pátio com meus amigos.
Sempre comemos juntos. Virou uma espécie de ritual. O Raul adorava alimentos mais saudáveis, enquanto o Cláudio e eu somos vida louca. Para nós, sempre era o momento certo para um salgado com um refrigerante bem geladinho. Tudo bem, que depois descontamos tudo na academia e corridas matinais, mas malhamos para comer.
De longe, vamos a Brunessa atracada ao lado do Léo. Eles caminham juntos como o Rei e Rainha da universidade. A maioria das alunas são apaixonadas pelo Léo. Sério, o que ele tem demais? Todo mundo o acha incrível. Só porque ele tem esse ar de confiança. Fora que as minhas colegas ficam falando de como o corpo dele é musculoso e seus olhos pretos são profundos. Ele nem é interessante ou bonito.
Sério, o que o Léo Muller tem a oferecer? O cara é um modelo burro que faz cinema para aproveitar o hype da carreira. Os meus devaneios são quebrados com a aproximação do casal. A Brunessa é uma mulher muito bonita, mas deve estar na mesma situação do Léo. Tenho certeza que eles vão ser os atores mais requisitados em um futuro próximo.
— Oi, meninos. — ela disse nos entregando alguns envelopes. — Vou fazer uma festa no sábado e quero a presença de todos. Vai ser uma pool party, ou seja, escolham as melhores sungas. Vai ter bastante cerveja e comida.
— Que demais, Brunessa! — exclamou Cláudio, que adorava uma boca livre.
— Finalmente, um pouco de diversão neste semestre. — disparou Raul para o meu desespero.
— Sábado? — questionei fazendo uma 'cara' de paisagem. — Puxa, acho que tenho uma gravação, mas prometo que vou fazer o meu melhor para ir. — sorri e tentei ao máximo não fazer contato visual com o Léo, que parecia um cão de guarda da Brunessa.
— Puxa, mas faz uma forcinha, amigo. — ela fez uma carinha triste.
Amigo? Amigo? Eu a conheço há menos de um mês. Como assim, ela tem a coragem de me chamar de amigo? Eu mereço mesmo, olha. Tudo bem, Otta. Relaxa. Você não tem obrigação nenhuma de ir para a festa da Brunessa. Ainda mais que o Léo vai estar lá só de sunga e com esse corpo sarado à mostra. Eu não vou. Eu...
— Tudo bem, eu vou sim. — soltei para a surpresa de todos. — Se quiser posso fazer um vídeo, claro, se você permitir. Preciso engajar conteúdo já que a última entrevista que fiz foi um fracasso. — olhei para o Léo e sorri.
— Sério, eu vou A-M-A-R. — Brunessa se abaixou para me abraçar. — Obrigada, Otta.
NARRADOR: LEONARDO
Ok. A raiva que Otta sente por mim ainda é evidente. Porém, sua boca diz uma coisa e seu coração outra. Ele está na minha, mas não consegue admitir o óbvio. Agora, vou ter que dar um passo mais arriscado para descobrir as intenções dele para comigo.
No fundo, a companhia da Brunessa tem sido bastante agradável. Apesar de patricinha, ela é uma boa ouvinte e conselheira. Muitas pessoas pensam que somos um casal, mas alerta de spoiler: a Brunessa é lésbica. Ela confessou enquanto estávamos ensaiando para um curta-metragem da aula de filosofia.
Eu nunca fui de ter amigos, mas posso aproveitar a faculdade para agregar algumas pessoas na minha vida. Claro, que haverão regras, principalmente, para a segurança deles. Ainda mais agora que a faculdade foi alvo de um ataque e está sob vistoria do Supergrupo.
Cheguei em casa e minha mãe estava no escritório. O seu passatempo favorito era desvendar mistério para outros heróis. Sempre a encontrava nos livros ou em algum site de pesquisa. Já a minha irmã praticava yoga na sala, mas sempre parava para dar atenção ao Devorador de Almas.
— Isso, devorador de almas. Morde bem na buzanfa dela. — pedi rindo, enquanto a Lia fazia uma pose estranha.
— Ele não vai fazer isso. Ao contrário do meu irmão, você é um bom menino, né? — Lia gostava de conversar com o cachorro. Sempre a flagrei batendo papo com o Devorador de Almas.
— Cachorro fraco. — soltei e o Devorador de Almas se aproximou de mim. — Sorte que é fofo. — o acariciei. — Ei, mana. Alguma novidade sobre o ataque na universidade?
— Coisa do tal de Nexus. A mamãe contou que ele já atacou diversos super pelo Brasil, mas que agora suas atividades estão em São Paulo. — ela explicou, flutuando para facilitar uma das poses de yoga. — E o rapaz loirinho, o Otta, né? A mamãe pediu para eu ficar de olho nele, mas alguém já está fazendo isso por mim. — seu sorriso ficou malicioso.
— Sem ligação nenhuma com o caso. Só estava no lugar errado na hora errada. Inclusive, o Otta é anti-herói, acredita. — contei e Lia voltou a atenção para mim.
— Meu Deus. — ela coloca a mão na boca. — Agora o tórrido caso de amor se complica. — e um novo sorriso malicioso surge em sua boca.
— Idiota. — falei e a Lia me dá um beliscão com seus poderes. — Ei, mãe! A Lia usou os poderes em mim! — gritei.
— Lia Sara! Nada de usar os poderes do seu irmão. — a voz da minha mãe ecoou pelo sistema de som da casa.
— Fofoqueiro.
— Enxerida. — revidei, levantando e indo em direção ao meu quarto.
Mal tirei a roupa e o alarme começou a tocar. Corri apenas de toalha para a sala e os meus familiares já estavam respondendo o chamado de Pratz, que tinha sua imagem gerada na televisão. Um ataque em uma subestação havia cortado a energia da metade de São Paulo. Eu nem preciso dizer que ficamos prontos em tempo recorde e seguimos para o local do crime.
Como a missão envolvia eletricidade, a minha mãe nos fez usar umas luvas diferenciadas. Eu confesso que achava estranho alguns apetrechos criados pela dona Cléa, mas ela nos obrigava. Com a ajuda da Lia, conseguimos pular o muro da subestação. Um cheiro de plástico queimado tomava de conta do lugar.
O meu pai usou a super velocidade para retirar todas as pessoas da subestação. Em menos de cinco minutos, não havia mais nenhum funcionário e o incêndio estava controlado. Eu encontrei alguns capangas da Nexus instalando explosivos nos transmissores de energia e parti para a luta.
— Você não sabia que mexer com eletricidade é perigoso? — questionei, surpreendendo o homem.
— Atenção, os supers estão aqui! — ele gritou e desapareceu na minha frente.
— Você viu isso? — perguntei para Hermes, que também estranhou a situação.
— Atrás de você! — o bandido gritou e quase me acertou com um bastão de ferro.
Uma luta se iniciou. O homem aparecia e sumia constantemente. O Hermes tentou alcançá-lo, mas era quase impossível. A Aya informou pelo sistema de comunicação que os outros capangas estavam do lado de fora. A situação estava complicada para o nosso lado.
Irado, o Hermes usou sua concentração. Aproveitei para tirar o bandido do sério, dessa maneira, os seus batimentos cardíacos seriam mais frequentes e conseguiria captar com mais agilidade.
— A sua direita, Hermes! — gritei.
— Opa! — com um soco potente, Hermes derrubou o bandido.
Nos aproximamos para averiguar de onde o bandido havia conseguido o teletransporte. Ele usava uma espécie de capacete de metal. Aquela tecnologia não era humana. O Hermes tirou o equipamento do bandido e usei uns fios para prendê-lo. Seguimos para a área externa e encontramos Aya e Celestes lidando com outros capangas.
As duas não precisavam de ajuda. Só aparecemos para fazer uma figuração especial. Com uma única rajada telecinética, a Celeste derrubou vários homens. Já a Aya lutava com um bastão de energia elétrica e não dava folga para os bandidos. #queorgulhodessafamilia.
— Muito bem! — gritou um homem. Sua voz vinha de todos os lugares.
— Atenção! — gritou Hermes, olhando para cima e ficando em posição de alerta.
A subestação estava vazia e os capangas de Nexus espalhados pelo chão. De quem era essa voz tão amedrontadora? Vejo uma silhueta atrás de Celeste, mas quando tentei alertá-la um homem taca uma espécie de poeira verde em cima dela.
— A mais forte precisa cair primeiro. — ele joga a Celeste no chão com violência. — Quem vai ser o próximo?