<<<<Gabi>>>>
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A viagem de início não foi muito agradável já que o trânsito estava meio pesado de manhã. Mas quando fui me distanciando mais da cidade, as coisas melhoraram. Menos carros, menos pedágios e mais calor. Deu para acelerar um pouco mais. Eu amava andar de moto, eu me sentia livre com o vento batendo no meu corpo, eu não sei explicar, mas era uma sensação única. Eu fui direto sem parar em lugar algum. Cheguei na minha cidade antes do almoço, abasteci a moto e pensei em ir na casa do Marcelo. Depois mudei de ideia porque nem sabia se ele ainda morava no mesmo lugar. Talvez estivesse casado e já morando em sua própria casa com Carla. Enquanto abastecia eu vi alguns rostos conhecidos, mas ninguém me reconheceu.
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Segui meu caminho e logo estava na entrada da fazenda, mesmo depois de 5 anos as coisas pareciam quase iguais. Segui em frente e vi que um carro tinha acabado de chegar na casa da sede. Quando me aproximei mais eu diminui um pouco a velocidade. Vi que uma mulher desceu do carro. Quando cheguei mais perto vi que alguém foi ao encontro dela e a abraçou. Mesmo depois desse tempo, eu reconheci na hora que a pessoa era a Fabi. Pensei em parar, mas eu não reconheci a mulher que ela estava abraçando. Como eu não sabia como seria sua reação achei melhor seguir em frente. Vi ela me olhando mas provavelmente não me reconheceu por causa do capacete, ainda mais que a viseira era espelhada.
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Quando cheguei na entrada do sítio me bateu uma nostalgia enorme. Minha casa estava igualzinha. Porém ao redor estava totalmente diferente. Quando eu saí meu tio tinha começado as plantações de café, porém era mais distante da casa. Agora a casa está toda cercada por lavouras de café. Notei que tinha um grande galpão aos fundos também, não dava para ver direito mas com certeza era um depósito de café e adubos. Levei a moto até a garagem ao lado da casa. Tinha uma caminhonete bem bonita estacionada lá, provavelmente era do meu tio e para ele ter comprado uma daquele modelo as coisas estavam indo muito bem. Coloquei minha moto ao lado e fui para dentro de casa. A porta estava trancada, mas eu sabia onde ficava a chave reserva. Quando abri a porta e entrei meu coração acelerou na hora. Eu estava de volta à minha verdadeira casa. Onde eu vivi quase a vida toda. Eu estava muito feliz naquele momento.
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Eu queria muito que minha mãe estivesse ali, mas ela provavelmente só viria na hora do almoço porque ela não sabia que eu tinha vindo de moto. Na cabeça dela eu chegaria no sítio quase meio dia. Levei minha mochila para meu quarto que estava do mesmo jeito. Voltei para sala e fui abrindo as janelas, ali notei algumas diferenças. Segui até a cozinha e abri tudo. Ali notei outras mudanças. Minha mãe tinha trocado quase todos os móveis da sala e da cozinha. Acho que realmente as coisas melhoraram depois da minha partida, só a TV e a geladeira nova com certeza valia no mínimo uns 10 mil reais.
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Eu estava com fome, resolvi ir adiantar um almoço. Fui no meu quarto e vesti uma roupa mais simples. Voltei e fui fazer o almoço. Mesmo com os novos móveis não tive dificuldade de achar tudo que eu precisava. Estava terminando o almoço quando vi meu tio chegando na porta da cozinha. Eu já fui encontrar com ele. Eu estava morrendo de saudades e pelo abraço que ele me deu, ele também estava com saudades de mim. A gente se sentou e começou a conversar quando minha mãe chegou. Como eu estava com saudade dela.
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Ficamos abraçadas por um bom tempo. Eu deixei escapar algumas lágrimas naquele momento. Era o melhor abraço do mundo e agora eu iria ter ele sempre. Minha mãe ficou surpresa de eu já estar ali e ainda com o almoço pronto. Eu expliquei para ela o que tinha acontecido. Almoçamos juntos e meu tio explicou que a lavoura estava indo muito bem. Nos últimos três anos deu para ter um lucro bastante alto. Eu fiquei muito feliz de ouvir aquilo. Meu tio se arriscou muito e graças a Deus deu certo.
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Nosso sítio não é muito pequeno, mas fica no canto da fazenda, o fundo da de frente a uma das grandes serras da região. É um terreno cheio de relevos e com o solo pedregoso. Quando o pai da Fabi deu esse terreno pro meu pai ele escolheu o pior terreno da fazenda. Não foi por maldade, era porque a intenção era dar um local para meu pai morar, não para ele criar uma plantação ou algo assim. O terreno ao redor da casa era bom, terra vermelha e fértil. Mas com o passar dos anos ficou claro que o café que dava a melhor bebida era o café do cerrado e meu tio viu em nosso sítio uma grande oportunidade de ganhar dinheiro. Meu tio Mathias ficou no lugar do meu pai tomando conta da fazenda da família da Fabi quando meu pai se foi. Ele tinha muito conhecimento porque trabalhou com café a vida toda. Mas ele estava cansado de trabalhar como empregado e resolveu arriscar tudo em uma plantação de café sua.
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Ele propôs à minha mãe uma sociedade. Ele iria formar algumas lavouras no nosso sítio. Tudo seria por conta dele e ele pagaria o arrendamento da terra ou daria uma porcentagem para minha mãe caso tivesse lucros. Minha mãe queria ceder o terreno de graça para seu irmão. O terreno não era usado, não fazia sentido cobrar nada. Mas meu tio não quis. Falou que iria plantar, mas que daria 10‰ das vendas. Minha mãe falou que aceitava se fosse 10% dos lucros. Por fim, meu tio aceitou. Ele vendeu quase tudo que ele tinha, se demitiu da fazenda e foi arriscar tudo nas plantações. O dinheiro não foi o suficiente já que para preparar a terra ficou muito caro e ele teve que esperar 3 anos para ter a primeira colheita. Mas ele estava confiante e fez um empréstimo no banco e deu a casa onde morava com a esposa como garantia. Minha tia foi muito corajosa e apoiou seu marido.
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Valeu muito a pena porque as primeiras colheitas já foram ótimas e deram um bom dinheiro. Meu tio em três anos já tinha pagado tudo e recuperado todo o dinheiro gasto. Quando eu fui para São Paulo tinha só lavouras no fundo do sítio. Essas lavouras iam até metade da serra. Mas agora o sítio está todo tomado de café, só nossa casa e o pequeno pomar da minha mãe não virou lavoura de café. E pelo jeito os negócios estavam indo muito bem, além dos móveis novos e da caminhonete do meu tio, o galpão construído no sítio era sinal de que estava entrando muito dinheiro.
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Meu tio confirmou isso tudo durante o almoço. Aí perguntei à minha mãe o porque ela ainda estava trabalhando na casa da fazenda já que pelo que meu tio falou ela não precisava mais trabalhar. Eu sinceramente já imaginava a resposta, mas perguntei assim mesmo. Ela disse que não estava lá trabalhando por precisar do dinheiro, mas porque ela não queria deixar sua amiga no momento. Primeiro que ela não estava bem de saúde. Segundo que a família estava passando pelo pior momento da vida. Que tanto Sandra como Fabi estavam precisando dela. E também o sítio foi dado para nós pelo pai da Fabi, sem esse terreno nada disso estaria acontecendo.
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Eu já esperava por aquela resposta. E eu concordava com ela plenamente. Não tinha como abandonar a família que sempre nos ajudou e sempre nos trataram como amigos, na verdade como família. Ficamos conversando ali durante um tempo, depois minha mãe e meu tio voltaram ao trabalho. Eu tomei um banho e fui descansar um pouco. Acabei dormindo um bom tempo. Acordei no início da noite e minha mãe logo chegou. Jantamos juntas e conversamos bastante. Ela me contou todos os problemas que Fabi estava enfrentando. Mas pelo que ela me falou o que o agrônomo passou fazia muito sentido e provavelmente tudo ficaria bem. Também fiquei sabendo mais sobre a nova família da Fabi com detalhes e sobre a mulher que vi abraçada com ela. Fiquei feliz por Fabi ter feito uma nova amiga. Sei o quanto isso é importante.
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Eu dormi muito bem aquela noite. Não na minha cama, mas na da minha mãe. Eu estava mesmo com muita saudade e dormi agarradinha com ela. Acordei no outro dia bem animada. Fui fazer minha higiene e lá pelas nove resolvi falar com minhas amigas. Falei com Suelen e Cinthia por ligação rapidinho. Respondi umas mensagens da Sophia também. Eu tinha meio que ignorado todo mundo no dia anterior, só dei notícias para minha madrasta mesmo. Depois fui pensar o que eu iria fazer da vida.
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Pensei em visitar a D° Sandra mas como ela estava com visitas eu preferi adiar essa visita. Queria também ver a Fabi. Eu sei que devia desculpas a ela. Não sabia se ela ia me desculpar, mas eu iria falar a verdade para ela e torcer para ela entender. Se ela não entendesse eu iria tentar recuperar a amizade dela com o tempo. E eu iria ter muito tempo para tentar fazer isso. Eu tinha também que correr atrás de algo para eu fazer da vida. Mas eu iria deixar isso para os próximos dias, eu queria descansar e curtir uns dias em casa antes.
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Eu queria tentar arrumar trabalho em alguma fazenda de café, queria ganhar experiência prática, na teoria eu sabia muita coisa, mas na prática eu não sabia nada. Se Fabi me desculpasse eu queria trabalhar na fazenda, eu sabia que tinha um agrônomo responsável por tudo, mas eu poderia ajudar ficando o tempo integral ali. Mas isso dependia muito da reação que Fabi teria com minha volta. Isso para mim era uma incógnita ainda. Mas logo eu iria resolver isso.
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Resolvi ir na cidade, queria ver Marcelo. Troquei de roupa, fechei a casa e mandei uma msg para minha mãe avisando ela. Peguei minha moto e saí. Passei na porta da casa de Fabi e não vi ninguém do lado de fora. Acelerei e fui em direção a cidade. Quando cheguei fui até a casa antiga de Marcelo e chamei. Sua mãe me atendeu, veio me dar um abraço e conversamos um pouco. Ela me disse que Marcelo não morava mais ali. Ele tinha se casado e morava em sua própria casa. Ela me passou o endereço mas disse que provavelmente ele estaria na delegacia ou no carro da polícia fazendo ronda. Agradeci ela e segui direto para a delegacia. Fui informada por um policial que Marcelo estava em ronda, que provavelmente ele estava na praça central ou na rodoviária. Eu fui para a praça e nada dele, mas vi Fabi saindo de uma loja com a mulher que vi com ela na porta da casa. Nat era como eles a chamavam pelo que minha mãe falou. Estacionei a moto e vi ela seguir até uma lanchonete. Resolvi arriscar e tentar falar com ela. A garota era amiga dela, não vi problema.
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Eu atravessei a praça e fui até elas. As duas estavam sentadas em uma mesa do lado de fora da lanchonete. Quando fui me aproximando Fabi me viu e parece que foi me reconhecendo aos poucos. Seu rosto mudou na hora. Ela fechou a cara e me arrependi de ter ido até ela. Bom, mas eu já estava ali e resolvi arriscar.
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Gabi: Oi Fabi. Será que a gente poderia conversar um instante?
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Continua..
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Criação:Forrest_gump
Revisão: Whisper