O Vizinho - Capítulo XVIII (Último Capítulo) & Epílogo

Da série O Vizinho
Um conto erótico de M.J. Mander
Categoria: Gay
Contém 4061 palavras
Data: 02/08/2024 00:39:14
Assuntos: Amor, feliz, Final, Gay, Homossexual

CAPÍTULO XVIII

***GUSTAVO FORTUNA***

Era para mim.

Todo aquele tempo, seus gemidos eram para mim. O sorriso parece colado em meu rosto desde ontem. Puta merda, é oficial, eu sou um cara apaixonado, louco por um só homem, e não posso nem fingir não concordar com Rodrigo, qualquer felicidade que eu tivesse antes, nem mesmo se compara com a que sinto agora, e há pouco mais de vinte e quatro horas que ouvi as palavras saindo de sua boca.

Interrompo minha montagem cuidadosa da bandeja de café da manhã e pego o celular sobre a bancada da cozinha. Em alguns toques, tenho uma chamada para Rodrigo encaminhada.

— Fala, irmão... -É como ele atende o telefonema.

— Rodrigo, numa escala de zero a dez... Quão apertado vai ser aquele abraço? -A ligação fica em silêncio por alguns intantes, antes que ele exploda em uma gargalhada escandalosa.

— Muito, muito apertado, irmão! Você finalmente admitiu, então?

— Finalmente? Não é um pastel, Rodrigo... Essas coisas levam tempo... E eu nem demorei tanto assim.

— Eu só precisei de dez segundos para perceber, entender e assumir que a Cami era o amor da minha vida...

— Mas você é uma espécie diferente de homem, Rodrigo...

— Que espécie? A de babaca apaixonado? Porque se for essa, eu fico feliz em informar que, agora, você faz parte dessa grande família... -diz e me dou conta de que é verdade... Porra... perdi tantas, mas tantas piadas: ͞ E, sim, você acaba de perder uma imensa quantidade de piadas.

É a minha vez de gargalhar, porque embora Rodrigo seja quatro anos mais velho do que eu, às vezes parece que temos a famosa conexão que dizem por aí ser compartilhada por irmãos gêmeos.

— Não tem problema... Eu vou pensar em outras... Sempre posso debochar de você por ser um perfeito marido adestrado...

— Unhum... E o que é que você está fazendo nesse exato momento, Gustavo? Porque, te conhecendo, eu posso jurar que é preparando um café na manhã pra levar na cama... Um perfeito namorado adestrado...

Debocha, e eu olho para baixo, para a bandeja cheia de todo tipo de guloseimas que consegui colocar nela. Ansioso para a alimentar a fome de comida de Eric depois de ter alimentado a outra pela noite inteira.

— Vai se foder! -Ele gargalha, outra vez: ͞ Bom dia, irmão... E, agora, nós precisamos oficializar isso! Vamos marcar alguma coisa... Cami adora encontros de casais...

— Adestrado... -Finjo uma tosse.

— E você está em treinamento... -Ele não tem a mesma cortesia que eu e diz as palavras em alto e bom som. Resmungo, mesmo sabendo que ele está coberto de razão. Eu já disse e repito, não há nada que eu não faria para ver Eric feliz, e se isso não é ser um perfeito exemplar de homem adestrado, eu não sei o que é, mas, sinceramente? Eu não poderia me importar menos.

Desligo o telefone e volto a me concentrar na bandeja. Frutas, torradas, paezinhos, geleia, queijo, cheesecake, água quente, chá... E o toque da capainha.

Franzo o cenho, porque, em pleno o domingo de manhã, não faço ideia de quem poderia ser, e não recebi nenhuma ligação da portaria. Sorrio pensando na ironia, provavelmente, é um vizinho.

Olho para mim mesmo, conferindo se estou adequadamente vestido para abrir a porta e decido que a bermuda e a camiseta são, sim, suficientes. Em passos rápidos chego até ela e, quando giro a maçaneta, nenhuma visão poderia me surpreender mais do que essa, Miguel.

— O que você está fazendo aqui, Miguel? -questiono com as sobrancelhas franzidas.

— Bom dia pra você também, Gustavo... Será que eu posso entrar?

— E eu posso saber pra quê? -Olho para o homem a minha frente sem qualquer simpatia ou vontade de ouvir o que quer que ele queira me falar: ͞ Eu estou meio ocupado agora, Miguel... Então, se você não se importar, eu acho que nós podemos conversar amanhã na GAF...

— Na verdade, eu me importo sim, o que eu tenho a dizer não pode esperar. -Minhas sobrancelhas se erguem em surpresa, mas, esperançoso de que ele tenha vindo até aqui me dizer que se demite, abro espaço, deixando que ele passe pela porta.

Seus olhos passam pela sala, observando detalhes, como se fosse a primeira vez que vem à minha casa, então, me lembro que, sim, é.

— Se você não se importar, eu estava ocupado na cozinha, vamos conversar lá... -Não peço, aviso, já caminhando na direção de onde deixei o forno ligado esquentando os croassaints de Eric. Ouço seus passos atrás de mim, seguindo-me.

No cômodo, ignoro completamente as regras da boa educação que dizem que não se deve dar às costas a alguém, e, por alguns minutos, praticamente ignoro a existência do meu convidado, continuando meu trabalho com a bandeja de café como se eu ainda estivesse sozinho. Ao terminar, respiro fundo, resignado.

Quando mais cedo começar, mais cedo termina, certo? Abro o armário e tiro de lá uma xícara, porque se vou precisar lidar com Miguel em uma manhã de domingo, vai ter que ser a base de café.

— Sabe... Quando me disseram que você tava namorando, eu não acreditei...

São as primeiras palavras que saem de sua boca enquanto vejo o líquido escuro manchar a porcelana, e elas roubam minha atenção de tal maneira, que me viro, imediatamente, após me servir, e nem mesmo pergunto se ele quer. Olho para ele com as sobrancelhas arqueadas, sem ter ideia de onde ele pretende chegar com um comentário como esses.

— Quando vi a foto, fiquei mais crédulo... Mas, quando descobri que, ao invés de um modelo, empresário, ou qualquer um desses títulos, o único que o seu namorado tinha era o de sua vizinho, fiquei intrigado... Isso não combina com o todo poderoso Gustavo Fortuna... Namorar um ninguém?

Trinco os dentes. A raiva chega súbita, e é preciso muito controle para manter a postura controlada e o tom de voz calmo quando falo.

— Eu acho que você deveria tomar cuidado com o que fala... Você está na minha casa, falando do meu homem... -Digo cada palavra com o olhar fixo em seu rosto para que não haja dúvidas do quão sério estou falando. Ele estala a língua, dispensando meu alerta, e continua.

— Eu o vi no aniversário das gêmeas, embora você não tenha tido a cortesia de falar comigo, como sempre... Não Gustavo, o presidente, o mais inteligente e o mais competente...

— No início essa conversa até estava interessante, Miguel... Mas, agora, você só está soando invejoso... Existe algum objetivo final para isso? -ironizo e ele me dirige um olhar raivoso que até me incomodaria, se eu considerasse Miguel digno de atenção.

— No aniversário das gêmeas eu fiquei impressionado... Porque você não apenas assumiu o vizinho pobre como namorado, como também o tratava como um verdadeiro bichinho de estimação... Era, curioso... -A comparação me faz ver vermelho e aperto a xícara em minha mão, ou corro um sério risco de arremessá-la bem no meio da fuça do filho da puta que ousa dizer uma coisa dessas. Apesar disso, por fora, mantenho a máscara fria e controlada. Levo o café a boca e tomo alguns goles.

Vejo no rosto de Miguel que é exatamente isso o que ele quer, meu descontrole. A troco de quê? Eu não faço ideia, realmente não sei. Mas, apesar da minha raiva, saber que estou frustrando seus planos lunáticos e infantis é uma verdadeira força para permanecer agindo exatamente como estou.

— Esse é meu último aviso, Miguel... Se você não quiser sair daqui arrastado por seguranças, eu sugiro que tenha mais respeito...

Um som de escárnio deixa sua garganta antes que ele continue a falar.

— Eu não entendia o que estava acontecendo, embora soubesse que havia alguma coisa acontecendo... Mas eu não sou um mal perdedor, Gustavo... E mesmo sabendo que você estava armando alguma coisa, no fim da festa, na sexta-feira, fui cumprimentar você pela sua vitória... É claro que você não me viu, não é? Você nunca vê... Esse seu ego gigantesco não te deixa ver nada além do próprio nariz. E, embora eu estivesse somente a alguns passos, tive minha presença ignorada enquanto os dois pombinhos trocavam juras de amor... E, advinhe qual não foi a minha surpresa, ao ouvir você, logo você, dizer ao precioso Eric que os dois eram dois perdedores?

Miguel faz uma pausa dramática, como se depois dessa revelação, eu devesse temer o que ele dirá a seguir. No entanto, tudo que eu consigo me perguntar é “qual o maldito problema desse filho da puta para achar que está tudo bem me incomodar no domingo de manhã, e me obrigar a ouvir seus devaneios?”

— Eu fiquei intrigado... -Continua seu monólogo louco: ͞ Porque Gustavo Fortuna nunca perde... Certo? Então, eu fiz meu trabalho de casa... Precisei de algum tempo... Foi difícil... Mas niguém faz uma idiotice sem fim como essas sem deixar rastros, não é gustavo?

— Com certeza não, Miguel... E, você poderia, por gentileza, me dizer que idiotice seria essa? -pergunto, cruzando os braços na frente do peito.

Seus dentes trincam e suas narinas se alargam conforme ele respira, irritado com minha indiferença. E, ao invés de me responder, o louco me lança outras perguntas.

— Ele acha que é de verdade, Gustavo? Ele acredita que você realmente se apaixonou por ele? Ou ele já sabe que você fez tudo isso porque nada podia dar errado no seu precioso empreendimentto, ou você perderia uma outra aposta?

— Miguel, eu realmente estou perdido aqui e não faço ideia do que você está falando...

— Eu estou falando da porra da aposta que você fez comigo e que trapaceou! -Franzo o cenho, sem entender do que ele está falando e é só depois de alguns minutos que me lembro. A expressão em meu rosto deve denunciar minha honestidade, porque quando ele volta a falar, soa ainda mais ultrajado.

— Você esqueceu de verdade, não esqueceu? -Seus olhos estão estreitados e seu rosto retorcido em uma careta de desgosto que eu não entendo, afinal, mais de uma vez, já deixei claro para ele o quanto o acho insignificante. Além disso, eu avisei que no momento em que passasse pela porta, esqueceria.

— Eu te disse que esqueceria, Miguel... Nunca te prometi nada além de honestidade. Mas como eu jogo o meu jogo, é problema meu, não seu! Pouco te importa se eu faço apostas, beijo bebês, ou ajudo velhinhas a atravessarem a rua para alcançar meus objetivos, tudo o que você precisa saber é que eles foram alcançados, agora, se você me der licença, eu realmente gostaria de levar o café da manhã do meu e homem...

— Seu homem... -Cospe as palavras com um semblante quase maníaco: ͞ E será que ele vai continuar sendo seu homem depois que souber que tudo isso não passou de um meio para um fim pra você, Gustavo? E, que na primeira oportunidade, você vai esquecer da existência dele, assim como esqueceu do acordo que fez comigo?

Dessa vez, não consigo evitar que a incredulidade tome conta do meu rosto. Em que mundo ele vive?

— Miguel, eu, sinceramente, acho que você anda assistindo a muitos filmes e séries de televisão. Isso é a única coisa que justificaria o fato de você vir até a minha casa, sentindo-se como um grande vilão, me fazendo essa ameaça ridícula. Você realmente acha que tem a informação capaz de salvar o mundo?

— Salvar o mundo? Não... -estala a língua e apoia os cotovelos sobre a ilha da cozinha: ͞ Mas destruir seu relacionamento de mentira? Com certeza...

— E eu suponho que você tenha uma contraproposta, certo? Você não veio aqui só pra me dizer que tem essa informação poderosíssima nas mãos e depois ir embora, veio?

— De fato, eu tenho... -Agora, sua voz soa confiante: ͞ Seu homem... -demora-se nas palavras e por isso, mais do que por qualquer outra merda que ele tenha dito ou feito esta manhã, quero socar sua cara: ͞ Não precisa ouvir sobre nada disso, se você me der o que eu estou pedindo desde o começo, que, aliás, não é nada além do que eu mereço...

Não consigo evitar, gargalho.

— Você está achando divertido, Gustavo? Então porque não convidamos o adorável Eric pra essa nossa conversa?

— Tarde demais pra isso... -A voz de Eric soa alta e clara vinda do corredor e, logo em seguida, o corpo aparece. Vestindo apenas uma camiseta minha, o desavergonhado entra na cozinha com os cabelos bagunçados, o rosto amassado de quem acabou de acordar, e nenhuma pista em seu rosto sobre o que está pensando.

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*** ERIC VIANA ***

A ausência de Gustavo na cama me acordou, e o som da campainha me despertou. Eu não tinha a intenção de ouvir a conversa alheia, mas depois de lavar o rosto e escovar os dentes, resolvi espiar pelo alto da escada para descobrir se a visita já tinha ido embora, ou se eu precisaria vestir uma roupa decente.

Meus olhos não encontraram ninguém na sala e achei que isso significava que eu poderia continuar exatamente como estava, nu por baixo da camiseta de Gustavo. Desci as escadas e, como em um desenho animado, segui o cheiro da comida, mas estaquei no corredor ao ouvir vozes. Eram duas. A que passava a maior parte do tempo em silêncio era conhecida, e bastou ouvi-la para que as lembranças dela me dizendo que me amava a noite inteira, enquanto seu dono me comia de todas as formas possíveis, enchessem minha mente.

Já a segunda, que parecia determinada a dizer todas as palavras do mundo, essa eu tinha a impressão de já ter ouvido, mas não fazia ideia de a quem pertencia. Não levei muito tempo para entender que não se tratava de uma conversa amigável, e estava pronto para dar meia volta e ir embora, até ouvir meu nome.

Eu não sou fofoqueiro, ou mal educado. Mas anos de novelas brasileiras e mexicanas me ensinaram que se você ouve seu nome em uma conversa que não deveria estar escutando, você fica, e ouve até o final. Na vida real não é permitido ser estúpido como são os personagens de filmes e novelas. Não, aqui, a regra é clara. Se você ouve um barulho suspeito no porão, no meio da noite, não vai até lá, corre na direção contrária.

E, se seu nome é citado em tom de ameaça, você, definitivamente, não ouve apenas mais uma frase e sai correndo, sentindo-se enganado. Fiquei e ouvi cada palavra dita, até que fui praticamente convidado a participar da pequena reunião.

Entrei na cozinha com passos lentos. Olhei para o dono da voz conhecida, porém, não familiar, e soube, imediatamente, que fui apresentado a ele durante a festa, mas não faço ideia de quem seja. Depois, olhei para Gustavo, que deslizou os próprios olhos pelo meu corpo, provavelmente, percebendo que eu não visto nada por baixo da camiseta.

Caminho até parar entre ele e o homem que, até minutos atrás, parecia muito preocupado com meu pobre coração. Ah, se ele soubesse o quanto esse órgão é estúpido.

— Então, deixa eu ver se entendi. -Digo, e o sorriso vitorioso no rosto do homem faz com que meu cenho se franza. Já Gustavo permanece com uma expressão impassível: ͞ Gustavo também fez uma aposta com você?

Ele balança a cabeça, concordando. Faço um bico com os lábios e movo para cima e para baixo, para um lado e para o outro. Depois, desvio meus olhos entre os dois homens, até finalmente ter minhas próximas palavras claras em minha cabeça.

— Eu só tenho uma pergunta...

— Posso responder todas as que você quiser... -soa solícito e Gustavo continua em silêncio.

— Ele não fodeu você também, fodeu? Porque isso realmente seria um problema... -Não sei o que acontece mais rápido, se a gargalhada estrondosa de Gustavo preencher a cozinha, ou o rosto do homem ser tomado por surpresa, e, depois, confusão.

— Vo..Você... -O homem gagueja e Gustavo não faz a menor questão de se controlar, continua rindo escandalosamente.

— Eu conheço esse traste, moço! Sei que não vale um real e que se necessário fosse, pra ganhar, ele venderia a própria mãe, o irmão, e até eu. Talvez, e um grande talvez, Alicia e Alice estejam a salvo, mas eu não tenho certeza não, viu?

Gustavo tosse, precisando com desespero de ar. Mas, entre risos, fala.

— Não, as gêmeas estão a salvo...

— Viu, moço? Só as gêmeas...

— Vocês se merecem! -o homem praticamente cospe as palavras.

— Definitivamente! -Sou rápido em concordar: ͞ E, como você deve ter ouvido na sexta, nós somos, assumidamente, um casal de merda! -Ele nega com a cabeça, parecendo completamente incrédulo que eu não tenha tido a reação idiota de um mocinho de novelas.

Apesar da diversão estar impregnada em sua voz, quando Gustavo fala, soa sério e inquestionável.

— Acho que você tem sua resposta, Miguel... Você sabe o caminho...

Miguel, isso! Sabia que era alguma coisa celestial. O homem se vira, ainda negando com a cabeça, e nós dois observamos enquanto ele some de vista no corredor. Assim que o som da porta sendo fechada é ouvido, os braços de Gustavo envolvem minha cintura e seu rosto se afunda em meu pescoço.

Passamos alguns segundos assim, em silêncio absoluto, até ele levantar a cabeça, virar-me e prender meus olhos nos seus. Seu olhar investiga o meu procurando sabe-se Deus o que.

Mudo a expressão em meu rosto, deixando-a completamente séria. Vejo a preocupação tomar conta de Gustavo, desde seu olhar até sua postura, que se torna rígida e tensa. Ele engole em seco, e depois de alguns segundos torturando-o, falo.

— Você realmente tem um problema com apostas... -Ele gargalha e eu não me contenho, rio junto e colo minha testa a sua.

— Porra, amor... Se eu morrer infartado, você fica sozinho... Não faz isso não... -diz, entre risos: ͞ Estamos bem? -Uma de suas mãos toca meu rosto, acariciando minha bochecha.

— Eu sei quem você é, Gustavo... Sempre soube... E fui idiota pra me apaixonar ainda assim...

Seu rosto ganha aquele maldito sorriso cafajeste melador de cueca s.

— É cedo demais pra dizer que eu quero você pra sempre?

— Pra um casal normal? Talvez... Mas nós somos um casal de merda, não somos?

— De muita merda... -diz, fazendo-me sorrir: ͞ Eu te amo! sussurra em minha boca, antes de beijar minha testa, nariz e lábios.

— Até a lua... -As palavras saem sem que eu pense sobre elas e as sobrancelhas de Gustavo se erguem, ele parece pensar por alguns instantes, depois, repete.

— Até a lua...

EPÍLOGO

*** GUSTAVO FORTUNA ***

#3 ANOS DEPOIS#

Minhas mãos suam, meu coração bate acelerado no peito, e porra, estou tremendo. Como o caralho de uma vara verde, eu estou tremendo. Ah, Eric! Mas você me paga por me fazer passar por isso!

— Tá chegando? -Ele pergunta caminhando em passos trôpegos por causa da venda em seus olhos. Com os braços esticados na frente do corpo, procura o que tocar, apenas para não encontrar nada.

— Está... Agora nós vamos entrar no elevador. -O conduzo, aperto os botões e ele dá passos medrosos, adiando o momento pelo qual estou esperando há meses.

— Eric, você tá com medo de quê? Entra logo no elevador, amor!

— Eu não estou vendo! Vai que você quer se livrar de mim, o elevador não tá aqui de verdade, e eu vou cair no poço e morrer? As pessoas ainda vão dizer que foi um acidente...

— Eric, você sabe que dar passos lentos não tornaria sua queda lenta, certo?

— Cala a boca, Gustavo!

Finalmente entra no elevador e, como sempre acontece, desde aquele dia dos namorados há três anos, uma corrente elétrica atravessa meu corpo.

— Será que algum dia essa sensação vai parar de me assaltar toda vez que eu entro num elevador com você? -pergunta, sentindo-se exatamente como eu.

— Eu espero que não... -beijo sua bochecha. O elevador apita e eu o ajudo a sair dele. Caminhamos poucos passos.

— É aqui. Espera um instante.

Coloco meu dedo sobre o sensor de digital e a porta se abre. Empurro-a até o limite, e ajudo Eric a entrar. Posiciono-o bem no meio do lugar e vou para trás dele. Desfaço o nó na venda, finalmente, revelando a surpresa. Ele pisca os olhos, se acostumando à claridade. Depois, finalmente presta atenção ao seu redor.

Olha as paredes claras, os móveis modernos e a decoração intimista, que mistura minimalismo com todo tipo de cor, foi um trabalho primoroso da arquiteta que, provavelmente, nunca mais vai querer trabalhar comigo na vida. Eu, realmente, fui muito chato, mas queria que tudo ficasse perfeito.

— Estamos no Ilha nova? -pergunta, virando-se para mim, e eu balanço a cabeça, confirmando.

— Parabéns, amor! Ficou incrível!! Isso quase faz o fato de você ter demolido meu apartamento não doer... -Solta a piadinha infame que eu venho ouvindo há dois anos inteiros sobre a demolição do edifício Uno e começa a caminhar, entrando e saindo da minha vista.

Depois que todas as etapas burocráticas foram finalizadas e o prédio foi colocado abaixo, a demolição virou moeda de chantagem na boca de Eric para absolutamente qualquer coisa que ele achasse interessante.

“ Amor, traz água pra mim? Você demoliu meu apartamento...”

“Amor, vamos ao shopping? Você demoliu meu apartamento...”

“ Amor, você pode me comprar uma Cheesecake na China, no domingo, às duas da manhã? Você demoliu meu apartamento...”

E eu fiz todas as suas vontades, não por culpa, mas por amor, porque completei meu treinamento de homem adestrado na velocidade da luz, e nada nunca me fez tão feliz quanto a felicidade dele. E, hoje, eu espero multiplicá-la por mil.

— Amor, dá uma olhada na varanda! Ficou incrível... -Sem desconfiar de absolutamente nada, ele faz o que sugeri e meu coração bate tão acelerado no peito, que já não posso mais contar suas batidas.

Eric afasta as cortinas, abre a porta de vidro de correr, e sai do outro lado. Ouço seu arfar surpreso e me preparo. Um, dois, três...

— É a vista que eu tinha da minha varan...-Interrompe a fala ao virar-se e me encontrar no meio da sala, de joelhos, com uma caixa de anel nas mãos e um sorriso no rosto que brilha muito mais que o diamante que seguro:

— Ah, porra... -São as suas palavras.

— Três anos atrás, você saiu desse apartamento vestindo um pijama de Seda vermelha e mudou a minha vida. -Respiro fundo, controlando a necessidade de dizer tudo de uma vez, desisti de pensar no suor em minhas mãos e na secura da minha boca: ͞ Naquele dia, você esmurrou a minha porta e, sem saber, colocou abaixo todas as barreiras que existiam ao redor do meu coração. Não foi amor à primeira vista, Eric... Foi tesão... Foi um desejo louco e desenfreado que fez eu te perseguir... -Pauso, olhando para ele e controlando-me para conseguir continuar.

— Eu não sabia ainda... Mas essa foi a melhor e mais arriscada decisão que eu tomaria na minha vida... -A primeira lágrima rola pelo seu rosto e eu não resisto mais, deixo que as minhas rolem também: ͞ Eu não tive medo de me mostrar pra você, eu não tive medo de ser mais eu com você... É como diz aquela música... De todos os loucos do mundo eu quis você, porque a sua loucura parece um pouco a minha... De todas os loucos do mundo, amor... Eu quis você... Porque eu tava cansado de ser louco assim, sozinho...

— Você é um noivo de merda...-Acusa, entre lágrimas: ͞ Nenhum noivo chama o noivo de louco durante o pedido! -Eu rio.

— Aqui, onde tudo começou, na junção dos nossos dois velhos apartamentos, onde aconteceu, onde você foi minha pela primeira vez, vamos construir nossa família aqui? -Com o rosto molhado, ele sorri imenso para mim, mas ainda não me diz o que eu quero ouvir.

— Casa comigo? Vamos ser uns maridos de merda?

Eric caminha até mim e ajoelha a minha frente. Sua testa cola na minha, seus olhos prendem-se aos meus.

— Eu ainda vou poder usar a desculpa de que você demoliu meu apartamento pra conseguir de você o que eu quiser? -pergunta em um tom sussurrado com a boca colada na minha.

— Não... -Ele abre a boca, pronto para soltar algo engraçadinho, mas eu a interrompo antes mesmo que comece: ͞ Mas vai poder usar a desculpa de que eu sou seu marido...

— Isso parece tão bom quanto...

— Isso é um sim?

— Até a lua, amor...

— Até a lua... -Beijo sua boca.

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Comentários

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Muito bem escrito. Obrigado. Obrigado. E obrigado.

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Lindo de viver. Muito emocionado parabenizo você por essa linda história. Eu amo o amor e você o colocou lindamente nesse casal com que nos presenteou. Parabéns e muito obrigado pelo conto. Forte abraço.

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