CAPÍTULO DEZESSETE
*** HUGO MALDONADO ***
Os olhos grandes de Pedro parecem ainda maiores quando o jogo na cama. Ele pisca, sem esconder a confusão que sente, parecendo mais jovem do que nunca.
— Acho que estou enferrujado — digo, subindo de joelhos na cama e prendendo o corpo pequeno entre as minhas pernas. Entrelaço meus dedos nos seus e levo as suas mãos para cima da sua cabeça. Esfrego a ponta do nariz por seu pescoço, garganta, queixo e maxilar. Meu pau endurecendo imediatamente, como todas as vezes que esteve prestes a se afundar no cu quente de Pedro. — Vou precisar trabalhar minha comunicação pra isso funcionar. — Espalho beijos suaves por seu rosto, atrás da sua orelha e pelo seu pescoço.
— Enferrujado parece mesmo algo que você estaria, por causa da sua idade e tal... — provoca, apesar da sua respiração já estar se descontrolando, e eu rio rouco.
— O que nós já conversamos sobre você me provocar quando estiver com esse cu empinado pra mim, hein?
— Hugo... — geme meu nome, já entregue às sensações de ter meus dedos e corpo roçando em sua pele. Aproximo o meu rosto do seu até que minha boca esteja pairando sobre a dele.
— Quer saber o que significa Bela Armadilha, Pedro? — Ele não faz mais do que lamuriar uma resposta quando impulsiono os quadris para frente, roçando em seu pau por cima da cueca. — Significa que você foi feito sob medida pra me foder. — O hálito morno da sua expiração atinge meu nariz e eu não posso mais esperar para sentir o seu gosto. Eu o beijo.
Pedro se contorce sob mim, tentando abrir mais as pernas e enfiando a língua atrevida em minha boca com uma fome deliciosa. Arrasto os dentes pelo seu queixo, antes de continuar a falar.
— Significa, que dessa sua boca esperta… — chupo a sua garganta. — Até o seu cuzinho apertado… — lambo o caminho de volta até seus lábios. — Cada pedacinho de você foi feito pra me enlouquecer e me fazer entrar de bom grado na confusão desafiadora que você é. — Solto suas mãos e ele imediatamente as espalma em minhas costas. Sua boca procura a minha para mais um beijo em que nossas línguas se enroscam deliciosamente.
Esta manhã, nenhum de nós está exigindo o controle, mas os dois estão cedendo. Enfio as mãos por seus cabelos, pressionando sua nuca e deslizando o polegar pela linha do seu maxilar, mantendo a sua cabeça posicionada perfeitamente onde quero.
— Quer dizer que eu não estava procurando você, e ainda assim, te encontrei e que por mais que eu tenha tentado resistir. Foi impossível.
— Você não pode dizer essas coisas — murmura.
— Que coisas? Não posso dizer que você é um furacão que me ganhou na calmaria de dias tranquilos? De conversas bobas e jantares em família? Que o teu corpo, teu cheiro e teu gosto me atraíram, mas que foi a sua personalidade que me prendeu? — Um gemido alto deixa seus lábios quando uma das minhas mãos passeia pela lateral do seu corpo. — Não posso? — pergunto, roçando a boca na sua. — Esse seu jeito de rir de tudo, de acreditar em coisas simples e achar que a vida adulta não é chata. Não posso dizer que eu adoro cada uma dessas coisas pra caralho?
— Exatamente esse tipo de coisa. — As pupilas dilatadas se concentram por completo em meu rosto.
— E que eu, com certeza, me apaixonei por você, Pedro? Posso dizer esse tipo de coisa? — Mantenho o corpo curvado sobre o seu, mas interrompo os movimentos provocativos. Ele traz as mãos até o meu rosto, infiltra os dedos pela minha barba e espalma minhas bochechas.
Nos olhamos por minutos inteiros antes que, em um movimento impossível de apontar quem começou, nos beijemos. O beijo é uma coisa primitiva e urgente na mesma medida em que é controlada e pacífica. Uma contradição, exatamente como o homem em meus braços.
Me ergo, louco pela visão do seu corpo nu em minha cama e, em poucos movimentos, tenho o que quero e me dispo também. Volto a me ajoelhar na cama, e meu pau dolorosamente duro se contrai com a visão, ansioso por decretar posse dele.
Dessa vez, fico ao lado de Pedro, observando-o como se ele fosse uma pintura em meus lençóis. Deslizo os olhos sobre a pele lisa, mapeando as manchinhas de nascença com as pontas dos dedos, explorando cada curva do corpo ofegante enquanto seus olhos, mais escuros do que jamais estiveram, estão presos em mim.
Ele ergue a mão pequena e alcança o meu pau, fechando-a em concha sobre a cabeça melada de pré-gozo e eu aperto os dentes, controlando-me. A carícia é quente pra caralho, gostosa pra porra e me leva ao limite quando Pedro geme, mesmo que meu toque em sua pele não passe de uma sombra. É o próprio toque em mim que lhe dá mais prazer nesse momento e isso é sexy demais.
Continuo descendo a minha mão até que os meus dedos se afundem entre sua bunda.
— Porra, Pedro! Apertado pra caralho! — Minha aprovação é um grunhido, e ele aumenta o aperto ao redor do meu pau antes de acariciar minhas bolas.
Provoco o cuzinho quente enquanto ele mantém movimentos fortes e apertados de vai e vem no meu pau. Bela Armadilha levanta mais as pernas e ergue os quadris, em um pedido silencioso que eu adoro obedecer. Afundo os dedos em seu canal apertado, sentindo-os serem imediatamente sugados.
Minha imaginação faz o seu trabalho, levando a sensação apertada e quente pra caralho até o meu pau e eu gemo alto. Pedro ouve como um convite, se movimenta na cama e, antes que eu possa fazer qualquer coisa para impedi-la, a boca esperta me engole, de uma vez, até a metade.
— Puta que pariu, caralho! — Abro a boca, sopro o ar com força, o meu coração bate num ritmo alucinado e minhas bolas doem feito o inferno, desesperadas para esporrar no fundo da garganta de Pedro.
A cada deslizar dos seus lábios pecaminosos no meu pau, eu me sinto mais perto de perder o controle e aumento o ritmo das estocadas em seu cu, até que Pedro esteja gritando com meu pau entalado na sua garganta.
A pele vermelha, os mamilos apontando para cima, o rosto sem ar e os olhos lacrimejando são o caralho da visão mais sexy que já tive e eu decido que é o suficiente. Preciso estar dentro dele.
Abandono e ele protesta ainda mais quando saio da sua boca. Estendo a mão para a mesa de cabeceira, abro a gaveta e pego uma tira de preservativos. Acho que nunca vesti uma porra dessas tão rápido, mas quase imediatamente, meu corpo está entre a bunda de Pedro outra vez.
Ele ergue o tronco, me dando mais espaço de manobra e rapidamente eu o tenho em meu colo, com os braços envolvidos em meu pescoço. De joelhos no colchão macio, lambo seus lábios uma vez atrás da outra e me arrasto até ter suas costas pressionadas contra a cabeceira da cama. Rebolo os quadris, torturando nós dois com uma fricção enlouquecedora.
— Hugo! — reclama, tão ansioso quanto eu.
— O que você quer? — Mordisco a sua orelha.
— Que você me foda! — Rio rouco, o cheiro da sua excitação e do suor das nossas peles flutuando pelo quarto funciona como um afrodisíaco. Remexo-me até estar encaixado na entrada do seu cuzi sem precisar do auxílio das mãos, meu pau sabendo exatamente qual é o caminho de casa.
— Tudo o que o meu Bela Armadilha quiser. — Me enterro de uma só vez até o fundo, em seu calor. Seu grito é o meu quando a sensação abrasadora de estar dentro dele me rasga ao meio, enviando choques elétricos por cada uma das veias do meu corpo, do meu pau até as têmporas, caralho! Os primeiros movimentos são deliberadamente lentos, testando, acostumando o cu de Pedro a me receber e apertar como o caralho de um punho fechado. — Tão gostoso, amor! Porra, delicioso! Esse cuzinho é delicioso!
— Mais, Hugo! Mais! — pede e eu acelero o ritmo dos quadris apenas um pouco, porque seu tom rouco, implorando, é gostoso pra caralho e eu preciso de mais dele. Pedro enfia as unhas na minha nuca e as arrasta para cima, forçando-as contra minha pele, provocando um ardor quente.
— Mais, amor?
— Mais! — implora, remexendo-se com meu pau enterrado até o fundo nele.
Prenso suas costas contra a cabeceira da cama e paro de me mover, mas o rebolado insistente de Pedro, fodendo o meu pau em movimentos curtos e alucinantes, continua. Gemo em sua boca, ouvindo cada um dos sons que ele faz: os arfares, arquejos e choramingos me deixam louco, perdido.
Mas de alguma forma, acabamos ambos presos um no olhar do outro enquanto nossos corpos conduzem, sozinhos, a dança mais antiga e deliciosa do mundo.
— Eu me apaixonei por você — admite baixinho, entre os sons de prazer que deixam a sua boca e eu me vejo sorrindo, como um idiota.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Bom — murmuro em seus lábios. — Então um dos meus trabalhos aqui está feito. É hora de terminar o outro.
— Por favor — pede, sorrindo tanto quanto eu, e afasto os quadris. Quando os impulsiono com força entre sua bunda, Pedro deixa de sorrir para gritar.
Um ritmo punitivo domina os meus movimentos, entrando e saindo forte e rápido. Nossos corpos batem um contra o outro, e os sons do sexo se juntam ao cheiro na missão de se espalhar pelo quarto.
Minha mente nublada se perde no corpo do Bela Armadilha quando seu cu começa a se contrair pela primeira vez. Seus gritos, cada vez mais altos, anunciam o seu primeiro orgasmo, mas não me dou por satisfeito, preciso de mais.
Minha língua procura a sua e o beijo é uma confusão de saliva, dentes e lábios, melando tudo e aumentando a sensação de umidade que domina meu corpo. As mãos de Pedro, agora em meus ombros, sobem e descem pelo meu pescoço, pressionando os dedos pequenos contra os músculos tensos em seus movimentos ansiosos.
Eu obedeço, metendo cada vez mais rápido até que sua voz falha e os gritos da sua boca se tornam mudos, mas os do seu corpo se tornam mais intensos, mais altos e ele se desfaz.
Só então, me permito ir também. O gozo explode em jatos fortes para fora do meu pau e o som que sai da minha boca é algo como um urro. Meus quadris ainda se movem, autonomamente, por quase um minuto enquanto minha mente está longe, em um lugar onde tudo o que existe é o corpo de Pedro e o nosso prazer.
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A calmaria em meu peito é algo que eu não me lembro de sentir há muito tempo. A cabeça de Pedro está recostada em meu tórax e seu corpo está aninhado entre as minhas pernas. A água morna da banheira está transparente, sem nenhum tipo de produto e ainda assim, espalha uma sensação de relaxamento pelo meu corpo inteiro.
O silêncio entre nós é uma companhia bem-vinda há algum tempo quando eu o quebro.
— No que você está pensando?
— Que você está apaixonado por mim. — A risada que deixa minha boca sacode meu corpo.
— Sim, eu estou. — Beijo seu ombro e ele se movimenta na água, aninhando-se ainda mais a mim.
— Sempre achei que a paixão precisava ser complicada, cheia de altos e baixos, que ela chegaria se anunciando e quebrando tudo. — Pedro suspira. — Eu tinha medo disso, mas acho que eu deveria ter temido justamente o oposto, que ela chegasse sorrateira como chegou, me enredasse com um homem irascível, rabugento e mal humorado sem que eu pudesse fazer nada pra evitar.
— Irascível, rabugento e mal-humorado, é?
— De tudo o que eu disse, foi só isso que você escutou?
— Desculpe, você disse mais alguma coisa?
— Viu só? Irascível! — aponta e nós dois rimos. Beijo sua têmpora, porque não consigo manter meus lábios longe dele por muito tempo. O que me faz pensar em outra coisa.
— Precisamos contar à Beatrice. — O corpo de Pedro enrijece.
— Por que? — Recuo e pouso os dedos indicador e médio sob o seu queixo, virando seu rosto de lado para que eu possa olhar para ele.
— Por que o quê?
— Por que nós precisamos contar pra ela?
— Porque eu tenho quarenta e três anos, Pedro. Não sou um moleque, não vou me esconder pelos cantos.
— Nós nos escondemos pelos cantos — resmunga.
— E foi uma delícia, na verdade, não tenho nada contra continuarmos fazendo isso de um jeito literal. Mas figurativamente, não vou fazer isso.
— Não é se esconder, mas e se não der certo? E se… — Minha risada interrompe a sua argumentação e Pedro me encara furioso. — Qual é a graça?
— Que você ache que tem alguma chance de eu deixar você ir. — Os olhos grandes piscam. — Eu já vivi uma paixão avassaladora uma vez, Pedro. Ela me deu a coisa mais preciosa da minha vida, minha filha. Perdê-la me destruiu, me deixou quebrado por tanto tempo, que eu nunca achei que poderia me sentir inteiro de novo. Até você chegar com seu um metro e meio de altura…
— Eu tenho um metro e cinquenta e dois! — protesta, e eu comprimo os lábios. — E cinquenta e um! — admite. — Mas ainda é mais que um e meio!
— Jura que você interrompeu a minha declaração por causa de um centímetro?
— Vidas baixinhas importam! — argumenta e eu gargalho.
— Você me obrigou a sorrir de novo, Pedro. A enxergar a vida como ela é, não como eu achei que ela tinha se tornado. Por anos eu apenas sobrevivi, certo de que o fato de não poder ser de novo, o homem que eu já havia sido um dia, significava que eu não poderia ser qualquer outro além daquilo que eu havia me tornado: quebrado. Eu disse, de novo e de novo, que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas o que eu não sabia era que eu não precisava de um raio, eu precisava era de um furacão, de uma armadilha travestida de homem, eu precisava de você.
— Agora você só está tentando me fazer chorar — reclama, com os olhos vermelhos e brilhantes por lágrimas não derramadas.
— Você é a minha sorte de um amor tranquilo, e eu não vou fugir disso ou esconder. — Giro o seu rosto, mantendo seu olhar preso ao meu. — Eu amo você.
— Não é justo! Como eu vou ser capaz de superar essa declaração agora? — pergunta, me fazendo rir outra vez.
— Você acabou de fazer isso.
— Eu te amo — diz, simples. Sem rodeios, sem dramas, sem nada além da verdade nas palavras, e eu beijo a sua boca gostosa, me permitindo me sentir inteiro outra vez.
Como uma artista, Pedro não apenas juntou os meus pedaços. Ele foi capaz de colar cada um deles com uma mistura dos sentimentos que somente ela foi capaz de despertar e de tantos outros que eu já sentia, mas compartimentalizava: o amor pela minha filha, a necessidade da felicidade dela, e o meu apego à família.
Bela Armadilha não me completou, ele me entendeu. E fazendo isso, me tornou não o homem que um dia fui, mas um melhor, muito melhor. Um finalmente capaz de entender que a vida não é repetição. É aprendizado, crescimento, é coragem para aceitar que nem sempre as coisas são como gostaríamos, mas que precisamos ser maduros para entender que são como devem ser. Não dá para controlar tudo.
— Tudo bem, tudo bem! Onde eu assino? — brinca, quando nossas bocas se separam, mas eu ergo uma sobrancelha.
— Você ainda não está pronto pra essa conversa. — Os olhos de Pedro se arregalam e ele abre a boca em “O” antes de começar a soltar expirações curtas. Eu deixo mais um beijo em sua têmpora. — Mas não se engane, amor. Nós vamos ter essa conversa.
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*** PEDRO FERNANDES ***
Meu pulso acelerado pode ser sentido em todas as partes do meu corpo, desde a veia latejando em minha têmpora, até um espasmo incompreensível na sola do meu pé. Mordo o lábio com a expectativa nas alturas. A boca seca não ajuda na sensação de que estou prestes a ter um colapso, e a única coisa que me mantém firme é a mão quente segurando a minha.
— Isso quer dizer que o professor Pedro não vai mais embora? — Beatrice finalmente diz alguma coisa, depois de quase cinco minutos de silêncio em que ela não fez nada além alternar a direção dos olhinhos castanhos entre o pai e eu.
Olho para o Hugo. Eu gostaria de me sentir qualquer coisa além de uma ameba estática nesse momento. Gostaria de ser capaz de colocar todos os meus anos de estudo em prática e ser um facilitador decente para essa conversa, mas Deus sabe que toda a energia do meu corpo está sendo empregada no ato de manter o meu corpo firme.
— Não, Be. O Pedro ainda vai embora, ele tem a casa dele. Mas às vezes, ele vai vir aqui, mesmo quando não estiver dando aulas pra você. E nós vamos passear juntos, viajar juntos, jantar, vamos fazer tudo o que fizemos nos dias em que ele precisou ficar aqui e outras coisas — Hugo explica e a Beatrice franze a testa pequena.
— Entendi — diz e eu solto um suspiro aliviado. Viu só, Pedro? Não foi tão difícil assim, foi? — E quando é que ele vai parar de ir embora? — Espera, o quê? Olho para o rosto do meu... Hum... Namorado? Eu me sinto tão estúpido usando essa palavra. Por que? As pessoas namoram, droga! O olhar de Hugo me diz que ele sabe o que estou pensando, aparentemente, Beatrice também, e os dois concordam comigo. Estreito os meus olhos. Ignorando as insinuações silenciosas que a minha imaginação fértil insiste em dizer que pai e filha estão fazendo.
— Eventualmente — ele responde com simplicidade e eu chuto a sua canela por baixo da mesa. Ele nem se abala.
— O que é eventualmente, papai?
— Significa que vai acontecer em algum momento, minha filha.
— Mas por que o momento não pode chegar logo?
— Porque nós ainda não estamos prontos — diz com os olhos focados na filha, mas logo em seguida, os desvia para mim. Seu olhar, tom e a ênfase na palavra “ainda”, deixam muito claro que ele não vai me dar muito tempo. Qual é o problema desse homem?
— E por que não?
— Beatrice — Hugo alerta, e eu resolvo interferir. Alcanço a mãozinha pequena, espalmada sobre a mesa de jantar.
— Be, é como a escola. A gente só passa de ano quando tá pronto pra ir pra próxima série, não é? — A cabecinha balança para cima e para baixo, concordando. — Então. E a gente não tem que estudar pra passar pra próxima série? — Mais um aceno. — É a mesma coisa. — Beatrice volta a enrugar a testa.
— Então você tem que estudar pra ser namorado do papai? — A tosse forçada de Hugo não disfarça sua risada e eu olho para ele, repreendendo-o.
— Algo assim.
— Então é em dezembro?
— O que é em dezembro?
— Que você vai passar de série de ser namorado do papai e parar de ir embora? — pergunta e eu pisco os olhos. Droga, Pedro? Você tinha mesmo que usar uma analogia que tivesse prazo de validade? — Porque é em dezembro que a gente passa de série, não é?
— É Be. Mas o calendário dos adultos é diferente — explico. — Assim que eu passar de série, você vai ser a primeira a saber. Tudo bem?
— Tá bom — concorda, satisfeita, pelo menos por hora, e eu respiro aliviado. Mesmo que, conhecendo Beatrice, eu saiba que esse assunto não acabou. Meu alívio não dura muito tempo.
— E como eu devo te chamar? — Beatrice pergunta e dessa vez Hugo nem tenta disfarçar a risada.
— De tio Pedro? — sugiro.
— Mas você não é meu tio — discorda.
— Não, não sou. — Coço a cabeça.
— E que tal só Pedro? — Hugo sugere.
— Só Pedro? — questiona, não soando muito satisfeita.
— Isso.
— Hum… Pedro. — Ela testa o meu nome. — Pedro — repete. — Tá bom. — concorda por fim, mas o seu rosto diz que ela não está exatamente conformada.
— O que você acha de a gente assistir Red? — sugiro, sabendo que isso vai tirar as dúvidas da sua cabeça e o rostinho infantil imediatamente ganha ares alegres.
— Eu quero!
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— Não foi tão difícil, foi? — Hugo me pergunta, à noite, quando estamos deitados em sua cama.
— Pra quem? — Ergo apenas a cabeça para encontrar seu olhar e pressiono um lábio contra o outro. Ele gargalha.
— As coisas são um pouco mais intensas do lado de cá, mas você se acostuma.
— Era por isso que eu não queria contar.
— Você só estava sendo medroso.
— Jovens têm medo. Não é minha culpa se a sua idade avança… — Minha piada é interrompida pelo peso do corpo grande pressionando o meu contra a cama.
— O que você estava dizendo sobre a minha idade? — pergunta com olhos estreitados e a boca perto demais da minha para não estar me beijando sem que eu não me sinta torturado por isso.
— Hugo... — choramingo, quando tento capturar seus lábios e ele se afasta. O homem irascível estala a língua, me negando o que quero.
— Ah, não. Primeiro essa boquinha vai ter que se desculpar pelo que estava prestes a dizer — exige, já se levantando, e quando suas coxas ladeiam a minha cabeça, eu sorrio, porque esse não se parece em nada com um castigo que eu queira rejeitar.
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*** HUGO MALDONADO ***
Pedro pode até não estar pronto para a conversa sobre morarmos juntos ainda, contanto que isso não o impeça de continuar dormindo na minha cama todas as noites, como na última semana. Desço as escadas, pronto pra sair para correr, não por estar me sentindo sufocado pelos meus próprios pensamentos, mas justamente pelo contrário.
Há uma energia tão viva preenchendo as minhas veias que preciso liberá-la e a esteira não pareceu o suficiente em nenhum dia, desde que o Pedro e eu finalmente colocamos em palavras o que sentimos. A pergunta que Breno me fez, no dia do aniversário de Beatrice, me vem à memória: “Você é feliz?”.
Naquela época, a pergunta me irritou, porque eu não poderia responder apenas sim. Não se eu quisesse ser sincero. Mas hoje, ela me faz ter vontade de ligar para o meu irmão. Ainda não lhe contei sobre Pedro. Quero fazer isso pessoalmente e decidi que a festa de aniversário da minha mãe, em duas semanas, da qual fui nada gentilmente lembrado pela minha progenitora há alguns dias, é uma boa data.
— SURPRESA! — O grito irritante do meu irmão me recebe na porta de casa pela segunda vez em menos de uma quinzena, o que é muito se considerarmos o fato de que ele mora há mais de mil quilômetros de distância, como se Breno tivesse sido invocado pelos meus pensamentos.
— Que porra você tá fazendo aqui, Breno?
— Não posso visitar o meu irmão?
— Você me visitou! Na semana passada!
— Teoricamente, na retrasada.
— Eu não vou deixar de correr porque você chegou — aviso. — Aliás, desde quando você é adepto de voos madrugadores?
— Desde que é a única forma de te encontrar em casa — responde e eu bufo. Mesmo sabendo que, apesar da minha mudança recente de rotina, isso costumava ser verdade.
— Eu vou correr, Breno. Não vou dizer pra você ficar à vontade, porque não é como se você precisasse de convite. — Ele dá de ombros. — E não acorde a Beatrice. — Passo pelo meu irmão, depois de descer as escadas.
— Tudo bem, acho que vou aproveitar pra tirar uma soneca no quarto de hóspedes, já que o Pedro não está mais ficando por aqui — diz, quando já estou há quase três metros de distância.
Eu me viro imediatamente, porque esse comentário não faz o menor sentido, uma vez que a casa tem quatro quartos de hóspedes. Encontro Breno com os braços cruzados, já virado em minha nova direção.
— O que você disse? — pergunto e o meu irmão abre um sorriso imenso. Arranho a garganta com um som de incredulidade.
— Você sabe. — Ele balança a cabeça.
— Eu sei.
— Co… — começo a perguntar, mas me interrompo quando a resposta óbvia é descoberta pela minha mente.
— Beatrice — falamos juntos.
— Me admira que ela tenha demorado tanto — penso alto.
— Me admira mais que você não tenha se dado conta de que aconteceria. E ela não demorou, me contou na segunda passada, e eu te dei uma semana pra me contar, mas você não contou e aqui estou.
— Você veio aqui só pra isso?
— Eu precisava olhar pra essa sua cara de pau. Você é um filho da puta — acusa. — Hétero?
— Eu mereci essa — digo, sem conseguir evitar sorrir também.
Coço a cabeça e faço o caminho de volta até o meu irmão.
— Você não ia correr?
— E deixar você sozinho com o Pedro? Nem fodendo!
— Ele está aqui? — pergunta, soando animado demais e eu bufo.
— Dormindo, no meu quarto.
— Ah, isso vai ser divertido.
— Breno, eu juro por Deus que se você não se comportar!
— Tá, tá! Para de ser rabugento, você tá transando todo dia, não tem motivo pra isso! — diz, seguindo-me para dentro de casa quando passo pela porta.
A contragosto, porque sei que esse momento eventualmente vai voltar para morder a minha bunda, paro de andar quando estamos no pé das escadas.
— Breno.
— Sim? — pergunta, franzindo o cenho com a minha parada abrupta.
— Você sabe que dia é hoje?
— Sei! — responde, olhando para o relógio inteligente no próprio pulso, provavelmente, querendo confirmar a data. Me aproximo do meu irmão e espalmo as mãos em suas bochechas.
— Bom, porque você vai querer se lembrar dele.
— Vou? — pergunta desconfiado.
— Vai. E é melhor você prestar atenção, porque só vou dizer isso uma vez.
— Eu estou ficando preocupado. — Suspiro, com a certeza de que vou me arrepender se tornando maior a cada segundo.
— Você estava certo — assumo, por fim.
— Puta que pariu! — Ele arregala os olhos, antes de me abraçar, eufórico.
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O corpo pequeno está espalhado na minha cama. Estou olhando para Pedro há algum tempo em silêncio quando sua voz soa.
— Para de ficar me encarando, é estranho — resmunga, ainda sonolento.
— Então quer dizer que você pode, mas eu não? — Me aproximo da cama.
— Eu não faço isso.
— Unhum! Tá!
— Achei que você fosse correr — diz, mantendo os olhos fechados. — Eu não quero conversar, quero dormir, é muito cedo.
— São seis da manhã, Pedro.
— Como eu disse, cedo demais.
— Breno está aqui. — Isso o desperta e Pedro senta na cama com tanta pressa que me pergunto se ele não ficou tonto.
— Seu irmão? — Esfrega os olhos. Os cabelos castanhos estão uma bagunça e o lençol que cobria o seu corpo escorrega no momento em que ele se senta, revelando o tórax deliciosamente nu.
— Uhum. Ele sabe.
— Beatrice?
— A própria pequena fofoqueira.
— Nós não dissemos que ela não podia contar.
— A possibilidade nem passou pela minha cabeça.
— Será que é a idade? — pergunta e eu estreito os olhos.
— Estou começando a achar que você gosta de me provocar sobre a minha idade só pra ser punido por isso.
— Começando? — Ergue uma sobrancelha. — Além de esquecido está ficando lento? Definitivamente, é a idade! — afirma e eu me aproximo da cama como um felino e derrubo o corpo pequeno no colchão. Breno pode esperar.
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— Quer parar com essa porra? — digo para Breno que passou os últimos cinco minutos alternando entre olhar fixamente de Pedro para mim e, logo depois, estalar a língua, tomar um gole de café e voltar a encarar.
— Eu só não entendo! — diz, como se fosse óbvio. O risinho que Pedro dá o estimula. Meu irmão é um palhaço, palco é tudo de que ele precisa para viver. — Esse cara? — Estende a mão em minha direção. — Sério? Esse cara? — Estalo a língua, mas nenhum dos dois se constrange. Nem ele, que faz o show, nem Pedro, que participa ativamente. — Ele é chato, rabugento, viciado em trabalho…
— E velho! — Pedro o interrompe para ajudar.
— Sim! E velho! — Breno concorda. — Por que ele?
— Sinceramente? — ele pergunta, atraindo o meu olhar. — Eu não faço a menor ideia. — Expulso o ar por entre os dentes, engolindo o grunhido que tenta passar pela minha garganta, porque não darei essa satisfação aos dois. Graças a Deus, Beatrice ainda está dormindo e não está presenciando esse momento vexatório.
— Se você não me queria, a outra opção ainda era melhor que essa aí… — diz, acenando em minha direção mais uma vez.
— Outra opção? — Pedro pergunta com o cenho franzido e o olhar de Breno se torna ainda mais animado.
— Você está tornando as coisas muito fáceis pra mim, irmão — me diz, com um sorriso imenso. — Ele não te contou? — pergunta a Pedro.
— Não me contou o quê? — Breno joga a cabeça para trás, gargalhando.
— Breno! — alerto.
— Ele me disse que você era hétero! — meu irmão fala, praticamente junto comigo.
— Ai meu Deus! — Pedro exclama.
— E que você estava tendo um caso com a Lia! — ele continua, é claro.
— Ah meu Deus! Foi por isso que você ficou olhando pra gente estranho no dia que nos encontrou aqui na cozinha! — Apoio os cotovelos sobre o balcão diante do qual estamos sentados, Pedro ao meu lado e Breno de frente para nós dois. Escondo o rosto atrás das mãos, porra, esses dois juntos vão me enlouquecer.
— Hétero? — Pedro fala comigo.
— Ele estava enchendo a porra do meu saco! — me defendo, nem sei por quê.
— E a sua solução brilhante foi mentir sobre a minha orientação sexual? E usar a Lia como disfarce? — Pedro está ofendido por Lia, claramente. E eu reconheço que não foi um dos meus melhores momentos.
— Não foi um dos meus melhores momentos — admito em voz alta. — Mas você devia ficar do meu lado, não do dele — resmungo e Breno gargalha outra vez.
— Ah, irmão. Muito, muito fáceis!