Meu Desejo - Epílogo

Da série Meu Desejo
Um conto erótico de M.J. Mander
Categoria: Gay
Contém 1626 palavras
Data: 02/08/2024 13:48:13
Assuntos: Gay, Homossexual

EPÍLOGO

*** HUGO MALDONADO ***

4 MESES DEPOIS

Matheus está pulando no meio da sala com Beatrice e mesmo depois de quase sete meses de convivência, ainda não consegui me acostumar com a personalidade do amigo de Pedro. E, sendo sincero, estou muito preocupado com o que pode acontecer hoje, quando ele e Breno estarão no mesmo ambiente, ao mesmo tempo, pela primeira vez.

Me lembro de em algum momento Pedro ter descrito essa possibilidade como um potencial desastre, eu não consigo ver isso como nada além de uma tragédia anunciada. Mas eu não podia mais adiar o encontro dos dois. Não hoje.

E, de qualquer maneira, o aniversário de Pedro está chegando. Isso acabaria acontecendo. Se há algo que aprendi com os últimos meses, é que Bela armadilha não perde uma chance sequer de reunir a família.

Olho mais uma vez para a sala de casa, arrumada com cadeiras enfileiras e até mesmo um pequeno tablado. Um tremor nervoso atravessa meu corpo e eu não posso acreditar que eu esteja me sentindo assim aos quarenta e três anos. Puta que pariu! Passo a mão pelos cabelos e confiro o horário no relógio em meu pulso, está quase na hora.

A porta se abre e eu caminho até ela, encontrando no hall de entrada.

— Cheguei.

— Você está atrasado.

— Eu sei. — Faz uma careta. — Desculpa. Fiquei preso na empresa. A aquisição está me fodendo.

— Tem certeza de que quer fazer isso, Breno? Essa transação tá enrolada há meses.

— Eu sei, mas quando sair, vai ser uma coisa boa. — Balança a cabeça, espantando o assunto. — Sou o último a chegar? — pergunta, enquanto fazemos o caminho até a sala. Vou apagando as luzes e acendendo a iluminação no chão que está aqui especialmente para o dia de hoje: pequenos holofotes que traçam o caminho a ser seguido.

— É — Sua mãe está na cozinha, conversando com o buffet. Papai está no escritório resolvendo um problema de última hora.

— Minha mãe, é?

— Ela está passando dos limites desde que voltamos pro Rio. Parece que moramos no Japão por dez anos, não em Florianópolis por seis meses.

— Deixe a mulher ser avó.

— Eu já te disse que quando você tiver seus próprios filhos, vai poder fazer o que quiser, mimá-los o quanto quiser.

— Puta que pariu! Acho que me apaixonei. — Breno para de andar abruptamente e eu fecho os olhos, engolindo um gemido frustrado. — Quem é o ruivo?

— Matheus.

— Aquele é o Matheus? — Ele vira o rosto em minha direção, sem se importar com minha expressão torturada. — E por que ninguém nunca me disse que o homem a porra de um deus? — Lá vamos nós.

Meu irmão simplesmente me abandona e caminha na direção da dupla dançante no meio da sala. Eu fico parado, com os braços cruzados, observando a interação.

Beatrice interrompe os passos que aprendia e se joga no pescoço do tio. Enquanto meu irmão está ocupado com minha filha, não repara no olhar que Matheus passa por seu corpo, mas eu sim. Isso não vai dar certo. Isso não tem como dar certo. Deslizo a mão pelos cabelos no momento em que Breno deixa Be no chão e é apresentado por ela a Matheus. O olhar de interesse mútuo que os dois trocam, faz meu estômago dar um nó. Isso realmente não tem como dar certo.

Meu telefone toca e eu checo a mensagem da portaria, avisando que Pedro acabou de passar pela entrada da casa.

— Ele chegou, pessoal! — aviso e Beatrice corre pra mim, extremamente entusiasmada.

Meu pai desce as escadas no momento exato e até mesmo minha mãe chega à sala. A sensação nervosa em meu peito ganha proporções incalculáveis. Você tem quarenta e três anos, Hugo! Se controla, Porra!

— Lembra de tudo, Be?

— Lembro!

— Ótimo, então vamos lá.

Posiciono minha filha em seu lugar, no centro do pequeno palco montado na sala, atrás do suporte de microfone ajustado para sua altura. Beatrice é a arquiteta de todo esse plano, mesmo que seja eu o executor e, há ainda, um detalhe especial que foi acrescentado por ela, mesmo depois de quase tudo pronto, quando ela veio, há alguns dias, conversar comigo, tímida, porém decidida. Dizendo que queria me fazer um pedido.

Estranhei imediatamente, porque minha filha não é o tipo de criança que pede para fazer pedidos, ela simplesmente os faz. Mas depois de ouvi-la, pude entender e combinamos que hoje seria o grande dia. Os adultos tomam seus lugares.

Matheus de pé, antes das cadeiras que formam a pequena “plateia”. Ele será a primeira pessoa que Pedro verá, depois de cumprir seu papel, sentará ao lado de meus pais e de Breno, que aliás, ainda não desviou os olhos do ruivo, na pequena plateia.

E eu estou ao lado do palco, esperando. Ouço a porta se abrir e as batidas do meu coração se transformam em um rugido violento.

Os passos se interrompem brevemente, provavelmente, no momento em que Pedro percebe as luzes no chão, depois recomeçam. Em silêncio, ele caminha até chegar à entrada da sala e se depara com toda a estrutura montada.

Seus olhos grandes e arregalados primeiro param em Matheus. Depois nas cadeiras, no tapete vermelho entre elas, no palco, em mim e por último, no cavalete de frente onde há um quadro negro com uma única palavra escrita: “Formatura!”

Pedro abre a boca ao olhar para mim, para Beatrice, para as pessoas aqui reunidas. Ele balança a cabeça, negando, já emocionado.

— Chora depois. Primeiro, veste isso aqui. — Matheus diz, fazendo todos rirem, menos eu e Pedro, que temos os olhos fixos um no outro. Ele não os desvia nem mesmo enquanto seu amigo a ajuda a entrar numa beca, o que a leva a reclamar. — Ele não vai fugir, Pedro. Me ajuda a te ajudar. — Matheus resmunga e é ignorado.

Um pouco mais lento do que ela gostaria, consegue amarrar a faixa lilás e finalmente colocar o capelo sobre os cabelos de Pedro. Matheus estende o braço, indicando que o amigo siga pelo curto tapete vermelho.

Alguns passos depois, ele para diante do palco, mas não fica em pé. Com a bochecha já molhada por algumas lágrimas, se ajoelha para ficar da mesma altura que minha filha. Beatrice morde o lábio, dando indícios de que quer chorar também e olha para mim. Eu assinto com a cabeça, dizendo que ela pode começar, ela respira fundo e obedece.

— Pedro. — Agora, a atenção do professor é toda da pequena mestre de cerimônias usando um vestido branco de renda. — Hoje é o dia da sua formatura. — começa o texto que ensaiamos à exaustão até que ela o tivesse decorado. — Mas não é uma formatura de escola, é uma formatura diferente. — Beatrice explica. — É a formatura da nossa família. — Pedro fecha os olhos e seus ombros sacodem de leve quando ele chora mais intensamente, mas ele se força a abri-los e prestar atenção. — Hoje é o dia que você se forma nossa,meu e do papai. Não porque você estudou, mas porque você cuidou da gente e nos amou. Esse é o nosso jeito de dizer que nós amamos você e que vamos amar pra sempre. — Beatrice termina seu pequeno discurso e corre para os braços de Pedro que a abraça com tanto amor que não há ninguém na sala que não esteja chorando.

Eu saio do meu lugar de expectador e me aproximo das duas pessoas da minha vida, mas não digo nada até que Pedro esteja limpando as lágrimas de Beatrice e logo depois, as próprias lágrimas.

— Ah, agora é a hora do anel de formatura! — minha filha se lembra quando me vê e todos riem, em meio à emoção.

Eu me ajoelho. Olho para Pedro, que tem Beatrice nos braços, abaixo a cabeça, tentando controlar o bolo na garganta, mas nem tento limpar as lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas, porque sei que outras virão.

— Por muito tempo, eu fui um morto vivo, andando de casa pro trabalho, do trabalho pra casa, fazendo tudo pela Be, nada por mim, acreditando que eu não merecia mais ser feliz. — Estendo a mão para alcançar a de Pedro, precisando tocá-lo. — Eu fui a metade de um homem, uma metade que não queria nada, mas aí você chegou. — Trago sua mão até meus lábios e deixo um beijo em seu torso. — Chegou rindo de tudo, acreditando que o mundo pode ser um lugar bom, querendo fazer do mundo um lugar melhor. Você chegou amando a minha filha, mesmo que ela não devesse ser mais do que uma estranha pra você. Você chegou me enxergando, mesmo quando eu achei que já não houvesse mais nada dentro de mim que valesse a pena mostrar. Você chegou. — pauso, sem conseguir falar. — Você chegou, repito baixinho. — Você me arrancou da mera existência e me arremessou na explosão de cor e vida que você é, mesmo contra todas as possibilidades. Você, Pedro, me fez enxergar que eu podia ser mais, que eu podia querer mais, você me fez desejar ser feliz outra vez antes mesmo que eu entendesse o que estava acontecendo. Você transformou a metade do homem que eu andava sendo em uma família completa pra minha filha. Por isso, essa formatura não é só sua, é nossa, e esse anel vem com um pedido. — com as mãos trêmulas, tiro a caixinha preta de veludo do bolso e a abro. Seguindo nosso roteiro, Beatrice pega o anel e oferece a Pedro, ao mesmo tempo em que pergunta.

— Pedro, você quer ser meu outro papai?

E quando a resposta de Pedro é abraçar a minha filha e eu, porque não consegue dizer nenhuma palavra, nós três choramos juntos pela segunda chance que a vida nos deu.

A segunda chance de ser para alguém exatamente aquilo que precisávamos que alguém fosse para nós: uma família.

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Comentários

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Puta merda. Até eu estou chorando. Que coisa mais linda. Eu sabia que você se superaria e nos surpreenderia. Depois de tanto me fazer gozar com fodas e cenas torridas de sexo só mesmo esse final perfeito. Parabéns e muito obrigado. Já te disse mas vou repetir; eu amo o amor. Forte abraço e um beijo no seu coração. 💓💗❤

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