XXXI
Pedro acabava de chegar quando sentei no sofá para esperar por Maicon.
- Puxa vida Yuri! Tá com uma carinha derrubada.
- Também, - falei - a pancada foi forte.
- A gente sabe que pancada forte é contigo mesmo hein? - Pedro brincou.
Juarez apareceu saindo do quarto e vindo pelo corredor apenas com uma toalha na cintura e cheirando a sabonete.
- Yurizinho tá melhorzinho?
- Que mel todo é esse hein? - Betão disse entrando pela porta da rua. Em volta dos seus olhos haviam duas meia luas escuras. - Deixem ele respirar.
Betão abriu espaço entre Pedro e Juarez e veio perto do meu rosto.
- Machucou muito? Tá sentindo muita dor?
Eu negava com a cabeça. Ele falava sem respirar e embananou-se todo para retirar o celular do bolso e de forma muito orgulhosa mostrar a foto de uma câmera de segurança de um galpão na rua de baixo que pegou o rosto do sujeito.
- Puta que o pariu Betão! Se empenhou mesmo hein? - Pedro deu-lhe um tapa no ombro do Betão. - Tá comendo o veadinho da casa seu porra louca?
- E se tiver?
Eles começaram a fazer algazarra mas eu engasguei com minha saliva ao ter nas minhas mãos a imagem de Silverback! Havia sido aquele psicopata! "Mas caralho por que merda ele está atrás de mim?".
- Yuri! - me chamaram. - Tu transou com o Betão?
- O quê? - olhei em direção a ele. - De que porra estão falando?
- Você e esse cretino sujo estão trepando? - Pedro inqueriu sério.
Fabrício com os braços cruzados sobre o peitoral nu, apertava a palma da mão contra os lábios. Betão erguia o queixo bem alto como se desafiasse a todos em volta. Um carro parou rente a nossa porta e buzinou, fui para levantar de vez, Betão me ajudou.
- O que você disse a eles? - perguntei baixo.
- Nada demais, - ele respirou fundo - não vai, fica, eu cuido de você.
Eu engoli em seco e o rosto dele duplicou na minha frente.
- Betão, quê isso cara, - falei com a mão na porta do carro. - Depois a gente se fala.
Eu entrei para dentro ao lado de Maicon. O carro seguiu descendo as ladeiras da rua, e um aperto no meu peito, quase me fez parar, e ficar ali mesmo.
Maicon não acreditava que Adriano fosse capaz de me perseguir:
- Não faz o menor sentido - ele disse - por que Adriano viria atrás de você? Não amigo, você tá imaginando coisas.
"Mas que inferno por que eu?", só podia ter sido o Adriano, não havia como ser outra pessoa, mostrei a foto para ele.
- Nem dá para ver direito, - ele respirou - vamos a um lugar antes, depois vamos para casa.
- Onde?
- Você vai curtir.
Eu não estava com animo para festas e a mala apesar de pequena ainda era uma mala. Um arrependimento contínuo fazia eu querer voltar para a minha casa, "minha casa?", eu mesmo estranhava essa definição da republica, mas era o que era.
- Podemos ir? - perguntei.
O quiosque era agradável e a música a beira da praia também mas eu queria apenas um banho quente e cama. A correria da noite anterior estressara de tal forma meu corpo que eu me sentia ardendo por dentro. Com ânsias de vomito.
- Tá, tá, seu chato, - ele riu - era para descontrair, vou chamar um uber...
Eu saltei do uber junto com Maicon a casa dele ficava a mais ou menos uns trezentos metros de onde estávamos. A noite fria entrava pelo tecido da minha roupa. Nos dois lados da rua haviam enormes muros brancos.
Nenhum sinal de gente a não ser por nós dois.
- Tá frio pra burro - eu reclamei - aqui parece que faz mais frio.
- É por causa da vegetação, - ele disse - é melhor a gente subir a pé, se não corremos o risco de o chato perceber...
- Teu primo não vai achar ruim eu ficar aqui hoje?
- Ele nem vai saber. A casa é grande, isso ajuda. Que porra é...
Vimos os faróis de um carro grande se aproximando e esperamos que ele passasse para que a gente atravessasse a rua e pudéssemos seguir a diante subindo a rua.
- Porra! - eu gritei ao me dar conta de quem estava ao volante e me escondi atrás do Maicon. - Porra! Porra!
- Calma menino, - Maicon disse. - Eu cuido disso.
Adriano Silverback estacionou em cima do passeio e arremeteu contra nós. Ele segurava um fuzil que trazia diante do corpo e apontou para mim e para Maicon.
- Fique de joelhos!
Eu engoli em seco morrendo de medo porque ele apontava a arma para mim.
- Adriano, você enlouqueceu? - Maicon gritou.
- Fica na sua anjinho - Adriano disse para Maicon. - Meu papo é com esse depravado que acha que é gente.
- O que te fiz?
- Você é o culpado. Você seu ordináriozinho tá me afastando do meu anjinho. Tá enchendo a cabeça dele com suas paradas pornográficas.
- Eu?
- Cala a porra da boca caralho?
Maicon veio para minha frente ergueu o cabo do fuzil para sua têmpora direita.
- Se for atirar em alguém que seja em mim!
Silverback vociferou cerrando os dentes. Ele suspirou e abaixou a cabeça negando.
- Então por que de tudo isso? De onde tirou que o Yuri está nós afastando? Eu é que não quero mais nada com você Adriano, olha suas atitudes caralho!
Eu tentei correr mas o Adriano chutou minhas costas e eu caí para frente batendo o queixo no chão, ardeu na mesma hora. Eu o senti em cima de mim apontando a arma para minha cara.
- Isso é uma puta - ele disse - por que tá andando com ele?
- Ele é meu amigo Adriano, - Maicon disse - você não tem respeito por nada nem ninguém.
- Respeito por isso?
- Não fala assim com ele e aponta isso para lá caralho!
Adriano afastou Maicon com um safanão e continuou olhando para mim apontando a arma direto para minha cara. Ele deslizou o cano do fuzil por meu rosto, minha bochecha e parou nos meus lábios.
- Por favor cara... - eu implorei.
- Chupa!
Eu tomei um susto olhando de um lado para o outro com o coração pipocando dentro do peito. Eu senti minhas pernas tremendo e a vontade de soltar a bexiga mas segurei a onda e abri a boca. O gosto de chumbo caiu por minha garganta.
Maicon deu um grito e veio para perto de mim e segurou minha mão, ele olhava para Adriano.
- Para com isso, deixa ele em paz.
- Eu sei quem é que está afastando nós dois, é esse imundo. Foi a influência desse puto!
Adriano pisava no meu joelho enquanto metia a porra do fuzil na minha boca, eu transpirava com o corpo todo gelado por dentro. "Por favor eu não quero morrer", eu pensava chorando.
Adriano estendeu a mão para Maicon.
- Vem comigo, - ele disse - e eu deixo isso aí ir...
Eu apertei a mão de Maicon que negando com a cabeça disse:
- Vai ficar tudo bem - ele levantou - eu vou com você.
Maicon retirou o fuzil da minha boca me abraçou sussurrando no meu ouvido "procura o Drico", eu senti algo pesando no meu bolso e ele mais uma vez segurou a minha mão. Adriano puxou Maicon para cima e o conduziu em direção ao carro.
Ele arrancou cantando pneu "na outra noite era ele" eu pensei com meu coração saindo pela boca. Nem conseguia andar direito embora quisesse correr pelo resto da vida.