Eu ainda estava assustada com aquela garota agarrada em mim. Quando olhei no seu rosto vi que ela usava uma maquiagem muito pesada e pelo visto andou chorando porque a maquiagem ao redor dos seus olhos estava toda borrada. Mas não foi isso que me chamou a minha atenção. Vi uma mancha vermelha no seu rosto e algumas escoriações na sua boca. Ela com certeza levou um tapa muito forte e pelo jeito de alguém que usava alguns anéis. Durante minha rápida observação, eu também notei o pavor que ela tinha na face. Ela estava muito assustada. Quando eu fui abrir a boca para perguntar o que tinha acontecido ouvi sons de passos rápidos vindo pelo corredor, era mais de uma pessoa e estavam correndo.
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Garota: Pelo amor de Deus, me ajuda.
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Na dúvida eu resolvi ajudar até saber o que estava acontecendo. Abri a porta do escritório e praticamente a empurrei para dentro. Ela colocou a mão na boca para não gritar, mas consegui ouvir um som abafado. Acho que ela estava machucada e eu provavelmente piorei isso quando a empurrei para dentro. Mas não dava tempo de pedir desculpas porque vi dois homens virarem no corredor e vir na minha direção. Eu fechei a porta devagar e tentei agir na maior naturalidade do mundo. Eles passaram por mim no correndo. Vi que um deles me olhou rápido, mas não parou. Dei graças a Deus e segui para o saguão andando lentamente e pensando que eu poderia ter feito uma besteira enorme em ter deixado aquela garota trancada no escritório.
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Quando cheguei no saguão vi os dois homens cercados por 5 seguranças do hotel. Pelo jeito estava acontecendo uma pequena discussão ali. Achei melhor ir ver o que estava acontecendo. Me aproximei e perguntei o que estava acontecendo. O segurança mais velho, que era o chefe da segurança, disse que os dois homens estavam correndo pelo hotel e assustou alguns hóspedes que estavam chegando. Quando olhei vi um casal na recepção, eles pareciam meio assustados. Olhei para um dos homens e pedi para que eles não fizessem isso no hotel porque realmente estava assustando os clientes. O homem disse que uma pessoa tinha fugido e eles só estavam fazendo o trabalho deles. Eu disse que eu e os seguranças também só estávamos fazendo o nosso trabalho. Que eles podiam continuar sua busca sem problemas, mas sem correr ou perturbar os outros hóspedes ou seriam convidados a se retirar do hotel. O homem não gostou, mas disse tudo bem. Eu disse a ele que se quisesse a gente poderia ajudar na busca e até acionar a polícia se caso eles precisassem. O homem falou que não seria necessário e que provavelmente a pessoa já tinha saído para rua. Que iria voltar e perguntar ao seu empregador como proceder dali em diante. Eu disse que se caso eu pudesse ajudar em algo era só falar com um dos seguranças que eles entravam em contato comigo ou então poderiam me chamar no meu escritório. O homem agradeceu e foi para o elevador.
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Felicitei os seguranças pelo bom trabalho e fui até a recepção conversar com o casal de hóspedes. Me desculpei com eles pelo susto e graças a Deus eles foram bem simpáticos comigo. Pedi para uma das meninas da recepção para enviar um café da manhã para eles com tudo que eles tinham direito por conta da casa. Eu me despedi deles e voltei para meu escritório para ver o tamanho do problema que eu tinha arrumado. Durante o caminho eu me lembrei das câmeras de vídeo. Cheguei até a porta do escritório e fiquei olhando para a que fica quase em frente ao escritório do Osvaldo. As que ficam nos cantos dos corredores são fixas mas as do meio são móveis. Se o responsável estivesse olhando as câmeras com certeza ele estava me seguindo e não deu outra a câmera estava fixa em mim. Só fiz sinal de silêncio com o dedo na boca e dei um sorriso. Entrei para dentro do escritório.
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Quando entrei não vi a garota, olhei no escritório todo e nada. Mas ouvi um pequeno choro quando estava perto da porta do banheiro. Abri a porta e ela me olhou assustada, mas quando viu que eu estava sozinha voltou a fazer cara de dor. Ela estava sentada no chão e com as costas apoiada na parede. Suas pernas estavam encolhidas e ela segurava um dos tornozelos com as mãos. Provavelmente era onde estava machucado. Me aproximei dela e ela me olhou com uma cara que foi de dar pena. Seu rosto estava um pouco inchado, sua boca meio machucada e sua maquiagem toda borrada. Se tinha uma cara de alguém destruído era a cara dela. Pensei em perguntar o que estava acontecendo, mas pelas carretas que ela fazia achei melhor ver o que tinha acontecido com o tornozelo dela.
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Tamires: Está doendo muito?
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Garota: Sim, eu torci quando estava correndo pelas escadas. Obrigada por me ajudar. Prometo que se você me tirar daqui vou te recompensar muito bem.
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Tamires: Tudo bem, mas não quero seu dinheiro. Vamos cuidar desse seu tornozelo primeiro ok.
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Pedi para ela esticar a perna e assim ela fez. Eu olhei o tornozelo e ele estava um pouco inchado. Com certeza provavelmente iria inchar mais ainda. Eu afrouxei o cadarço do seu tênis e o tirei. Tirei sua meia e falei para ela que eu já voltava. Fui até o frigobar e peguei uma forma de gelo. Depois fui até minha bolsa, peguei um analgésico. Depois peguei um copo de água e voltei ao banheiro. Dei o analgésico para ela beber. Peguei um saquinho de lixo no armário do banheiro e coloquei o gelo. Falei para ela colocar em cima do tornozelo. Ela colocou e me agradeceu. Pela primeira vez vi um pequeno sorriso no seu rosto. Me pareceu que eu conhecia aquele sorriso de algum lugar, mas não lembrava de onde.
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Tamires: Você pode me contar o que aconteceu?
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Garota: Eu não posso, me desculpe.
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Tamires: Como assim não pode?
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Garota: Por favor não me entenda mal. Mas eu tenho medo de isso vazar e posso prejudicar as pessoas que eu gosto.
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Tamires: Você deve ser famosa né?
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Garota; Você não sabe quem eu sou?
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Tamires: Não, sinceramente seu sorriso me lembrou alguém, mas não sei quem. Então não faço ideia quem é você.
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Garota; Graças a Deus!
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Tamires: Se você está com problemas porque não vai a polícia ou pede ajuda a alguém da sua família.
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Garota: Eu não posso fazer isso. Eu estou ferrada, muito ferrada e se você não confiar em mim eu não sei o que vai ser de mim. Então estou te implorando para você confiar em mim e me ajudar. Prometo que te conto tudo só não posso agora. Mas se você me tirar daqui e me levar para um lugar seguro para eu ficar 15 dias eu prometo que lhe explico. Olha eu te pago, te dou cem mil reais se você me ajudar, e praticamente todo dinheiro que tenho. Por favor, estou te implorando.
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Tamires: Já disse que não quero seu dinheiro, te ajudei até agora porque achei que era o certo a fazer. Mas daqui para frente não depende de mim. Minha prima está para chegar e não posso te esconder dela. Estou colocando meu emprego em risco por você. E acho meio estranho você pedir para eu confiar em você se você não confia em mim.
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Garota: Tudo bem. Eu não quero te prejudicar em nada. Eu sinto muito por ter colocado seu emprego em risco. Pode fazer o que você quiser.
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Ela falou aquilo e deitou no chão do banheiro, e se encolheu toda. Eu só ouvia seu choro baixinho e via as lágrimas saindo dos seus olhos. Eu não sabia o que fazer, me levantei e saí do banheiro. Eu precisava pensar, eu realmente estava com muita pena dela, mas da última vez que tentei ajudar alguém eu quase me ferrei. Sentei na minha cadeira e resolvi esperar Cibele chegar para ela me ajudar a resolver o que fazer com a garota. Fiquei ali um bom tempo pensando até que fui tirada dos meus pensamentos com meu celular pessoal chamando. Era Cibele perguntando se eu conseguiria ficar no hotel até mais tarde porque sua filha deu febre a noite e ela iria levar ela ao médico. Meus planos foram por água abaixo. Falei que eu ficaria sem problemas. Ela me agradeceu e desligou. Nem falei nada da garota porque não iria resolver muito. Eu iria esperar ou a garota ir embora ou minha prima chegar.
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Depois de um tempo resolvi voltar ao banheiro e a garota estava deitada no mesmo lugar mas tinha parado de chorar. Quando me aproximei vi porque ela tinha parado. Ela tinha dormido, fiquei ali olhando ela por uns segundos. Eu tenho mesmo o coração muito mole, pensei comigo mesma. Voltei para o escritório e liguei para a recepção. Pedi para mandar um dos seguranças até meu escritório. Quando ele chegou eu pedi para ele ir até o meu carro e trazer uma mochila azul que estava no banco de trás. Dei a chave do carro e ele foi. Voltei ao banheiro e tentei acordar a garota. Com muito custo ela acordou e já acordou assustada. Falei para ela ficar calma. Perguntei se ela conseguia tomar um banho sozinha. Ela disse que se eu ajudasse ela a se levantar e a chegar no chuveiro sim. A ajudei e falei que logo eu voltava com uma roupa para ela vestir. Nem perguntei se ela conseguia tirar a roupa porque ela não usava muita. Era um top, uma saia bem curta e vi que ela usava um pequeno short por baixo da saia.
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Voltei para o escritório e logo o segurança apareceu com a bolsa. Agradeci ele e voltei para dentro. Eu sempre levava um conjunto de moletom, um par de tênis e uma camiseta comigo. Às vezes eu me trocava no hotel mesmo. Geralmente quando eu ia passar em algum lugar no caminho de casa. O uniforme do hotel é bonito porém muito chamativo. Eu ficava parecendo uma aeromoça. Voltei ao banheiro e abri a porta devagar. Ela ainda estava no banho. Mas como o boxe estava fechado eu resolvi entrar. Coloquei a roupa no cabide do banheiro e fui pegar umas toalhas. Achei melhor pegar duas porque com aquele cabelo enorme provavelmente ela iria sair com uma na cabeça e uma no corpo. Quando fui jogar as toalhas em cima do box ela desligou o chuveiro. Eu joguei as toalhas e falei que tinha deixado uma roupa para ela vestir, que ria esperar ela se vestir e depois voltava.
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Saí do banheiro e ouvi o telefone da minha mesa tocar. Atendi e um dos seguranças que olhava as câmeras me disse que uma mulher e três homens queriam ver as imagens das câmeras e ela disse que só com uma ordem judicial eles teriam acesso. Que a mulher falou um monte, que estava meio bêbada e provavelmente iria me procurar. Eu o agradeci e disse que ele agiu super bem. Só me faltava essa agora. Rezei para essa infeliz não achar meu escritório porque eu não tenho muita paciência quando estou com sono e eu já estava.
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Voltei até a porta do banheiro e perguntei se podia entrar, a garota disse que sim e precisava da minha ajuda porque não está conseguindo andar. Abri a porta e entrei, fui até o box e perguntei se podia entrar e ela disse que sim. Quando eu abri a porta do box eu quase caí de costa. Ela estava enrolada só em uma tolha e de costas para mim. Mas tinha algo totalmente diferente. Aquele cabelo loiro enorme tinha sumido. Olhei ao redor e vi a peruca jogada no canto do box. Quando ela virou de frente eu descobri de onde conhecia aquele sorriso.
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Tamires: Você!?!
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper