As coisas com Felipe iam andando melhores que o normal, mas a minha insegurança continuava. A descoberta do novo fetiche, me encheu de tesão, mas também de preocupação. Havia encontrado um login no onlyfans com uma assinatura em um perfil. O nome do criador era reconhecível para mim, pois já tinha visto na pesquisa do twitter dele uma vez, mas não consegui ver de quem se tratava. Ao olhar as conversas desse only vi os elogios para o produtor de conteúdo, um twink branquinho e do cu rosinha que se fantasiava com máscara e rabo de cachorro (puppy). Felipe parecia encantado com aquilo e dizia estar começando a aprender a arte do puppy play (brincar como se fosse cachorrinho, incorporando todas as manias de um pet e sendo submisso ao dono). O twink era um gostoso, mas não parecia fazer o tipo que ele gostava, será se as coisas estavam mudando? Ele fazia um pedido ao carinha para gravar de frente para a câmera sentando em um k9 (acho que era esse o nome), um dildo com o formato de pênis de cachorro. O fetiche pareceu muito diferente do que eu já conhecia, mas me encheu de estímulo o fato de submissão e eu queria de alguma forma participar daquilo.
Como nas outras vezes, depois de um tempo bem, a relação começava a esfriar e minha suspeita aumentar. Haveria o aniversário de uma amiga dele na praia e ele estava bem animado para ir, querendo comprar sungas e shorts novos. Aquela euforia me dava medo, pois ele quase não saía ou se animava para nada e eu procurei acompanhar tudo de perto. A princípio eu também iria e seria bom ter um momento de lazer juntos, mas apareceu outra viagem para eu ir e que era importante a minha presença. Como ele estaria entre amigos, não me preocupei, e também tinha acesso à localização, então tinha certo controle. Ele viajou na sexta e eu viajaria no sábado de manhã. Monitorei sua viagem até chegar na casa onde ficariam. Nos falamos durante o fds, quando eu conseguia parar para ver o celular, sempre aproveitando as oportunidades de provocar com fotos mais salientes.
Podia ver seus logins no only e entender a progressão daquela aventura. Mas estava seguro que pelo menos na casa não teriam tantos homens livres (e gays) com quem pudesse fazer algo. O domingo passou e ambos voltamos para nossas casas. Eu estava feliz com aquela tranquilidade, mas esperava que a qualquer momento alguma nova merda fosse acontecer. Eu havia deixado o grindr baixado no celular para ver quando criasse algum novo perfil, eu pudesse identificar.
Quinze dias depois eu viajaria a São Paulo para um congresso e aquilo também me preocupava: passar tantos dias longe e sem tanto tempo para acompanhar. Prevendo essa viagem, na semana seguinte fui para a casa da minha mãe no interior, pois já fazia um tempão que não a visitava e precisava organizar as coisas da viagem. Não avisei a Felipe com antecedência, pois não queria dar espaço para planejamentos. Depois que já estava lá foi que contei que tinha ido. Ali seria o teste para saber se ele conseguia ficar só, sabendo que eu não estava por perto e não fazer nada.
Como sempre estava de olho na localização, sabia que a qualquer momento que começasse a mudar de forma aleatória para outros lugares, era porque ele estava fornecendo a loc para algum app diferente. No sábado à noite, assim aconteceu. Eu instantaneamente entrei no grindr e coloquei o raio de busca no endereço dele e para confirmar minha suspeita tinha um perfil novo com o nome (quero GP). Não tinha certeza se era ele, mas o indicativo era forte, pois era um perfil recente, estava na localização exata em que ele estava e todos os demais já eram conhecidos. De forma imediata, comecei a conversar com um dos meus perfis falsos e puxar exatamente os elementos que o desmascaria. Primeiro: se tinha local ou carro. Ele falou que tinha local só depois de quinta (um dia depois da minha viagem), mas que tinha carro. Segundo: os objetivos. Ele queria um pentelhudo para mamar e tomar leite. Ou seja, as mesmas motivações de todas as outras investidas. E por último, só faltava a foto. Eu mandei um nude aleatório que tinha guardado para isso mesmo, com a intenção de seduzi-lo. Ele caiu e mandou foto de rosto.
Naquele momento me subiu um ódio e a sensação de “eu avisei”. Tirei um print da conversa mandei pra ele no whatsApp e disse: “Vai tomar no cu e não fala mais nunca comigo!”. Ele não teria argumentos contra a prova clara que tava ali. O bloqueei e logo o perfil também desapareceu do grindr. Felipe começou a me ligar várias vezes e eu recusei todas. Bloqueei no instagram também, mas o telegram ainda ficou ativo e depois ele começou a mandar mensagens por lá tentando se justificar. Dizia que não tinha falado com ninguém, que eu era a única pessoa com quem tinha falado, que fez aquilo no impulso e colocou “procurando gp” pois queria alguém aleatório com quem não tivesse contato depois e terminasse do jeito mais rápido possível. Eu só ignorei e fui dormir, o deixando sem resposta.
Pronto, enfim eu podia viajar tranquilo. Não tinha mais ao que me prender, pois ele não iria mudar mesmo. Agora tanto fazia ele ficar com alguém ou não, eu ia seguir minha vida.
Mas dessa vez não foi diferente, eu ficava engasgado pra falar as coisas e acabava respondendo e jogando tudo na cara ao invés de só ignorar e deixar que ele pensasse o que quisesse. Os dias seguiram e eu continuei mais seco que o normal, respondendo às vezes, mas somente pelo telegram.
Ao voltar para meu ap na capital, a minha raiva e meu tesão se uniram e eu dei um jeito de me vingar. Abri o grindr e cuidei de encontrar um boy fácil pra descontar naquela hora. Um perfil que sempre aparecia, mas por ser dotado e um pouco mais velho (não aparentava) nunca me interessei (nem era minha motivação no app), mas a oportunidade estava aí e esse encontro merece um conto só pra ele. A semana seguiu e eu viajaria na quarta de madrugada. Minha mala tava com uma das rodas quebradas e, com toda a cara de pau, pedi a de Felipe emprestada, que prontamente me cedeu. Fui lá buscar, nos abraçamos e eu saí. Consegui aproveitar o congresso, mas sempre de olho na localização e nas mensagens que chegavam. Até esperei que pudesse surgir algo inusitado lá, mas nem tive tempo pra isso, nem achei ninguém interessante.
Voltei de viagem e tudo tendia a melhorar. Felipe começou a terapia a meu pedido para entender esses conflitos internos e eu estava otimista. Continuamos conversando e eu comecei a voltar lá só para assistir a série Casa do Dragão que começamos a ver juntos, ficava vestido e bem distante, até que de um abraço, um toque de rostos, se transformou num beijo quente e apaixonado, cheio de luxúria. A química é grande demais. Não dar pra ficar perto muito tempo sem terminar se pegando. Como nas outras vezes, o sexo da recaída é sempre mágico e depois dele vieram muitos outros. Fui aumentando a frequência de visitas de novo e aos poucos fomos voltando ao normal, começou a me mamar mais, a fazermos umas safadezas de manhã e vez ou outra rolava sexo mesmo.
Nesse intervalo entre julho-agosto tudo estava indo uma maravilha e eu bem confortável, mas ainda de antenas ligadas. Ele havia me mandado doces com cartão no meu trabalho e confirmado a consulta na psicóloga. Eu estava bestinha com as coisas dando certo. Na hora que ele saiu para a consulta, eu fiquei acompanhando o trajeto. A localização não estava bem onde eu esperava, mas era perto da rua do consultório. Felipe falou que estava ansioso e ao final me disse que gostou da sessão. Passou num lugar pra comer e voltou pra casa.
Nesse intervalo, eu também tinha largado do trabalho, mas fui sozinho e deixei pra responder só quando cheguei. Chegamos quase juntos. Estava arrumando umas coisas, quando vejo a mensagem dele dizendo que ia ao mercado comprar coisas para fazer um brownie, até aí ok. Minutos depois, eu olho a loc dele, mas não estava dando no mercado e sim em uma viela na beira de um rio, numa parte bem pobre do bairro.
Eu automaticamente troquei de roupa e fui até o ap dele para confirmar no seu outro dispositivo se a localização estava correta, pois às vezes o google erra. Para minha surpresa, estava lá mesmo e eu podia ver nome da rua exato e tudo. Saí correndo para tentar alcançá-lo, mas quando chego lá, coisa de 10min, já não tinha mais sinal nenhum e a loc estava de fato no mercado e o carro estacionado bem atrás. Alguma coisa estava errada. Fiquei na praça que tinha na frente esperando ele sair para poder voltar para casa. Continuei agindo normal, mas precisava descobrir se tinha acontecido algo de verdade.
Fui dormir com ele e, depois que ele dormiu, fui pegar seu celular para confirmar se tinha alguma pista. E advinhem? Um cara tinha acabado de ligar pelo whatsApp com número não salvo. Abri a conversa e ele dizia: “E aí cara! Desculpa ligar assim. Não consegui mais nada hoje. Desenrola 50,00 pra mim. A gente pode f1 e fuder”. Eu continuei conversando com o cara e ele insistindo.
Puta que pariu! Precisava mais de que para confirmar? Mesmo que rápido (coisa de 15min) dava muito bem pra ele ter dado uma mamada no traficante. Mas nada fazia sentido naquele momento: primeiro que ele havia acabado de sair da terapia (caríssima) que começou para resolver esse tipo de problema, segundo que o lugar era perigoso demais pra se enfiar assim. Se ele quisesse fazer algo, poderia ter levado para outro canto, um motel ou algo do tipo.
Mas não tinha o que contestar. Só levantei, fui pegando minhas roupas, rasguei nossas fotos no banheiro e nesse momento ele acordou. Eu tinha deixado o celular dele em cima da cama e ia saindo quando ele pediu um beijo (ainda dormindo) e eu falei que não daria. Nessa hora ele se espantou e acordou valendo e veio correndo atrás de mim. Antes que eu abrisse a porta do ap, Felipe me segurou. Começamos a discutir e ele queria saber o que houve. “Você deve saber”. – falei. “O que fez hoje depois da consulta? Não foi só ao mercado”. Ele negava e mandei que pegasse o celular dele pra ver a conversa. Quando voltou, já estava apagada, mas a ligação do cara tava lá.
“Eu conversei com ele. Tava te chamando pra fumar 1 e fuder. Disse que não conseguiu MAIS nada hoje. Subentende-se que algo ele fez. E ainda pediu dinheiro em troca”. Ele se desarmou dizendo que só tinha ido pegar droga pq era mais barato, uma amiga tinha indicado e até ficou com medo do lugar, mas não tinha feito nada. Implorou pra que eu não fosse embora e voltamos pro quarto. Disse que esse cara ficou com umas conversas estranhas pegando no pau, mas que não tinha cedido e deixou o telefone para que quando ele tivesse a droga de verdade, pudesse avisar. Eu tava acreditando muito pouco nisso. Do jeito que estava dormi e ainda vestido. Depois disso eu sumi por quase uma semana e essa parecia ser a gota d’água. Não queria ser injusto para o caso de realmente ele não ter feito nada, mas quem te manda mensagem no meio da noite te chamando pra fuder se não tiver liberdade para tal? Ou que traficante vai se oferecer pra qualquer um homem que não conhece, sem saber a reação que vai ter?
Aparentemente eu ia conseguir, pois a sensação de não merecer aquilo e lembrar de todas as outras coisas me faziam não querer estar com ele de novo. Era agora ou nunca, mas e se eu caísse? E se eu fosse fraco demais para resistir? Nessa semana off aproveitei para provar outros cuzinhos, mas nenhum chegava perto e alguns dias a saudade era maior que a raiva.
O que vocês acham que aconteceu? Deixem nos comentários. Vêm coisas muito melhores pela frente.