Tava suando igual a porca da mão branca. Minha avó chamou Marília pras conversa, e botou Amanda e eu pra cozinha, o almoço tava quase pronto, finalizei com ela me olhando. Não sei, parecia que ela tava me julgando. Me olhava direto e a cada movimento que fazia.
Beatriz:- Tá tudo bem?
Amanda:- Tá!
Beatriz:- As vezes você me olha, parece que tá me julgando!
Amanda:- Não tô julgando, quem sou eu pra julgar?
Beatriz:- Amanda Cavalcante, a mulher que odeia vaquejada e tudo que vem dela!
Amanda:- Eu não sou a favor dos maus tratos aos animais! Você não precisa envolver os animais no que vocês dizem um esporte!
Beatriz:- Os animais têm um tratamento diferenciado, estão sempre sendo cuidados, depois de irem para a arena eles vão pro abate!
Amanda:- Isso pode acontecer aqui na arena Cavalcante mas como me garante que nos outros lugares é assim?
Fui para o outro lado da mesa, me aproximei dela, peguei suas mãos e lhe olhei nos olhos.
Beatriz:- Quantos profissionais na sua área tem? Vários né? Ótimo. Você garante o profissionalismo de todos? Você pode responder pelo seu trabalho, assim como respondo pelo meu. Sei que para você é doloroso ver o boi de pernas pra cima depois da gente puxar pelo rabo, mas se for pensar que em nosso país as pessoas que mais fazem zoada são as que ficam se saboreando e brigando por picanha! Como você pode garantir que todos os animais abatidos, por todas as empresas por aí, são feitos da maneira correta? Eu posso garantir o meu Amanda!
Ela soltou-se das minhas mãos, bufou e me olhou com um olhar um pouco mais calmo.
Amanda:- Sei que sou hipócrita em falar certas coisas com o gado e mesmo assim consumir carne. Mas você concorda que o sofrimento que eles passam, ser humilhado, muitas vezes o tem machucado no rabo, na pele, eles sentem dor!
Beatriz:- Eu sei, você também tá certa em falar isso! Mas não dá pra crucificar, eu sou amante do esporte, meu avô ensinou a gente correr boi, até hoje estamos aqui!
Amanda:- Mesmo assim, não gosto!
Beatriz:- Te respeito por isso, tá tudo bem! Só não dá pra brigar com todo mundo e fazer a gente engolir isso calada! Eu respeito você so não aguento disaforo! Ta com fome?
Amanda:- Não é desaforo, eu num ficaria com vaqueiro e se fosse casada com um ou eu ou vaquejada e sim estou, morrendo de fome! Aí, será que elas vão demorar?
Beatriz:- Sim! Vamos comendo, depois elas comem. Desculpa pelo jeito que falei! E cuidado pra num morder a língua! Se desaforo ou disaforo, importante é entender!
Amanda:- Eu também tenho q me desculpar, enfim vamos esquecer isso! Parecemos crianças. Vamos comer? A propósito, faz tempo que você é como minha irmã?
Beatriz:- Não entendi!
Amanda:- Lesbica? Sapatão? Cola velcro? Dorme na caixa?
Enquanto isso...
(Marilia)
Marilia:- Bem, a muito tempo venho pensando em como falar com você!
Maria:- Mari, se for a produção de leite, eu sei que acabou ficando um pouco mais gorduroso mas foi só um pouco!
Marilia:- Então quer dizer que tem dedo seu?
Maria:- A Beatriz falou que ia ficar, aí eu dei umas coisinhas pensando que não ia ficar!
Marilia:- Ela sabe das coisas!
Maria:- Sabe! (Rsrsrs) Desculpa!
Marilia:- Mas não é sobre isso!
Maria:- Ufa! Perai é sobre o que?
Marilia:- Eu gosto de você, estou apaixonada por você a anos. Sei que tô falando assim tudo pei e bufu, mas foi o que consegui!
Ela ficou muda, só me olhava e não dava um piu, nem me olhava.
Maria:- Eu já tinha notado! Não quis alimentar, acho errado, eu tenho idade pra ser sua mãe!
Marilia:- Mas não é!
Ela levantou, passou a mão nos cabelos e andou de um lado para o outro. Coçava a cabeça e me olhava.
Maria:- Mari!
Marilia:- Tá piorando meu nervosismo!
Maria:- Eu não quero te machucar!
Marilia:- Você sendo verdadeira já ajuda!
Maria:- A gente tem... não tem como, você é uma criança!
Marilia:- Criança?
Levantei e parei na sua frente. Estávamos ali frente a frente.
Maria:- Faz tempo que via que você tinha um interesse, mas achei que tava vendo coisa, nunca alimentei nada em você...
Marília:- Eu me apaixonei por você! Pelo olhar, pelo sorriso, pelo jeito de falar: Mari!
Deu mais um passo em sua direção, ela ficou parada, parecia paralisada. Tirei o cabelo dos seus olhos.
Maria:- Me deixa sozinha por favor!
Marilia:- Quer que me afaste?
Maria:- Vai almoçar, as meninas estão esperando, vou ficar um pouco sozinha!
Marilia:- Me perdoa!
Baixei a cabeça olhando para meus pés.
Maria:- Não precisa me pedir desculpas, não tem o que pedir perdão!
Ela pegou meu rosto entre as mãos e beijou minha testa.
Marilia:- Eu quero muito esta com você!
Maria:- Mari!
Foi quando ...