Eu estava de boca aberta com tudo que Luciana estava contando. Eu queria ir abraçar ela mas eu não podia. Eu até pensei em pedir para ela fazer uma pausa, mas achei melhor não. Ela parecia decidida a pôr aquilo tudo para fora. Achei melhor ficar quieta e continuar ouvindo sua história.
.
.
<<<Luciana>>>
.
Eu não tinha muitas músicas prontas, mas as que eu tinha eram o suficiente para gravar um álbum. E tinha três delas que eu achava realmente muito boas e iriam ser o carro chefe do meu novo álbum. As gravações iriam começar em 3 dias e eu estava bem ansiosa. Eu estava no quarto que eu ficava na mansão quando minha mãe entrou com uma pasta e me entregou. Eu perguntei o que era aquilo e minha mãe disse que era as músicas que eu iria gravar. Eu não entendi nada e ela explicou que o Rubens e sua equipe já tinham escolhido as músicas para eu gravar. Eu disse a ela que eu já tinha minhas músicas e não iria gravar música de ninguém. Mas mesmo assim abri a pasta e fui olhar se tinha algo bom ali. Quando vi as letras das músicas eu disse que jamais iria gravar aquele tipo de música. Que não tinha nada a ver comigo.
.
.
Aí minha mãe soltou a bomba em cima de mim. Ela disse que eu era obrigada a gravar, que estava no contrato que eu e ela assinamos. Falou que nós duas somos enganadas. Que o contrato que a gente assinou não era o mesmo que ela me mostrou. Eu fiquei em choque, eu falei que não tinha como, que nosso advogado viu tudo. Ela disse que o advogado tinha sido indicação do Rubens e provavelmente estava no meio disso. Ela disse que no novo contrato eu tinha que gravar os três álbuns com as músicas que Rubens escolhesse e que se eu não fizesse isso ou quebrasse qualquer regra do contrato a multa era de cinco milhões. Ou seja, eu e ela perderíamos tudo que eu tinha ganhado até ali e não daria para pagar. E eu ainda não poderia gravar com nenhuma outra gravadora durante 10 anos. Eu disse que a gente podia entrar na justiça e procurar a ajuda de um advogado honesto. Ela disse que a gente podia sim, mas iríamos enfrentar uma batalha nos tribunais. A gente teria que gastar o que tinha com advogados e o risco de ganhar a causa era muito pequeno, já que os contratos que assinamos eram legítimos. Eu não sabia o que fazer. Minha mãe me abraçou e me aconselhou a fazer o que Rubens queria. Era só por três anos e aí a gente estaria livre.
.
.
Eu não queria aquilo, mas não vi outra saída. Minha mãe acabou me convencendo que era o melhor a fazer e ela prometeu que iria me ajudar. Ela disse que mesmo que fosse um sacrifício grande para mim iria valer a pena porque o Rubens não tinha mudado o que eu receberia, meus 30% estavam garantidos nesse novo contrato. Eu disse que iria pensar e pedi à minha mãe para arrumar uma cópia do contrato para mim. No outro dia ela trouxe essa cópia e quando acabei de ler eu chorei por um bom tempo. Rubens era quem decidia tudo. Até o que eu falaria em entrevistas. Eu só tinha duas saídas: ou fazia o que ele queria durante três anos ou entrava na justiça e correr o risco de perder tudo e ir morar debaixo da ponte. Minha mãe só faltou implorar para eu fazer o que estava no contrato. Eu acabei aceitando. Mas falei que eu não daria entrevista para ninguém. Que eu não conseguiria fingir nas frentes das câmeras. Se Rubens aceitasse isso eu iria seguir todo o resto. Minha mãe falou com ele e ele aceitou. Eu então comecei a gravação do álbum. Mesmo eu odiando gravar aquelas músicas, terminei de gravar rápido já que eram letras fáceis.
.
.
Depois fui me preparar para os shows que começariam assim que o álbum fosse lançado. Fiquei duas semanas ensaiando umas danças totalmente sem noção para mim. Mas eu sempre fui uma pessoa decidida e quando eu aceitei fazer aquilo eu decidi que mesmo morrendo de vergonha eu iria subir no palco e fazer aquilo bem feito. A notícia de eu estar lançando um novo álbum já fez sucesso na mídia, quando saiu a notícia que era um álbum de funk o negócio explodiu. Rubens era expert em divulgação e marketing. Meu primeiro show foi um sucesso e já na primeira semana eu tinha duas músicas entre as cinco mais tocadas no Rio e uma entre as top dez mais tocadas do Brasil.
.
.
Minha mãe estava radiando felicidade. Ela virou minha porta voz. Ela que dava entrevista no meu nome. A mulher tímida do interior agora era uma celebridade. Eu, bom, eu me afundava no poço de tristeza com aquilo tudo. Não demonstrava aquilo para ninguém, principalmente para minha mãe, mas eu chorava toda noite quando ia dormir. Eu me sentia horrível durante os shows cantando aquelas letras que não faziam nenhum sentido para mim, as roupas para os shows eram cada vez mais curtas. Eu me sentia exposta e suja com aquilo todo. Depois de uns 3 meses eu já estava afundada em uma depressão enorme. Eu resolvi pedir ajuda a minha mãe e ela só disse que ia ficar tudo bem, que logo aquilo passaria. Ela não deu a mínima para meu problema e isso só fez meu problema aumentar. Eu já não conseguia fazer os shows direitos e comecei a usar playback. Eu só dançava e fingia cantar, mas assim mesmo eu errava algumas coreografias. Foi aí que do nada saiu a história das drogas. Só depois fiquei sabendo que foi minha própria equipe que espalhou essa notícia falsa a mando do Rubens. Com todos os problemas eu consegui chegar no final daquele ano. Eu era um sucesso nacional e claro que Rubens já preparava meus próximos passos.
.
.
Eu nunca mais conversei com Rubens. Eu não queria olhar na cara dele e ele parecia que não tinha nenhum interesse em falar comigo. O que ele queria era só me usar para ganhar dinheiro. Por falar em dinheiro, eu nunca vi nem um centavo do meu. Minha mãe tomava conta de tudo. No final do ano eu teria uns dias de folga e queria ir para minha casa. Mas minha mãe não quis ir, ela iria viajar para conhecer outros países. Ela me chamou, mas eu não quis ir e ela não insistiu. Eu comecei a achar estranho as atitudes dela. Minha mãe estava feliz demais por alguém que foi enganada. Ela estava cada vez mais distante de mim. Parecia não lembrar que tinha uma filha. Só aparecia para avisar das coisas que eu tinha que fazer. Eu passei quase dois meses praticamente sozinha naquela mansão, mas no fim de fevereiro eu conheci o Marcelo. Ele era filho do Rubens do seu primeiro casamento. Ele veio para mansão para trabalhar com o pai, ele queria ser produtor musical.
.
.
Só estava nós dois na mansão e ele tentou puxar papo comigo quando a gente se encontrava, mas eu não queria papo com ele. Ele era filho do Rubens, para mim era motivo o suficiente para eu ficar longe dele. Em fevereiro eu gravei meu segundo álbum. Mais 10 músicas escolhidas por Rubens. As letras eram piores do que as primeiras. Mas eu já não tinha mais forças para discutir sobre aquilo e só gravei. Minha mãe chegou de viagem logo depois e com uma surpresa. Ela estava noiva, iria se casar com Rubens. Nossa aquilo foi o fim para mim. Tivemos a pior briga das nossas vidas, eu a xinguei de tudo quanto é nome possível e pela primeira vez ela me agrediu fisicamente. Levei dois tapas dela que me machucaram por fora e por dentro. Dali para frente foi só ladeira abaixo para mim. Eu me tranquei no quarto e nada fazia eu sair dali. Mas mesmo assim minha carreira não parou. Por incrível que pareça o meu show de apresentação do meu novo álbum aconteceu. Quando vi aquilo no meu celular eu não estava entendendo nada. Alguém estava no meu lugar. O corpo era idêntico, só que agora eu tinha longos cabelos loiros e usava óculos escuro o tempo todo. Eles tinham arrumado uma sósia minha. Eu fiquei assustada, porém feliz por não ter mais que fazer shows, por mim aquela cópia minha podia ficar no meu lugar. Mas fiquei curiosa para saber quem era ela.
.
.
Eu passava os dias trancado no meu quarto e só saia para comer quando eu percebia que a mansão estava vazia. Quando isso não acontecia eu pedia alguma empregada para trazer comida para mim. Às vezes nem comia. Eu já tinha perdido uns cinco quilos no mínimo por causa disso. Um belo dia eu achei que a mansão estava vazia e saí do meu quarto. Quando saí dei de cara com Marcelo no corredor. Ele me olhou assustado e me perguntou o que eu estava fazendo ali. Eu só disse que eu ia comer algo e continuei andando. Aí ele perguntou como eu estava ali na mansão já que era para eu estar no momento na Bahia fazendo shows. Eu falei para ele que ele estava cansado de saber que era a minha sósia que o pai dele arrumou que estava lá. Ele disse que não fazia ideia do que eu estava falando. Eu achei que ele estava fingindo. Então perdi a paciência e comecei a xingar ele. Fui jogando na cara dele algumas coisas que o pai dele tinha feito comigo. Marcelo parecia estar realmente assustado com aquilo e me jurou que não sabia de nada. Mas eu não acreditei nele e deixei ele ali sozinho.
.
.
Depois daquele encontro no corredor eu não vi mais Marcelo na mansão. Eu ainda continuava praticamente escondida dentro do meu quarto. Minha mãe tentou falar comigo algumas vezes, ela queria me converter que Rubens era uma boa pessoa e eles só queriam meu bem. Eu nem respondia ela, a vontade de xingar ela era grande, mas eu não queria outra briga e escutava calada. Depois de um mês mais ou menos escuto alguém me chamar na porta do quarto. Era Marcelo, eu disse para ele me deixar em paz. Ele disse que queria conversar comigo, que era algo do meu interesse. Eu disse que ele não tinha a dizer que poderia ser do meu interesse. Aí ele disse que sabia quem era minha sósia. Que sabia de tudo sobre os contratos e que sabia quem estava por trás de tudo. E não era só o pai dele, que a ideia foi de outra pessoa.
.
.
Quando ouvi aquilo eu abri a porta na hora e pedi para ele entrar. Perguntei do que ele estava falando e ele disse que depois das coisas que eu falei ele começou a investigar o assunto. Ele falou que a mãe dele já tinha falado que o pai não valia nada, mas ele achava que era um pouco de exagero da mãe. Mas pelo jeito não era exagero nenhum. Ele disse que descobriu que a minha sósia era uma fã minha que fazia vídeos fazendo minhas danças no YouTube e que a ideia dos contratos foi da minha mãe. Que o pai dele gostou da ideia e aceitou ajudar ela.
.
.
Eu meio que já esperava por causa das atitudes da minha mãe, mas ter certeza que ela me vendeu doeu demais. Eu nem precisava de provas para ter certeza que aquilo era verdade. Mas eu queria saber o que ele sabia e chamei ele para ir até minha cama. A gente se sentou e ele começou a me contar tudo que ele descobriu. O que eu escutei ali me deixou transtornada de raiva. Como pode uma mãe ser capaz de fazer o que minha mãe fez comigo? Não fazia o menor sentido para mim. Minha mãe me vendeu, ela destruiu nossa família, me separou do meu pai, destruiu meus sonhos e ainda se fez de vítima no início. Ali sentada ouvindo tudo que ouvi eu decidi que nem que fosse na força do ódio eu iria sobreviver a aquilo tudo e iria me vingar um dia das pessoas que me fizeram mal.
.
.
Continua..
.
.
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper