O início do inverno no cerrado é um poema em tons de dourado e marrom, onde a luz do sol se derrama como um abraço caloroso sobre a paisagem. Os campos, antes exuberantes, agora se vestem com a elegância da simplicidade. As árvores, com suas copas despidas, revelam a beleza de suas formas, como esculturas que desafiam o tempo.
*FERNANDA*
Eu não sabia como tudo iria acabar, mas após o que vi no instagram decidi dar uma volta e colocar meus pensamentos em ordem, Bianca queria me ver, e não fazia sentido já que ela claramente havia me traído. Estava andando por Madrid e vendo toda sua beleza, o caminho todo eu ia pensando nela, lembrando de tudo o que vivemos, e aquela pessoa não parecia a minha Bianca. A Bianca que conheci não era vazia, sem sentimentos, ela não ficaria com alguém sem motivo ou sem sentimento. Algo estava errado, e talvez seria o motivo de ela querer me ver. Mas aquele maldito video que eu havia recebido, Bianca estava com aquela mulher novamente, aqueles recortes de abraços em momentos diferentes entre elas e o entrar em sua casa me dei. Não estava aguentando as noites sem sono, queria desfazer aquela tristeza que eu estava vendo no espelho, então fui para casa e arrumei minha mala, iria adiantar a minha ida, se algo estivesse acontecendo Bianca iria ter uma surpresa.
Gisele e minha mãe decidiram ir comigo, as duas pareciam melhores amigas, estavam conversando super animadas ao meu lado. E eu pensando em como eu queria ter Bianca como minha esposa o pedido de casamento que eu faria nas férias que teríamos, mas agora tudo não passa de um sonho cada vez mais distante. Me lembrei das alianças em minha bolsa e peguei a caixinha.
Fernanda, isso é o que eu estou achando? - Indagou minha mãe.
Sim, eu pensei em pedir Bianca em casamento antes de tudo o que aconteceu, estamos a tanto tempo juntas achei que seria justo oficializar.
Eu não acredito nisso Feh, vocês merecem esse final feliz, eu espero que se resolvam. - Disse Gisele com um semblante pensativo.
Gih, eu acho que não teremos um final feliz, mas vou ouvi-la é o mínimo que posso fazer depois de tanto tempo. Na verdade é o que eu deveria ter feito quando recebi o vídeo.
Guardei a caixinha com as alianças e tentei descansar pelo resto da viagem. Chegando ao Brasil, já perto do horário do almoço, fui direto para a casa de Bianca. Entrando percebi que não havia ninguém, subi para o quarto e deixei minhas coisas. Peguei o telefone e liguei para Bianca.
Bianca, estou na sua casa, estou te esperando para conversar.
Oi Feh, não estava te esperando, me dá 5 minutos que já estarei ai.
Desliguei o telefone e decidi tomar um banho antes de falar com ela. Ao sair do banho e me vestir escuto um carro chegando, olho pela janela e vejo Bianca com outra mulher no carro, meu sangue ferveu naquele momento, desci as escadas e assim que vi Bianca a esbofeteei.
Que loucura é essa Fernanda? Nem cheguei e tomei uma bofetada.
Como você tem coragem de me trair e ainda chegar com ela aqui? Acho que entre nós acabou mesmo.
FERNANDA, você precisa me ouvir antes de sair fazendo acusações. Eu estava na delegacia e Gabriela era uma testemunha. Finalmente eu descobri quem vazou o vídeo do meu primeiro beijo e quem te mandou aquele vídeo. Gabriela foi tão vítima quanto eu, mas ela não teve a fuga que eu tive. Aquele vídeo que você recebeu foi apenas uma pessoa expressando o sentimento da adolescência, na verdade duas, eu me deixei levar mas logo percebi que eu não sinto por Gabriela nem 1% do que sinto por você. Ela nesse instante só está voltando a ser uma amiga da época de escola.
Então essa é a famosa Gabriela, sério Bianca que você foi baixa o suficiente para inventar tudo isso só para justificar que reencontrou ela e quis saber se sentia algo.
Olha, você está alterada e eu não irei discutir, aqui estão todas as provas, eu vou para a galeria, se decidir conversar civilizadamente sabe onde me encontrar. Gabriela, vamos eu te levo em casa.
Vi ela saindo e me senti mais irritada. Gisele desceu de seu quarto e me acalmou. Eu não conseguia acreditar que Bianca estava com Gabriela, chorei muito com tudo aquilo, não acreditava que ela poderia ter feito isso comigo. Mas ao olhar para a pasta de documentos algo me chamou atenção, Serviço de Repressão a Crimes Cibernéticos (SRCC), eu sabia que aquilo era sério, então decidi ler os documentos.
Passei boa parte da tarde lendo aqueles documentos, só me lembrei de comer quando minha mãe trouxe um sanduíche para mim. Eu não conseguia acreditar no que lia, e cada vez que eu revisava os documentos tudo parecia mais surreal. Agradeci muito minha formação em direito e a Bianca ter me colocado como advogada dela, pois tive direito a ver a transcrição de todos os depoimentos. E era óbvio que as duas eram vítimas. Eu me senti mal por ter batido em Bianca. Juntei os documentos e fui ao encontro dela na galeria. Quando entrei no carro lembrei do que pensei no avião, voltei e busquei a caixinha.
* BIANCA *
Fernanda me esbofetear era novidade, mas era perceptível a raiva e a tristeza em seu olhar, então decidi apenas me afastar e deixar ela se acalmar. Gabriela viu que eu não estava bem e apenas me disse que tudo ia ficar bem, deixei ela na sua casa e fui para a galeria terminar de organizar a exibição do fim de semana, seria a última antes das minhas férias que agora nem tinham sentido sem Fernanda.
Na galeria eu passei a tarde toda fazendo ligações e organizando a forma com que cada obra deveria ser vista. Mas havia uma parede vazia, e eu não sabia o que colocar ali, nenhuma obra fazia sentido ali, até que no fim da tarde com a pouca luz me lembrei de uma obra que fiz no início da faculdade e que me lembrava muito Fernanda.
No quadro havia uma mulher com seus cabelos flamejantes, como o pôr do sol, dançando com a brisa, enquanto seus olhos claros refletem a luz com uma intensidade quase hipnotizante, ela está vestida com um manto fluido que se entrelaça com as cores do ambiente, as mesmas cores que eu vi na capela no dia que conversei com ela sobre o que sentíamos. Aquele quadro nunca foi para uma exibição, mas naquele lugar ele seria perfeito, então o inclui na exposição, e seu nome era simples “CHAMA DA DETERMINAÇÃO”.
As minhas assistentes daquele dia estavam impressionadas com a beleza do quadro, mas ainda faltava algo, então entendi, do lado dele faltava sua metade. Ele era um par com um quadro chamado "CAMINHO DA ESPERANÇA", nele havia no centro, uma figura feminina de cabelos escuros e olhos profundos, que exala uma aura de serenidade e força, mas carregava um olhar triste de seu passado. Ela está vestida com roupas simples, mas elegantes, que fluem com a brisa, simbolizando uma conexão genuína com o mundo ao seu redor, pequenas nuvens brancas flutuam, sugerindo leveza e esperança. A luz do sol nascer, iluminando seu rosto e destacando um sorriso acolhedor, que irradia confiança e apoio.
O par perfeito de quadros que um dia fiz pensando em como eu e Fernanda éramos ao nos conhecermos e como nos completamos. Ao colocar os dois na parede fiquei ali admirando-os, então ouvi a porta da galeria se abrir, por um momento tive esperança, mas era apenas minhas assistentes indo embora. Organizei tudo para encerrar o dia, quando estava trancando meu escritório escuto novamente a porta, e dessa vez era Fernanda.