A Cura - Parte 7

Da série A Cura
Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 2849 palavras
Data: 04/09/2024 17:26:06

Guadalajara, com suas ruas movimentadas e a vida urbana vibrante, recebeu Elias e Natalia com uma onda de calor e energia que contrastava com o clima mais ameno do Rio de Janeiro. Enquanto o táxi os levava do aeroporto para o hotel, a cidade parecia estar em um estado de agitação excepcional. Nas calçadas, as cores azul, vermelha e branca das camisas do Club Deportivo Guadalajara, o Chivas, dominavam a paisagem, sinalizando que um jogo importante estava prestes a começar. Santos Laguna, o adversário, também tinha seus torcedores espalhados, prontos para torcer por seu time. O jogo entre Chivas e Santos Laguna era mais que uma simples partida; era um evento que mobilizava a cidade, preenchendo as ruas de paixão e expectativa. Os carros passavam com bandeiras estendidas pelas janelas, buzinando em um ritmo quase sincronizado, enquanto vendedores ambulantes nas esquinas ofereciam desde lanches típicos até souvenirs do time. As calçadas estavam lotadas de gente indo em direção ao estádio, suas vozes misturando-se em um coro de entusiasmo e rivalidade.

Elias, sentado ao lado de Natalia no banco de trás do táxi, massageava as têmporas com os dedos. Desde que haviam saído do Rio de Janeiro, uma dor de cabeça persistente os acompanhava. Por mais que tivessem tomado analgésicos, a dor apenas diminuía momentaneamente antes de retornar com a mesma intensidade, como uma sombra que eles não conseguiam se livrar.

Natalia, ao seu lado, também estava visivelmente incomodada. Ela apertava os olhos, tentando ignorar o latejar incômodo que não dava trégua

— Isso está me matando — murmurou, mais para si mesma do que para Elias, enquanto observava as pessoas pela janela.

O movimento da cidade, com suas cores vibrantes e barulho incessante, parecia amplificar a dor, tornando tudo mais intenso.

— Devemos estar com jet lag — sugeriu Elias, embora soubesse que não era exatamente isso.

Havia algo mais, uma sensação inquietante de que estavam fora de sintonia com o ambiente. A cidade parecia viva, pulsante, mas para eles, tudo estava levemente fora de foco, como se observassem através de uma lente embaçada.

Quando finalmente chegaram ao hotel, uma construção moderna que contrastava com a arquitetura histórica do centro da cidade, Elias pagou o motorista e ajudou Natalia com as malas.

— Você anda fazendo compras? — questionou Elias, notando que as malas dela estavam mais pesadas.

— Vamos passar o resto das nossas vidas, então estou me adaptando.

Entraram no lobby iluminado e fresco, que era um alívio bem-vindo do calor lá fora. No entanto, a dor de cabeça ainda os acompanhava, um lembrete persistente de que algo estava errado.

— Precisamos de mais descanso — Elias comentou enquanto pegavam as chaves do quarto na recepção — E talvez algo mais forte do que esses analgésicos comuns. Na nossa época o efeito era instantâneo.

Natalia assentiu em silêncio, concentrada em manter a compostura. Enquanto subiam no elevador, o zumbido contínuo na cabeça de ambos parecia se intensificar, como se a própria cidade estivesse vibrando em uma frequência que eles não conseguiam ajustar.

No quarto, Elias olhou pela janela, observando a cidade abaixo, onde os torcedores continuavam a marchar em direção ao estádio. Mesmo através das paredes do hotel, podia-se ouvir o distante som dos gritos e cantos. Ele sabia que precisavam se ajustar rapidamente se quisessem cumprir a missão com Emilia Ibarra. O desconforto físico não poderia atrapalhar.

— Vou tomar um banho — disse Natalia, indo em direção ao banheiro — Isso pode ajudar a relaxar.

Elias ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre o que poderia estar causando essa dor persistente. Ele sabia que o corpo humano era complexo, e o estresse da viagem e da missão certamente poderiam ser fatores. Mas algo sobre a intensidade da dor de cabeça o incomodava.

Ele se jogou na cama, tentando ignorar a dor latejante. Enquanto Natalia tomava banho, ele pegou o celular, o único dispositivo que tinha à disposição. Embora fosse um modelo recente para 2015, para Elias, parecia quase primitivo em comparação com os dispositivos avançados de 2085. A tela de toque, lenta e imprecisa, contrastava com as interfaces holográficas que ele estava acostumado a usar. Cada toque parecia levar uma eternidade para responder, e ele não pôde deixar de suspirar com impaciência.

“Como eles conseguiam ser produtivos com isso?" pensou, deslizando o dedo pela tela em busca de informações sobre Emilia Ibarra. As conexões de internet, embora revolucionárias para a época, eram lentas e instáveis para seus padrões. Ele mal conseguia processar a ideia de que as pessoas naquela época ainda dependiam de redes Wi-Fi locais e torres de sinal para acessar informações. Em 2085, a comunicação era quase instantânea, fluindo de maneira integrada.

Finalmente, a página sobre Emilia Ibarra carregou, e ele começou a revisar as informações. Apesar da tecnologia atrasada, Elias sabia que precisava se adaptar e usar o que tinha em mãos. A missão em Guadalajara não esperaria por ele, e Emilia, com toda sua influência e conexões, seria um desafio que ele precisava enfrentar com precisão.

Natalia saiu do banho, a expressão no rosto dela indicando um alívio temporário da dor. Ela notou Elias, ainda concentrado no celular, e se aproximou.

— Conseguiu alguma coisa? — ela perguntou, secando o cabelo com uma toalha.

Elias balançou a cabeça lentamente.

— Sim, mas a tecnologia aqui é tão… pré-histórica. Preciso de mais tempo para encontrar tudo o que precisamos.

Natalia sorriu, compreendendo a frustração dele.

— Bem, teremos que fazer o melhor com o que temos.

A noite caía sobre Guadalajara, trazendo consigo o alívio para as dores de cabeça que tanto incomodaram Elias e Natalia ao longo do dia. As luzes vibrantes da cidade brilhavam através das janelas do quarto de hotel, enquanto o som distante da movimentação da cidade ecoava pelas ruas.

Elias estava sentado à mesa, os arquivos sobre Emilia Ibarra espalhados diante dele. A foto de Emilia parecia capturar sua atenção mais do que ele gostaria de admitir, a beleza enigmática e a aura de insegurança que ela transmitia o faziam imaginar como seria a missão.

Natalia, sentada na beira da cama, observava-o com atenção, o olhar fixo na expressão concentrada de Elias enquanto ele analisava os documentos. Ela já havia percebido como ele parecia estar fixado na foto de Emilia, e um sentimento estranho começava a crescer dentro dela, algo que ela tentava reprimir. Mas antes de deixar esse ciúme latente tomar conta, Natalia resolveu quebrar o silêncio.

— Zimmermann, hein? — comentou ela casualmente, tentando manter o tom leve. — Um nome peculiar.

Elias levantou os olhos dos documentos e sorriu, reconhecendo a curiosidade na voz dela.

— Zimmermann era o sobrenome de um apresentador de um programa infantil sobre ciência que eu costumava assistir quando era criança. Ele tinha uma paixão por explicar as coisas de uma maneira que fazia a ciência parecer mágica. Acho que foi ali que minha curiosidade começou a se desenvolver.

Natalia inclinou a cabeça, interessada.

— Foi assim que se interessou pela área.

O sorriso de Elias se desfez um pouco, e ele olhou para a foto de Emilia novamente, mas desta vez com um olhar distante, perdido em memórias.

— Meus pais morreram na pandemia, ainda quando eu era adolescente. Foi o que me levou a seguir a carreira na ciência médica, a tentar entender e, quem sabe, achar uma cura para esse vírus.

Natalia percebeu a mudança no humor dele e se aproximou, ficando ao lado da mesa.

— E agora você usa o nome dele como um tipo de homenagem?

— Algo assim — respondeu Elias, tentando não demonstrar a tristeza que ainda carregava consigo — É uma maneira de manter aquela parte de mim viva, mesmo depois de tudo o que aconteceu, para não me esquecer do meu propósito.

Natalia assentiu, tocada pela história, mas sua atenção logo voltou para os arquivos sobre Emilia.

— Você tem olhado bastante para a foto dela.

Elias notou o tom e se levantou, aproximando-se de Natalia.

— Emilia é uma mulher muito linda, não acha?

Natalia cruzou os braços, ainda sentindo um incômodo que agora era impossível de ignorar.

— E qual é a sua estratégia? Como você planeja se aproximar dela?

— Vou me apresentar como Elias Zimmermann, um diretor de cinema de Hollywood em busca da protagonista perfeita para um novo filme. Um drama romântico histórico que se passa na guerra civil espanhola. Acredito que Emilia não vai resistir à ideia de um papel que pode levar sua carreira a novos patamares.

Natalia o olhou por um momento, tentando decifrar seus próprios sentimentos confusos. Elias era a missão dela, mas ela sabia que seus próprios sentimentos estavam se misturando com o dever. Mesmo assim, ela confiava nele.

No dia seguinte, Elias se viu em meio a um cenário de luxo e sofisticação, a mansão antiga onde a sessão de fotos de moda íntima estava acontecendo. Os arcos e colunas imponentes, os lustres de cristal e o mobiliário clássico criavam um contraste intrigante com o propósito moderno e sensual das fotos. A iluminação suave acentuava a beleza das modelos, mas foi Emilia Ibarra quem realmente capturou sua atenção.

Quando Elias a viu, percebeu que as fotos não faziam justiça à sua presença. Emilia era ainda mais deslumbrante pessoalmente, irradiando uma energia vibrante e uma confiança que dominava o ambiente. Vestida em lingerie de seda preta, seu cabelo era solto levemente ondulado, enquanto ela se movia com uma graça natural, o que fazia o olhar de todos na sala gravitar em sua direção. Ao tentar se aproximar dela, Elias logo encontrou um obstáculo na forma de Chico Morales, o agente da modelo. Chico era um homem baixo e robusto, com um bigode perfeitamente aparado e um olhar astuto que não deixava passar nada. Ele se interpunha entre Elias e Emilia como um cão de guarda, deixando claro que qualquer contato com a modelo teria que passar por ele.

— Desculpa, amigo, mas a senhorita Ibarra está ocupada — disse Chico com um sorriso que não chegava aos olhos — Se quiser marcar uma reunião, pode falar comigo, mas agora ela não pode ser interrompida.

Elias manteve a compostura, tentando explicar que seu interesse era puramente profissional, mas Chico não cedeu um centímetro. A discussão entre os dois começou a esquentar, atraindo olhares curiosos dos membros da equipe. Foi então que Emilia, percebendo a situação, decidiu intervir.

— Chico, calma lá — ela disse, sua voz alegre e cheia de uma leveza contagiante. Com um sorriso radiante, ela se aproximou dos dois homens, pondo fim ao impasse — Quem é esse bonitão aqui?

Chico tentou protestar, mas Emilia já estava ao lado de Elias, oferecendo a mão para cumprimentá-lo

— Senhorita — disse Elias com um espanhol enferrujado, enquanto beijava os nós de seus dedos delicados — Elias Zimmermann, sou diretor de cinema em Hollywood.

— Desculpa pelo Chico, ele é um pouco superprotetor às vezes.

— Só queria conversar um pouco, talvez discutir alguns trabalhos.

— Claro, mas vamos fazer isso — respondeu Emilia, piscando um olho — Estou morrendo de fome. Por que não me acompanha para um brunch? O buffet aqui está delicioso, e a cozinha dessa mansão é um charme. Podemos conversar lá.

Chico tentou intervir mais uma vez, mas Emilia já estava conduzindo Elias em direção à cozinha, deixando o agente para trás, visivelmente frustrado. Enquanto caminhavam pelos corredores da mansão, Emilia mantinha a conversa leve e animada, demonstrando um carisma natural que fazia Elias se sentir imediatamente à vontade.

— Você sabia que essa mansão já foi palco de uma novela super famosa aqui no México? — comentou Emilia, rindo enquanto passavam por uma grande tapeçaria na parede — Eu era só uma garota na época, mas me lembro de assistir aos episódios e sonhar em ser uma das atrizes. E olha só onde estou agora!

Elias sorriu, apreciando a maneira como Emilia parecia ver o mundo.

— Você definitivamente conseguiu. E mais.

— Ah, nem me fale — disse ela, balançando a cabeça com humor — Mas sabe o que eu mais gosto? Conhecer pessoas novas. Sou muito curiosa, adoro ouvir histórias e ideias diferentes. Então, o que você tem em mente, senhor diretor de cinema?

Quando chegaram à cozinha, um espaço amplo com uma decoração rústica, Elias sentiu que a conversa estava fluindo de maneira surpreendentemente natural. Emilia serviu-se de uma taça de suco de laranja e ofereceu uma para Elias, que aceitou.

— Bem, estou à procura da protagonista perfeita para o meu próximo filme — começou Elias, observando a expressão de interesse no rosto de Emilia — É um drama romântico que se passa durante a Guerra Civil Espanhola. Acho que você seria ideal para o papel.

Os olhos de Emilia brilharam com entusiasmo.

— Sério? Nossa, isso parece incrível! Sempre quis fazer um papel mais desafiador, algo com mais substância. E a Guerra Civil Espanhola… Isso tem tanto potencial dramático.

— Exatamente — concordou Elias, sentindo que a conexão entre eles estava se fortalecendo — A personagem é complexa, alguém que é forte por fora, mas com uma vulnerabilidade a ser explorada. Acho que você poderia trazer isso para a tela de uma maneira única.

Emilia sorriu, visivelmente encantada com a ideia.

— Estou dentro. Adoro desafios, e esse parece ser exatamente o que eu estava procurando.

Enquanto continuavam a conversar, Elias percebeu que Emilia era muito mais do que apenas uma modelo bonita. Ela era inteligente, carismática e possuía uma alegria de viver que era contagiante. Cumprir aquela missão seria o maior prazer.

Ao final da sessão de fotos, quando o sol começava a se pôr, Elias sentiu como se conhecesse Emilia há anos, tamanha era a conexão que haviam estabelecido durante o dia. Enquanto caminhavam em direção à saída da mansão, ele se surpreendeu ao perceber como a companhia dela o fazia sentir-se leve.

No entanto, a tranquilidade do momento foi subitamente interrompida pelo som de um motor potente que cortou o silêncio do jardim. Um Porsche preto atravessou a estrada que vinha do portão em alta velocidade, parando bruscamente em frente à entrada da mansão. Elias instintivamente deu um passo à frente, sentindo um leve aperto no peito, seus olhos fixos no veículo.

A porta do carro se abriu, revelando um homem que parecia ter saído de um filme de ação. Ele era imponente, com cerca de 1,92 metros de altura, músculos esculpidos que se destacavam sob a camisa perfeitamente ajustada. Sua presença era avassaladora, e havia algo de predador em seu olhar, que imediatamente se fixou em Emilia.

Emilia, que até então estava sorrindo e conversando com Elias, mudou sutilmente sua postura. Ela olhou para o homem que se aproximava com um misto de afeto e apreensão. Elias notou essa mudança quase imperceptível, como se Emilia estivesse colocando uma máscara ao vê-lo.

— Ah, Señor Zimmermann, este é meu namorado, Alejandro Muñoz — disse Emilia com um sorriso que parecia um pouco forçado, virando-se para o homem que agora estava ao lado dela — Alejandro, este é Elias Zimmermann, um diretor de cinema de Hollywood. Estávamos conversando sobre um possível projeto juntos.

Alejandro estreitou os olhos ao encarar Elias, estendendo a mão com uma força que Elias sentiu antes mesmo de tocá-la.

— Zimmermann — repetiu ele com um tom que misturava curiosidade e desconfiança, enquanto os dois trocavam um aperto de mão firme — Interessante. E que tipo de projeto exatamente?

Elias manteve a calma, apesar da clara tensão no ar.

— Um drama romântico que se passa na Guerra Civil Espanhola. Acho que Emilia seria perfeita para o papel principal — respondeu com uma voz controlada, tentando não demonstrar o desconforto que a presença de Alejandro lhe causava.

Alejandro não tirava os olhos de Elias, como se estivesse avaliando cada palavra, cada gesto.

— É mesmo? Emilia nunca me falou sobre isso — comentou, sem disfarçar o tom levemente possessivo — Mas é claro que qualquer coisa que envolva a carreira dela me interessa muito.

Emilia, percebendo a tensão crescente, colocou a mão suavemente no braço de Alejandro, tentando aliviar o clima.

— Foi uma ideia que surgiu hoje, querido. Eu queria te contar antes, mas o dia foi tão corrido — disse ela, seu sorriso retornando ao rosto, mas com uma pequena sombra de nervosismo.

Alejandro inclinou-se e beijou Emilia de maneira possessiva, como se quisesse deixar claro que ela pertencia a ele. Elias observou, tentando manter a neutralidade, mas algo sobre aquele beijo o incomodou profundamente.

Quando Alejandro finalmente se afastou, ele voltou seu olhar penetrante para Elias mais uma vez.

— Bem, Zimmermann, espero que você seja mesmo bom. Se Emilia realmente for trabalhar com você, vou querer ver tudo de perto — declarou com um sorriso que não chegou aos olhos.

Elias assentiu, mantendo o controle.

— Claro, senhor Munõz. Fico feliz em ter seu apoio.

Os três permaneceram ali por mais alguns minutos, trocando palavras que, para qualquer observador, pareceriam casuais, mas que carregavam uma tensão subjacente, especialmente entre Alejandro e Elias. Enquanto observava o casal, Elias começou a entender que Alejandro não era apenas um namorado ciumento; ele era um homem perigoso, com um controle sobre Emilia que ia além de um simples relacionamento.

Quando finalmente se despediram, com Emilia e Alejandro entrando no Porsche e Elias ficando na entrada da mansão, ele não pôde deixar de pensar em como as coisas haviam se complicado. O plano de se aproximar de Emilia estava funcionando, mas agora havia uma nova peça no tabuleiro, uma peça que poderia tornar tudo ainda mais arriscado.

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