A republica dos Machos (39) PENULTIMO

Um conto erótico de Yuri
Categoria: Homossexual
Contém 2375 palavras
Data: 07/09/2024 13:56:27

XXXIX

Eu puxei a cadeira encostando no batente de madeira da varanda no restaurante rústico no centro da cidade, onde havíamos combinado em encontrar o José Augusto, irmão do Betão.

Mas Duval estava com uma cara do tamanho da lua.

- Ele só está querendo ajudar - argumentei com Duval. - Você mesmo disse que era bom consultar um especialista.

Duval esfregou as bochechas contra as palmas das mãos.

- Cacete Yuri!

- Vamos ouvir o que ele tem a dizer - falei.

Ele sibilou sussurrando e disse próximo a mim:

- E se descobrem que esse tal de Frederico tem alguma coisa a ver com a morte do cara? Você vai ser cúmplice dessa merda. Vai contar isso a esse cara aí?

- Isso não vai acontecer, e eu prometi ao Maicon não dizer nada, acho que devo isso a ele.

- Vai mentir em juízo?

Eu suspirei concordando com ele mas sem saber como responder a pergunta porque de fato era o que aconteceria.

A gente interrompeu a conversa porque Betão e um homem vestindo roupa social se aproximaram.

- Olá - o homem disse.

- E aí? - Duval respondeu.

Eu estiquei minha mão e o sujeito a apertou com força olhando em meus olhos. Era barbudo e parecia mais velho que Betão, e disse diretamente para mim:

- Sou José Augusto, - e sorriu - Beto falou de vocês.

José Augusto tinha olhos grandes da cor da barba e do cabelo e sobrancelhas, e o contraste com o colarinho branco da camisa social, e do grafite do blazer por cima, conferiam-lhe a aparência de um desses coach de carreira militar.

Mas Betão era mais bonito e simpático. José Augusto estava na cidade para um trabalho em específico, o que calhou com a minha situação. Betão havia pedido ao irmão para opinar sobre meu caso.

- Bom eu tive um envolvimento com esse policial - falei - e gravaram e divulgaram sem meu consentimento. Agora, esse cara apareceu morto e eu recebi uma intimação.

Ele coçou o queixo com a dobra do indicador enquanto apoiava o cotovelo no tampo da mesa, no pulso um relógio, engrossava seu braço, parecendo fazer parte dele.

- Entendo, e te chamaram para prestar esclarecimentos, e você acredita que vai ser sobre isso? - ele perguntou.

Eu estendi para ele o papel que havia chegado para mim na republica.

- Chegou lá em casa, - Betão disse.

- Acho que pegaram meu endereço na faculdade, - comentei.

- Estavam te investigando, - José Augusto disse. - Provavelmente.

- Mas meu envolvimento com o Adriano parou aí... - eu disse.

José Augusto olhou diretamente nos meus olhos e abriu um sorriso de canto, devolvendo o papel para mim.

- Se é esse o caso, - ele disse - e não tem mais nada além disso, nenhuma briga entre vocês, nenhum tipo de inimizade que possa vir a tona depois, você não tem do que ter medo.

Duval segurou minha mão por baixo da mesa. José Augusto explicou que em um caso como esse era comum a investigação correr de forma rápida por causa de pressões do governo do estado.

Ele ainda se alongou explicando jurisprudência. Duval olhou para mim e depois para o próprio relógio. Quando José Augusto deu uma brecha no seu falatório jurídico, eu:

- Muito obrigado pelo seu tempo, - disse me despedindo. - Valeu Betão...

Betão e o irmão pediram poções de comida. Duval remexia-se no mesmo lugar querendo sair dali porque precisava pegar um plantão há algumas minutos mas não queria me deixar sozinho com os dois irmãos.

- Vocês já vão? - Betão perguntou.

- Já sim, - falei - tenho aula logo mais, obrigado mesmo viu, foi um prazer conhecê-lo.

Ele sorriu limpando os lábios com o guardanapo.

- O prazer foi todo meu, - e completou - formam um belo casal.

Duval desanuviou o semblante depois disso mas percebi que Betão havia esboçado um riso cínico enquanto mastigava um pedaço de torta. Eu enrijeci temendo que ele soltasse uma piadinha e iniciasse uma confusão.

Só respirei aliviado quando estávamos do outro lado da rua a espera do uber.

- E então o que vai fazer? - Duval perguntou. - Você devia contar toda a verdade para a polícia.

- Você acha?

O uber parou e entramos.

- Tenho certeza disso... Pensa bem no que vai fazer,- ele disse. - Você pode acabar se prejudicando e muito ao proteger seu amigo. Fale a verdade. Aliás, vocês não têm do que temer.

Duval saltou em frente ao hospital e eu voltei para casa pensando na segunda-feira quando teria que falar com a polícia. Mas ainda faltavam alguns dias então tinha tempo para decidir como agir.

Ainda tinha um material para separar para uma matéria sobre bebidas caseiras e o álcool. As receitas começaram a afastar os problemas dos meus pensamentos.

- Isso parece ótimo... - sussurrei para mim mesmo.

Eu não queria saber de reportagens sensacionalistas sobre criminosos e mortes. Mas a direção do jornal achava que Erick e eu dávamos um bom retorno e por ainda estarmos na faculdade pagava abaixo do que realmente merecíamos.

Era um trabalho que pagava razoavelmente. Com meu tempo livre fazia curso de fotografia artística sonhando em fazer disso a minha profissão e não cameraman de assassinatos e roubos.

A batida da porta roubou minha atenção.

- Você? - falei.

Betão tirou a camisa pelo braço esquerda.

- Gostou do meu irmão? Seu puto.

Eu sorri suspirando.

- Ele é bonito e parece competente.

Betão veio em minha direção e puxou minhas pernas me derrubando na cama.

- Estou perguntando outra coisa - ele disse - eu vi como olhou para ele. Olhar de cachorra. Ele percebeu.

- Vai se ferrar...

- Ahan Ahan vou é te foder...

Eu abi um sorrisinho sentindo meus poros erguendo com a pressão do corpo de Betão contra o meu.

- Não tenho tempo - falei manhoso - estou trabalhando.

Betão virou meu corpo para baixo de ventre contra a cama. Eu deixava sentindo minhas pernas moles com o contado do corpo dele. Betão grudou nas minhas costas.

- Eu vou te foder de qualquer jeito, - ele disse. - Tou duro pensando no teu rabão.

Era a maneira para me dobrar. O bafo quente na minha nuca. O roçar do queixo e da bochecha arranhando com a barba quase nascendo. O volume duro contra minha nádega. Os braços em volta de mim como presas.

Ele beijou minhas costas e tirou meu short com a cueca. Afastou minhas pernas com seu joelho, eu relaxei sentindo sua língua, e em seguida as metidas de seus dedos no meu rabo.

Betão pincelou o pau no meu cu e fodeu com a ardência dolorida do contato da minha pele com a camisinha que ele havia colocado. A dor demorou a passar mas ouvi-lo arfando era uma música para meus ouvidos.

Betão pediu para gozar na minha cara e passou o pau melecado de porra pelo meu rosto. Eu puto como estava deixei rolar. Mas quando terminei de gozar sentir o arrependimento.

Tomei banho rápido e saí para o trabalho. Ainda tinha aula mais tarde e queria evitar o Duval, "estou sendo um filho da mãe com ele", pensei quando estava voltando para casa.

"Essa foi a última vez com Betão, vou me firmar com o Duval... afinal eu gosto mesmo dele... a gente se gosta de verdade..." eu vinha conversando comigo mesmo, mergulhado em meus pensamentos. Cheio de resoluções e certezas apaixonadas.

Mal notei a voz de Lulu Beicinho que como o vento frio depois que a gente saí da temperatura da água de um rio, piscina, ou mesmo chuveiro quente, e que nossos pensamentos, voam, o vento frio dos chamados de Lulu me despertaram.

- A gente pode conversar um pouco? - ele disse sibilante.

Lulu Beicinho, que aliás recebeu aquele nome por causa do período em que trabalhava como carnavalesco de escola de samba, falava soltando risinhos ao estilo Dolores Umbridge de Harry Potter como uma criancinha.

- Tá... - falei.

Lulu entrou pela casa e pediu que eu o seguisse. Eu conhecia aquele ambiente rosado e o mais fofo imaginável cheio de detalhes com camurça e enchimentos para criar a sensação de conforto.

- Eu soube que você está se formando para fotografo - ele disse - e não qualquer fotografo mas de um tipo especial não é?

- Na verdade eu curso comunicação - falei semicerrando os olhos. - Mas estou fazendo um curso em paralelo. Esse sim de foto e imagem. Mas como soube disso?

- Um passarinho me contou... - sugeriu sorrindo, "Duval", pensei.

Lulu Beicinho segurou uma câmera profissional de tamanho médio. A Nikon havia caído de paraquedas em minhas mãos.

- Nossa bem legal, - falei olhando a câmera - uma dessas é uma fortuna.

- Vamos, teste - ele pediu.

Eu fotografei o papel de parede no corredor e uma parte da sala de estar e um envelope daqueles de resultado médico em cima da mesa de centro. O dono da casa veio da cozinha trazendo uma bandeja com xícaras.

Eu nem havia me dado conta de que ele saíra, tamanha a meu interesse na câmera em minhas mãos.

- Puxa, ela parece novinha - eu falai suspirando - você também tem interesse nesse tipo de arte?

Ele anuiu com a cabeça e moveu-se em direção a sala. Haviam fotografias em preto e branco em alguns pontos da sala.

- Eu brinco as vezes, - ele disse modesto.

- Uau, são bem legais... - eu disse sincero.

Lulu Beicinho inspirava respeito. Era um homem pequeno e elegante. Andava como se estivesse voando sob o chão.

- Vamos conversar um pouco, sim? - ele pousou a xícara no pires.

E uniu os joelhos sentado no sofá a minha frente, escolhendo uma pontinha do mesmo para concentrar o peso do corpo.

- É chá? - perguntei.

- Ah, não, trouxe água, e suco de manga - ele sorriu - o Duval adora, então, tenho sempre polpas frescas em casa.

Os pequenos confortos da casa pareciam milimetricamente calculados para agradar ao Duval e ainda assim ele sentia-se um prisioneiro ali, "vai entender aquele amalucado... que eu amo", o pensamento me fez corar e abaixar a câmera.

- Por que está me mostrando essa câmera? Não entendi. Tem haver com o assunto que quer falar?

Lulu serviu o suco em um copo transparente e empurrou para mim. Em cima da mesa de centro, há meio metro do chão a nossa frente, havia um envelope papel ofício com o timbre de um hospital. Li quando peguei o copo.

- Eu comprei especialmente para te presentear, - ele disse - não se assuste, é um gesto de amizade, acredite em mim.

O suco travou na minha garganta, uma crise de tosses atacou a minha faringe, meus olhos encheram de lágrimas, e senti o suco querendo descer pelo meu nariz.

- O que disse? Comprou para mim?

Lulu Beicinho sacodiu a cabeça de cima para baixo num gesto lento e leve quase imperceptível.

- Duval comentou comigo sobre seu estágio e o curso de comunicação - suspirou - enfim, quis fazer esse mimo.

- Eu não posso aceitar, uma dessas é tipo...

- Aceite, por favor, - ele pediu - é um prazer para mim.

Eu levantei olhando para a câmera e pensando nos lugares que eu poderia registrar com aquela resolução. Com as fotos, dependendo da qualidade e do ângulo, eu poderia até ganhar prêmios.

Os celulares se modernizaram bastante e as câmeras igualmente mas não eram tão potentes como aquelas lentes. Eu olhava para ela embevecido, empolgado.

- Tá legal... - falei baixo. - Nem sei como agradecer. O suco estava ótimo também. Muito obrigado Lulu.

Eu estendi a mão para ele que a segurou de leve como aliás eram todos os seus gestos, suaves. A mudança em seu aspecto foi brusca e quase assustadora como em um filme de terror.

Ele engoliu em seco, e uniu as mãos em frente ao corpo, empertigou a coluna e em uma voz que começou sibilante, pediu:

- Eu não tenho o direito de pedir isso, eu sei, mas por favor, por favor Yuri, não tira o Duval de mim, ele é tudo o que eu tenho, eu o amo de uma forma que até dói quando falo isso...

O homem caiu em um choro convulsivo. Eu não sabia onde enfiar a cara. No começo senti uma raiva, uma vontade de partir para cima dele "quem você pensa que é hien?" mas fui invadido por piedade.

- Não se humilhe, por favor Lulu...

- Humilhação? Ah, Yuri, você é jovem demais para compreender... Eu passei anos da minha vida vivendo relações abusivas com homens perversos que apesar de crueis despertavam minha libido. Duval é a síntese perfeita de tudo que procurei em alguém, por isso eu o trato como um rei, ele é um rei pra mim...

Eu achava que Adriano era um louco de pedra mas começava a repensar isso seriamente. As palavras do Lulu eram confusas e seu rosto de menino imprimia ainda mais confusão aquele vendaval de sentimentos vindo de seus gestos.

- Eu preciso dele como preciso de ar para respirar...

Eu virei de costas não queria ouvir mais, não queria me permitir pensar em abrir mão do Duval. "Abrir mão?" pensei comigo mesmo confrontado pelo sentimento do outro "eu o amo a esse ponto?". O que eu estava há dias pensando em dizer, em confessar "era amor?".

Mas eu não havia dado nem dois passos para longe do dono da casa, e ele caiu de joelhos na minha frente:

- Eu vou morrer... Tenho câncer e vou morrer! Você vai ter ele para sempre, por anos e anos, eu serei passado, em breve, me permita tê-lo só por esses meses. Eu vou morrer...

- Isso é humilhante cara, e constrangedor, a escolha não é minha. Aliás eu e ele nem temos nada demais...

- Tem sim! Ele te ama! Ele te ama como nunca vai me amar, nem amar a ninguém e como eu te odeio por isso! Desde a primeira vez que vi vocês juntos eu soube. Mas conheço bem o homem que adoro, que venero, ele não vai forçar a barra com você, ele vai te deixar livre mas se decidir ficar com ele, se decidir abrir o jogo, Duval é capaz até de mudar de nome por você... Ele é capaz de fazer tudo por você... Ele vai me deixar completamente por amar você, por fidelidade ao que sente por você!

Eu sorria andando para trás por falta de reação melhor. A intensidade com que falava tudo que falara atingiu um ponto dentro de mim que eu desconhecia. Nas horas que se seguiram só lembro de sair da casa dele, e entrar na republica.

Mas remoía as palavras como inflamações ao longo do corpo e tudo que pensava voltava ao mesmo assunto.

*

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Comentários

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Eita! Como você vai encerrar essa história, Azinho?? Deixou justo o último fora dessa postagem sequencial! Safado! Heheh

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Ele virá em breve. Eu dei uma pausa na sequência mas logo, logo posto o final dessa parte. Estou bolando outra coisa ainda sobre a vida do Yuri mas não sei se vou postar aqui no CDC. Valeu Jota!!

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Ao mesmo tempo que gosto das traições que o Yuri comete, eu passo pano, porque o Durval pediu fidelidade e continuava a se relacionar com o Lulu, então ele não pode ter reclamar do Yuri. Para ser bem sincero, espero que o Yuri termine com o Durval, eles não estão prontos para estarem juntos em um relacionamento ds fidelidade.

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Ao mesmo tempo que não gosto das traições do Yuri**

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São imaturos né? O pessoal que ler e comenta em geral culpa apenas o Yuri de imaturidade mas... na verdade geral na República é imatura. Obrigado pela leitura!

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Só fico enraivecido quando o Yuri trai o Duval mesmo quando ele disse que estavam namorando… Traição pra mim, não tem perdão não.

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