Danielle: Trans, Evangélica - Capítulo 05 - Por que Danielle

Um conto erótico de Rafaela Khalil
Categoria: Trans
Contém 1557 palavras
Data: 01/09/2024 19:12:39

— Caramba! — Priscilla disse — Que barra hein

— Sim, já faz tempo, mas ainda me deixa balançada, foi importante — Danielle respondeu

— O ponto de ruptura, onde sua vida mudou completamente

— Sim, a partir dali eu parei de me esconder e passei a ser Danielle mesmo

— E seu pai, aceitou? — Priscilla perguntou

— Ainda estou trabalhando nisso, mas estamos nos falando já, desde que eu fique distante.

— Entendo — Priscilla disse fazendo anotações

Danielle a observou

— Você anota tudo o que eu falo? — Danielle perguntou curiosa

— Não, só pontos que eu acho importante

— Você anotou sobre o relacionamento problemático com o meu pai, e antes disso o que você anotou

Priscilla Sorriu

— Minhas anotações são para mim, mas antes disse o que me chama mais a atenção é o seu relacionamento com o Antônio, o rapaz do caminhão

— Quer que eu fale mais? — Danielle disse

— Você fala o que quiser, mas creio que aí tem um ponto decisivo na sua vida também

— Acho que sim — Danielle disse pensativa — Acho que isso é algo relacionado à roupas

— Roupas? — Priscilla perguntou — Roupas femininas você diz?

— Isso, roupas femininas, ele me mostrou sobre isso, fez eu entender — Danielle disse nostálgica

— Eu tenho uma curiosidade — Priscilla falou

— Qual? — Danielle perguntou também curiosa

— Por que Danielle? De onde veio isso?

— Aaahhhh — Danielle sorriu

*** Dezesseis anos atrás ***

Estavam a horas na estrada, Danielle ainda era Moisés, a cabine do caminhão balançava devagar na pista regular, a estrada infinita e o barulho do motor com uma música sertaneja desconhecida ao fundo.

— Tá com fome? — Antônio perguntou chamando a atenção de Moisés com as pernas cruzadas em forma de borboleta no banco.

— Um pouco — Falou lembrando que existia fome.

Moisés estava distraído, havia cansado de ler, queria agora sentir o ronco do motor e ver a estrada sem fim com uma pergunta sempre na cabeça “Tem mais mundo pra lá?”

— Tem uma parada ali, é bem legal, vamos tomar um café e prosseguimos

— Ta bom! — Concordou

O Caminhou foi para o lado direito da estrada e diminuiu a velocidade entrando no grande estacionamento, pararam e foram ao local, um restaurante bem grande. Além de comida o lugar parecia ter outras coisas, um setor de roupas, outro com pequenos eletrônicos, mercado e tudo mais

— Preciso pegar umas roupas limpas, vamos por aqui — Antônio pegou na mão de Moisés o guiou — Não sai de perto de mim hein rapaz

Ele concordou e ficou olhando em volta.

Antônio passou a escolher roupas para ele mesmo, cuecas e outras coisas, perguntou se Moisés precisava de algo, mas ele disse que sua mãe havia mandado muita coisa.

Andando distraído Moisés acabou no setor infantil, especificamente na ala feminina infantil, havia um manequim do tamanho dele, usando um vestido xadrez discreto, parecia algo de festa junina, mas era bonito.

Ele esticou a mão e tocou o pano, era fino, gelado, imaginou que seria leve, passou o pano no rosto e colocou a saia no pescoço olhando-se no espelho imaginando se um dia ele poderia vestir algo lindo como aquilo

— Gosta disso? — Ouviu a voz de Antônio, ele estava parado encostado em uma prateleira, não parecia ter chegado de sopetão, estava observando

— Aahh? euu, não, não — Moisés se afastou envergonhado arrumando o cabelo, fingindo fazer outra coisa

— Vai, não precisa ter vergonha, ninguém conhece a gente aqui — Antônio pegou um vestido igual ao do manequim — Acho que esse é seu tamanho né, experimenta lá! — Deu para Moisés

Moisés sentiu algo estranho, uma tremedeira, sua barriga doeu, as palavras travaram na garganta, ele olhava para Antônio com terror sem saber o que dizer

— Não quer? — Antonio perguntou confuso já guardando o vestido — Tudo bem, é que eu achei que…

— Quero! — Moisés o interrompeu se surpreendendo com as próprias palavras

Antonio devolveu o vestido a ele

Moisés entrou no provador e tirou sua roupa, com cuidado colocou o vestido, não conseguia fechar atrás, olhou no espelho, estava perfeito, ia até os joelhos, as mangas levemente bufantes, o xadrez amarelado com marrom claro, um decote quadrado e discreto estava incrível, aquilo parecia magia, uma espécie de sonho, era aquilo que ele procurou a vida toda.

— Deu aí? — Antônio abriu a cortina do provador assustando Moisés

— Deu — Moisés respondeu envergonhado

— Ah tem que fechar aqui — Antônio pegou o zíper nas costas do vestido e fechou até em cima

Moisés abriu os braços e balançou o corpo

— Uau, tá uma menina mesmo! — Antônio disse admirado

— Tô? — Perguntou dando um sorriso

— Olha ae, com esse sorriso aí tá mesmo parecendo uma gatinha — Antônio passou a mão de forma carinhosa no rosto dele — Falta só o batom agora!

Moisés abaixou a cabeça envergonhado, mas ainda contente

— Quer esse pra você? — Antonio ofereceu

— Não, é caro! — Moisés perguntou

— É nada, se você gostou eu te dou, quer? — Antônio disse animado — Ficou muito bem em você, ou quer ver outro?

— Gostei desse! — Moisés disse envergonhado

— Então espera aí! — Antônio sumiu entre as araras cheias de roupas, voltou rápido com sapatos e meias na mão — Isso aqui vai ficar melhor

Moisés pegou e calçou as meias, eram brancas com detalhes cor-de-rosa, os sapatos eram como botinhas cano curto marrom claro com detalhes brancos, calçou e se olhou no espelho, estava feminina, irreconhecível, parecia sua própria irmã

— Olha, uma garota perfeita! — Antônio falou abraçando Moisés por trás e ajeitando o vestido e as mangas — Ficou ótimo!

— Eu gostei — Moisés disse envergonhado

— Então tá, é seu, te dou de presente — Antônio disse animado

Moisés sorriu e se encaminhou ao trocador

— Onde você vai? — Antônio perguntou franzindo a testa

— Trocar de roupa — Moisés respondeu confuso

— Não gostou do presente? — Antônio perguntou também parecendo confuso — Achei que tivesse gostado

— Gostei sim — Respondeu estático

— E não vai usar? — Antônio perguntou

— É pra eu ficar assim agora? — Moisés olhou em volta — Pra todo mundo ver?

— Só tem você e eu aqui, ninguém te conhece, ninguém liga — Antoniou olhou em volta, vinha uma mulher — Moça, é bonito o vestido da minha filha?

A mulher sorriu

— Ficou linda! — Falou e sumiu entre os cabides

Moisés ficou observando, pensando, era verdade, poderia tentar sair assim

— Ao menos que você não queria, se não quiser não tem problema, mas eu te achei linda assim, você ouviu a moça né?

— Linda? — Moisés perguntou sentindo um calor no peito

Antônio arrumou o cabelo de Moisés

— Uma menina linda, é isso que você quer né? — Antônio disse — Você não é viadinho como dizem, você é uma menininha né?

Moisés estava em pânico, era seu maior segredo, ninguém sabia disso, ninguém sabia que ele era uma mulher num corpo de homem, até aquele momento ele achou que isso fosse algo proibido e que guardaria para sempre

Não soube o que responder, Antônio observou por alguns segundos

— Tá entendi — Respondeu puxando Moisés pela mão e pegando as roupas dele indo até o balcão

Conversou com uma garota com o uniforme da loja e ela se aproximou de Moisés, tirou as marcações que protegiam as roupas, eles foram ao restaurante, era estranho andar de saia, era mais frio do que ele havia imaginado, mas era gostoso, era libertador vestir-se de mulher, imaginou que as pessoas estivessem olhando, mas não estavam, ninguém ligava.

Antônio conversou com ele e a partir daquele momento começou a chamá-la por referências femininas “Moça, faltou o pão dela”, “Você vai querer mais algo querida?”, cada vez que essa referência acontecia Moisés ficava cada vez mais contente e saltitante.

Foram até o caixa, Moisés estava contente andando ao lado de Antônio, a saia balançava e ele achava engraçado ela tocando seus joelhos, era diferente, divertido.

— Bom dia — A mulher do caixa disse pegando as comandas

— Bom dia — Respondeu Antônio

— Bom dia mocinha! — A mulher se dirigiu à Moisés — Bonito vestido — Falou enquanto conferia o valor — Qual seu nome?

— Moisés — Ele falou sem pensar

Ela levantou uma sobrancelha e em seguida pareceu entender

— Ah, ok — Mudou o semblante e continuou a passar as coisas, dirigiu-se a Antônio — É seu filho?

— Minha filha — Antônio disse reafirmando o gênero feminino.

Pagaram e foram andando até o caminhão, entraram sem problemas, Moisés estava envergonhado, pensativo.

Quando o caminhão pegou a estrada Antônio quebrou o silêncio

— Moisés não dá hein — Falou coçando a barba

— O que? — Moisés perguntou

— Moisés é um nome masculino demais, sei lá, não combina

Ele não havia pensado nisso, não tinha um nome para si.

— Posso sugerir? — Antônio disse sorridente

— Pode — Moisés perguntou curioso

— Você se parece com uma namorada minha, o grande amor da minha vida, ela era linda igual você, inteligente, gostosa — Falou divagando — Danielle

— Danielle? — Moisés perguntou curioso

— Gostou? — Antônio perguntou — Acho que você tem cara de Danielle, Dani

— Gostei! — Moisés respondeu animado

Antônio estendeu a mão

— Sou o Antônio, como é seu nome? — Perguntou sorridente

— Danielle! — Moisés respondeu animado pegando na mão de Antônio

— Prazer Dani, você é muito linda, sabia? — Falou sorridente

— Obrigado! — Ele respondeu e em segundos se corrigiu — Obrigada!

Ambos riram

*** No consultório ***

Danielle estava com um sorriso no rosto e um olhar distante

— Desculpe interromper seu momento, achei lindo o seu sorriso, me passa pureza, isso quer dizer que essa lembrança é muito boa, certo?

Ela sacudiu a cabeça brevemente e se arrumou na poltrona confortável

— É sim — Respondeu sorrindo — Foi a primeira vez que eu fui mulher mesmo — Pensou um pouco — Ou o mais próximo disso, mas foi ali que eu realmente senti que era isso mesmo, que eu seria a Danielle.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 2 estrelas.
Incentive Rafaela Khalil a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.
Foto de perfil de Rafaela KhalilRafaela KhalilContos: 102Seguidores: 235Seguindo: 1Mensagem Autora Brasileira, escritora de livros de romances eróticos para quem não tem frescura

Comentários