Eu estava para tomar uma decisão importante na minha vida. Que eu iria trabalhar em Curitiba era uma certeza, sempre foi meu sonho poder ter uma oportunidade em um lugar que eu pudesse crescer como pessoa e como profissional. O problema foi o pedido da Kamila. Eu sabia o risco enorme que era levar ela. Ela é confiável, sei que arrumar um trabalho para ela não seria difícil. Ter uma amiga comigo lá também seria muito bom. Ainda mais minha melhor amiga. Porém isso tudo ia por água abaixo quando Kamila se envolvia com algum homem. Isso poderia ser um problema, porque se ela fizesse algo sem noção eu poderia perder essa chance de realizar meu sonho.
.
.
Kamila: Eu sei o que você está pensando e eu prometo que não vou me envolver com homem nenhum. Não vou sair para baladas ou festas. Só vou ficar com você e trabalhar.
.
Tamires: Eu não me importo de você fazer nada disso, Ká. O problema é o tipo de homem que você arruma. Parece que você tem um imã para homem que não vale nada e depois que você se envolve já era, você não escuta mais ninguém.
.
Kamila: Por favor, eu nunca precisei tanto da sua ajuda. Sei que te devo muito, que você praticamente tem cuidado de mim esses anos todos. Eu também sei o quanto já te decepcionei falando que ia mudar e não mudei. Mas por favor, me ajuda essa última vez. Eu não posso ficar mais aqui, ainda mais sem você. Eu estou te implorando uma uma chance de te provar que eu posso mudar. Não vou te causar problemas. Eu prometo.
.
Tamires: Tudo bem, mas não esqueci que você prometeu e te juro que se você aprontar alguma besteira que me prejudique a nossa amizade vai acabar. Você me entendeu direitinho?
.
Kamila: Sim, eu entendi! Obrigado!!!
.
Tamires: Outra coisa, tenho que ver com minha prima se ela pode arrumar um trabalho e sua mãe tem que concordar com você ir trabalhar na capital.
.
Kamila: Tudo bem. Eu entendi.
.
.
Eu no fundo sabia que podia estar fazendo uma besteira enorme, mas às vezes fica difícil dizer não. Ainda mais para alguém que a gente gosta. Depois dessa conversa Kamila ficou muito animada. Eu não queria deixar ela se empolgar muito antes de ter certeza que ela realmente iria. Liguei para minha prima para pedir a ela um trabalho para Kamila. Isso foi fácil de resolver, minha prima arrumou o trabalho para ela na lanchonete que eu iria trabalhar. Ela só precisava pedir autorização a sua mãe agora. Acho que isso não seria um problema já que a mãe dela confiava muito em mim e sempre disse para Kamila arrumar algo para fazer na vida. Falei para Kamila já ir arrumando suas coisas se caso a mãe dela deixasse ela ir. Eu me despedi dela e fui para minha casa falar com minha mãe.
.
.
Quando cheguei em casa as coisas foram mais difíceis do que pensei. Minha mãe não me impediu de ir, mas a conversa foi bem complicada. A gente sabia a falta que uma ia fazer para outra. Minha mãe era a mãe perfeita, ainda mais para uma uma mulher lésbica como eu. Ela não mudou em nada comigo depois que me assumi, ela não agiu nem melhor e nem pior comigo. Ela continuou sendo a mesma mãe de sempre e isso foi muito importante para mim. Minha saída do armário foi meio diferente da maioria. Não houve conversa tensa e nem nada. Eu tinha uns quatorze anos e uma vizinha nossa me viu beijando uma menina na praça perto da minha casa. Claro que ela veio direto contar para minha mãe.
.
.
Quando cheguei em casa minha mãe foi até meu quarto e me chamou. Pedi para ela entrar, mas ela só abriu a porta e colocou metade do corpo para dentro. Ela me disse que nossa vizinha tinha contado a ela que eu estava beijando uma menina na praça e me perguntou se era verdade. Eu respirei fundo e disse que sim, era verdade e eu gostava de meninas. Ela perguntou se era só de meninas e eu disse que sim. Ela disse que tudo bem, disse para eu descer para jantar e saiu. Eu achei aquilo muito estranho. Está certo que minha mãe era uma pessoa calma, mas aquilo eu achei até um pouco exagerado. Quando desci para jantar estava ela e meu pai na cozinha. Os dois agiram normalmente comigo. Depois de uns dias perguntei para minha mãe porque ela agiu tão normal comigo. Ela disse que agiu normal porque era uma coisa normal. Que no colégio beijou umas meninas também, mas que quando conheceu meu pai se apaixonou e nem lembrava disso mais. Eu perguntei se meu pai sabia disso e ela disse que sim, que nunca escondeu nada dele. Aquilo meio que explicava o porquê deles terem agido daquela maneira.
.
.
Minha família era muito unida, sempre foi. Até mesmo quando eu e meus irmãos brigávamos muito. A gente brigava entre nós, mas se qualquer outra pessoa fosse brigar com um de nós, tinha que brigar com os três. Meu irmão mais velho se casou, mas mora a uma quadra da nossa casa. O mais novo está morando na cidade vizinha, ele trabalha e faz faculdade lá. Mas vem aqui direto, quando demora muito é quinze dias. Porém, agora eu iria para longe, não teria como eu vir ver eles com frequência. Minha mãe sentiu o baque quando eu contei. Ela disse que tudo bem, mas eu vi seus olhos lacrimejar. Não deu outra, ficamos abraçadas ali no sofá um bom tempo, uma chorando baixinho no ombro da outra. Nem era a despedida ainda, mas foi complicado.
.
.
Naquele mesmo dia liguei para meu patrão e avisei ele que eu não iria mais trabalhar. Eu expliquei a ele os motivos. Ele entendeu, me desejou boa sorte e disse que eu iria fazer muita falta. Ele me perguntou se eu tinha somado o que ele me devia. Eu disse que não, que ele podia somar e me mandar depois por pix. Ele falou que iria fazer isso e que iria me mandar um extra. Ele disse que provavelmente eu teria direito a mais, mas infelizmente ele não teria como pagar no momento. Eu falei para ele não se preocupar, que tudo que nós combinamos a 4 anos atrás estava valendo. Que ele nunca me enganou, sempre jogou limpo comigo e me deu uma oportunidade. Que eu devia muita obrigação a ele e não iria cobrar nada dele além do que foi combinado. Ele me agradeceu e nos despedimos. Meu patrão nunca assinou minha carteira, quando fui procurar trabalho ele foi totalmente honesto. Ele nunca atrasou meu salário, já me emprestou dinheiro em algumas emergências que tive. Sempre foi flexível com meus horários quando eu estudava. Mas porém a lanchonete era pequena, além de mim, era só ele e a esposa que trabalhava lá. Era de onde eles tiravam o sustento da família. Ele realmente não tinha condições de me contratar com tudo regularizado e eu entendia isso.
.
.
Depois de falar com meu agora ex patrão, eu comecei a arrumar minhas coisas para a viagem. Eu queria deixar o mínimo possível de coisas para eu arrumar no outro dia. Deixei tudo quase pronto, no domingo à noite eu iria arrumar o que faltou. Quando deu umas 20 horas Kamila apareceu na minha casa toda feliz. Disse que a mãe tinha deixado ela ir, que eu podia ligar para ela para confirmar. Eu disse que não precisava. Nós ficamos ali conversando e fazendo planos para nosso futuro. Notei que Kamila estava exagerando um pouco nos seus planos. Eu a lembrei que ela iria trabalhar de garçonete e não ia ser presidente de alguma empresa. Ela riu muito de mim e disse que sonhar não pagava imposto. Que ela sabia que de início ia ser complicado mas que tinha muita esperança que nós duas iríamos sair bem e conseguir subir na vida juntas. Eu fiquei feliz de ouvir aquilo. Não queria que ela chegasse lá achando que iria ser um mar de rosas, porque não iria ser mesmo.
.
.
O papo estava bom, mas foi ficando tarde e perguntei a Kamila se ela não iria para casa. Ela disse que já tinha avisado a mãe que iria dormir comigo. Ela falou aquilo e já me olhou com uma cara mais safada. Eu só dei uma risada dela. Ela disse que era para a gente se despedir da minha cama.
.
.
Tamires: Mas eu ainda vou dormir aqui amanhã.
.
Kamila: Eu também, mas podemos começar a despedida hoje e terminar amanhã kkkkk
.
Tamires: Engraçadinha, mas eu até gostei da ideia 🤭
.
.
Eu já fui beijando aquela boca gostosa. Ela tinha o beijo mais gostoso que tive o prazer de provar. Nossas bocas se encaixavam perfeitamente. Na verdade não era só o beijo não. O sexo era o melhor também. Talvez se ela não tivesse me traído e se não fosse tão sem juízo a gente poderia estar juntas de uma forma diferente. Mas nem tudo é perfeito.
.
.
Ficamos nos beijando por um bom tempo. A gente se tocava provocando uma a outra. Cada vez os beijos iam ficando mais intensos. Os toques mais ousados, as respirações mais pesadas. Cada peça de roupa era retirada com calma e sem pressa. Quando a última foi tirada, meu desejo já queimava todo o meu corpo. As respirações já se transformavam em pequenos gemidos. A gente ficou de frente uma para outra. Eu levei minha mão para entre suas pernas e comecei a fazer carinho na sua menina. Ela fez o mesmo em mim. Nossos rostos estavam um de frente ao outro, nossos olhares se fixaram. Alguns beijos eram trocados mas não duravam muito porque faltava ar. Meus dedos já a penetravam e a palma da minha mão massageava seus clitóris. Ela fazia o mesmo em mim. Nossas bocas coloram uma na outra, mas sem se tocar. Os gemidos eram baixos e roucos. Nossas mãos foram aumentando a intensidade dos movimentos. Não demorou muito e uma estava gizando na mão da outra. Era incrível a sintonia que a gente tinha. Estávamos ali felizes e relaxadas por causa aquele orgasmo gostoso. Porém não satisfeitas. Aquela noite foi bem longa e entre conversas e carinhos ainda tivemos mais alguns momentos bastante prazerosos.
.
.
Dormimos até tarde no outro dia e passamos o domingo quase todo na minha casa. No início da noite a gente foi até a casa da Kamila buscar suas malas. Ela também me pediu para ir até o trabalho da mãe dela para ela se despedir. Eu fui com ela e fiquei bem emocionada. A mãe dela chorou muito. Me pediu para eu cuidar da filha dela e eu disse que iria fazer tudo que tivesse ao meu alcance para atender seu pedido. Voltamos para minha casa e seguimos para meu quarto. Kamila estava bem triste e eu também. Dormimos abraçadas uma cuidando da outra. Não rolou nada naquela noite, nem tinha clima para isso.
.
.
Na manhã seguinte o táxi nos esperava. Foi difícil me despedir da minha mãe e do meu pai. Mas mesmo com lágrimas escorrendo pelo meu rosto eu saí dali com destino a rodoviária. Lá pegamos o ônibus que nos levaria até a capital. Eu não sabia ainda o que ia acontecer, mas eu tinha esperança de mudar minha vida para melhor e torcia para que Kamila fizesse o mesmo. Estávamos prestes a iniciar um novo momento das nossas vidas. Mesmo que eu já fosse adulta, eu me senti assim pela primeira vez na vida. Outra cidade, outro emprego e muito mais responsabilidades. Agora não tinha mais minha família do meu lado. Era eu e a maluca da minha amiga. Que Deus nos ajude 🙏🏻
.
.
Continua..
.
.
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper