Acordei no outro dia já com a Carol no quarto. Ela veio me dar um beijo de bom dia e depois foi buscar meu café. Fizemos nossa rotina de exercícios e caminhadas no corredor. Almoçamos e seguimos para a psicóloga. Expliquei a ela sobre o que aconteceu comigo quando recebi os presentes de Rafaela. Ela disse que não tinha como determinar quando a minha amnésia começou, que poderia ser sim no momento do acidente, mas poderia ser no momento que acordei. Meu cérebro provavelmente estava querendo me proteger de alguma coisa, mas isso ainda era um mistério para nós duas. Ela disse que a lembrança com Rafaela poderia ter acontecido ou não, para tirar qualquer conclusão sobre ela a gente teria que ter certeza primeiro se ela era verdadeira ou não. Eu disse que iria pedir para Marina perguntar a Rafaela se isso aconteceu. Ela disse que podia resolver isso naquele momento. Ela pediu para eu repetir o que eu lembrei com todos os detalhes possíveis. Eu fiz isso e ela foi prestando bastante atenção. Depois se levantou e disse que já voltava.
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Eu fiquei ali esperando e logo ela retornou. Ela disse que minha lembrança era real, que falou com Rafaela pelo celular e ela confirmou. Eu perguntei como a tal voz sabia disso. Ela disse que se minha amnésia se iniciou quando eu saí do coma, a minha mente poderia ter criado isso. Eu falei que fazia sentido, mas porque eu lembrava da voz se caso a amnésia começou quando eu acordei. Ela falou que era uma boa pergunta e não sabia me responder com exatidão. Ela disse que isso tudo era um mistério para ela também. Que ela não podia me afirmar se essa voz era real ou não e nem o momento que minha amnésia começou. Mas que no momento era importante a gente focar em recuperar minha memória e descobrir o motivo de eu tê-las perdido. Quando isso acontecesse eu poderia ter acesso a todas as coisas que aconteceram enquanto eu estava em coma. Com minhas memórias de volta e essas informações eu talvez poderia ter as respostas para todas minhas dúvidas. Eu pensei um pouco e cheguei a conclusão de que ela tinha razão. De que iria adiantar eu saber quando começou a minha amnésia ou se aquela voz era real ou não, se eu não sabia de quem era. Falei para ela que iria tentar livrar minha mente daquelas dúvidas e focar no que realmente importava.
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Conversamos mais um pouco e partimos para mais uma regressão. Mais uma vez revivi ótimos momentos, como meu primeiro emprego no escritório da mãe da Marina. Meu primeiro caso vencido trabalhando sozinha. A festa de nomeação da Marina como vice-presidente da empresa da família. A festa surpresa do meu aniversário de 30 anos. Meu primeiro carro. Foram muitos momentos bons. O melhor foi da Mãe da Marina me colocando à frente do seu escritório e decretando sua aposentadoria. Mas do nada eu estava na academia que eu frequento há algum tempo e alguém bate a mão no meu ombro. Quando olho vejo Michele sorrindo lindamente e me perguntando se eu iria demorar no aparelho. Eu digo que não, que ela poderia esperar ali mesmo que eu já estava fechando minha série. Ela me agradeceu e eu me encantei com o sorriso dela. Eu sai do aparelho e ela me agradeceu. Eu fui fazer outra série em outro aparelho, mas não deixei de admirar a bela mulher que eu tinha acabado de conhecer. Eu notei que ela sempre me dava umas olhadas meio rápidas e um sorriso discreto se formava no seu rosto. Terminamos nossa série quase juntas e eu resolvi ir falar com ela. Quando me aproximei dela o meu corpo paralisou. De novo meu ar começou a faltar. Aquela sensação de pânico tomou conta de mim. Eu fiz o que eu devia fazer e pedi ajuda. Logo o relógio fez barulho e eu acordei no divã ao lado da minha psicóloga.
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E lá estava ela me oferecendo um copo de água novamente. Eu bebi, respirei fundo e ela me perguntou o que tinha acontecido. Eu disse que não sabia, que tudo estava indo bem, até eu resolver ir falar com a Michele. Ela me perguntou se alguma coisa ruim ou traumática aconteceu naquele dia. Eu disse que não, que foi a primeira vez que nós nos falamos. Que eu me lembrava que foi nesse dia que eu fui falar com ela a primeira vez, a gente acabou indo tomar um suco depois e nos demos super bem. Acabou que eu ofereci uma carona para ela. Ela aceitou, conversamos bastante no caminho. Ela me contou que era divorciada e tinha uma filha. Que elas moravam sozinhas e nesse dia mesmo eu conheci a Rafaela no portão da casa delas. Foi um dia incrível, na verdade foi naquele dia que começou nossa paquera e acabou virando um namoro. Eu realmente não entendi o porque eu entrei em pânico. Ela disse que talvez minha mente soubesse de algo que nós não sabíamos.
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Perguntei à psicóloga se eu podia voltar, eu queria prosseguir a sessão. Ela disse que não era aconselhável, que provavelmente eu não iria conseguir continuar. Eu perguntei se tentar poderia prejudicar em algo. Ela disse que não. Eu falei para ela que queria tentar então. Ela pediu para eu me deitar novamente e tentar esvaziar a mente. Eu fiz o que ela pediu e aos poucos eu fui apagando. Lá estava eu de novo indo falar com Michele. Dessa vez eu consegui e o que eu me lembrava realmente aconteceu. Mas com um pequeno esquecimento meu. A gente trocou números de telefone na porta da casa dela. E não paramos de trocar mensagens depois disso.
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Nos víamos na academia, sempre depois dos nossos exercícios íamos tomar um suco e depois eu dava carona a ela. Todo dia eu fazia questão de pedir para ela chamar Rafaela para eu conversar um pouco com ela. Ela era um amor de pessoa, muito linda e muito inteligente, eu me apaixonei por ela. Algumas lembranças eram rápidas e sem muita importância, mas chegou no dia que convidei Michele para ir no meu apartamento. Me lembrei que quando abri a porta eu fiquei hipnotizada com a beleza dela. Era um sábado à noite, Rafaela estava na casa do pai e eu resolvi arriscar tudo naquela noite. Fiz um jantar para nós e jantamos à luz de velas. Ela a todo momento tinha um sorriso lindo no rosto. Depois do jantar a gente foi para sala e tomamos um vinho. Conversamos um pouco e depois fui totalmente sincera com ela. Disse que eu tinha me encantado com ela. Que talvez eu até estivesse confundindo as coisas, mas percebi que ela também estava interessada em mim. Ela sorriu e veio sentar no meu colo. Segurou meu rosto e me deu um dos beijos mais gostosos da minha vida. Depois olhou nos meus olhos e disse que ela também tinha se encantado comigo, mas pediu para a gente ir devagar. Ela disse que sofreu muito no seu casamento e ainda estava um pouco com medo de se envolver com alguém. Mas que realmente estava gostando muito de me conhecer. Que me achava uma mulher linda e incrível.
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Lembranças de noites parecidas vieram à minha mente, alguns almoços e passeios que fizemos. Alguns deles junto com Rafaela que pelo jeito gostou muito de mim, da mesma forma que eu gostei dela. Mas nunca tínhamos passado de beijos e alguns carinhos mais ousados. Eu não queria forçar a barra e deixei as coisas acontecerem no seu tempo. Mas eu cheguei em uma das lembranças que era uma das melhores da minha vida. Em um sábado, ela estava no meu apartamento e perguntou se poderia dormir comigo. Eu claro, aceitei e quando a gente foi para a cama ela pediu para ir ao banheiro. Eu disse que sim e fiquei na cama esperando ela. Quando ela saiu, ela só usava um conjunto de lingerie preto muito lindo. Eu fiquei ali babando olhando ela vir em minha direção e se jogar nos meus braços. Eu revivi cada toque, cada beijo e cada orgasmo que eu tive naquela noite. Michele já tinha ficado com outras mulheres e eu sabia disso. Mas não sabia que ela era tão experiente. Ela me chupava de uma forma tão gostosa que me levava à loucura. Sentir sua língua explorando minha menina foi um dos momentos mais prazerosos da minha vida.
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Ouvir ela gemendo dengosa no meu ouvido era muito bom. Sentir o seus beijos, seu corpo, sua boca e seu gosto me fazia sentir a mulher mais sortuda do mundo. Ver seu corpo se contorcendo de prazer e seu mel escorrer nos meus lábios me fazia sentir completa. Ver ele encaixada entre minhas pernas movendo seu corpo lindo foi uma das cenas mais lindas da minha vida. Sentir seu coração bater acelerado em cima do meu peito foi mágico. Nossos corpos suados e satisfeitos juntos naquela cama foi até hoje o momento mais feliz da minha vida. Ali eu tive certeza que eu estava amando alguém de novo. Eu estava muito feliz, ela era tudo que imaginei e mais um pouco.
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Lembranças de noites incríveis como aquela viraram rotina nas minhas memórias. Momentos de felicidade com ela e Rafaela foram surgindo um atrás do outro. Um dos mais incríveis foi no dia que Rafaela perguntou se podia me chamar de mãe. Eu disse que sim, e perguntei o porquê ela perguntou aquilo. Ela falou que perguntou a sua mamãe o que eu era dela e a mamãe dela disse que eu era uma como uma segunda mãe dela. Então ela iria chamar a primeira mãe de mamãe e a segunda mãe, de mãe. Eu a abracei e minhas lágrimas desceram. Eu já amava muito aquela menina e aquilo mexeu muito comigo. Eu nunca vou esquecer desse momento. Mas teve um momento ruim também. Michele depois de uns cinco meses de namoro disse que iria parar de frequentar a academia. Que ela estava sem trabalho, o dinheiro da pensão era pouco e o custo de vida estava muito alto. Eu na época ganhava bem mas tinha acabado de comprar um carro novo e foi muito caro. Eu também estava juntando dinheiro para pagar o apartamento da Marina. Ela nunca me cobrou aluguel e nem quis me vender o apartamento, mas eu queria pagar a ela. Eu tinha condições agora. Era muito justo eu fazer isso. Eu não pude ajudar muito, mas mesmo contra a vontade de Michele eu fiz uma compra enorme e dei para ela.
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A lembrança do meu aniversário, foi tudo lindo. Michele me deu um par de alianças durante o jantar em um belo restaurante no centro da cidade. Eram bem simples , ela me pediu perdão por não comprar algo caro, mas que queria que mesmo que o valor fosse mínimo elas tivessem um valor sentimental enorme para nós duas. Que fosse nossas alianças de compromisso, que representasse o amor que a gente sentia uma pela outra. Nossa, foi incrível ver ela colocando a aliança no meu dedo. A gente teve um jantar incrível e uma noite mais incrível ainda no meu apartamento. Acordei de manhã com ela do meu lado. Eu sabia que eu tinha algo importante para falar com ela, mas o que era? Eu não conseguia me lembrar, começou a me dar aquele desespero de novo. Meu ar começou a sumir, eu pedi ajuda. Eu não ouvi a minha voz da consciência, eu queria sair dali mas não conseguia. Tentei me mover, mas eu não tinha forças para sair do lugar. Eu não estava conseguindo respirar e minhas vistas ficaram escuras. Eu simplesmente apaguei.
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Acordei com minha psicóloga me olhando com uma cara assustada. Me perguntando se eu estava bem. Eu só tive forças para abraçar ela e chorar, mas chorar muito mesmo. Meu choro era de desespero e eu não sabia o motivo, eu só queria chorar. Meu choro foi tão forte que Carol ouviu do lado de fora e entrou na sala. Eu fui tentando me acalmar, mas estava difícil. Carol colocou a mão na boca e me olhou assustada. Eu comecei a sentir uma dor forte no meu peito, minha respiração começou a falhar de novo. Minha psicóloga se afastou de mim um pouco e perguntou o que eu tinha, mas eu não consegui responder porque faltava ar. Eu coloquei a mão no meu peito porque estava doendo muito. Ouvi minha psicóloga pedir para Carol chamar o Dr° Carlos rápido. Carol saiu correndo pela porta e minha psicóloga me deitou de novo. Ela começou a fazer massagem cardíaca no meu peito. Eu já não estava conseguindo manter meus olhos abertos. Eu tentava respirar, mas a dificuldade era enorme. De repente eu escuto passos chegando perto de mim. Alguém chegou e perguntou o que tinha acontecido. Quando eu ouvi aquela voz eu quase não acreditei.
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Não pode ser, era ela sim. Mais uma vez meu anjo estava ali para tentar me salvar. E agora eu estava vendo o seu rosto. Eu levantei meu braço e tentei tocar aquele rosto lindo, mas não deu tempo. Minha visão escureceu e eu apaguei olhando aqueles olhos azuis lindos olhando para mim.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper