Quando minha esposa chega em casa, minha filha entrega o bilhete de despedida onde digo que sai de casa porque havia me apaixonado por outra pessoa.
A princípio minha esposa acha que é brincadeira, uma pegadinha. Mas quando entra no quarto e vê que todas minhas roupas não estavam mais ali ela senta na cama e se põem a pensar no ocorrido.
Tem coisa errada nesta história.
Que tempo ele tinha para ter uma amante?
Ele saia todos os dias de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Eu com frequência mexia no celular dele que estava sempre desbloqueado, nunca teve nada ali além de trabalho.
Não tem como isso...
Minha sogra que acho que minha partida de casa tinha haver com ela (achou que fiz isso para ficar com ela) começou a botar lenha na fogueira.
A minha filha, homem é assim mesmo. Para fazer sacanagem eles arranjam tempo. Por certo deve ser alguém que trabalha com ele. Sempre tem aquela saidinha no horário do almoço...
Filho da puta, eu nunca desconfiei de nada...
É mãe (minha filha também botando lenha) acho que é bola pra frente. A melhor coisa que a senhora tem que fazer é achar outro homem bem bonitão para esfregar na cara dele.
Minha esposa pegou o telefone e tentou ligar para mim, porém sem sucesso. Eu havia trocado o número. Também havia bloqueado ela no WhatsApp.
Então ligou para Marta, uma amiga/cliente dela que trabalha na mesma empresa que eu.
Marta foi categórica ao dizer que isso era impossível. Que não havia ninguém por lá que se enquadrasse na possibilidade de ser minha amante e que achava estranha esta história, pois eu não parecia ser o tipo de homem assim. Pois era sério e sempre profissional. Mas ficaria de olho em mim e caso soubesse de algo lhe falaria.
Minha esposa então fez algo totalmente fora do esperado por todos. Nunca ninguém vai saber o porquê ela fez isso. Se foi sexto sentido feminino ou ela já vinha desconfiando de algo, mas ela ligou o computador e acessou um programa de vigilância por câmeras que ela instalou para monitorar seu salão de beleza. O que ninguém sabia, muito menos eu, era que ela tinha uma câmera escondida no quarto, instalada a muito tempo atrás quando ela desconfiava que a empregada/diarista estava roubando joias dela que simplesmente sumiram sem deixar rastros. Mesmo sem acessar as gravações a muito tempo, o programa continuava ativo, armazenando imagens 24h por dia durante 30 dias e após isso as imagens eram deletadas automaticamente para não sobrecarregar a memória.
Ela passa a olhar as gravações da câmera instalada no quarto e se depara horrorizada com toda a verdade.
A esta altura minha filha e minha sogra já havia fugido de fininho de casa apavoradas com o que poderia acontecer com este desdobramento inesperado.
Ambas foram parar lá em casa tensas e a me relatar todo o ocorrido.
Eu só coloquei as mão na cabeça exclamando “Meu Deus”.
Ninguém conseguiu dormir aquela noite. Tudo que pensávamos era no escândalo familiar que isso iria causar. Nós três seriamos transformados em Párias perante a família e amigos.
Haviam se passado 3 dias e nada de nenhum de nós receber qualquer notícia sobre minha esposa. Tanto minha sogra quanto minha filha precisavam de roupas, pois saíram de casa só com a roupa do corpo. Mas nenhum de nós tinha coragem de ir lá buscar. Então preferi dar meu cartão de crédito para elas saírem e comprarem algumas coisas.
Sexo? Nem pensar. Dormíamos nós 3 apertados na única cama que havia na casa que eu havia locado.
Uma semana, duas semanas, três semanas... nada de notícias. Minhas férias estavam acabando e tinha que voltar a trabalhar.
Assim que chego na empresa sou abordado por Marta, amiga/cliente de minha esposa.
Cara, onde diabos você se meteu? Estamos a 3 semanas atrás de você e seu telefone sempre desligado.
Eu troquei de número...
E cadê sua filha? Sua sogra?
Eu estranhei a pergunta dela... Aconteceu alguma coisa Marta?
Cara sua esposa cometeu suicídio faz 3 semanas. A única pessoa da família que conseguimos contato foi a sua mãe. Ela que teve que providenciar o enterro. Até boletim de ocorrência por desaparecimento foi aberto para ver se encontrávamos vocês.
Foi como se roubassem o chão de meus pés. Eu desabei de joelhos ao chão sentido uma dor profunda no peito. Comecei a ter palpitações e faltava-me o ar. Uma ambulância foi chamada com urgência. Fui levado as pressas para o hospital. Queria ter morrido.
Liguei para minha mãe para saber do enterro. Ela primeiro me xingou muito e depois me contou todos os detalhes. Minha esposa foi encontrada morta no dia seguinte ao suicídio. Minha vizinha estranhou a porta do apartamento aberta, adentrou o ambiente e encontrou minha esposa com os dois pulsos cortados. Chamou a polícia e ninguém conseguiu contato comigo nem com ninguém. Ela (minha mãe) foi contatada 1 semana depois quando o corpo dela estava no IML e precisavam tirar ele de lá. Ela teve que providenciar um enterro simples e sem cerimônia pois não tinha contato de ninguém.
Todos nós 3 (eu, minha filha e sogra) passamos por terapia.
Foi sugerido a todos nós que ficássemos separados e sem contato. Afim de auxiliar na recuperação e sobre tudo, encerrar aquela relação errática que tivemos.
Minha sogra voltou para o Paraná para morar de favor com sua irmã. Eu fiquei morando na casa que havia alugado e comecei a procurar empregos em outros estados do Brasil. Minha filha ficou morando sozinha em nossa casa. Eu mandava todos os meses um pix para auxiliar ela nas despesas.
A vida se seguiu trôpega após isso.
Eu não tinha mais contato com nenhuma delas. Não que me culpassem pela tragédia. Pois sabiam perfeitamente que todos nós éramos responsáveis pelo ocorrido. A quebra permanente de contato foi necessária para tentar esquecer o evento traumático. A única certeza que tenho é que prestarei contas pelo que fiz, seja em vida ou na morte.
Após algum tempo, surgiu uma oportunidade de trabalho e optei por me mudar para o interior de São Paulo afim de ficar longe te tudo e de todos. Me tornei um homem solitário, triste e amargurado. Não tive relações sexuais com ninguém por muito tempo.
Eu continuava o tratamento psicológico. Achava importante. As vezes ia a consulta e nem falava nada. Apenas me deitava no divã e chorava.
Eu sentia muita saudades de minha família. De minha filha e principalmente de minha falecida esposa.
A História contínua...