Eu acordei meio sem saber onde eu estava. Quando abri os olhos vi Carol do meu lado. Assim que ela viu meus olhos se abrirem, me deu um beijo na testa e se levantou. Eu ouvi ela chamar a Marina. Quando levantei a cabeça vi Marina se levantar do sofá. Provavelmente ela tinha dormido ali. Ela se levantou depressa e veio até onde eu estava. Eu a abracei e percebi que aquilo não era um pesadelo. Eu realmente estava em um hospital. Meus olhos já começaram a se encher de lágrimas.
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Aline: Porque ela fez isso comigo Marina? Porque? Eu não merecia isso não!!!
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Marina: Como assim?
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Aline: Eu me lembro de tudo Marina. De tudo!!!
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Marina: Meu Deus, você se lembrou?
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Aline: Sim, mas eu queria esquecer! Como ela teve coragem de fazer isso comigo? Meu Deus, eu fiz de tudo para ela! Como eu pude ser tão idiota assim!?!
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Marina não falou nada e só me abraçou forte. Eu sentia uma dor, um ódio e um nojo tão grande que eu queria sumir naquele momento. Meu mundo tinha sido destruído em pedacinhos. Eu só chorava e Marina tentava me acalmar. Mas no meio daquela dor eu me lembrei de algo bom. Me afastei da minha amiga e limpei meu rosto. Eles não mereciam nem uma lágrima se quer minha. A dor da traição era forte, mas o ódio que eu sentia era maior. Eu não iria chorar, eu iria acabar com a raça deles como eles fizeram comigo. Mas antes eu tinha outra coisa para resolver. No meio da escuridão surgiu uma luz e eu queria vê-la.
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Aline: Cadê a doutora? Preciso ver ela.
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Marina: A sua médica ainda não chegou.
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Aline: Não é minha médica. É a loira, a dona da voz. Eu a vi, Marina, ela existe. Foi ela que me salvou de novo.
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Marina: Você se lembra dela?
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Aline: Lembro, foi o último rosto que eu vi antes de tudo se apagar. E isso aconteceu duas vezes. Por favor, chame ela para mim.
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Marina: Duas vezes?
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Aline: Sim, no dia que ela me atropelou e na hora que desmaiei na sala da psicóloga.
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Marina: Meu Deus você se lembra mesmo! Eu sinto muito, mas ela não pode vir te ver minha amiga.
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Aline: Porque não? Ela cuidou de mim.. Espera, a quanto tempo eu dormi dessa vez?
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Marina: Calma. Você só dormiu de ontem para hoje. Mas é que ela não pode se aproximar de você, ontem foi uma emergência porque o Dr° Carlos não estava disponível.
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Aline: Mas eu já me lembrei de tudo,eu posso vê-la agora.
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Marina: Não é isso, é que tem uma ordem de restrição contra ela. Ela não pode ficar no mesmo ambiente que você aqui no hospital. E não pode chegar a menos de cem metros de você lá fora. Você é advogada, você sabe do que estou falando.
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Aline: Como assim uma ordem de restrição?
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Marina: Sua mãe e seu irmão que pediram, eles estão processando a Drª Carla por causa do acidente. O advogado deles pediu a ordem e o juiz aceitou.
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Aline: Aquelas desgraçados! Eu vou fuder com a vida deles!
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Marina: Calma, eu já fiz isso para você. Agora respira e vamos com calma por favor. Deixa eles para lá no momento. Eu vou te contar tudo que aconteceu enquanto você estava em coma. O pessoal do escritório já tentou derrubar a ordem de restrição, mas você sabe como é a justiça no Brasil. Só tenha um pouco de paciência.
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Aline: Tudo bem, eu vou me acalmar, mas como você disse, eu sou advogada. Eu estou pedindo para ver a Drª Carla. Isso não vai dar problema algum para ela. Por favor, minha amiga. Me ajuda.
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Carol: Deixa que eu ajudo. Vou chamá-la para você e explicar tudo. Se ela decidir vir logo eu volto com ela.
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Aline: Obrigada Carol. Acho que vou trocar de melhor amiga.
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Marina: Ah sua ingrata!!!
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Aline: Estou brincando sua idiota. Kkkkkkkkkkk Você sabe que eu te amo e nunca faria isso! Por falar nisso, me desculpe, eu sei que eu deveria ter te dado mais atenção. Eu fiquei cega e negligenciei nossa amizade. Eu sinto muito.
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Marina: Está tudo bem. Eu devia ter engolido meu orgulho e ter cuidado mais de você. Nós duas erramos feio. Vamos esquecer isso tá bom. Eu amo você!
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Aline: Eu também te amo muito!
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Depois de um tempo eu ouvi a porta se abrir e Carol entrar. Logo atrás dela a pessoa que eu mais queria ver naquele momento. Carla, era um nome bem apropriado já que o do irmão era Carlos. Agora tudo fazia sentido. Eles com certeza eram gêmeos. A semelhança era enorme. Ela veio caminhando lentamente na minha direção, como ela era linda! Acho que ela estava um pouco preocupada. Eu abri um sorriso para deixar ela mais calma e ela chegou até a beirada da minha cama.
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Carla: Você está melhor?
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Aline: Por favor, você pode me dar um abraço?
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Carla:Claro!
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Ela abriu os braços e eu encaixei meu corpo no dela. Ela tinha um cheiro muito bom. Eu disse vários obrigados no seu ouvido. Ela dizia que estava tudo bem, que não precisava agradecer, já que ela tinha culpa por eu estar ali naquela cama. Eu me afastei dela e disse que ela não teve culpa de nada. Que eu praticamente entrei na frente do seu carro e só não morri porque ela me socorreu. Eu vi seus olhos se encherem de lágrimas. Acho que ouvir aquilo da minha boca foi um alívio para ela. Ela me abraçou de novo e me apertou forte. Eu perguntei se ela poderia conversar comigo um pouco. Que eu tinha algumas coisas para falar com ela. Ela disse que podia, mas não devia. Que eu precisava falar com a psicóloga antes. Depois ela poderia esclarecer qualquer dúvida que eu tivesse. Eu não gostei, mas eu entendi e disse que tudo bem. Ela provavelmente percebeu minha cara de decepção e disse para eu ter só mais um pouco de paciência. Eu disse para ela que eu entendia e iria ter sim. Ela disse que precisava ir porque tinha muito trabalho, mas que assim que eu saísse da psicóloga ela voltaria.
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Ela saiu e eu fiquei ali com um sorriso do tamanho do mundo no rosto. Carol já deu um sorriso e disse que pelo jeito tinha gente apaixonada. Eu só sorri para ela e nem tentei negar. Eu estava encantada com Carla, não sei explicar, mas eu sentia que a gente de alguma forma tinha uma ligação muito forte. Perguntei à Carol se a gente podia ir na psicóloga e ela disse que só depois do almoço. Olhei as horas e ainda eram nove e pouca da manhã. Chamei Marina e perguntei se ela sabia se meu celular tinha sobrevivido ao acidente. Ela disse que sim, mas infelizmente ele foi levado pela minha mãe, junto com minha bolsa e todos os meus documentos.
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Aline: Como assim? Porque minha mãe pegou minhas coisas?
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Marina: Minha amiga aconteceu muita coisa enquanto você dormia. Mas já está quase tudo resolvido. Mas pelo que a Drª Carla falou é melhor você conversar com sua psicóloga primeiro.
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Aline: Pelo jeito não foi coisas boas né?
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Marina: Não, na verdade foi só coisa ruim, mas como eu disse, já foi quase tudo resolvido. Você não tem mais motivos para se preocupar, você precisa é ficar boa logo e sair daqui. Então você continua suas sessões com a psicóloga, quando ela falar que você tem condições de saber de tudo eu te conto. Pode ser assim?
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Aline: Pode sim. É você tem razão, eu preciso sair daqui, isso tem que ser minha prioridade!
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Ficamos ali conversando, na verdade mais as duas. Eu não tirava a imagem da Carla da minha cabeça. E olha que eu tinha acabado de me lembrar de algo que eu nem tinha palavras para descrever o quão terrível foi. Mas eu só conseguia lembrar do cheiro e do sorriso daquela mulher. A voz dela era realmente idêntica à que eu lembrava. E não era só a voz dela que era de anjo, o rosto também era. Meu Deus que mulher linda ela era. Eu nem ouvia o que as duas estavam falando. Eu parecia estar em outra órbita. Eu não sei o que ela fez comigo, mas eu fiquei totalmente encantada com ela. A voz era real, eu estava muito feliz por não ser algo da minha cabeça. Mas se a voz era verdadeira, provavelmente os toques também eram, e o beijo que senti nos meus lábios provavelmente era também. Nessa hora meu coração disparou. Será que ela gosta de mim?
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Foi tirada dos meus pensamentos com o barulho da porta do quarto. Eu não podia ver quem era porque Carol estava na minha frente. Ouvi uma voz feminina pedindo desculpas por incomodar e depois perguntou se a mãe dela não estava naquele quarto. Carol perguntou quem era a mãe dela. Ela disse que era a filha da Drª Carla. Carol disse que a mãe dela esteve ali, mas já tinha saído há um bom tempo. Quando eu ouvi ela dizer que era filha da Drª Carla eu cheguei meu corpo para frente para ver o rosto dela e ela me viu. Ela primeiro fez uma cara de espanto. Depois veio caminhando em minha direção e olhando com curiosidade. Ela era uma garota muito bonita. Morena clara e com um par de olhos azuis iguais aos da mãe e do tio. Ela devia ter uns 18 ou 19 anos no máximo. Fiquei sem saber como agir com sua aproximação.
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Garota: Me desculpe, mas você é a Aline?
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Aline: Sim, sou eu sim. A gente se conhece?
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Garota: Não. Pode ficar tranquila que não nos conhecemos não. Meu nome é Paula, sou filha de uma das médicas aqui do hospital. Você está melhor?
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Aline: Muito prazer Paula. Eu estou bem sim, não se preocupe. Eu ouvi você dizer que você é filha da Drª Carla. Sua mãe é uma ótima pessoa.
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Nessa hora ela ficou meio sem entender, acho que ela não sabia das novidades e sua pergunta na sequência deixou isso claro.
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Paula: Você sabe quem é minha mãe?
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Aline: Sim, eu sei. Pela sua cara a sua mãe deve ter falado que eu sofri amnésia. Mas eu recuperei minha memória. Sei que foi sua mãe que me atropelou e que ela que me trouxe para o hospital. Conversei com ela agora a pouco. Está tudo bem. Sei que minha família processou sua mãe e eu sinto muito por isso. Mas assim que eu puder vou resolver isso tudo.
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Paula: Fico muito feliz de ouvir isso. Minha mãe ficou muito preocupada com você esse tempo. Ela ficou muito feliz quando você acordou do coma. Não sei se ela te contou, mas ela vinha quase todas as noites te ver quando você ainda estava dormindo. Acho que nunca vi ela tão preocupada com uma paciente, como ela se preocupou por você. Ela falava o seu nome o tempo todo. Talvez seja por causa do acidente ou talvez ela goste muito de você mesmo. Eu não sei, mas aposto que ela está muito feliz por você ter recuperado sua memória.
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Aline: Sua mãe é muito especial, eu acho que só estou viva por causa dela. Ainda não pude conversar com ela direito, mas já agradeci por tudo que ela fez por mim e prendendo agradecer novamente.
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Paula: Que bom que você é diferente da sua família. Você me parece ser uma ótima pessoa e vou torcer muito para você sair logo daqui.
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Aline: Obrigada. Pode ter certeza que eu sou muito diferente da minha família. Posso saber como você me reconheceu?
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Paula: Minha mãe me mostrou o seu Instagram e ela tem uma foto sua fazendo exercícios também. Bom eu preciso ir. Foi bom te conhecer.
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Aline: Foi bom te conhecer também, Paula. Espero te ver novamente.
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Ela se despediu das meninas e se foi. Assim que ela passou pela porta, eu olhei para Carol e disse a ela que a mulher da janela era a Drª Carla. Ela pensou um pouco e disse que fazia sentido, já que ela tinha uma foto minha fazendo exercícios. Marina também concordou com nós duas e as duas achavam que a Carla podia realmente gostar de mim. Eu disse que gostaria muito que isso fosse verdade. Perguntei a Carol se ela não a conhecia. Carol disse que já tinha visto ela no hospital algumas vezes, mas que geralmente ela ficava a noite e o Carlos durante o dia, então nunca tinha nem falado com ela. Nisso eu me lembrei de Maria. Ela com certeza conhecia bem. Provavelmente sabia das visitas da Carla no meu antigo quarto. Mas isso eu descobriria à noite. Uma coisa de cada vez, e no momento eu precisava almoçar é ir ver minha psicóloga.
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Depois do almoço eu fui para sala da psicóloga. Marina tinha ido para casa e Carol foi comigo. Provavelmente minha psicóloga iria querer saber de tudo que eu lembrei. Estava na hora de eu exorcizar meus fantasmas. Relembrar o que eu passei não seria fácil, mas se eu precisasse fazer aquilo para poder sair daquele hospital, eu iria fazer.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper