Minha psicóloga me contou que ficou sabendo que eu recuperei a memória através da Carla. Que ela estava em casa e Carla ligou perguntamos se teria problema ir te ver e contou as novidades. Ela disse que ficou muito feliz por mim e que provavelmente eu já sabia ou desconfiava o motivo do meu trauma. Eu disse a ela que sim, que eu tinha quase certeza que era por causa da minha ex namorada. Ela pediu para eu contar tudo que aconteceu. Eu respirei fundo e comecei a contar a ela os detalhes mais importantes do que aconteceu a partir do momento que eu travei na última sessão. Foi exatamente na manhã que cometi o maior erro da minha vida e esse erro levou a uma sucessão de erros. Eu chamei Michele para vir morar comigo.
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Ela ficou muito feliz quando a convidei, mas depois perguntou se eu tinha certeza disso, porque não era só ela, tinha a Rafaela também. Eu disse que sim, que eu amava as duas e queria ter elas ali comigo. Assim ela se livraria do aluguel e como Rafaela ficava na escolinha o dia todo, ela poderia arrumar um trabalho. Ela topou e naquela mesma semana a gente fez a mudança. Já no dia da mudança eu percebi algo que eu não deveria ter ignorado. Michele tinha muitas roupas, bolsas e sapatos caros. Ela poderia ter vendido alguns para ajudar no momento de aperto que ela e a filha passaram. Mas acabei deixando aquilo de lado. Seguimos nossa vida e de início foi uma maravilha. Eu tinha meu pedaço do céu ali naquele apartamento com ela e com Rafaela. A menina era muito grudada comigo e eu com ela. Nos finais de semana o pai dela buscava ela no sábado de manhã e devolvia ela no domingo no fim da tarde. Eu até então não o conhecia. Michele não gostava muito de falar dele e sobre o seu casamento.
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Em um dia de domingo eu e Michele tinha feito amor quase a tarde toda e acabamos dormindo. Acordei com meu telefone tocando. Atendi rápido e sai da cama para não acordar Michele. Era a voz de um homem pedindo para eu descer para pegar Rafaela, já que o celular da mãe dela só dava desligado. Imaginei que era o pai da Rafaela e disse que já estava indo. Desci e era realmente ele. Rafaela veio correndo para o meus braços me chamando de mãe. O pai dela se aproximou e pediu desculpas por ter ligado no meu celular. Ele disse que o da Michele não atendia. Eu falei que não tinha problema algum e pedi desculpas por não ter ninguém ali esperando a Rafaela. Expliquei que acabamos pegando no sono. Ele disse que não tinha problema algum. Me entregou a mochila da Rafaela que deu um belo abraço nele e um beijo bem demorado no rosto. Pelo jeito ela gostava muito do pai. Eu por curiosidade perguntei como ele tinha meu número. Ele disse que não sabia, mas Rafaela tinha ele em um papel no bolso da mochila dela. Eu me despedi dele e disse para ele salvar meu número se caso ele quisesse. Poderia ser útil no futuro. Ele disse que iria salvar sim e pediu para eu salvar o dele pelo mesmo motivo. Ele foi muito simpático comigo, para um homem que acabou de conhecer a atual da sua ex, ele muito gentil. Eu gostei do jeito dele. Nos despedimos e eu subi com Rafaela. Olhei nos bolsos da mochila e realmente tinha um papel com meu número. Na verdade tinha o número da mamãe e o número da mãe. Provavelmente foi Michele que tinha colocado ali para ela usar em uma emergência ou algo assim. Eu achei fofo.
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Quando cheguei no meu apartamento Michele tinha acabado de levantar. Quando me viu com Rafaela nos braços ela fez uma cara muito estranha. Veio até nós e pegou sua filha. Falou para ela ir tomar banho que ela ia conversar comigo e já iria ajudar ela. Rafaela se foi e Michele me perguntou porque eu não a chamei. Eu disse que atendi o telefone e sai da cama para não acordar-lá. Só depois que sai que notei que era o pai da Rafaela, como eu já estava na sala, só desci rápido e busquei ela. Michele me perguntou se eu tinha conversado com o pai da Rafaela e eu disse que sim. Que ele era muito simpático e a gente tinha até trocado números de telefone. Michele ficou furiosa e disse que não queria eu falando com o ex dela. Eu realmente não entendi na hora e perguntei o motivo. Ela pensou um pouco e chamou para sentar no sofá. Ela disse que ele era um homem, violento, machista e homofóbico. Que o jeito simpático era só fachada dele. Que ele foi um bom marido no início mas quando descobriu que ela já tinha ficado com uma mulher ele mudou muito. Começou a brigar com ela, que em toda chance que tinha xingava ela e que uma vez chegou bêbado em casa e a agrediu. Que a gota d'água foi o dia que ele deu um tapa na Rafaela sem motivo algum. Então ela saiu de casa e nunca mais voltou. Que sofreu muito durante o divórcio porque ele não tinha nada no nome dele, os bens dele estavam todos no nome do irmão. No fim ela não teve direito a nada e só recebia uma porcaria de pensão que mal dava para ela sustentar a filha.
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Eu fiquei com muito ódio naquele momento. Falei para ela que ia correr atrás dos direitos dela. Eu era uma ótima advogada e poderia ajudar. Só pelo carro que ele estava, dava para ver que ele era um homem bem de vida. Michele pediu pelo amor de Deus para eu não fazer isso. Que o importante é que ela tinha se separado. Que agora ela e a Rafaela tinham a mim na vida delas. Ela não queria problemas com o ex porque quem poderia sofrer com isso era a filha. Eu não achei justo, mas ela me fez prometer que ia me manter longe dele e esquecer qualquer coisa sobre ele. Eu prometi e cumpri. Mas a partir daquele dia eu peguei ódio daquele homem.
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O tempo foi passando e as coisas indo bem. Eu não saia mais e até parei de ir na casa da Marina. Ela me ligou um dia reclamando disso e marquei um jantar na minha casa. Ela já conhecia Michele e Rafaela, mas por fotos. Nossas vidas estavam muito corridas na época. Ela já estava à frente dos negócios da família e eu do escritório da mãe dela. A gente só se via rápido quando eu ia até a casa deles na sexta depois do trabalho. Mas depois que comecei a namorar sério eu fui diminuindo essas visitas. Mas como Marina ligou reclamando eu a convenci de vir jantar com a gente na sexta à noite. O jantar correu bem, Michele tratou Marina muito bem e Mariana pareceu gostar muito de Rafaela. Quando fui levar ela até a saída eu perguntei o que ela tinha achado delas. Ela disse que amou Rafaela, mas sinceramente não foi com a cara da Michele. Ela disse que não sabia o porquê, e se desculpou por me falar aquilo, mas não iria mentir para mim. Ela não gostou nem um pouco da minha namorada. Eu fiquei bem triste já que Marina era minha melhor amiga e Michele minha namorada. Mas Marina ainda disse mais. Ela falou que eu devia ter conhecido ela melhor antes de trazer ela para morar junto comigo. Mas como eu já tinha feito isso, não adiantava ela dar conselhos. Disse que não iria se meter, mas falou para eu tomar cuidado porque eu tinha colocado uma estranha dentro da minha casa. Ela se foi e eu fiquei muito triste com aquilo. Eu queria muito que as duas tivessem se dado bem. Mas fazer o que, nem tudo é como a gente quer. Eu devia ter dado mais ouvidos às desconfianças de Marina. Porém não dei e até esqueci daquilo.
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Eu e Marina não nos vimos mais depois daquele dia. A gente se falava direto pelo celular, mas toda vez que eu tocava no nome da Michele, ela mudava de assunto. Achei melhor evitar falar dela. O tempo foi passando e a Michele não arrumou emprego, na verdade ela nunca tocou no assunto. Mas como ela cuidava da casa e eu ganhava bem, eu não me preocupei com isso. Mas chegou o sexto mês que estávamos juntas e aí as coisas começaram a dar errado. Eu estava totalmente apaixonada por ela, então resolvi realizar um dos sonhos dela. Ela sempre dizia que sonhava muito em se casar comigo de papel passado, tudo direitinho. Eu resolvi fazer uma surpresa para ela. Primeiro eu fui em uma joalheria comprar um par de alianças. Escolhi um bem bonito e não foi barato, mas ela merecia. Quando fui pagar com uma transferência bancária, meu saldo não deu. Conferi minha conta no banco e realmente não dava, mas era para dar. Peguei meu cartão de crédito e paguei.
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Fui para casa pensando naquilo. Eu tinha duas contas no banco, uma era para meus gastos pessoais e da casa. Eu praticamente só usava ela. Na outra era onde eu guardava minhas economias, pagava meu carro e juntava o dinheiro para pagar o apartamento que era da Marina. Se ela não aceitasse de jeito nenhum eu iria usar para outra coisa ou para uma emergência. O meu salário ia todo para a conta pessoal e os bônus de casos grandes que eu ganhava, ia para outra conta. Eu ganhava muitos casos e esses bônus eram minha maior renda. Mas eu tinha meu salário fixo que era bem generoso também.
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Como Michele que tomava conta da casa, eu deixava o cartão dessa conta pessoal com ela. Quando estacionei o carro eu entrei no aplicativo do banco e fui olhar com que eu estava gastando tanto dinheiro. Fiquei puta de raiva, Michele estava gastando uma fortuna com roupas, calçados, cremes e perfumes. O pior que eu nem via aquilo na minha casa. Eu subi para meu apartamento muito chateada. Quando entrei coloquei a sacola com a caixinha das alianças dentro de um vaso de decoração que ficava no canto da sala. Eu só iria tirar elas dali se realmente eu achasse que valeria a pena. Fui ao nosso quarto e ela estava dormindo na cama. Eu fui direto na parte do guarda roupas dela e abri. Tinha quase o dobro de vestidos e sapatos que ela trouxe da casa dela. Abri as gavetas e tinha uma coleção de cremes que nem eu tinha. O que me deixou mais chateada é que onde ficava as roupas da Rafaela não tinha aumentado quase nada.
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Quando fechei a porta do guarda roupa eu praticamente bati ela de raiva e Michele acordou. Eu olhei para ela e perguntei onde estava meu cartão de crédito. Ela disse que estava na bolsa dela. Pedi para ela pegar para mim, ela pegou e me entregou. Ela perguntou o que estava acontecendo, eu disse que a partir daquele dia eu iria comprar as coisas da casa. Que se ela quisesse gastar rios de dinheiro com roupas e cremes, era para ela arrumar um trabalho e pagar com dinheiro dela. Saí do quarto e fui para a cozinha. Peguei um copo de água e sentei em uma das cadeiras da mesa da cozinha. Eu estava muito chateada de verdade. Logo Michele chegou com uma carinha triste, se ajoelhou na minha frente e pediu desculpas. Ela disse que não sabia que não podia gastar o que gastou. Que achou que o cartão era para ela usar para comprar coisas para ela também. Respirei fundo e disse que claro que ela podia comprar coisas para ela, mas não gastar rios de dinheiro com coisas que ela não precisava. Ela começou a chorar e pedir desculpas. Prometeu que nunca mais iria gastar nem um centavo sem me falar e disse que iria procurar um emprego. Eu perguntei à ela porque ela não comprava nada para filha. Ela disse que não adiantava porque a Rafaela estava em fase de crescimento. Que as roupas logo não serviriam mais, então ela ia renovando aos poucos. Aquilo realmente fazia sentido.
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Eu Idiota acabei perdoando ela e até devolvi o cartão para ela usar, mas em troca ela deveria arrumar um trabalho. Eu expliquei que eu ganhava bem, mas eu tinha a prestação do carro todo mês e estava juntando dinheiro para pagar o apartamento. Ela já sabia disso e prometeu que dali em diante iria comprar só o necessário para nós. Nas semanas seguintes ela sempre dizia que estava procurando emprego. Eu até ofereci para ajudar, mas ela disse que queria conseguir algo sozinha, com o esforço dela. Eu achei muito legal aquilo e deixei ela fazer o que queria. A gente seguiu nossa vida, mas eu deixei as alianças onde estavam. Eu já não tinha tanta certeza que queria me casar com Michele. Depois de uns 15 dias ela disse que tinha conseguido um trabalho em uma loja perto da academia que a gente frequentava. Eu fiquei muito feliz por ela e na outra semana ela começou no tal trabalho. Ela às vezes chegava meio tarde em casa e eu que cuidava da Rafaela quando ela chegava da escola. Nossa vida sexual não existiu durante aquela semana. No sábado a gente ia na academia na parte da tarde. Eu só ia no sábado, Michele ia quase todos os dias, mas depois que começou o tal trabalho ela nem no sábado quis ir comigo. Na academia eu notei algumas pessoas me olhando meio estranho. Vi uma garota apontar o dedo para mim e sorrir para a amiga que estava do lado. Mas quando ela viu que eu olhei, disfarçou. Mas fiz meus exercícios normalmente e voltei para casa.
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Michele parecia me evitar dentro da casa. A noite ficou na sala vendo TV e acabei dormindo sem ela ter vindo para cama. No domingo ela me pediu se não podia ir na casa de uma amiga que ela fez no trabalho. Ela disse que era uma reunião para ela conhecer melhor suas amigas do trabalho. Ela disse que não iria demorar. Eu disse que tudo bem, mas para ela não esquecer de voltar a tempo de pegar sua filha, porque eu não queria ter que ver a cara do idiota do ex dela. Ela disse que voltaria sim. Mas ela não voltou, eu tive que ir buscar a Rafaela e aconteceu o desentendimento com o pai dela que eu lembrei.
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Depois do desentendimento eu fiquei pensando na maneira que o pai da Rafaela agiu e não fazia sentido. Lembrei do que ele disse quando eu me desculpei. Ele disse que estava tudo bem, que a culpa não era minha. Se não era minha, de quem era? O que será que ele quis dizer com aquilo? Enquanto eu subia para meu apartamento eu fui fazendo carinho na Rafaela e pedindo desculpas pelo que eu fiz. E expliquei que não foi culpa dela. Depois que ela se acalmou eu perguntei se o pai dela era bravo. Ela disse que não, que ele não era, mas às vezes conversava com ela quando ela fazia algo de errado e a colocava de castigo. Perguntei se ela já tinha dado pelo menos um tapa nela, ou gritado com ela. Ela disse que não, que o papai era muito bonzinho e nunca gritaria com ela. Ali eu comecei a duvidar de Michele. Acabou que eu e Rafaela fomos dormir, eu li o início de uma das histórias da inspetora para ela e logo ela apagou. Foi uma das lembranças que recuperei também.
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Michele chegou quase meia noite. Totalmente bêbada, eu fingi que estava dormindo para não xingar ela. No outro dia eu teria uma conversa séria com ela. Acordei no outro dia e ela estava deitada na cama do jeito que chegou. Nem o sapato ela conseguiu tirar. Acordei Rafaela e arrumei ela para ir para a escola. Eu disse que a mãe dela estava com muito sono e ia acordar tarde. Assim que Rafaela entrou na van escolar eu fui trabalhar. Era quase dez horas quando eu resolvi ir ao meu apartamento. Eu nunca ia almoçar em casa, mas eu precisava ter uma conversa séria com Michele. Assim que entrei eu escutei um gemido vindo do quarto. Achei que era Michele passando mal. Mas assim que me aproximei da porta que estava entreaberta eu a vi seminua na nossa cama. Ela estava d4, com um homem atrás dela, fudendo ela. Aquilo foi como uma facada no coração. Mas o pior estava por vir, ao lado da cama tinha umas malas feitas e era as malas dela. Ela estava saindo de casa, ela ia me deixar. Mas o que me destruiu de vez, foi quando eu vi o rosto do homem. Ela estava transando na minha cama com a porcaria do meu irmão. Aquilo foi pior que a morte para mim. Eu só me virei e saí dali totalmente destruída. Nem me lembro direito como saí dali. Eu estava tão transtornada e sem rumo que sai pela portaria do prédio em vez de ir para o estacionamento onde estava meu carro.
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Eu chorava mas não fazia barulho, era um choro silencioso que só podia ser notado se olhasse no meu rosto. No pior momento da minha vida, lembrei da única pessoa que podia me ajudar. Marina, mas não deu tempo de mais nada. Eu ouvi o barulho de uma buzina de um carro e dos pneus queimando no asfalto. Quando olhei só vi o rosto de uma mulher loira com os olhos arregalados e depois eu senti um impacto no meu corpo e apaguei. Bom o resto você sabe.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper