Eu estava deitado de bruços, e sentia suas mãos deslizando pelas minhas costas, enquanto sua boca percorria cada centímetro do meu corpo. Com o rosto afundado no travesseiro, soltei um gemido baixo, e virei o rosto para olhar. Para minha surpresa, lá estavam eles, me observando. Marc e Kadu, pai e filho.
Acordei num susto, ofegante. Apenas um pesadelo. Olhei para o celular novo que Marc havia me dado, notando que o despertador tocaria em alguns minutos. Resolvi me levantar e tomar um banho para afastar aquele sonho perturbador. Era segunda-feira, e além de finalmente encontrar Kadu, eu tinha uma sessão de fotos com Medusa.
Dessa vez, me arrumei com um cuidado especial para a escola. Não usava o uniforme; vesti uma calça preta e uma camisa branca simples, mas com certeza cara – mais uma das peças que Marc insistira em me dar. Coloquei um cordão fino de ouro, também presente dele, e calcei um tênis preto da Adidas.
– Gostoso, mas continua com cara de nerd com esses óculos – murmurei, observando meu reflexo no espelho, tentando mascarar a tensão que latejava sob a imagem.
Após um café rápido com minha mãe – e suas perguntas constantes sobre como meu “emprego” justificava aquelas roupas –, saí de casa. Expliquei que teria uma sessão de fotos, e que ela precisaria assinar a autorização. Não entrei em detalhes sobre Medusa.
No caminho da escola, meu celular vibrou. Marc.
"Quero te ver hoje. Passo para te buscar depois da aula." – Marc
"Tenho um trabalho mais tarde. Hoje não dá." – Respondi
"Não sei se gostei disso. Você não precisa trabalhar. Eu posso resolver sua vida." – Marc
Respirei fundo antes de responder, sentindo o peso das palavras dele.
"Já falamos sobre isso. Eu não sou um garoto de programa. Estou chegando na escola, depois falo com você."
Bloqueei o celular e desci do ônibus, um pouco nervoso com a ideia de Marc me esperando na porta da escola. E se Kadu visse? E Giovanna? Seria um desastre.
Ao me aproximar do portão, encontrei Giovanna, vindo em minha direção.
– Desculpa não ter mandado mensagem no fim de semana – disse ela, me abraçando. – Briguei com minha mãe e joguei meu celular na parede. Vou comprar outro hoje, saindo da aula. Vamos ao shopping comigo?
– Amiga, eu tenho um trabalho hoje, uma sessão de fotos e...
– Por isso você tá tão arrumado, né? – Ela riu, analisando o meu look. – Onde você conseguiu esse “trampo”? Também quero um pra esfregar na cara do meu pai.
– Ah, amiga... – desviei o olhar, um tanto nervoso, tentando fugir do assunto. Imagina se ela descobre que eu quase fui empurrado a outro “tipo” de trabalho? – Comecei como garçom, e...
De repente, senti alguém me abraçando por trás, e claro, era Kadu, com seus seguranças sempre por perto. Os gêmeos se entreolharam e ficaram vermelhos.
– Precisamos conversar – sussurrou Kadu ao pé do meu ouvido.
– Já tô saindo – disse Giovanna, erguendo as mãos em rendição, antes de chamar os gêmeos com ela. – Vocês, comigo!
Olhei para Kadu e sorri.
– Agora você já chega me agarrando? – perguntei.
– Passei o fim de semana todo pensando em você – ele respondeu, aspirando meu perfume. – Quase fui na sua casa.
– Kadu, a gente precisa conversar – disse, olhando em seus olhos, com um aperto doloroso no coração.
Ele pareceu confuso.
– Você... não gostou de ficar comigo?
– Não é isso. Eu gostei. E muito! – respondi, sincero.
– Então, por que essa cara de quem vai me dar um fora?
Suspirei, tentando encontrar as palavras certas.
– É que eu... eu não tô pronto. Não quero me assumir pra minha mãe agora. Quero focar nos estudos, conseguir um emprego...
– Você quer ficar escondido? – Ele abriu um sorriso, como se aquilo fosse um alívio. – Eu entendo. Podemos ficar escondidos! Não vou te forçar a nada.
Mas antes que eu pudesse completar, ele me puxou para um beijo ali, no meio do pátio. Meu rosto ardeu de vergonha, e eu ouvi risadinhas de meninas ao redor.
– Eu acabei de te dizer que não estou pronto, e você me beija assim na frente da escola toda?! – protestei, meio irritado, meio rindo.
– Você disse que não tá pronto pra contar pra sua mãe. Qual foi, Yago? Se você gostou e eu gostei, por que não podemos simplesmente ficar juntos?
Aquele menino me desmontava. Aquele sorriso bobo, aquele jeito de aluno merdeiro e engraçadinho, aquele corpo lindo... Por que eu tinha que ter conhecido o pai dele? Se não fosse por Marc, a gente talvez tivesse uma chance de verdade.
Kadu me olhava com um sorriso brincalhão, e de repente, sem qualquer aviso, ele se ajoelhou no meio do pátio, chamando a atenção de todos ao redor. Eu só tive tempo de arregalar os olhos e sentir o sangue correr quente para o rosto.
— YAGO… — ele começou, com uma voz quase teatral, mas logo parou e perguntou baixinho — Qual é o seu sobrenome mesmo?
Senti a vergonha me consumir. Ao meu redor, algumas pessoas já começavam a rir e cochichar. Eu tentei puxa-lo para se levantar, mas ele nem se mexeu.
— Levanta, Kadu! — falei entre os dentes, tentando manter a compostura. — Eu aceito, a gente fica ou… ou sei lá o que você quer, só levanta daí agora!
Ele deu uma gargalhada, se levantou e me deu um selinho rápido, como se não tivesse acabado de fazer uma cena no meio da escola. Ele parecia se divertir vendo o quanto eu estava sem graça.
— Tão fácil, Yago. — ele brincou, sorrindo com aquele ar de menino arteiro. — Mas tá bom, então. Vou caçar Greg e Nicholas pra ir pra aula, se não, eles vão me matar por estar te monopolizando.
Ainda rindo, Kadu se afastou em direção aos amigos, e eu aproveitei a pausa para tentar me recompor antes de seguir para a minha sala. O calor no rosto ainda não tinha passado, e eu sabia que provavelmente estaria vermelho de vergonha pelo resto do dia.
Assim que entrei na sala de aula, sentei no fundo e respirei fundo, tentando me distrair. A professora ainda não tinha chegado, e o barulho da conversa dos alunos preenchia o ambiente. Mas, alguns minutos depois, lá estava Kadu de volta, desta vez acompanhado de Greg e Nicholas. Ele olhou na direção da minha mesa, mas a professora entrou logo em seguida, e todos se sentaram onde havia espaço. Kadu acabou na primeira fileira, Greg ficou no canto ao lado da porta e, para minha surpresa, Nicholas sentou-se a meu lado.
Durante a aula, senti algumas vezes um olhar fixo em mim. Disfarçadamente, olhei de canto e percebi um garoto mais ao fundo, que parecia me observar com curiosidade. Nicholas notou e cochichou baixinho:
— É aquele menino ali. O nome dele é Antônio.
— E por que ele tá me encarando? — perguntei, confuso.
Nicholas riu, como se eu estivesse esquecendo de algo muito óbvio.
— Você não lembra da festa? Vocês deram um beijo triplo com Giovanna, lembra? E depois você ia beijar ele de novo, mas Kadu saiu te arrastando.
Eu me esforcei para lembrar, e a memória vagamente voltou. Lembrava da cena, mas não de quem era. Olhei novamente para Antônio, tentando processar a ideia. Ele era moreno, com um sorriso largo, dentes perfeitos e cabelos curtos, no estilo militar. A camiseta branca que usava deixava seus braços fortes à mostra. Ele era, no mínimo, bem atraente.
O professor de História começou a falar sobre a Ponte Rio-Niterói, e eu tentei me concentrar, mas a lembrança do beijo na festa ainda estava clara. Me perguntei se Antônio tinha lembrado de tudo isso o tempo todo.
— Alguém aqui sabe quando a ponte foi construída? — perguntou o professor.
Greg levantou a mão e respondeu hesitante:
— Em 1960 e alguma coisa, não foi?
O professor sorriu e balançou a cabeça.
— Quase! A construção começou oficialmente em 1968, mas a ponte só foi inaugurada em 1974. Na época, foi um marco de engenharia e de integração entre o Rio de Janeiro e Niterói. Antes dela, cruzar a Baía de Guanabara exigia ou uma viagem de balsa ou um desvio pela estrada.
Eu levantei a mão e perguntei, realmente curioso:
— Mas por que demorou tanto tempo para terminar?
Antônio se adiantou, respondendo com segurança:
— A baía é muito profunda em alguns pontos, então os engenheiros tiveram que desenvolver técnicas novas para construir os pilares. — Ele fez uma pausa e me lançou um olhar. — E também estamos falando de uma obra do período da ditadura militar, com toda a questão política envolvida.
Seus olhos encontraram os meus, e por um instante, eu fiquei sem palavras. Antônio tinha um jeito confiante e direto que parecia mexer comigo de uma forma estranha.
A aula continuou, mas a tensão no ar parecia se acumular. Notei Kadu, que olhava para Antônio com uma expressão de desconforto e irritação. O tempo parecia passar mais devagar com aquela energia no ambiente.
Assim que o sinal do intervalo tocou, eu já estava guardando meu material para ir direto para a cantina, mas, ao sair da sala, dei de cara com Antônio encostado na parede, claramente me esperando.
— Acho que a gente não se apresentou direito. — Ele estendeu a mão com um sorriso. — Antônio. Prazer em conhecê-lo… oficialmente.
— Yago. — respondi, apertando a mão dele com um sorriso sem graça.
Ele deu uma risadinha e continuou:
— Engraçado, né? A gente já se beijou, e só agora estamos nos falando de verdade.
— Sobre aquilo… — comecei, tentando soar casual. — Eu estava muito bêbado naquela festa, e…
— Tá tudo bem aqui? — Kadu apareceu por trás de mim, me puxando pela cintura e lançando um olhar nada amigável para Antônio. — Ele tá te incomodando, amor?
Antônio soltou uma risada irônica.
— Desculpa, não sabia que não podia conversar com outras pessoas.
— Claro que ele pode. — respondeu Kadu, com um tom firme. — Mas, como namorado dele, eu posso ficar ao lado dele.
Antônio me ignorou e continuou olhando para mim, sem perder o sorriso desafiador.
— Então, Yago, a gente já se conhece, mas vamos marcar um encontro pra gente conversar com mais calma.
Kadu avançou um passo, com raiva:
— Tá maluco, seu idiota? Tá querendo confusão?
Antônio apenas deu de ombros e se afastou, me lançando um último olhar antes de seguir pelo corredor. Kadu continuava me segurando pela cintura, os olhos brilhando de raiva.
Eu me desvencilhei dele e balancei a cabeça, meio que rindo da situação.
— Que papelão, hein? Arrumando confusão por nada.
Ele me olhou ofendido.
— Você viu que ele tava me provocando, né?
— Eu só vi você dando uma crise de ciúmes, isso sim.
Ele fez uma careta e resmungou:
— Ciúmes? Eu? Como se eu fosse ter ciúmes de um cara feio daquele.
Continuei rindo enquanto ele tentava se justificar, e finalmente seguimos para a cantina, onde Giovanna já estava sentada, tomando um suco e rolando o celular. Assim que me sentei ao lado dela, Kadu ainda tentando se explicar.
— Gente… o que ele tá falando? — ela perguntou, olhando Kadu com uma expressão confusa.
— Seu irmão tá com ciúme. — respondi, ainda me divertindo.
Ela ergueu as sobrancelhas e soltou uma risada.
— Com ciúme? Que interessante. E de quem?
— De um tal de Antônio. — contei.
Ela deu uma risadinha travessa.
— Ah, o gostosão do Antônio? Tem que ter ciúmes mesmo!
Kadu soltou um suspiro frustrado e foi comprar seu lanche, mas não sem antes fazer mais um drama. Giovanna e eu rimos, e eu percebi que finalmente estava relaxando, me sentindo à vontade. O dia tinha começado cheio de cenas inesperadas, mas eu só podia esperar que o restante fosse menos conturbado... ou talvez não.
— Mas e aí? — Giovanna cutucou, voltando a atenção para mim. — Já soube que ele se ajoelhou no meio do pátio e tudo.
Eu ri, mas ao mesmo tempo senti uma pontada de constrangimento e culpa. — Desculpa, amiga, sei que a última coisa que você queria era eu e o seu irmão juntos, mas… ele praticamente me sequestrou — brinquei, tentando parecer leve.
Ela soltou uma risada, mas depois seu olhar ficou mais sério. — Olha, Yago, ele é teimoso, mas eu conheço meu irmão. Posso ver que ele tá gostando muito de você, e ele merece alguém que o faça feliz.
Suas palavras me atingiram de um jeito que eu não esperava. Lembrei de Marc, da forma como ele me tratava, de como tudo sempre parecia girar em torno dele e de seu poder sobre mim. Não era afeto o que ele me oferecia; era uma obsessão inquietante, como se eu fosse uma peça que ele possuía, nada além disso. Eu queria terminar, mas parte de mim sabia o quão sombrio ele podia ser quando contrariavam sua vontade.
Greg e Nicholas chegaram e se sentaram a mesa, fazendo a gente mudar de assunto. Eles chegaram discutindo sobre algumas teorias da Marvel e pela primeira vez eu consegui me entrosar com os meninos.
- Cara, aquela cena da Wanda quase perdendo o controle… WandaVision é genial! - disse Greg - Acho que ela é a personagem mais poderosa da Marvel agora.
- Discordo. Tem o Doutor Estranho também, né? - Nicholas respondeu - Ele consegue manipular o tempo, abrir portais... pra mim, ele ainda tem mais controle que ela.
- Mas ele quase pirou em Multiverse of Madness, lembra? A Wanda não tem limites, cara. Ela praticamente recriou uma cidade inteira! - me meti no assunto - E aquele final, ela já tava usando o Darkhold… pode estar só começando a real transformação dela.
-Voce gosta da Marvel? - disse Nicholas surpreso me encarando - voce é uma caixinha de surpresas.
-Nerds! - falou Giovanna nos fazendo rir.
O lanche com eles foi sensacional, pela primeira vez me senti entrosado com tanta gente. Enquanto conversávamos Kadu segurava minha mão por de baixo da mesa, e ali eu pude perceber que era aquilo que eu queria, poder estar no meio de amigos e ser amado de uma forma leve.
Nesse instante, recebi uma mensagem no celular. Era Marc:
"Já estou com saudades. Queria ver você agora… e saber que está longe de qualquer distração.
Vou viajar, na sexta, quando eu voltar, vamos sair para conversar, e você vai entender melhor o que sinto."
Senti um arrepio. Cada palavra parecia carregar um peso sutil, como uma ameaça mascarada de carinho. Tentei disfarçar meu desconforto, bloqueando a tela do celular. Kadu voltou com o lanche e se sentou ao meu lado, pegando minha mão por baixo da mesa, e por um momento consegui me desligar daquele nó no peito.
"Eu vou terminar com ele," pensei. Na sexta-feira, eu resolveria isso de uma vez por todasGalera, comentem por favor, o comentário é muito bom pra gente que é escritor pois da motivação. Dêem a opinião, conte o que está achando da história.
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