Os dias após o encontro inesperado com Vincent foram uma luta silenciosa dentro de Emily. Cada instante em que se permitia desacelerar, sua mente corria de volta para a imagem dele, para as palavras que trocaram. E mais do que isso, para a promessa não dita que ficou pairando no ar quando ele se afastou. "As portas do Obsidian estão sempre abertas. E eu... sempre estarei lá." Aquilo era como um sussurro constante, uma tentação que ela tentava, em vão, ignorar.
Adriano estava cada vez mais leve, mais à vontade. O ambiente que o Obsidian oferecia tinha, de alguma forma, renovado sua energia e o desejo por Emily. Ele estava mais atento, mais presente. Mas, ironicamente, essa presença apenas acentuava a distância interna que Emily sentia. Cada vez que ele se aproximava dela com carinho, uma pequena parte de seu corpo respondia, mas sua mente já estava vagando para outro lugar, para outra pessoa.
Era uma tarde de sábado, e Adriano havia sugerido um passeio. Eles foram até o parque local, um lugar tranquilo onde costumavam passar os finais de semana antes de o relacionamento começar a se desgastar. Agora, com o sol suave e o som das crianças brincando ao redor, o cenário parecia perfeito para o tipo de reconexão que Adriano desejava.
Eles caminharam lado a lado, e Adriano estava animado, contando sobre o que planejara para o próximo mês, talvez uma viagem juntos, longe de tudo. Emily ouvia, mas suas respostas eram automáticas. Ela concordava, sorria, mas sua mente estava em outro lugar. Ela se via de volta ao Obsidian, as luzes baixas, a música lenta e envolvente. Ela via Vincent.
Quando Adriano parou de falar, notando o silêncio de Emily, ele a olhou, com uma leve preocupação nos olhos.
— Você está aqui comigo? — perguntou ele, sorrindo suavemente, mas com uma ponta de desconforto.
Emily forçou um sorriso, tentando afastar os pensamentos que a perseguiam.
— Claro. Só estava pensando… em tudo o que aconteceu nas últimas semanas. Foi... muita coisa.
Adriano assentiu, sem saber o quão longe o pensamento de Emily realmente estava. Ele a puxou para perto, envolvendo-a com o braço enquanto eles se sentavam em um banco sob uma árvore. Havia uma tentativa sincera em Adriano, uma vontade de trazê-la de volta para ele. E isso partia o coração de Emily.
Ela se inclinou contra o ombro dele, querendo sentir o conforto que ele oferecia. Ela amava Adriano. Isso era um fato inegável. Mas por que, então, era tão difícil estar presente com ele? Por que, quando ele a segurava, a mente de Emily corria para Vincent, para o toque que ela nunca tinha realmente experimentado, mas que sua mente já imaginava de tantas formas diferentes?
— Eu estava pensando… — começou Adriano, hesitante, enquanto brincava com os dedos dela. — Talvez a gente possa voltar ao Obsidian na próxima semana. Foi bom para nós, eu acho.
Emily congelou. A sugestão que, semanas atrás, teria sido o que ela mais desejava, agora soava como uma sentença. “Voltar ao Obsidian?” Ela sabia o que aquilo significava. Sabia que Vincent estaria lá, esperando. E sabia que, por mais que tentasse resistir, a proximidade dele no ambiente intoxicante do clube seria demais para ela.
— Adriano, eu… — Emily começou, mas as palavras morreram em sua garganta. Ela não sabia como dizer que voltar ao clube agora parecia perigoso. Que sua mente estava dominada por uma tentação que ela temia não conseguir controlar.
Adriano olhou para ela, seus olhos sinceros e cheios de esperança.
— Não é uma boa ideia? Achei que estávamos indo bem.
Emily respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas. Ela não queria machucar Adriano. Não queria estragar a paz que ele parecia ter encontrado. Mas como poderia ir ao Obsidian sabendo que Vincent estaria lá, sabendo o que ele fazia com ela sem nem ao menos tocá-la?
— É uma boa ideia — disse ela finalmente, sua voz baixa. — Só… acho que precisamos ir devagar. Tudo foi muito rápido.
Adriano inclinou a cabeça, tentando entender o que ela estava realmente sentindo. Ele não conseguia perceber o peso da verdade escondida nas palavras dela.
— Eu concordo — respondeu ele, com um sorriso leve. — Podemos ir no nosso ritmo, como sempre. Só quero ter certeza de que estamos nos conectando.
Emily assentiu, mas por dentro, sentia-se cada vez mais perdida. Eles estavam se conectando, sim. Mas enquanto Adriano tentava trazê-la para perto, a força invisível que Vincent exercia sobre ela a puxava na direção oposta.
Quando voltaram para casa, Emily se trancou no banheiro por um momento, olhando para si mesma no espelho. O que estava acontecendo com ela? Ela amava Adriano, isso era um fato que ela repetia para si mesma constantemente. Mas por que, então, estava tão atraída por Vincent? Não era apenas o físico — era o mistério, o controle, o fato de que ele a via de uma maneira que nem ela mesma conseguia enxergar.
Lembranças do encontro fora do clube invadiram sua mente. O jeito como Vincent falava, como ele parecia entender exatamente o que ela estava escondendo de si mesma, como ele havia sutilmente a convidado a explorar esses desejos ocultos. Era perigoso, mas, ao mesmo tempo, irresistível.
“Se voltar ao Obsidian, o que vai acontecer?” Ela se via dividida. Parte dela queria recusar completamente, não retornar ao clube e manter distância de Vincent. Mas outra parte, uma parte que ela não queria admitir, ansiava pelo reencontro. A tensão que eles haviam construído, mesmo sem toques, era como um laço apertado ao redor de seu corpo, e a cada dia que passava, esse laço ficava mais forte.
Naquela noite, ao deitar-se ao lado de Adriano, Emily se sentiu mais distante dele do que nunca. Ele a abraçou, e, por fora, ela respondeu ao toque. Mas, por dentro, algo estava quebrado. Havia um abismo crescendo entre ela e Adriano, um abismo que ela sabia que Vincent estava ampliando, mesmo sem estar presente.
Enquanto Adriano adormecia ao lado dela, Emily ficou acordada, olhando para o teto. As palavras de Vincent ecoavam em sua mente: "Eu estarei lá." Ela sabia que ele estaria esperando no Obsidian. E, mesmo enquanto uma parte dela gritava para que ficasse longe, a outra parte ansiava por aquele encontro, por saber até onde poderia ir antes de cruzar a linha definitiva.
*****
Era um típico domingo de sol, e Emily e Adriano estavam no caminho para a casa de Isabela e Gabriel. Isabela havia sugerido um almoço casual, como costumavam fazer nos velhos tempos, antes de toda a tensão entre Emily e Adriano. No entanto, depois de tudo o que acontecera nas últimas semanas, especialmente no Obsidian, Emily sabia que aquele almoço teria um subtexto diferente.
Enquanto dirigiam, Adriano parecia mais relaxado do que ela o vira em semanas. Ele estava animado, conversando sobre o trabalho e os planos para a semana, enquanto Emily respondia com curtos sorrisos e acenos. Sua mente, porém, estava longe. Ela sabia que Isabela e Gabriel iriam, em algum momento, trazer à tona o Obsidian novamente, e isso a deixava inquieta.
Desde o encontro com Vincent fora do clube, Emily não conseguia afastar o magnetismo dele de sua mente. E agora, diante de mais uma possível noite no Obsidian, ela não sabia como lidar com o crescente desejo e a sensação de culpa que a invadia.
Chegando à casa de Isabela, o ambiente era acolhedor como sempre. A mesa estava posta no jardim, o vinho já servido, e o aroma de comida preenchia o ar. Gabriel os cumprimentou calorosamente, enquanto Isabela deu um abraço em Emily, como se houvesse uma compreensão silenciosa entre elas.
— Estava com saudades de vocês — disse Isabela, sorrindo com aquele brilho nos olhos que Emily já reconhecia bem. Havia sempre algo mais por trás das palavras de Isabela, como se ela sempre estivesse planejando algo.
Eles se acomodaram ao redor da mesa, e a conversa fluiu naturalmente, com piadas e lembranças dos tempos antigos. Adriano, visivelmente mais solto, ria com Gabriel, enquanto Isabela e Emily trocavam olhares que diziam mais do que palavras.
Foi após o segundo copo de vinho que o clima mudou levemente. Isabela, sempre direta quando queria, trouxe à tona o assunto que Emily já esperava.
— Sabe, gata — começou Isabela, com um sorriso enigmático. — Nós estávamos pensando em voltar ao Obsidian na próxima semana. Gabriel e eu. E achamos que vocês deveriam vir conosco.
Emily sentiu o olhar de Adriano se voltar para ela, enquanto o ar ao redor da mesa parecia ter ficado um pouco mais denso. Ela tentou não demonstrar o nervosismo que crescia dentro dela, mas sabia que aquela era uma oportunidade que não poderia evitar.
— Já faz um tempo desde a última vez — continuou Isabela, casualmente, mas com uma sugestão implícita no tom. — E pensamos em algo um pouco mais… íntimo.
Gabriel sorriu e deu um gole no vinho, antes de entrar na conversa.
— Não se preocupe, Adriano — disse, com seu tom sempre tranquilo. — É tudo sobre consentimento, sempre. Só achamos que seria interessante explorarmos mais juntos. Afinal, nos sentimos bem à vontade com vocês. E é bom quando você está em um ambiente onde confia nas pessoas ao redor.
Adriano se mexeu na cadeira, claramente desconfortável com a ideia. Emily pôde ver a hesitação em seus olhos. Ele estava tentando processar a sugestão, sem saber ao certo como responder. Até então, o que eles haviam experimentado no Obsidian era intenso, mas mantido dentro dos limites do que era confortável para o relacionamento deles.
— Explorar como? — perguntou Adriano, a voz baixa e cuidadosa.
Isabela trocou um olhar cúmplice com Gabriel antes de responder, inclinando-se levemente sobre a mesa, como se estivesse revelando um segredo.
— Explorar entre nós quatro — disse ela suavemente. — Apenas nós. Um momento mais íntimo, sem outros casais. Um espaço para testarmos nossos desejos de uma maneira mais segura, juntos.
Adriano ficou em silêncio, a expressão no rosto dele refletindo a batalha interna que Emily sabia que ele estava travando e ele não estava pronto para isso. Por mais que ele estivesse disposto a experimentar novas formas de conexão, a ideia de envolver outros em um momento tão íntimo era algo que ele claramente não esperava.
Emily, por outro lado, sentiu uma pontada de curiosidade misturada com ansiedade. “Explorar com Isabela e Gabriel?” Havia uma parte dela que achava a ideia tentadora, mas outra parte, aquela que ainda tentava preservar o casamento com Adriano, a fazia hesitar. E, no fundo, sabia que o verdadeiro perigo não estava ali, mas em Vincent, ele sempre seria uma presença no clube.
— Eu… não sei se estamos prontos para isso — disse Adriano finalmente, sua voz suave, mas firme. — Não sei se isso é algo que eu quero explorar… pelo menos, não ainda.
Gabriel, sempre o diplomata, sorriu compreensivamente.
— Eu entendo. Não queremos apressar nada. É só uma ideia — disse ele, com um tom tranquilizador. — Mas pense nisso. Vocês dois têm algo especial, e o Obsidian é um lugar onde as regras são diferentes. Podemos ir no ritmo de vocês, sem pressa.
Isabela assentiu, mantendo o sorriso amigável, mas Emily sabia que ela era a verdadeira força por trás daquela sugestão. Isabela sempre fora mais aberta sobre explorar seus desejos, e agora, parecia que queria trazer Emily e Adriano para o mesmo caminho.
O resto do almoço transcorreu em uma atmosfera de leve tensão. Embora a conversa tenha mudado para assuntos mais leves, Emily e Adriano continuavam digerindo o convite de Isabela e Gabriel. Emily notou que Adriano estava mais calado, pensativo, e sabia que ele ainda estava lutando com a ideia.
Ao fim da tarde, quando se despediram, Isabela lançou um último olhar para Emily, um olhar cheio de significado.
— Pense com carinho, gata — disse ela, com um sorriso. — Pode ser uma experiência transformadora.
Enquanto dirigiam de volta para casa, o silêncio entre Emily e Adriano era pesado. Ela sabia que ele estava tentando entender como se sentia sobre tudo o que havia sido discutido.
— O que você acha? — perguntou Adriano finalmente, quebrando o silêncio. — Sobre… o que Isabela e Gabriel sugeriram?
Emily olhou para ele, vendo a incerteza em seus olhos. Sabia que ele estava disposto a experimentar coisas novas por ela, mas não sabia se isso era o que ele realmente queria.
— Acho que precisamos conversar mais sobre isso — respondeu ela, cuidadosamente. — Não sei se estamos prontos também. Mas… o que você sente?
Adriano suspirou, passando a mão pelos cabelos, claramente em conflito.
— Parte de mim acha que isso é demais — admitiu ele, com honestidade. — Eu estava começando a me sentir confortável com o que já havíamos experimentado. Mas agora… parece que estamos indo rápido demais. Não sei se quero envolver outras pessoas.
Emily assentiu, sentindo um alívio silencioso. Ela também não sabia se estava pronta para isso. Mas, ao mesmo tempo, havia uma pequena voz dentro dela, a voz que Vincent havia despertado, que dizia que talvez fosse hora de testar seus limites.
— Podemos ir com calma — disse ela suavemente. — Não precisamos fazer nada que não queiramos. Mas… talvez seja algo a considerar, quando estivermos prontos.
Adriano olhou para ela, ainda claramente inseguro, mas confiando no que ela dizia.
— Sim, quando estivermos prontos — repetiu ele, a voz ligeiramente aliviada.
A tarde após o almoço na casa de Isabela e Gabriel havia sido silenciosa e pesada para Emily e Adriano. A proposta ousada de Isabela pairava entre eles como uma nuvem de incertezas. Eles mal discutiram o assunto durante o trajeto de volta para casa, mas ambos sabiam que precisariam confrontá-lo eventualmente. Adriano parecia dividido entre o desconforto e a vontade de continuar explorando, enquanto Emily se sentia cada vez mais atraída por algo que ia além da sugestão de Isabela. Era Vincent, sua presença, seu magnetismo, a força com a qual ele mexia com ela.
A semana seguiu seu curso habitual, e Emily tentava manter-se focada em seu trabalho. Seu salão de beleza estava movimentado, especialmente naquele dia. Era uma tarde de quarta-feira, o horário de pico no salão, com clientes entrando e saindo, conversas animadas e o som constante de secadores de cabelo e falatório.
Emily estava conversando com uma cliente antiga, tentando ignorar as emoções conflitantes que carregava desde o almoço de domingo. Ela estava tentando evitar pensar em Vincent, mas a memória do encontro inesperado com ele na rua, na semana anterior, ainda a assombrava. A proposta de Isabela, a tensão com Adriano — tudo isso era apenas um eco de algo maior que crescia dentro dela, algo que ela sabia que só Vincent poderia entender.
Enquanto ajustava o cabelo da cliente em frente ao espelho, um movimento na porta do salão chamou sua atenção. Emily virou-se instintivamente, e seu coração parou por um segundo.
Vincent.
Ele estava parado na entrada, sua presença preenchendo o ambiente com uma intensidade quase sufocante. O barulho constante do salão parecia diminuir de imediato, como se o tempo tivesse desacelerado. Ele estava impecavelmente vestido, com um terno elegante e um olhar que imediatamente fez com que todos no salão parassem por um instante. As clientes e funcionárias trocaram olhares surpresos, e Emily percebeu os sussurros e os olhares encantados das pessoas ao redor.
Uma das funcionárias, visivelmente encantada, deu um leve suspiro e disse:
— Quem é ele?
Outra respondeu, sorrindo maliciosamente:
— Nunca vi alguém assim entrar por aqui. Será que veio buscar alguém?
As clientes riam e sussurravam, claramente intrigadas com a figura de Vincent, que permanecia calmo, mas completamente no controle da atenção que havia capturado. Emily tentou respirar fundo, mantendo a calma enquanto a cliente em frente a ela olhava para o espelho, completamente alheia ao tumulto interior que Vincent causava em Emily.
Ele não disse nada. Apenas caminhou lentamente pelo salão, os olhos dele passando por cada rosto com um sorriso quase imperceptível, mas a direção final era clara. Ele estava indo em direção a Emily. O salão estava cheio, mas para Emily, ele parecia o único presente ali.
Quando Vincent finalmente parou atrás dela, o coração de Emily estava batendo tão rápido que ela achava que as outras pessoas poderiam ouvir. Ele não precisou dizer uma palavra para fazer com que ela sentisse o poder que ele exercia sobre ela. O olhar dele estava fixo no dela, e por um breve momento, o mundo ao redor de Emily desapareceu.
— Emily — disse ele, finalmente, sua voz baixa, mas clara o suficiente para que apenas ela pudesse ouvir, mesmo no caos do salão. — Podemos conversar? Em particular.
Emily engoliu em seco, tentando manter a compostura. Ela sabia que deveria dizer não, afastá-lo, manter a distância necessária para proteger seu casamento e sua sanidade. Mas, naquele momento, tudo o que ela queria era ouvi-lo. Estava se rendendo, mesmo sem saber ao que.
— Claro, só um minuto — respondeu ela, tentando soar calma.
Ela terminou de arrumar o cabelo da cliente rapidamente, sentindo os olhares curiosos ao redor. As funcionárias claramente estavam encantadas com Vincent, trocando risinhos e cochichos sobre quem ele poderia ser e o que ele queria com Emily.
Vincent a seguiu até o escritório no fundo do salão, onde finalmente ficaram a sós. O silêncio entre eles era denso, carregado de uma tensão que Emily não sabia como controlar. Ele se aproximou apenas o suficiente para fazer com que ela sentisse o calor de sua presença, mas não a tocou. Ele nunca precisou tocá-la para exercer controle.
— Você não consegue parar de pensar em mim, consegue? — disse ele, com aquele tom suave, mas cheio de certeza.
Emily sentiu o calor subir pelo rosto. Ela queria negar, mas sabia que seria uma mentira óbvia.
— Não sei do que você está falando — respondeu ela, com a voz trêmula, tentando recuperar o controle da situação.
Vincent sorriu, aquele sorriso que a desarmava sempre que o via. Ele deu um passo mais perto, inclinando-se levemente, como se fosse compartilhar um segredo.
— Você está lutando contra isso, Emily. Mas sabe que não pode evitar. Não comigo.
Ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele estava certo. Ela vinha lutando contra esse desejo desde o primeiro momento em que ele a observou no Obsidian, e, por mais que tentasse afastá-lo, ele só ficava mais forte.
— O que você quer de mim, Vincent? — perguntou ela, sua voz soando mais desesperada do que gostaria.
Vincent observou o rosto dela por um longo momento, seus olhos azuis penetrantes capturando cada nuance de sua expressão.
— Quero que você seja honesta consigo mesma — disse ele finalmente. — Tudo o que eu fiz foi te mostrar algo que já estava aí. Seus desejos. Seus medos. E, no fundo, você sabe que esse conflito dentro de você só vai aumentar até que você enfrente isso.
Emily sentiu-se exposta. Ele via sua alma, o que nem Adriano conseguia perceber.
— Eu estou tentando salvar meu casamento — disse ela, em um último esforço para afastá-lo.
— E talvez você consiga — respondeu ele, calmamente. — Mas só se você for honesta sobre o que realmente deseja. E você sabe o que isso significa, Emily.
O ar no pequeno espaço parecia mais pesado, mais denso. Emily sabia exatamente o que Vincent queria dizer. Ele estava a forçando a confrontar o desejo que tentava ignorar, a tentação que sabia que poderia destruir seu casamento se ela permitisse.
— O que vai acontecer se eu ceder? — perguntou ela, sua voz apenas um sussurro.
Vincent deu um meio sorriso, inclinando-se ainda mais perto, mas sem tocá-la.
— Isso, minha querida, só depende de você.
Emily sentiu o coração bater tão rápido que parecia que iria explodir. Ela sabia que estava à beira de algo perigoso, algo do qual não poderia voltar. E, por mais que quisesse resistir, a presença de Vincent a puxava, como um ímã irresistível.
— Pense no que realmente deseja, Emily — disse ele suavemente, enquanto dava um passo para trás, quebrando o momento. — Eu estarei esperando. Como sempre.
Ele se afastou, deixando Emily sozinha no pequeno espaço, o ar ao seu redor ainda carregado com a presença dele. Ela ficou ali por alguns minutos, tentando recuperar o fôlego, a mente girando em círculos.
Quando finalmente voltou ao salão, Vincent já havia ido embora. As funcionárias ainda cochichavam sobre ele, mas para Emily, o impacto de sua presença era mais profundo do que qualquer uma delas poderia imaginar.