Havia já se passado 1 ano da morte de minha esposa.
A dor e o vazio que sentia não havia desaparecido porém aprendi a conviver melhor com ele.
Eu tinha conseguido um emprego de supervisor de manutenção industrial numa grande indústria do interior Paulista. Morava sozinho e não tinha e nem queria ter qualquer relacionamento.
Neste período, eu não falava com ninguém do meu passado. Havia me afastando de todos. Inclusive deletei todas as minhas redes sociais.
Um dia me acordo por volta das 3 horas da manhã com uma ligação de um número anônimo de celular. A pessoa ligou e não falava nada. Apenas ficava escutando a minha voz.
Estas ligações começaram a se repetir diariamente. Eu sabia que era a minha filha.
Então comecei a cantar uma cantiga de ninar que eu usava para fazer minha filha dormir quando era criança. Comecei a escutar um choro ao fundo daquela ligação que logo a seguir se desliga.
No dia seguinte novamente aquele número anônimo liga, só que desta vez mais cedo.
Eu então começo a contar uma história.
Era uma vez uma menina linda que tinha medo do escuro. Ela dormia todos os dias com um abajur ligado. Então eu resolvi dar a ela um presente. Ela ganhou a Pucca e o Garu para cuidar dela. Disse a ela para colocar eles na cama na hora de dormir. Assim se algum monstro aparecesse durante a noite a Pucca iria dar uma surra nele. E desde este dia ela nunca mais precisou dormir com o abajur ligado.
A ligação termina após a história.
Alguns dias se passam e a ligação volta a tocar.
Desta vez conto outra história.
Era uma vez uma menina linda que sonhava muito em ganhar uma medalha na feira de ciências da cidade. Então eu ajudei ela a montar um trabalho sobre a gravidade. A gente se divertiu muito construindo planetas com bola de isopor e a mamãe fico enfurecida com a tinta que nós viramos no chão da sala. Limpar aquilo deu muito trabalho. Mas no fim valeu a pena. Pois aquela menina conseguiu a medalha que tanto sonhava ter.
A ligação se desliga após a história.
Alguns dias se passam e novamente a ligação aparece. Eu já estava dormindo. Me acordo e sou surpreendido com o som vindo ao fundo daquela ligação. No início eu não consegui identificar o que era. Mas quando caiu a ficha eu fiquei atônito.
Eram gemidos de alguém se masturbando do outro lado da linha.
Aquilo imediatamente apertou um gatilho no meu cérebro fazendo eu recordar de todos os momentos íntimos que tive com minha filha e isso imediatamente me deixou excitado e de pau duro. Quando me dei por conta disso imediatamente desliguei a ligação.
Alguns dias se passaram e novamente aquela ligação toca no meu telefone. Como sempre era tarde da noite.
Só que desta vez ao invés de ficar muda a ligação telefônica, escuto a voz de minha filha a contar uma história...
Era uma vez uma patinha feia que sempre foi desprezada por tudo e por todos. O único momento de felicidade que ela tinha era quando estava em casa. O pai da patinha era carinhoso, atencioso, brincava com ela, cantava com ela, ajudava ela nos temas, jogava videogame com ela e era a única pessoa na face da terra que fazia ela se sentir bem. A patinha ficava às vezes por horas a fio ansiosa para ele chegar do trabalho e dar um carinhoso beijo na testa dela.
Foi o pai desta patinha que mostrou a ela o significado e o sentimento do amor.
Foi o pai desta patinha que também deu a ela os únicos momentos de prazer que ela teve na vida.
Só que esta patinha foi afastada do pai e sem ele sua vida ficou preto e branco. Não existe mais carinho, afeto, um abraço apertado, um beijo e nenhum prazer. Só restou tristeza e solidão. Então está patinha decidiu que a vida não valia mais a pena. E decidiu fazer companhia para sua mãe no inferno. Pois ela tem muitas contas a acertar com ela...
Minha filha pelo amor de Deus não faça isso!
A ligação termina...
Eu imediatamente ligo para a minha mãe em Porto Alegre explicando a situação e pedindo para ela ir correndo lá ver ela. Ela me informa que não sabe onde ela está morando. Pois ela havia se mudado de nossa antiga casa fazia alguns meses e nunca havia passado a ela o novo endereço.
Eu entro em desespero...
Eu ligo para a polícia explicando a situação.
Logo na sequência pego minha carteira e saio de casa para pegar um voo para Porto Alegre.
Eu tinha deletado o contato de todo mundo de meu celular então não tinha mais para quem ligar. Então minha esperança era a polícia conseguir localizá-la.
Minha mãe tinha o novo número de telefone que ela usava. Apesar de estar desligado, este número foi de grande auxílio para conseguir localizar seu endereço, pois a polícia tem meios de descobrir isso.
Eles chegaram a sua casa 5 horas após eu contata-los, mas era tarde...
Minha filha, assim como sua mãe havia cometido suicídio.
A História contínua...