Quando eu xinguei a Marina, Carol fez uma cara de susto muito engraçada, mas logo se desmanchou quando Marina começou a rir e me chamar de boca suja. Eu ri mais da cara que a Carol fez do que da própria Marina. Carol no fim começou a rir também, mas acho que foi de alívio por perceber que era brincadeira. Marina disse que era brincadeira e que ia continuar a história.
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Marina: Michele me contou que foi chorando durante o trajeto todo. Que Lucas a levou para o quarto de hotel e pediu para os funcionários levarem suas malas. Ela disse que ele ficou ao lado dela e disse que ia ligar no hospital para saber notícias suas. Só que ele disse seu nome quando falou aquela frase. Ela disse que nessa hora achou estranho, que jurava que não tinha falado o seu nome e questionou Lucas. Ele disse que ela tinha falado o seu nome no carro enquanto chorava. Ela disse que não se lembrava disso, mas achou que podia sim ter acontecido em um momento de desespero. Lucas foi e perguntou para ela o seu nome completo, ela disse e ele saiu para fazer as ligações. Depois de algum tempo ele voltou e disse que você estava viva, mas estava na mesa de cirurgia e mais tarde ligaria para saber notícias suas. Ela disse que achou que você iria morrer e imaginou que era culpa dela. Que de alguma forma você tinha descoberto tudo e foi no apartamento para questionar ela. Ela falou que chorou até dormir e só acordou de madrugada. Que ela acordou Lucas, ele falou que tinha ligado no hospital e você estava em coma no CTI.
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Ela disse que ali o pior inferno da vida dela começou. Lucas não quis deixar ela ir ao hospital no outro dia. Disse que não ia adiantar porque você estava em coma. Ela falou que brigou com ele, mas não resolveu. Ele não deixou ela ir. Ainda saiu e deixou ela trancada o dia todo no quarto. Que ele só voltou a noite e todo animado. Dizendo a ela que tinha feito um grande negócio. Ele trouxe muita bebida e muita droga para os dois. Ela disse que infelizmente usou muita droga naquela noite. Que acordou no outro dia nua e com as partes íntimas doendo, mas nem lembrava de ter transado com Lucas. Ela disse que implorou para ele deixar ela ir ver você, que ele não queria, mas ela começou a gritar e fazer o maior escândalo. Ele por fim acabou deixando. Ela disse que não queriam deixar ela entrar, mas ela provou com as fotos que ela tinha no celular que vocês eram namoradas. Ela falou que um médico que parecia ser o chefe do hospital acabou autorizando a entrada dela.
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Ela disse ver você ali daquele jeito a destruiu por dentro. Que ela ficou tão fora de si que só depois de três dias ela se lembrou da própria filha. Ela falou que nesse dia percebeu que ela não servia para nada nesse mundo e pensou em tirar a própria vida, mas lhe faltou coragem. Ela falou que ligou para o pai da Rafaela e ele disse que estava com a filha. Ela achou que ele iria brigar com ela, mas não brigou. Ele achou que ela estava no hospital com você porque quando o pessoal ligou da escola avisando que ela não tinha ido buscar a filha, ele ligou no seu telefone, como não atendeu, ele foi no prédio depois de buscar a filha e o porteiro contou sobre o acidente. Ela me contou que o ex ainda consolou ela e disse que ela podia ficar tranquila que ele iria cuidar da filha deles e arrumar uma boa desculpa para o sumiço das duas.
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Ela falou que durante aquela ligação ela decidiu que o melhor para a filha era ela sumir da vida dela. Ela disse que então resolveu ir embora de vez e chamou Lucas para ir para a cidade dele, mas Lucas não quis. Ele disse que era melhor ficar ali mais uns dias e ver se você não acordava pelo menos, depois eles iriam. Ela acabou concordando. Ela disse que a vida dela era ir ao hospital te ver e depois voltar para o hotel e se drogar. Ela disse que Lucas direto trazia bebidas caras e drogas, mas que ele parecia não ligar para ela mais. Ele ficava mais na rua do que no hotel. Ela disse que quebrou o chip dela e pediu para Lucas comprar um novo. Ela não queria que o ex ligasse. Ela achava que ele já sabia de tudo e eu também. Ela me contou que ia ter ver sempre de manhã, mas não falava com ninguém e nem ficava muito. Que não queria ser vista daquele jeito. Que rezava por você na beirada da sua cama e ia embora se drogar de novo. Ela disse que a última vez que te viu foi no dia que ela resolveu perguntar ao médico se você iria acordar algum dia.
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O médico disse que provavelmente sim, mas que era impossível ter certeza de quando. Ela disse que ele perguntou o que ela era sua e ela falou que era namorada. O médico falou que sentia muito pelo que aconteceu. Então ela perguntou se ele sabia em detalhes como foi o acidente. Foi aí que ela ficou sabendo que a dona do hospital que tinha te atropelado. O médico contou que a dona ficou muito abalada. Ela disse que perguntou como aconteceu exatamente. O médico disse que a patroa dele disse que parecia que você estava fora de si, porque praticamente atravessou a rua sem olhar para os lados. Que você praticamente se jogou na frente do carro.
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Ela falou que nessa hora ligou os pontos e só tinha uma explicação. Você viu ela com Lucas no apartamento. Ela falou que foi embora e nunca mais voltou no hospital. Que não sabe direito o que aconteceu nos dias seguintes porque ela só se drogava e bebia. Ela disse que lembra do Lucas com outros homens no quarto. Que tem flashes de cenas que ela transava com esses homens. De Lucas xingando você de vários nomes feios. E que no dia que ela se lembra de voltar ao normal foi porque alguém estava chamando na porta do quarto. A pessoa dizia que se não abrisse iria derrubar. Ela disse que mal teve forças para se enrolar em um lençol e ir até a porta. Que quando abriu era um funcionário do hotel avisando que ela precisava deixar o quarto. Ela disse que ele deu uma hora para ela arrumar as coisas e sair ou pagar para ficar mais tempo.
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Ela falou que não tinha condições de sair. Que procurou sua bolsa e procurou por dinheiro, mas não tinha. Então viu algumas notas enroladas em cima da mesinha de vidro. Provavelmente foram usadas por ela ou por Lucas para cheirar. Ela juntou e deu o dinheiro para o funcionário do hotel. O funcionário avisou que o dinheiro dava para ela ficar mais dois dias. Ela agradeceu e voltou a dormir.
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Ela falou que estava tão mal que não conseguia separar direito o que era real ou o que era alucinação. Mas no outro dia ela acordou melhor, mas desejou nem ter acordado. Ela disse que seu corpo todo doía. Que tinha várias camisinhas usadas ao redor da cama e o quarto fedia. Ela tomou um banho. Achou uma roupa no banheiro menos suja e vestiu. Ligou na recepção e descobriu que Lucas tinha saído do hotel a cinco dias. Ela resolveu então sair dali, mas não tinha para onde ir. Então ela pegou sua bolsa e seu celular mesmo sem chip, Lucas nunca comprou outro para ela. Ela saiu para rua sem destino. Ela falou que vendeu o celular e alugou um quarto em um hotel bem barato por dez dias. E ainda sobrou um pouco de dinheiro. Lá ela podia dormir e tinha direito a café da manhã, almoço e jantar. Ela disse que o lugar era horrível, mas era melhor que ficar na rua.
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O problema era as drogas. Ela disse que não conseguia ficar sem e saia todo dia para comprar um pouco. Ela comprava o suficiente para matar a vontade e não enlouquecer de vez. Mas o dinheiro acabou e só tinha mais uns dias para ficar no hotel. Ela disse que entrou em desespero. Ela que não tinha nada mais de valor e a única saída que ela pensou, foi em voltar a se prostituir. Ela disse que em um momento de desespero foi revirando sua bolsa e não achou nada de valor. Porém tinha a chave do seu apartamento. Ela disse que pensou em arriscar ir até lá pelo menos para ver se achava algum dinheiro ou jóias. Ela falou que não se orgulha disso, mas pensou em te roubar. Dois dias antes dela ter que sair do hotel ela já estava louca para se drogar. Então achou que a melhor saída era mesmo ir ao apartamento. Ela me falou que não queria voltar a se prostituir. Que ela nem pensava no Lucas, ou porque ele tinha ido embora. A única coisa na cabeça dela era arrumar dinheiro para se drogar.
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Então ela foi até o prédio, não tinha outra opção a não ser entrar pela entrada principal já que ela não tinha o cartão do estacionamento. Ela disse que entrou e o porteiro a olhou com uma cara meio assustada, mas a comprimentou. Ela disse que nem respondeu direito. Só subiu para o apartamento e quando entrou se deparou com ele todo destruído. As roupas dela, sapatos, bolsas e cremes caros que ela deixou para trás tinham sumido. Suas joias também. Não tinha nada de valor, a não ser alguns móveis. Ela disse que o menor e de mais valor que ela viu, foi o micro-ondas. Então pegou ele, colocou o ombro e saiu.
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Ela disse que o vendeu e foi até uma biqueira, comprou as drogas e foi para uma praça perto da biqueira. Lá ela usou até acabar, não comeu e nem dormiu direito. Ela sabia que ali ela estava segura, ninguém iria fazer mal a ela por causa dos traficantes. Ela disse que quando a droga acabou ela voltou para o apartamento para tentar pegar mais alguma coisa. Foi quando ela teve a ideia de tirar os quadros da parede para ver se tinha algum cofre. Ela sabia que se tivesse talvez ela acertasse a senha, era algo muito difícil, mas não custava tentar. Ela disse que acabou tropeçando nos cacos do vaso no chão quando foi tirar um dos quadros da sala e viu a caixinha das alianças.
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Ela falou que na hora ficou muito feliz ao ver a caixinha, ela imaginou que era algo caro para ela vender. Mas quando abriu e viu as alianças ela já imaginou para que seria. Quando ela pegou uma delas e viu o nome dela gravado ela lembrou de você. Ela disse que veio a imagem do seu sorriso na hora. Ela se sentou no sofá e foi lembrando de todos os momentos que vocês viveram ali e que por culpa dela tudo estava destruído. Você está em coma em um hospital, ela naquela situação e Rafaela sem as duas mães. Ela disse que colocou a aliança no dedo e ficou olhando. Que ali ela foi caindo na real e foi percebendo a besteira que ela tinha feito novamente na vida dela. Ela disse que começou a chorar e depois não lembrava muito bem o que aconteceu. Ela disse que provavelmente dormiu e acordou com eu chamando ela. Ela disse que quando me viu se lembrou de você contar o quanto eu tinha te ajudado, então que resolveu me pedir ajuda, que viu em mim sua última chance de fazer algo correto.
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Eu perguntei a ela se era tudo que ela tinha para contar. Ela jurou que era sim, mas se lembrasse de qualquer coisa ela me falaria. Ela jurou pela sua filha que era toda a verdade. Que não era muita coisa porque ela passou muitos dias drogada e não lembrava de quase nada. Ela nessa hora já tinha expressões no rosto. E era de desespero, ela começou a chorar e pediu pelo amor de Deus para eu acreditar nela e cumprir minha parte no combinado. Eu disse que iria cumprir. Mas que talvez eu precisasse que ela contasse a parte do Lucas para a polícia. Ela disse que contaria sim. Eu me levantei e disse para ela vir comigo.
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Saímos do prédio e a porcaria do PF não tinha sido entregue. Dei o dinheiro para o porteiro e pedi para ele pagar. Falei para ele comer ou doar para alguém. Disse a ele que estava tudo resolvido e depois eu voltaria para falar com ele. Levei Michele em uma loja, comprei roupas e calçados para ela. A gente foi em um restaurante e almoçamos. Depois pesquisei sobre a melhor clínica para o problema dela. Perguntei se ela tinha certeza que queria fazer aquilo e ela disse que sim. A levei na porta da clínica e providenciamos tudo para a internação dela. Eu paguei tudo e fiquei como responsável por ela. Ela só sairia dali antes de três meses se eu autorizasse.
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Ela não conversou nada comigo depois que saímos do prédio. Ela só respondia o que eu perguntava. Mas na hora que ela foi entrar ela tirou um papel de dentro da bolsa. Me entregou e disse que era o número do seu ex marido. Ela pediu para eu ligar e contar tudo para ele e pediu para eu dizer que ela pediu para ele cuidar da Rafaela. Que se ele ainda não tivesse com a guarda dela era só ele vir na clínica que ela assinava todos os papéis que ele precisasse. Eu perguntei se ela estava desistindo da filha. Ela me olhou e disse que não merecia ser a mãe dela. Depois ela me abraçou bem apertado, chorou e me agradeceu por tudo. Ela me disse que não era para eu deixar ela sair dali antes dos três meses, nem se ela pedisse. Eu disse que iria fazer isso. Ela pediu para eu prometer e eu prometi. Ela entrou e eu fui correr atrás de outras coisas que eu precisava.
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Michele ficou três meses na clínica, mas pediu para ser levada para uma clínica de tratamento para pessoas com problemas mentais. Ela queria se livrar dos dois vícios. É nessa clínica que ela está até hoje, porém nessa ela pode sair durante o dia já que o problema dela não é de risco para outras pessoas. Ela só saia para vir te ver e para visitar a filha. Agora que você acordou, ela só sai para visitar a filha. Essa parte o ex dela pode te contar melhor. Só sei que depois que ela saiu da primeira clínica, eles entraram em um acordo para essas visitas. Rafaela acha que vocês duas ficaram doentes. Foi o que o pai contou a ela. Você sofreu o acidente e a Michele tem uma doença na cabeça, mas está se tratando. Aquela menina sofreu muito nos últimos meses e mesmo assim continua um amor de criança. O pai dela sofreu junto, mas se manteve forte para ajudar a filha.
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Aline: Ela tem medo que eu brigue com ela, ou denuncie ela, ou algo do tipo?
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Marina: Não. Michele não tem coragem de olhar na sua cara. Ela disse que quer muito te pedir perdão por tudo e já veio até o hospital algumas vezes para fazer isso, mas ela desistiu de vir ao seu quarto na última hora. Não porque tenha medo de você brigar com ela ou não a perdoar. O remorso que ela sente impede ela de te ver. Mas acho que um dia ela vai ter coragem. Lembra que eu disse que eu não fui com a cara dela?
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Aline: Lembro sim, eu devia ter dado mais atenção a isso.
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Marina: Pois eu mudei de opinião. Eu hoje gosto dessa nova Michele. Não estou tentando te influenciar, como não tentei daquela vez. Só estou dizendo o que eu penso. Hoje eu gosto dela. Eu torço muito para que ela encontre a paz dela e seja feliz.
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Aline: Eu não sei o que pensar dela hoje. Mas pode apostar que não a odeio mais. Só preciso absorver todas essas informações.
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Marina: Eu ainda tenho algumas coisas para te contar que envolve ela. Mas são coisas simples e as importantes são boas. Mas dessa vez eu preciso ir de verdade e amanhã a gente continua.
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Aline: Tudo bem, acho que por hoje está ótimo mesmo.
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Nos despedimos e Marina se foi. Não fiquei pensando muito na história da Michele. Fiquei pensando na Marina. Eu tenho muito orgulho de poder chamar ela de amiga. Que mulher incrível ela é! Pensei também na Rafaela, eu preciso vê-la. A saudades dela já estava apertando o meu peito.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper