Sou novo nesse negócio de escrever, e reparei que ainda não tinha me descrito. Tenho 1,76m de altura, um corpo sarado por causa do trabalho braçal que fazia na antiga fazenda, e o que mais chama atenção em mim é a minha bunda. Sempre comentaram que parecia bunda de jogador de futebol. Minha pele é de um moreno avelã, resultado do sol que eu pegava na fazenda, e meus olhos têm um tom puxado para o mel, o que, combinado com meu sorriso (modéstia à parte), torna meu rosto marcante.
Voltando à história, depois de sairmos da fazenda dos Carneiros, eu e o Caio voltamos para a fábrica em um clima descontraído. Percebi que ele ficou diferente depois do encontro com o Bernardo, mas não comentei nada, até porque eu mesmo não conseguia parar de pensar no Bernardo. De alguma forma, ele despertou algo em mim que eu nunca havia sentido antes. Já tínhamos combinado o horário para eu ir à casa do Caio, e nos despedimos com um abraço. Fui para casa pensativo, com a cabeça dividida entre o Caio e o Bernardo, e foi ali que começou minha confusão sobre os dois.
Chegou o dia da festa. Avisei minha mãe que iria com o Caio e dormiria por lá. Ela não se importou e me disse que iria à casa da minha tia, que receberia uns parentes no qual eu não fazia questão de conhecer. Me arrumei, peguei minhas coisas e fui para a casa do Caio. Chegando lá, tinha alguns amigos dele, alguns conhecidos, outros nem tanto. Cumprimentei todos e fui guardar minhas coisas no quarto. O Caio veio atrás de mim:
— Coloca tuas coisas ali e bora beber, que já já começamos nossos trabalhos! — disse ele, sorrindo.
— Simbora! Essa semana foi tensa, preciso de uma cerveja bem gelada! — respondi, pegando o copo que ele me ofereceu e virando de uma vez.
— Esses caras vão ficar aqui também? Tem uns que eu nem conheço. — perguntei.
— Não, são amigos do meu vizinho. Aqui em casa só vai ficar eu e você... ou quem mais a gente decidir trazer. E, já tô avisando, hoje eu tô afim de algo diferente — disse ele, piscando pra mim.
Senti um frio na barriga com aquele comentário. Retribuí com um sorriso e voltamos para junto do pessoal. Confesso que fiquei um pouco nervoso, sem saber se estava fantasiando algo ou se ele realmente tinha insinuado algo com aquela fala. Ainda era tudo muito novo para mim, e eu me questionava se estava criando expectativas onde não devia.
Depois do esquenta, fomos para o show. Mesmo sem beber muito, eu tinha uma boa resistência à bebida, então estava bem consciente. Já o Caio estava mais solto do que o normal, dançando com várias meninas e até beijando algumas, o que me surpreendeu, já que ele não costumava agir assim nas outras vezes em que saímos. Ele vinha me abraçar o tempo todo, o que também era meio novo, já que ele não costumava ser tão carinhoso.
Então, o Bernardo apareceu. Ele cumprimentou o grupo, e deu um aceno de mão e um sorriso para mim, e logo em seguida falou com o Caio, que na mesma hora fechou a cara e saiu dizendo que ia ao banheiro. Pouco tempo depois, vi o Bernardo indo na mesma direção, e minha curiosidade acendeu. Queria ir atrás para ver se flagrava algo, mas fui interrompido pela Larissa, que me puxou:
— Rafinha, vamos dançar essa música comigo! — ela pediu.
— Own, Larinha, preciso muito ir ao banheiro. — tentei escapar, mas ela insistiu.
— Só essa música, prometo que te libero depois.
Ela já me puxava, então cedi. Dançamos, mas minha mente estava longe, até que o Caio voltou com a expressão normal. Se algo havia acontecido entre ele e o Bernardo, foi rápido demais ou era coisa da minha cabeça. Fiquei tão absorto nos meus pensamentos que nem percebi quando a Larissa me beijou. Cedi, mas não passou de um beijo. Não queria ficar de casal com ela.
O show acabou, e depois voltamos para a casa do Caio. Ele estava calado, então quebrei o silêncio:
— Aproveitou bastante, amigão? — perguntei.
— Queria ter aproveitado mais. Achei que íamos trazer alguém pra gente curtir, mas pelo visto vamos terminar na punheta. — ele respondeu, rindo.
Sem pensar, soltei:
— Do jeito que você bebeu, capaz do teu pau nem subir.
Eu disse isso? O que estava acontecendo comigo? De alguma forma, estava ficando mais solto, mais "safado". Ele, por outro lado, soube levar a brincadeira:
— Pelo contrário, gatinho. Quando tô bêbado, eu adoro meter. Se fosse você, tomava cuidado com essa sua bundinha...
— Uai, mais fácil eu meter meu pau em você, seu cuzão! — brinquei, entrando no clima.
— Só se for num troca-troca, hein! — ele retrucou, rindo.
Trocamos piadas com duplo sentido até chegarmos em casa. Caio não teve vergonha, foi logo tirando a roupa, foi a primeira vez que vi seu corpo nú, o que me deixou um pouco sem jeito, ele terminou de tirar a roupa e foi para o banho,e nossa que bundinha o Caio tinha. Fiquei deitado, processando o que tinha acontecido nos últimos dias. Quando ele saiu do banheiro, disse para eu tomar banho. Fiz o mesmo que ele e também fiquei pelado na frente dele, sentindo seus olhos sobre mim. Mas, quando saí do banho, ele estava de cara fechada, falando ao telefone com alguém.
— Falando com quem? É alguma putinha? — perguntei, tentando quebrar o clima.
— Nada importante, cara. Vamos dormir, que a ressaca amanhã vai bater forte.
E assim a noite acabou. Dormimos em camas separadas, e, apesar das piadas e das tensões, nada rolou entre nós. Acordei no outro dia com o Caio já de pé, preparando café. Conversamos sobre a ressaca, as bandas, as meninas com quem ele tinha ficado, e ele mencionou o meu beijo com a Larissa. Lembrei do Bernardo e resolvi tocar no assunto:
— Foi impressão minha ou o filho do nosso patrão apareceu ontem?
— Ah, nem me fala daquele moleque. Apareceu sim, mas dispensei logo. Não tava afim de ser babá.
— Ué, mas ele pareceu legal...
— Vou te dar um conselho: se mantém longe dele. Aquilo ali é problema na certa.
— Como assim?
— Não quero falar sobre isso, cara. De verdade. Vamos nos ajeitar que hoje tem trio elétrico e o arrastão.
Fiquei com minhas suspeitas. Entre eu e o Caio, as coisas não avançaram como imaginei, e a história com o Bernardo parecia ainda mais misteriosa.