Eu achei que aquela informação do detetive iria causar um estrago enorme na vida de Luciana, mas não foi bem assim. Não que a informação tenha sido ruim, mas se comparar com a que eu e ela imaginamos, foi, vamos dizer, menos pior.
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Detetive: Calma, não é nada disso Srtª Luciana. Seu pai não é nenhum drogado não. Por favor, fique calma que vou explicar.
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Luciana: Desculpe, mas eu me assustei com essa informação. Por favor, pode continuar.
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Detetive: Seu pai tinha um vício sim, que mata e destrói como às drogas. Eu pessoalmente acho que é quase a mesma coisa. Seu pai se tornou um alcoólatra, mas ele está limpo há alguns meses. Vou te contar tudo para você entender melhor.
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Eu cheguei na cidade mais próxima ao local em que o seu pai adquiriu o terreno. Era uma cidade pequena com gente pacata e acolhedora. Me registrei em um hotel e depois fui direto à delegacia local. O delegado era um senhor muito gente boa e me deu todas as informações que eu precisava. Eu podia ter te ligado e te dado as informações. Mas meu sexto sentido me disse que eu precisava investigar aquilo melhor. A vantagem de cidades pequenas é que todo mundo conhece todo mundo. Eu procurei um bar perto do hotel e puxei conversa com o dono. Falei que eu era vendedor de ar condicionado e que não ia ali na cidade a quase três anos porque a empresa tinha mudado minha rota de trabalho. Falei que da última vez que estive ali conheci um homem muito gente boa e que bebemos juntos. Acabamos criando uma amizade, mas que dessa vez não o vi na cidade. Ele perguntou se eu sabia o nome dele e eu disse que sabia o primeiro nome dele e me lembrava que ele tinha uma irmã. Aí falei o nome do seu pai e da sua tia. Ele fez uma cara triste e disse que sabia quem era e que infelizmente eu não iria vê-lo porque ele estava em um sítio e não vinha mais na cidade a algum tempo. Eu perguntei o porquê e se tinha acontecido algo grave com ele.
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O dono do bar disse que infelizmente o meu amigo tinha passado por um grande problema com bebida e nos últimos anos ele vinha na cidade só para beber e acabava dormindo nas calçadas. Que só ia embora quando o cunhado dele vinha buscá-lo. Que ele era um homem bom mas parecia ser muito triste e descontava tudo na bebida. Que o comentário que tinha na cidade é que ele ficou assim por causa da filha famosa dele que se apresentava seminua para um monte de homens e tinha se tornado uma drogada.
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Luciana: Meus Deus é tudo culpa minha!
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Detetive: Srtª por favor tenha calma. Deixa eu terminar de contar tudo. Depois você pode tirar suas conclusões. Mas sem você saber o que tenho para contar é errado você se culpar de algo.
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Luciana: Desculpe. Você tem razão. É que estou muito nervosa.
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Detetive: Eu te entendo. Mas tenta manter a calma e espera eu terminar.
Voltando ao que eu estava falando. Eu fui puxando a língua do dono do bar e ele parecia gostar de falar. Foi me contando tudo que sabia. Que meu amigo tinha chegado ali há dois anos para morar com a irmã e logo comprou um sítio vizinho ao da irmã. Porém ele nunca fez nada no sítio. Desde de o início só bebia e bebia até cair. No fim a irmã o levou para casa dela, mas não adiantou nada. O meu amigo se entregava cada vez à bebida até virar um alcoólatra. Que passou a dormir na rua. E deu muito trabalho para a irmã e para o marido dela. No início do ano que tinha terminado eles o internaram em uma clínica de reabilitação, mas mesmo ficando lá por uns meses não resolveu. Ele saiu e voltou a beber do mesmo jeito. Mas ficou sabendo que ele voltou a ser internado quase no final do ano. Ficou dois meses lá e saiu. Desde então ninguém mais o viu. Que o comentário que tinha na cidade é que ele estava morando com uma mulher que ele conheceu lá na clínica. Parece que ela era psicóloga ou algo assim.
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Eu agradeci ao homem pelas informações e fui pesquisar sobre essa clínica. Ela ficava na cidade vizinha. A cidade era um pouco maior e graças a ajuda de um amigo de Curitiba eu consegui as fichas das psicólogas da clínica. Uma me chamou a atenção. Ela entrou na clínica a dois anos atrás. Era viúva e tinha uma filha de 20 anos. Ela morou quase dois anos na cidade onde ficava a clínica, mas se mudou há pouco tempo. O novo endereço era de um sítio e por coincidência era o mesmo sítio do seu pai. Eu claro imaginei que ela era a salvadora do seu pai. Eu não sabia se devia me meter, mas se essa mulher gostava mesmo do seu pai a ponto de vir morar com um ex alcoólatra, ela com certeza gostava muito dele e então resolvi arriscar. Paguei o hotel que eu estava e fui para a cidade vizinha.
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Eu me instalei em um hotel e no dia seguinte fui até a clínica, descobri que eu não iria conseguir nenhuma informação ali. O local é muito seguro e só permite a entrada de pessoas que trabalham lá e parentes dos internos em dia de visita. Eu pensei que talvez o jeito seria tentar ir no sítio, mas eu não tinha uma boa desculpa para ir lá e tentar descobrir mais coisas. Então resolvi ir direto na fonte. Era tudo ou nada, foi a única opção que pensei na hora. Fiquei na porta da clínica e quando o pessoal saiu à tarde eu reconheci a psicóloga e me aproximei dela. A chamei e me apresentei. Fui sincero com ela, mas ela não acreditou muito, acho achou que eu era algum repórter ou algo assim. Aí mostrei a nossa conversa no whats onde você me mandou as fotos do seu pai e me passou algumas informações. Quando ela viu, acreditou que eu era mesmo um detetive particular trabalhando para você.
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Depois disso ela ficou mais tranquila e perguntou o que eu queria. Eu disse a ela o motivo de eu estar ali, que eu queria saber mais sobre a atual situação do seu pai para poder te preparar melhor para revê-lo. Ela me disse que quem precisava ser preparado era o seu pai se isso fosse a alguns dias atrás, mas que depois que o seu pai viu o vídeo que você contou tudo que aconteceu não tinha nada mais nesse mundo que seu pai queria do que te reencontrar e se desculpar com você. Ela disse que queria falar com você antes de você ir vê-lo, mas que você poderia ficar tranquila que você seria muito bem recebida na casa deles.
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Ela depois disso me disse mais algumas coisas, mas de importante é que realmente o que você falou no vídeo é verdade. Que sua mãe fez exatamente o que você falou. E que seu pai perdeu o chão e foi embora. E que ele poderia te contar melhor os detalhes quando você fosse vê-lo. Ah ela disse que está sim morando com seu pai, que o ama muito e torce para que você aprove o relacionamento dos dois. Ela me passou o numero dela e disse que você pode ligar quando quiser para conversar com ela. Ela disse que não iria contar nada ao seu pai até você estar na cidade porque não seria saudável para ele ficar ansioso com algo no momento, porque ele ainda está em recuperação. Bom eu acho que é isso basicamente o tinha para te contar.
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Luciana: Muito obrigada! Você fez muito mais do que nós combinamos. Te agradeço muito por todas essas informações.
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Detetive: Imagina. Você é uma boa garota e depois de ver aquele vídeo eu me senti na obrigação de ajudar e mostrar que ainda tem pessoas boas nesse mundo.
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Luciana: Você realmente é uma pessoa boa. Nunca vou esquecer o que você fez por mim.
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Detetive: Obrigado. Eu vou te passar um envelope com todas as informações que você precisa. Está no meu carro e daqui para frente você decide o que fazer, mas se eu fosse você iria logo ver seu pai. Sua visita pode ajudá-lo muito na sua cura e recuperação completa.
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Luciana estava visivelmente emocionada com tudo que ouviu, mas apesar de tudo que houve com o seu pai ela tinha a certeza que ele estava vivo e queria reencontrar ela. Com certeza ela estava feliz de saber disso, porque eu estava. Provavelmente esse reencontro seria uma das últimas coisas que faltava para ela poder ser feliz de vez. Minha mãe que tinha trazido o café por instinto veio abraçar nós duas. O detetive bebeu uma xícara de café e disse que precisava ir. A gente foi com ele até o portão e ele pegou o envelope no carro. Luciana deu um longo abraço nele e disse que assim que entrasse iria fazer a transferência do dinheiro que faltava. Ele disse que não tinha pressa. Nós despedimos e ele se foi.
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Quando voltamos para dentro Luciana me arrastou para meu quarto e abriu o envelope que o detetive deixou. Tinha tudo bem detalhado de como chegar à cidade e depois ao sítio. Também tinha o nome e telefone da psicóloga e o endereço da clínica. Luciana pegou o celular e fez a transferência do dinheiro do detetive. Ficou olhando os papéis e me olhou umas duas vezes querendo me falar algo, mas desistiu. Eu dei um beijo nela e disse que no outro dia de manhã a gente iria.
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Luciana: Eu realmente ia te perguntar isso,mas você está com sua família e não queria te tirar daqui.
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Tamires: Tem três anos que você não vê seu pai. Acho que no momento ir vê-lo é uma prioridade para você e para mim também. Na volta a gente passa aqui e fica mais uma semana. Podemos ficar 15 dias lá no seu pai.
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Luciana: Vou aceitar amor. Obrigada por ser tão perfeita.
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Tamires: Não sou perfeita não. Tenho meus defeitos.
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Luciana: É verdade, você ronca. Kkkk
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Tamires: Como é que é?
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Luciana: Desculpe amor, mas é verdade. É baixinho, mas ronca. Kkkkkkkkk
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Tamires: O que a intimidade não faz com as pessoas kkkkkkk
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Eu já sabia disso. Kamila vivia me zoando e até gravou uma vez para me zoar. Mas realmente era baixo. Eu diria que era até bonitinho meu ronco.. Kkkkk
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Depois daquela conversa mais leve e das boas risadas da Luciana o clima ficou mais leve. Mas eu ainda tinha um assunto meio delicado para tratar, falar com minha mãe sobre a viagem. Eu queria poder passar mais tempo com ela, até porque a amo muito e estava com saudades. Mas infelizmente naquele momento eu achei que ir com Luciana para reencontrar o pai era prioridade. Conversei com minha mãe e depois da conversa me lembrei o porque a amo tanto. Ela foi super compreensiva comigo e ainda deu o maior apoio pela decisão que tomei. Minha mãe é realmente uma pessoa incrível e uma mãe mais incrível ainda. Tenho muita sorte por ter a mãe que tenho, na verdade eu tenho sorte de ter a família que tenho, eles são incríveis!
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Dormimos cedo naquela noite porque queríamos sair cedo. Teríamos que atravessar o estado de SC até chegar onde queríamos, a viagem duraria quase seis horas e seria bem cansativa. Saímos às sete da manhã. Luciana parecia estar bem animada. Durante o trajeto conversamos sobre vários assuntos, inclusive se o amigo do detetive era um hacker. Chegamos ao consenso que sim. Mais uma vez Luciana não deixava de admirar as belas paisagens durante o percurso. Quando chegamos na cidade ligamos para a psicóloga que nos atendeu e conversou um bom tempo com Luciana. Ela pediu para a gente esperar na praça central da cidade que ela iria pedir para sua filha nos buscar.
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Ficamos aguardando uma meia hora até que um carro estacionou na nossa frente e uma bela garota desceu dele e veio até a gente. Abri o vidro do carro e ela já viu Luciana do outro lado e abriu um sorriso. Ela nos cumprimentou e perguntou se a gente estava bem. Falamos que sim. Ela disse que seu nome era Janaina e pediu para a gente seguir ela. Eu concordei e ela voltou ao carro. Demoramos uns 25 minutos até chegar em um sítio bem bonito. Assim que descemos do carro, Janaina veio nos dar um abraço. Ela me pareceu ser uma garota bem legal. Quando estávamos caminhando até a varanda da casa a porta se abriu e vi sair uma mulher que com certeza era a psicóloga e junto dela um homem de uns 50 anos mais ou menos, magro, com os cabelos quase todos brancos e um belo sorriso no rosto. Ele se apressou em vir na nossa direção e Luciana acho que se pudesse teria corrido ao seu encontro. Eu até parei onde eu estava para ver aquela cena. Os dois se abraçaram e nada foi dito naquele momento. Mas dava para ouvir os primeiros sons de choro que vinha dos dois. Era um choro cheio de saudades, de arrependimentos, mas principalmente de felicidade por estarem ali um no abraço do outro novamente!
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper