Depois da noite incrível com o Caio, finalmente voltei para casa. Quando cheguei, minha mãe estava de saída para o trabalho. Ela não sabia que eu tinha dormido fora, pensava que eu tinha acabado de chegar da viagem. Ao me ver, ela sorriu de leve, mas havia um ar de cansaço em seu rosto.
— Finalmente de volta, né? Como foi a viagem, meu filho?
— Foi ótima, mãe! A capital é incrível, consegui resolver tudo o que precisava. E sabe o que mais? Vi o mar pela primeira vez. O Sr. Antônio me fez uma surpresa, me levou lá sem eu nem perceber. Foi lindo! — falei com entusiasmo, tentando esconder o quanto aquele momento havia mexido comigo.
— Ah, o mar... já ouvi falar, mas nunca vi. — Ela respondeu com um leve desinteresse, como se quisesse mudar de assunto. — E o Sr. Antônio, como ele está? Ele tem te tratado bem?
— Tá tudo certo, mãe. Ele foi super atencioso durante a viagem, me ajudou bastante. Foi bom ter a companhia dele. E agora, o Sr. Allyson pediu pra eu ir na fazenda hoje. Vou lá daqui a pouco.
Ao mencionar isso, percebi um leve incômodo em seu semblante. Ela respirou fundo e hesitou antes de responder.
— Filho, você sabe que eu nunca gostei muito dessa sua proximidade com os Carneiro... — ela começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Eu sei que você trabalha lá, mas não acho que esse lugar seja pra gente. Eles são... diferentes. Nós somos humildes, sabe disso. E essas coisas, essa história toda de querer ir morar na capital, de passar no vestibular... Eu só não quero que você se machuque. A vida não é fácil pra gente.
— Mãe, eu sei disso, mas eu quero tentar! Quero algo diferente pra mim, e ir pra capital, estudar... é o meu sonho! — Eu disse, sentindo uma mistura de frustração e determinação ao tentar convencê-la.
Ela balançou a cabeça, como se estivesse cansada da conversa, mas ainda assim preocupada.
— Eu só quero que você seja realista, Rafa. Não é todo mundo que nasce pra isso... e essa gente da fazenda, os Carneiro, não sei... Tem coisa aí que você não sabe.
— Coisa? Que coisa, mãe? — perguntei, curioso.
Ela desviou o olhar, claramente desconfortável com o rumo da conversa.
— Nada, filho. Só toma cuidado. Essa gente, eles vivem num mundo diferente do nosso. Só espero que você saiba o que está fazendo.
Ela pegou sua bolsa e suspirou, como se tivesse dito mais do que queria.
— Eu preciso ir. A gente conversa mais tarde.
— Tá bom, mãe... — disse, vendo-a sair pela porta, mas ainda com aquela sensação de que ela sabia de algo que eu não.
Organizei algumas coisas em casa e deitei um pouco, tentando descansar antes de ir à fazenda conversar com o Sr. Allyson. Mas a verdade é que minha mente não parava. As palavras da minha mãe ecoavam dentro de mim, me deixando com aquela sensação incômoda, como se uma pulga estivesse atrás da minha orelha, cutucando. Eu sabia que tinha algo ali, algo que ela não me contava, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim hesitava em ir mais fundo, talvez por medo do que eu poderia descobrir. Não sei se estava pronto para encarar essa verdade, seja lá o que fosse.
Naquela época, eu era uma explosão de sentimentos. Tudo dentro de mim parecia à flor da pele, e às vezes eu mal conseguia processar o que estava sentindo. O envolvimento com o Bernardo, ainda que complicado, mexia comigo. Ao mesmo tempo, a paixão que eu sentia pelo Caio era avassaladora, uma daquelas que consome por dentro, queima com força, mas que também me deixava vulnerável. Além disso, havia o peso do trabalho na fábrica, os dias exaustivos que me faziam questionar o futuro. E então, o sonho de passar no vestibular, de ir embora para a capital e tentar uma vida nova, longe de tudo, longe das incertezas daqui.
Eu estava tentando equilibrar tudo isso. Era um misto de ansiedade, medo e esperança. E olhando para trás agora, vejo que, mesmo com toda a confusão, fui mais forte do que imaginava. Eu precisei desenvolver uma inteligência emocional que, na época, nem sabia que tinha. Afinal, entre os altos e baixos, entre os amores e as dúvidas, eu consegui não surtar, mesmo com a tempestade que se formava dentro de mim.
Cheguei na fazenda dos Carneiros e, como sempre, senti uma sensação de paz ao colocar os pés ali. Me lembrava da antiga fazenda que eu morava, e tudo me parecia familiar e acolhedor, apesar do tamanho imponente da propriedade. A fazenda era vasta, com extensos campos verdes que pareciam se perder no horizonte. Árvores frondosas ladeavam as estradas de terra batida, e o som do vento soprando suave pelas folhas era quase terapêutico. Além das terras de plantação e do gado, havia uma grande sede principal, uma casa antiga, de arquitetura colonial, com varandas amplas, janelas de madeira maciça e telhados vermelhos que contrastavam com o céu sempre limpo do interior. Ao redor da casa, jardins bem cuidados com flores coloridas completavam o cenário, e ao fundo, uma lagoa refletia o brilho do sol, onde contemplava um belíssimo pôr do sol.
Ao entrar na sede principal, vi o Sr. Alyson à mesa, conversando com uma mulher que não conhecia. Era sua esposa, Cláudia, médica, e pelo que ouvi falar, passava pouco tempo na cidade do Alto devido ao trabalho. Eu já tinha ouvido muito sobre ela, mas essa seria nossa primeira conversa formal. Assim que entrei, Alyson se levantou para me receber com um sorriso caloroso e braços abertos.
— Rafael! Bom te ver, rapaz! Como foi a viagem? — ele me cumprimentou, mas percebi uma certa tensão no olhar dele, como se estivesse preocupado com algo.
Antes que eu pudesse responder, Cláudia também se levantou e, para minha surpresa, foi ela quem tomou a palavra primeiro.
— Então, você é o famoso Rafael? — disse Cláudia, com um sorriso que parecia amigável, mas suas palavras me deixaram inquieto. "Famoso"? O que ela queria dizer com isso?
Notei que, assim que ela disse isso, Alyson lançou um olhar rápido para a esposa, uma mistura de aviso e desconforto, tentando controlar a situação.
— Cláudia... — ele começou, interrompendo-a com uma voz calma, mas firme. — Rafael acabou de chegar. Vamos falar de coisas mais... leves agora.
Ela sorriu de forma enigmática, como se soubesse de algo que eu não sabia, e aquilo acendeu outra pulga atrás da minha orelha. O que ela sabia sobre mim que eu não sabia?
— Ah, claro. Não vamos aborrecer o rapaz com histórias antigas — respondeu Cláudia, mas havia algo nas entrelinhas da fala dela, como se quisesse falar mais, mas soubesse que não devia.
Antes que o clima pudesse ficar mais pesado, a porta se abriu, e Bernardo entrou na sala, interrompendo o que parecia ser uma conversa carregada de segredos.
— Oi, Rafa — ele disse casualmente, como se fosse a coisa mais normal do mundo aparecer naquela situação tensa.
A entrada repentina de Bernardo trouxe um alívio para todos na sala, mas enquanto Alyson se levantava para cumprimentar o rapaz, vi que ele cochichou algo no ouvido de Cláudia, algo que não consegui ouvir, mas o jeito como ela assentiu discretamente me deixou ainda mais intrigado. Eles estavam escondendo algo de mim, e eu sentia que aquilo tinha a ver com o meu passado, talvez até com o meu pai. Mas, por enquanto, eu teria que guardar minhas perguntas para outro momento.
Assim que Alyson me chamou para o escritório, lancei um olhar rápido para Bernardo. Ele estava deslumbrante como sempre, seus olhos verdes brilhando contra a pele clara e os cabelos pretos. A vontade de beijá-lo ali, na frente de todos, foi instantânea, mas me contive. Afinal, seu pai era meu patrão, e eu sabia que Alyson jamais aceitaria um relacionamento entre seu filho e um de seus empregados. Me contive, escondendo o desejo por trás de um sorriso discreto, e segui para o escritório.
— Senta aí, Rafa. Precisamos conversar sobre alguns detalhes do trabalho — disse Alyson, puxando uma cadeira para mim.
Ele começou a falar sobre os novos contratos que eu havia conseguido para a fazenda. O tom da conversa era profissional, mas eu podia sentir o orgulho por trás das palavras dele.
— Você está fazendo um ótimo trabalho, garoto. Esses contratos vão dar um bom retorno para nós — ele disse, me lançando um olhar satisfeito. — No final do mês, vou te dar um bônus. Você merece.
Minha felicidade foi imediata. O salário que eu ganhava na fazenda dos Carneiros já era bem superior ao que recebia na antiga fazenda, e agora, com esse bônus, seria ainda melhor. Eu sabia que essa grana ajudaria bastante a mim e minha mãe, afinal, morar no interior tinha suas vantagens quando se tratava de despesas.
— Muito obrigado, Sr. Alyson. Eu fico realmente feliz em poder contribuir — respondi, com um sorriso de satisfação.
Enquanto conversávamos sobre os detalhes do trabalho, um dos funcionários entrou no escritório, parecendo aflito.
— Senhor, um dos rapazes faltou hoje, e precisamos de mais gente para aplicar as vacinas nos animais. Tem alguém na cidade que possa ajudar? — ele perguntou.
Antes que Alyson pudesse responder, me prontifiquei.
— Eu posso ajudar! Tenho experiência com isso na antiga fazenda, e estou à disposição.
Alyson me olhou por um momento, surpreso, mas logo abriu um sorriso, aceitando minha oferta.
— Está certo então, Rafa. Se você quer ajudar, fique à vontade. Confio no seu trabalho.
Enquanto me levantava para sair, Alyson soltou uma risada leve e, em tom de brincadeira, disse:
— Qualquer dia desses, vou te chamar pra administrar essa fazenda, hein?
Ri com ele, mas não pude evitar sentir uma alegria sincera com o elogio. Saber que meu trabalho estava sendo valorizado daquele jeito me encheu de orgulho, e por mais que ele tenha dito em tom de brincadeira, o comentário ficou na minha cabeça.
Passei o resto do dia ajudando o veterinário e os outros funcionários na fazenda, aplicando vacinas e organizando o gado. O trabalho foi puxado, mas me sentia à vontade ali, como se a fazenda dos Carneiros fosse uma extensão natural de mim. Percebi que Alyson me observava de longe, atento a cada movimento, como se estivesse me analisando. O olhar dele me dava uma mistura de segurança e um leve desconforto, mas segui firme, querendo mostrar meu melhor.
Já era final de tarde quando terminei o trabalho. Suado e exausto, estava me preparando para ir embora quando dei de cara com Bernardo, que me esperava perto dos veículos.
— Vai pra cidade agora, Rafa? — ele perguntou, com aquele sorriso meio de lado que me tirava o fôlego.
— Sim, estava me organizando pra isso — respondi, ajeitando meu chapéu.
— Então, bora comigo. Te dou uma carona — ele disse casualmente, mas o brilho no olhar dele deixava claro que ele queria mais do que só me levar de volta.
Assim que entrei no carro e nos afastamos da fazenda, a tensão entre nós ficou palpável. Mal havíamos saído da visão dos outros quando Bernardo freou o carro bruscamente e me puxou pelo colarinho da camisa, os lábios encontrando os meus de forma urgente.
Eu me afastei um pouco, tentando recuperar o fôlego.
— Eu tô podre, Bernardo. Suado e cheio de poeira — falei, tentando disfarçar o desejo que já crescia em mim.
Ele riu, me puxando de volta.
— E você acha que eu ligo pra isso? Eu tô com saudade, Rafa. De você... dos seus beijos.
O jeito que ele falou, quase sussurrando, me fez derreter. Não consegui resistir. O beijo que veio em seguida foi intenso, cheio de desejo reprimido. Seguimos rumo à cidade, mas Bernardo desviou o caminho, dirigindo até uma trilha que terminava em um rio escondido, cercado pela mata. O som das águas correndo era tranquilo, e o lugar parecia perfeito para nós dois.
— Vem cá, vamos tomar um banho — ele sugeriu, um sorriso malicioso nos lábios, enquanto saíamos do carro.
O rio era cristalino, com a água fresca e convidativa, e antes que eu pudesse responder, Bernardo já estava tirando a camisa, entrando na água sem hesitar. Ele se virou para mim, ainda de jeans, e me olhou com aquele olhar que sempre me desarmava.
— Vai ficar aí parado, Rafa? — provocou, me puxando pela mão.
Eu sorri, tirando minhas roupas e mergulhando na água junto com ele. A sensação da água fria em contraste com o calor entre nós era eletrizante. Ficamos ali, aproveitando a tranquilidade do lugar, e quando ele se aproximou de mim, o desejo explodiu de novo.
Nos beijamos com mais intensidade, as mãos dele explorando meu corpo molhado enquanto a água nos envolvia.
— Acho que já era hora da gente matar essa saudade — murmurei, entre os beijos, sentindo o corpo dele junto ao meu na água fresca.
Bernardo sorriu, um sorriso provocante, enquanto suas mãos deslizavam pela minha pele. O banho no rio se transformou em algo muito mais íntimo, cheio de desejo e carinho, ali a gente fez amor, um sexo tranquilo leve, e sem muita selvageria. Éramos dois jovens vivendo o começo de uma grande história de amor que estava apenas começando.