Milena viajou com o pai para passar quinze dias com ele. Foi um pouco triste; Kaique também ficou. Seria a primeira vez que ficariam tanto tempo afastados.
Juh e eu resolvemos deixar nosso filho assistir até um pouco mais tarde. Ele estava de férias e sentindo falta da irmã. Não que uma coisa substitua a outra, mas ele merecia um agrado. No outro dia, íamos dar um passeio e arranjar algo legal que Kaká quisesse fazer.
Fui dormir com meu amorzinho nos meus braços, mas, de madrugada, a ouvi me chamar. Digamos que eu não sou a melhor pessoa para ser acordada; demoro um pouco para raciocinar, mas o tom de voz ligou um alerta por todo o meu corpo.
— Amor? — me chamou baixinho. Senti sua mão fria e suada me tocando.
— Hum? Oi... — respondi, abrindo os olhos.
Juh tinha um rostinho triste. Não estava chorando, mas algo havia acontecido.
— O que houve, gatinha? — perguntei, sentando e a chamando para meus braços.
— Tive um pesadelo bem ruim e não consigo dormir de novo, mas te acordei porque preciso muito de um abraço — disse ao encostar em mim. A abracei bem forte.
— Quer contar agora ou acha melhor amanhã? — perguntei.
— Eu não conseguia engravidar. A gente tentava, e tentava, e nada... — começou a falar baixinho.
— Foi só um pesadelo, amor... Já passou, não é real, tá? Daqui a um tempo, vai ter um neném bem aqui — passei a mão em sua barriga — e vai ficar tudo bem.
— Foi muito real — disse, me olhando nos olhos.
— Mas não foi. Você não tem motivos para pensar assim; só vai ficar triste, gatinha — falei, fazendo carinho em seu rosto.
Ela assentiu e me abraçou. Novamente, eu a apertei, confirmando que estava tudo bem. Deitamos em uma conchinha, e logo ela dormiu.
Quando acordei pela manhã, fui direto procurá-la porque não estava mais na cama. Encontrava-se na mesa, concentrada no celular. Beijei o seu pescoço e passei os olhos no que ela estava fazendo. Júlia mergulhou em pesquisas sobre cada motivo que pode fazer uma mulher não engravidar.
— Mais de 10 guias abertas! Você vai fritar seu cérebro assim, amor... — falei.
— Marquei uma consulta pra mim e outra pra você — me respondeu.
— Oxe, pra mim? Por quê? — perguntei.
— Não sei, me pareceu certo — disse-me.
— Seus pesadelos sempre sobram pra mim — falei, rindo.
Como ela continuava se martirizando, arranquei o celular de suas mãos. Ela se assustou, e eu afirmei que estava confiscado até segunda ordem. Juh levantou, brava, e começou a correr atrás de mim tentando pegá-lo.
— Chega! Me devolve agora, Lore! — ordenou.
— Continue tentando, amor — respondi, balançando o aparelho.
Ela se sentou irritada no sofá, e fui para cima dela, enchendo-a de beijinhos.
— Oh, môdeux! Como ela fica lindinha brava — falei, desmanchando com os dedos o bico que ela estava fazendo, que, sem querer, se transformou em um sorrisinho.
— Linda! — exclamei e a beijei. — Toma... — entreguei o celular e a aconselhei a parar de encher a cabeça de problemas inexistentes e sem base.
Nosso filho acordou e se juntou a gente no sofá. Perguntamos o que ele queria fazer, e imediatamente Kaique pediu para ir à praia. Eu ri.
— É muito nosso filho mesmo, não é? — perguntei.
Juh confirmou, rindo, e enchendo-o de beijinhos.
Enquanto estávamos no carro, notei que, de vez em quando, minha muié retornava aos sites. Então, quando chegamos, juntei nossos celulares e coloquei no porta-luvas. Ela só sorriu, como se tivesse entendido, e saímos.
Pensei que ela ia acompanhar Kaká no mar, porque geralmente Juh quase não sai de lá, mas ela apenas se deitou ao meu lado na areia. Fingia estar bem, porém eu sabia que ela ainda estava abalada.
— Prefiro quando você me obriga a entrar no mar — falei, fazendo carinho em sua pele, e ela sorriu.
— Hoje eu não quero. Você está livre de mim — disse, fazendo um draminha.
— Sabia que eu até já acostumei? — falei, apoiando meu cotovelo para olhar em seus olhos. — Faz tempo que eu nem ligo mais em ter que ficar com a roupa molhada, já que vou ficar a vida inteira ao seu lado.
Imediatamente, um sorriso verdadeiro floresceu, e Juh veio ao meu encontro para me dar um selinho.
— É mesmo? — perguntou de forma doce.
— Com certeza, não tenha dúvidas sobre isso... — e dei outro selinho.
— Você admite então que o meu modo de curtir é mais legal? — falou com um sorriso convencido.
Eu sou completamente apaixonada por todos os jeitos dessa mulher. Ela é uma mistura fascinante de doçura e intensidade. Seu sorriso ilumina qualquer ambiente, capaz de transformar um dia comum em algo mágico. Há uma empolgação contagiante em suas palavras, e seus olhares, profundos e envolventes, revelam um charme irresistível que me deixa completamente encantada. Ao mesmo tempo, quando ela quer, há uma sensualidade sutil em seus gestos, uma graça que se destaca sem esforço. Essa dualidade a torna única, um verdadeiro conjunto maravilhoso que cativa meu coração a cada instante compartilhado.
— Eu te amo tanto, gatinha — falei pondo a mão em sua cintura e puxando-a para um beijo mais quente.
Nossos lábios se encontraram, e foi como se o tempo parasse. O beijo lento, cheio de calor, cada movimento calculado e delicado, mas cheio de vontade. Senti a suavidade dos seus lábios contra os meus, um calor se espalhava por todo o meu corpo. A brisa suave tocava nossos rostos, porém comparado ao fugor que percorria minha pele era como se fosse nada. Meu corpo se inclinava querendo mais proximidade, segurei com uma mão abaixo do seu peito e percebi nossos corações acelerados. Suas mãos envolveram meu rosto, na intenção de diminuir a intensidade, abri os olhos e a vi sorrindo pra mim e finalizando aquele momento com alguns selinhos.
— Esqueceu onde estamos? — Perguntou de forma divertida.
— Por um momento, sim... — confirmei, rindo.
— Você é maluca, amor — disse enquanto eu repousava minha cabeça sobre seu abdômen.
— Conter a paixão que eu sinto por você que é maluquice, deveria ser crime — brinquei e ela riu.
— Eu também te amo — disse olhando no fundo da minha alma, com um sorriso apaixonado
Permanecermos assim por algum tempo, trocando olhares eletrizantes, com nossas mãos entrelaçadas fazendo carinho uma na outra.
— Eu quero viver isso para sempre com você — falou
E em confirmação, levantei meu corpo e fui em sua direção para mais um beijo arriscado, eu não estava conseguindo me controlar, tudo estava me atraindo cem vezes mais. Na tentativa de cessar por ali, Juh cruzou seus braços no meu pescoço e me puxou, mas isso só fez meus lábios descolarem dos seus e partirem para seu pescoço, pois foi onde encaixei meu rosto para uma sequência de cheirinhos, beijos e algumas mordidas. Isso a fez rir e a mim também.
— Vamos para o mar agora apagar esse seu fogo que tá me incendiando também — falou, ainda rindo.
— Vamos, antes que o povo coloque a gente para fora daqui — concordei e imediatamente ela lançou um olhar preocupado ao redor, mas relaxou ao perceber que ninguém nos notou aparentemente.
Fomos até onde estava nosso filho; ele brincava de bola com outras crianças. Fui de mansinho por trás dele, mergulhei e dei uma pequena mordida em seu pé. Quando emergi, não consegui me conter ao observar seu olhar assustado. Kaique estava grudado em Juh, que também ria da situação.
— Maaaaaae! Não teve graça — falou, mas ele mesmo queria rir.
— Que foi? — perguntei, fazendo-me de desentendida.
— A senhora me mordeu — me acusou.
— Acho que foi um tubarão — brinquei, colocando-o sobre meus ombros, e ele riu.
Fomos nós três para um lugar mais fundo, porque era mais radical, e ele nos mostrou tudo que Milena vinha ensinando a ele na piscina. Ela o ensinou a nadar. Depois, brincamos de quem ficava mais tempo embaixo d'água, e eu humilhei os dois peixinhos.
— Vocês passam tanto tempo no mar e não adianta nada. Como é que pode isso? — perguntei, enquanto retornávamos para a areia.
— Não valeu! — se defendeu Juh. — Nós não estávamos preparados, não é, filho?
— Foi, mamãe... Não valeu! — concordou Kaká.
— Nunca vale quando me dou bem em algo. Incrível... — falei, rindo, e eles me acompanharam.
Sentamos e nos refrescamos com água de coco, enquanto cada um decidia o que pediria para almoçar. Após nos alimentar, achei que íamos embora, porque, pelo menos eu, senti um soninho. Mas os dois inventaram de construir um castelo de areia. Fiquei observando e achando fofo o jeito dos dois brincando, mas de repente notei que cochichavam e riam, olhando para mim.
— O que vocês estão tramando contra mim? — perguntei.
— Naaaaada — disse Kaká, com o sorriso mais gaiato do mundo, e sentou no meu colo.
— Como você ousa pensar que íamos fazer algo contra ti? — disse Juh, me abraçando por trás.
— A gente só estava pensando em te chamar para brincar, mãe — disse meu filho.
— Huuuum, brincar de quê? Fazer castelo? — perguntei.
— Não... Os castelos já terminamos... — disse minha esposa, depositando um beijo no meu pescoço.
— Por favor, mãe, deixa a gente te enterrar um pouquinho só! — implorou Kaique, se jogando na areia de joelhos, virado para mim.
Comecei a rir de tão descabido que achei o pedido e disse:
— Nem pensar! Fora de cogitação!
— Amor, vai negar um pedido do seu filho assim? — perguntou Júlia, ainda beijando meu pescoço.
— Por que não vai você? — perguntei.
— Porque a gente quer você — me respondeu.
— Por favor, maaaaaaae!!!!! — pediu Kaká.
— Vai, amooor! — pediu Juh e, depois, me deu um selinho.
— Eu aqui admirando a relação de mãe e filho brincando e a mente maquiavélica de vocês querendo que eu me encha de areia — falei.
Júlia segurou meu rosto, deu um beijo mais demorado na minha boca e sussurrou no meu ouvido: — Vai logo!
— Vai custar caro, ouviu? — Respondi apontando para os dois que riam.
Eles começaram a escavar até quando acharam que deviam e me chamaram. Me enfiei de uma vez para não ter o risco de desistir, negava veementemente com a cabeça sem acreditar que estava me sujeitando a aquilo.
— Não quero nem saber, eu já paguei dívida pelo ano inteiro ontem — disse Juh perto do meu ouvido e os dois começaram a jogar areia sobre mim, me causando uma agonia extrema.
Eles não paravam de rir, as pessoas ao redor também não. Juh tirou várias fotos, enviou para meus irmãos, tirou uma me beijando para o Instagram e finalmente Kaká liberou minha saída dali.
— Tem areia em lugares que eu nem sabia que existiam — falei, antes de correr para o mar, tentei tirar tudo, mas parecia uma missão impossível.
Quando voltei eles já estavam prontos para irmos embora e assim fizemos. Tenho mania de manter a mão na coxa de Juh enquanto estou dirigindo, fazendo carinho de leve, divido minha mão esquerda entre o volante e marcha, em certo momento em que o trânsito parou, deu um beijinho nela e ela virou a câmera traseira para nós, só então percebi que estava gravando.
— Por que tá gravando? — Perguntei rindo
E ela me mostrou a filmagem no story, foi do exato momento em que passei a marcha, voltei a mão para o volante e a beijei e tinha escrito: "Amo quando ela faz isso", eu sorri e dei outro beijo.
Júlia ficou observando o vídeo não sei quantas vezes, eu sabia, pois ela tinha colocado de fundo Poesia Acústica #2 e a música repetia sem parar, quando o sinal fechou olhei para nosso filho que dormia de forma engraçada com a cabeça caída para frente, fui mostrar pra Juh e percebi que por algum motivo ela estava puta, e continuava vendo o vídeo sem parar.
— Que foi, amor? — perguntei, apertando sua coxa.
— Vou apagar esse vídeo — falou, aparentemente brava.
— Por que, mulher? Ficou bonitinho, principalmente porque foi natural — disse-lhe.
— Mas você acabou ficando gata demais — me respondeu.
Comecei a rir de forma descontrolada e acabei acordando nosso filho, sem dar a chance de mostrar a cena engraçada que estava no banco traseiro.
— Você está puta, com ciúme por causa de um vídeo que você fez e postou? — perguntei, ainda rindo.
— Sim, olha como você tá de perfil, uma gostosa. Aí, daqui a pouco, tem um monte de gente desejando você e eu sem saber — me respondeu, como se fosse óbvio.
— Ciumenta! — exclamei, sorrindo.
E Juh apagou o vídeo do Instagram.
Ao chegar em casa, passei mais de 2 horas tirando aquele tanto de areia de mim, e acho que até hoje devem se encontrar grãos pelo meu banheiro; parecia não ter fim.
Anoiteceu, e Mih fez uma videochamada com a gente. Contamos nosso dia, ela contou o dela, também havia ido à praia, mas estava ansiosa para contar algo. Parecia ser segredo, porque abaixou o tom de voz e olhava para os cantos como se estivesse com medo de que mais alguém entrasse (o pai estava no mesmo ambiente).
— A minha vó tá careca — falou, com as mãos na boca e com os olhos arregalados. Conseguimos ouvir seu pai rindo de fundo.
— Por quê???? — perguntou Kaká, curioso e assustado.
— Porque ela tá doente e o remédio fez o cabelo cair — explicou.
— Mas é para ela ficar bem, filha, depois o cabelo cresce — falei, tentando encerrar o assunto.
— Peraí que vou mostrar... OH, VÓ! — gritou, pulando da cama.
Juh e eu nos encaramos e começamos a dizer diversas vezes que não precisava, mas o celular chegou na mão da minha ex-sogra, que estava bem diferente da última vez que a vi.
— Vó, mostra sua careca pra minhas mães e meu irmão — pediu minha filha.
Juh silenciou o microfone, se jogou do outro lado da cama, começou a rir em desespero e disse:
— Amor, pelo amor de Deus, fala alguma coisa!
— Oi, como a senhora está? — perguntei, enquanto Milena fazia um 360° na cabeça da avó.
— Eu estou melhor, Lore. Obrigada por perguntar... Com um pouco menos de cabelo, mas isso é o de menos... — disse, sorrindo.
— Desejo sua recuperação completa, tenho fé que virá — falei, tentando passar ânimo.
— Milena tem falado bastante do irmão, cadê ele? — perguntou, e Kaká imediatamente apareceu dando tchauzinho.
Ela o elogiou, Mih contou a história de que são gêmeos e sobre a data de nascimento deles, o que a fez ficar impressionada com a coincidência. Ela também brincou pedindo o cabelo do meu filho por estar sem, e Kaique, mesmo meio confuso, confirmou que, quando cortasse, mandaria pela irmã, mas explicou que demoraria porque havia cortado recentemente. Foi convidado a aparecer lá com Mih e ele apenas sorriu e me olhou, porque sabia que a probabilidade de acontecer era mínima, mas foi educado e cuidadoso o suficiente para não criar um clima tenso.
Quando Milena ia retornando para o quarto, Juh voltou para a ligação e fomos conversando com ela, sendo mais cautelosos ao tocar nesse assunto, pois poderia ser sensível demais e acabar machucando a avó. Ela assentiu, mostrando que entendeu.
Nos despedimos e combinamos o horário da ligação do dia seguinte, que seria um pouco mais cedo para que pudéssemos conversar mais.
Estávamos prontas para dormir, Kaká já ia se dirigindo ao seu quarto quando disse:
— Mih ama fazer surpresas, por que a gente não faz uma para quando ela voltar?
— Pode ser — falei. — Pensou em algo?
— A gente poderia adotar um gato! — disse e saiu fechando a porta.
— Gato dá trabalho — alertei, vendo Juh já com um rostinho animado.
— Ia ser legal criar um bichinho, amor — falou.
— De gatinha já basta você — brinquei e dei um beijo em seu rosto.
— Amor, você nem pensou e já vai dizendo não... Poderia ser uma responsabilidade para eles dois: cuidar, brincar, limpar — tentou.
— Nós passamos o dia inteiro fora, amor, quem vai ficar com esse gato? — perguntei, e ela ficou pensativa. — E de onde você tirou que eu disse não? Só falei que dá trabalho, mulher — e dei outro beijinho.
— O gato vai agradecer pelas horas de descanso, porque as crianças vão exigir muito da energia dele — me respondeu.
Fiquei olhando para o rostinho dela e só gesticulei, sem conseguir dizer nada. Ela entendeu que tinha vencido mais uma.
(na verdade, eu sabia que nada que eu dissesse mudaria a opinião dela)
Júlia pulou sobre minha cintura e me deu um beijão em agradecimento, minha mão se entranhou no seu cabelo e a outra na sua cintura, dando um ritmo gostoso ao nosso corpo.
— Se eu soubesse tinha me rendido faz tempo — falei, sorrindo.
— Não foi só pelo gatinho — me respondeu enquanto se ajeitava ainda por cima de mim, colocando seu rosto próximo ao meu pescoço — você me distraiu em um dia que eu achei que seria extremamente chato de passar, me encheu de amor e carinho... Você merece todos os beijos que eu puder dar!
— Interessante isso, amanhã vou cobrar muitos beijos — disse, brincando.
— E desculpa encher tanto seu saco com besteira — falou, beijando na direção da minha mandíbula.
— Nem se eu tivesse saco você o encheria... — respondi-lhe, e rimos
E assim, com minha muié feliz em meus braços, finalizei o dia. Onde descansamos a noite inteira, sem interrupções de pesadelos e com muito, muito, muito carinho!