Traz serenidade, como uma brisa suave ao final da tarde, acalmando os pensamentos, equilibrando o humor e regulando o sono, mas sua ausência envolve tudo em uma névoa densa, tornando a alegria distante e a tristeza uma companheira constante. Outra surge como uma força vibrante e inquieta, impulsionando a busca por recompensas; cada pequena vitória é celebrada com uma onda de prazer, mas essa sede por conquista, se não controlada, pode nos arrastar para excessos e nos fazer prisioneiros do desejo. A última, feroz e intensa, se manifesta nos momentos de perigo, quando o corpo se prepara para a ação: o coração dispara, os músculos se retesam, e a mente entra em alerta; no entanto, se essa energia persiste por muito tempo, esgota suas forças, deixando um rastro de cansaço profundo. Juntas, essas forças constroem uma trama invisível que molda nossas emoções e ações.
Já no hospital não pude passar da recepção, então apenas preenchi os documentos, e me preparei para conhecer os pais de Nicolly, no caminho para o hospital ela havia ligado para eles e informado que eu estava com ela, fez o mesmo com os pais de Guilherme. Logo os pais todos chegaram.
Mãe de Nicolly: Olá, como está Nicolly? E porque não está com ela?
Mãe de Guilherme: Por que ela estaria na sala de parto com Nicolly?
Maya: Boa noite, bom Nicolly já está na sala de parto, eu não estou com ela por não ter nenhum vínculo familiar.
Mãe de Nicolly: Pois deveria, minha filha já me contou sobre você.
Mãe de Guilherme: Contou o quê? E vocês poderiam não me ignorar.
Maya: Contou? Mas a gente acabou de nos entendermos.
Mãe de Nicolly: Maya, eu já tinha percebido. E você, a minha filha está amando novamente, ela gosta dessa moça.
Mãe de Guilherme: Como assim? Meu filho mal foi enterrado e ela já está com outra pessoa, e ainda mais uma mulher?
Mãe de Nicolly: E o que seu filho tem com isso? Já fazem quase 8 meses.
Mãe de Guilherme: E ela está tendo o meu neto, eu nunca aceitarei ele ser criado por duas mulheres.
Mãe de Nicolly: Você não tem que aceitar nada, só respeitar.
Mãe de Guilherme: Veremos, vou procurar meus direitos.
Mãe de Nicolly: Mulher, larga de loucura, você não tem direito de escolher com quem minha filha se relaciona, se nem eu tenho esse poder imagina você.
Mãe de Guilherme: Esse menino não ficará com ela.
Logo que ela saiu o médico informou que já estavam na sala de parto e perguntou se alguém iria ficar com ela dentro da sala, eu prontamente disse que queria estar com ela. Os seus pais autorizam e o médico me pediu para acompanhá-lo. Me vesti para entrar na sala e me posicionei ao lado de Nicolly. Eu estava ali, ao lado da cama, sentindo meu coração pulsar tão rápido que era como se o som do batimento ecoasse em meus ouvidos. O suor escorria pela minha testa, mas eu mal percebia. Cada segundo parecia uma eternidade, e, ao mesmo tempo, tudo estava acontecendo rápido demais. As luzes da sala, os aparelhos piscando, o movimento preciso dos médicos... tudo se misturava em um borrão, enquanto meu olhar permanecia fixo nela. Nicolly. Nunca a tinha visto assim. Exausta, mas lutando com uma força que eu não sabia que existia. Cada respiração dela era uma batalha, cada empurrão parecia consumir toda a energia do universo, e eu só conseguia apertar sua mão, torcendo para que, de alguma forma, ela sentisse que eu estava ali, compartilhando aquela dor e expectativa.
E então, veio o som que eu esperava. Aquele choro agudo e estridente que rasgou o ar, cortando toda a tensão como uma lâmina. Eu prendi a respiração por um segundo, e meus olhos automaticamente buscaram a origem daquele som. Lá estava ele. Pequeno, tão pequeno que parecia impossível que aquele ser fosse real. Vermelho, com os olhos ainda fechados, o corpo enrugado e coberto por vestígios de um mundo que ele acabara de deixar para trás. Senti uma onda de calor subir pelo meu peito, as lágrimas surgindo sem que eu pudesse controlar. Um sentimento me invadiu, algo que não era só amor, mas também espanto, medo, e uma alegria tão pura que me deixou sem fala.
Quando eles o colocaram nos meus braços, o mundo parou de girar. Eu podia sentir o calor do corpo dele, aquele pequeno peso que parecia conter todo o universo em miniatura. As mãozinhas dele, tão minúsculas, mal podiam fechar em torno de um dedo meu, mas o aperto era firme, como se ele já soubesse que eu era seu porto seguro. O choro diminuiu, e ele se acomodou contra mim, como se estivesse buscando a segurança do meu peito, o som do meu coração.
Naquele instante, eu me dei conta de que nada mais importava. Toda a correria, o medo, a ansiedade... tudo se dissolveu. Ali, com ele nos meus braços, percebi que o mundo inteiro podia desmoronar ao meu redor, e eu ainda estaria completo. Porque eu o tinha. O milagre da vida. Nicolas, o filho da pessoa mais importante da minha vida acabará de nascer. E, naquele instante eu percebi que queria o ver crescer, que queria estar diariamente em sua vida.
Depois daquele instante surreal em que o tempo pareceu parar, o mundo lentamente voltou a girar. Ainda com ele nos meus braços, senti um tremor leve passar pelo meu corpo, não de nervosismo, mas de pura emoção. O choro do bebê se acalmou, transformando-se em pequenos murmúrios, como se ele estivesse tentando se ajustar ao mundo novo e desconhecido ao seu redor. Eu olhei para ele, maravilhada, sentindo um vínculo inexplicável, como se, de alguma forma, já nos conhecêssemos desde sempre.
Nicolly, exausta, mas com os olhos brilhando de alívio e amor, virou-se para nós. Havia algo indescritível em seu olhar, uma mistura de triunfo e ternura, como se ela soubesse que a maior batalha já havia sido vencida. Eu me inclinei e, com a voz embargada, sussurrei algo sobre como ele era perfeito, enquanto o médico e as enfermeiras ao redor continuavam com seus movimentos precisos, cuidando dela, verificando o bebê, completando os procedimentos que, naquele momento, pareciam tão distantes da minha consciência.
Logo, as enfermeiras pediram para levar o bebê para fazer os exames de rotina, e, hesitante, eu o entreguei, sentindo uma pontada de ansiedade ao soltá-lo, como se aquela pequena distância entre nós já fosse algo difícil de suportar. Mas logo depois, voltei minha atenção para Nicolly, segurei sua mão, e me sentei ao seu lado. Ela estava exausta, mas ainda assim, sorriu para mim – um sorriso fraco, porém cheio de amor e cumplicidade. Eu acariciei seu rosto, sem palavras, porque qualquer coisa que eu dissesse seria pequena demais perto do que eu estava sentindo.
Minutos depois, o bebê foi trazido de volta, enrolado em uma manta branca. Dessa vez, ele foi colocado gentilmente nos braços dela. O olhar que ela deu a ele foi de um amor profundo e absoluto, como se todo o cansaço e dor desaparecessem diante daquele pequeno ser. O silêncio na sala era quase sagrado, quebrado apenas pelo som suave da respiração dele e os leves resmungos, como se já estivesse começando a se acostumar com o novo ambiente.
E ali ficamos, os três. Um pequeno trio, num momento que parecia eterno. Eu sabia que, em breve, a vida voltaria com todas as suas responsabilidades e desafios, mas naquele instante, tudo que importava era o fato de estarmos juntos, iniciando uma nova jornada. E eu, ali, com o coração cheio de uma felicidade avassaladora, senti que o que quer que viesse, enfrentaríamos juntos. Eu estava pronta. Nós estávamos prontos.
Após tudo Nicolly foi para o quarto e Nicolas para o berçário, eu decidi organizar a certidão de nascimento e averiguar a segurança de Nicolas. Avisei os pais de Nicolly no caminho e mostrei pela janela do berçário o novo integrante da família. Deixei-os ali e fui organizar a documentação. Nicolas carregaria os dois sobrenomes, mas Nicolly havia decidido que o de Guilherme viria primeiro, e o dela por último. O nome completo estava em uma mensagem favoritada de alguns meses atrás, mas, algo me fez voltar ao quarto e Nicolly e confirmar o nome. Ela estava linda dormindo, e a acordei com um beijo e confirmei os dados.
Ao fazer a certidão de nascimento de Nicolas e voltar ao hospital passo as informações para a mãe de Nicolly que estava feliz com a chegada do primeiro neto, mas ela me puxa de lado.
Mãe de Nicolly: Maya, eu preciso saber, você está disposta a ficar do lado da minha filha?
Maya: E o que eu mais desejo.
Mãe de Nicolly: Então preciso lhe antecipar que, os pais de Guilherme já acionaram um advogado e lutarão para que Nicolly perca a guarda de Nicolas. Eles alegam que ele Nicolly é promíscua e o lar fará mal ao meu neto.
Nesse momento meu mundo caiu, mal tinha iniciado um relacionamento com Nicolly e já estava tendo problemas.