Após nos recompormos, montamos novamente nos cavalos e seguimos de volta para a sede da fazenda. O caminho de volta tinha uma sensação diferente — mais tranquila, quase serena. O céu começava a ganhar tons de laranja e rosa, enquanto o sol lentamente se escondia no horizonte. Cada passo dos cavalos na trilha era acompanhado pelo suave farfalhar das folhas das árvores ao nosso redor. O vento, agora mais ameno, acariciava o rosto, trazendo o cheiro fresco da vegetação e da terra molhada.
A luz dourada do pôr do sol pintava o cenário com uma beleza que parecia tirada de um sonho. As sombras alongadas das árvores e das colinas pareciam se estender para o infinito, criando um contraste suave com o céu em transformação. Era como se a natureza estivesse se despedindo de mais um dia, e nós éramos privilegiados por testemunhar aquele espetáculo silencioso. O som dos cascos dos cavalos sobre o solo, misturado ao canto distante dos pássaros, criava uma trilha sonora perfeita para aquele fim de tarde.
— É lindo, não é? — Bernardo perguntou, quebrando o silêncio, mas mantendo o tom de voz suave, quase em reverência ao momento.
— Incrível — respondi, com os olhos fixos no horizonte, sentindo uma calma interior rara.
À medida que nos aproximávamos da sede da fazenda, o céu já havia se tingido de um azul profundo, e as primeiras estrelas começavam a aparecer. O ambiente da fazenda, com suas luzes acesas e a fumaça da cozinha se espalhando pelo ar, trazia uma sensação de acolhimento. Era como se o campo, com sua imensidão e tranquilidade, estivesse nos dando as boas-vindas de volta.
Ao chegarmos, desci do cavalo e fui em direção a Bernardo. Embora tudo em mim quisesse continuar aquele momento, sabíamos que era hora de manter as aparências. Me despedi dele formalmente, mas não resisti e dei uma piscada de olho, sorrindo de leve. Ele entendeu o recado e sorriu de volta, com aquele brilho no olhar que eu já conhecia tão bem.
— Até a próxima — disse, de maneira formal, mas com uma intimidade velada nas palavras.
— Até — ele respondeu, com um pequeno aceno.
Foi então que o Sr. Alyson apareceu, vindo em nossa direção. Ele tinha um jeito tranquilo, mas observador. Ao me ver, ele sorriu e acenou.
— Rafael, vai voltar para a cidade agora? — perguntou ele, com um tom amigável.
— Sim, senhor — respondi, tentando parecer casual.
— Sabe, eu estava pensando... — Ele parou por um momento, coçando o queixo de leve, como se estivesse formulando uma ideia. — Não quer ir pra cidade com um dos nossos carros? Pode ficar usando ele enquanto estiver por aqui. Sei que você não tem um transporte fixo, e acho que pode ser útil.
Eu fiquei surpreso com a oferta. Não esperava que ele fosse tão generoso, especialmente considerando que eu era, até então, apenas um funcionário.
— Nossa, Sr. Alyson, eu... Eu nem sei o que dizer. Não quero abusar da sua gentileza — falei, meio desconcertado.
— Besteira, rapaz! — Ele deu uma risada leve, acenando com a mão como se não fosse nada. — Você está ajudando o Bernardo, e além disso, está por aqui sempre. Facilita a vida, não?
Olhei para Bernardo de relance, que apenas sorriu, talvez já sabendo que o pai faria aquela oferta.
— Bom, se o senhor tem certeza, eu aceito, sim. Vai ser uma ajuda e tanto — respondi, com um sorriso grato.
— Ótimo! Falo com o pessoal para preparar o carro. Você pode usá-lo o tempo que precisar. — Sr. Alyson me deu um leve tapinha no ombro, em um gesto de aprovação.
— Muito obrigado, de verdade — agradeci, ainda surpreso com a bondade dele.
Bernardo me olhou de soslaio, e nossos olhares se cruzaram por um breve momento. Mesmo que estivéssemos nos despedindo, havia uma promessa silenciosa no ar.
Depois de oferecer o carro, o Sr. Alyson me lançou um olhar acolhedor e sugeriu:
— E então, Rafael, que tal ficar para o jantar? Vamos ter um assado especial hoje, e seria um prazer ter você com a gente.
Eu sorri, tentando esconder minha surpresa com mais uma demonstração de gentileza.
— Eu agradeço muito o convite, Sr. Alyson, mas acho melhor eu voltar pra cidade agora. Tenho algumas coisas pra estudar ainda hoje — respondi, tentando ser educado, mas determinado.
— Sempre focado nos estudos, hein? — Ele comentou com um sorriso de aprovação. — Bom, quando quiser, as portas estão abertas. E, claro, o carro já está à sua disposição.
— Muito obrigado, de verdade. E agradeço mais uma vez o convite, mas vou precisar recusar hoje. Quem sabe numa próxima — me despedi, estendendo a mão.
Sr. Alyson apertou minha mão firme, mostrando que não havia problema em eu recusar o jantar.
— Até mais, Rafael. Cuide-se.
Bernardo me acompanhou até o carro, me lançando um sorriso discreto. Sabíamos que, por mais que estivéssemos nos despedindo de forma formal, havia uma conexão especial entre nós.
— Dirija com cuidado — ele disse, com um brilho no olhar.
— Pode deixar. E a gente se fala depois — respondi, dando um último aceno antes de entrar no carro.
Quando cheguei à cidade, já era noite. O silêncio das ruas estava em contraste com o burburinho da fazenda. Fui direto para casa, estacionando o carro na frente da minha humilde residência. Enquanto tirava os sapatos e me preparava para relaxar um pouco, lembrei do Caio e peguei o celular, mandando uma mensagem:
Rafael: "Ei, tá de bobeira por aí?"
Em poucos segundos, a resposta chegou.
Caio: "Tô sim. Vai colar aqui?"
Sorri ao ver a rapidez com que ele respondeu. Apesar de toda a confusão de sentimentos que Bernardo me causava, Caio sempre me trazia uma sensação de conforto e familiaridade.
Rafael: "Vou tomar um banho e já passo aí."
Caio: "Fechou. Vou preparar algo pra gente comer."
Balancei a cabeça, rindo de leve, já imaginando o que Caio poderia estar preparando. Ele tinha esse jeito despreocupado, mas sempre conseguia surpreender.
Depois de responder, larguei o celular na cama e fui direto para o banho, pensando no que mais aquela noite poderia reservar.
Depois de tomar um banho rápido, me vesti e fui até a cozinha, onde minha mãe estava lavando a louça do jantar. Ela levantou o olhar quando me aproximei e, antes que ela perguntasse, fui direto ao ponto.
— Mãe, vou na casa do Caio, e talvez eu durma por lá hoje — disse casualmente, enquanto pegava as chaves em cima da mesa.
Ela parou o que estava fazendo, enxugou as mãos no pano de prato e me olhou, com aquela expressão que só mãe sabe fazer, misturando preocupação e curiosidade.
— Na casa do Caio de novo? — perguntou, sem esconder o tom meio desconfiado.
Eu sorri, já esperando esse tipo de reação.
— É, mãe. A gente vai fazer umas coisas lá, assistir um filme talvez. Nada demais.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, e eu podia sentir que havia mais por trás daquele olhar. Parecia que ela queria perguntar algo, mas estava segurando. Então, só disse:
— Tudo bem. Mas se precisar de alguma coisa, me liga, tá?
— Pode deixar. Eu te mando mensagem quando chegar lá — garanti, dando um sorriso para aliviar a tensão.
Ela sorriu de volta, mas aquele olhar persistia. O olhar de quem sabe mais do que está dizendo. Mães têm um radar infalível, mesmo que não digam nada explicitamente. Sabia que ela tinha suas suspeitas, mas eu estava tranquilo com isso. Se ela perguntasse alguma coisa, eu não iria mentir. Mas até lá, deixava as coisas acontecerem naturalmente.
—
Saí de casa refletindo sobre aquele olhar dela. A verdade é que eu não me sentia à vontade para falar abertamente sobre minha sexualidade com minha mãe, não por medo, mas por ainda não achar o momento certo. Mesmo assim, se ela perguntasse, eu não iria esconder nada. Afinal, eu tinha apenas 18 anos, mas já estava bem seguro de quem eu era e do que queria da vida.
Por mais que eu fosse jovem, já estava caminhando sozinho, construindo meu próprio futuro. Não dependia de ninguém, nem dela, nem de qualquer outra pessoa. Estava criando minha própria jornada, e isso me dava uma sensação de liberdade e segurança. Sabia que, em algum momento, a conversa sobre minha sexualidade viria, mas quando acontecesse, seria de forma natural, porque eu estava preparado para ser quem eu sou, sem máscaras ou segredos.
Cada dia que passava, me tornava mais confiante.
Cheguei na casa do Caio, e ele me recebeu com um selinho e um abraço apertado, aquele jeito carinhoso e acolhedor que sempre me fazia sentir confortável. Conversamos sobre como tinha sido o final de semana, e claro, não mencionei o nome do Bernardo. Não era por medo de ser pego, mas porque sabia que Caio tinha um ciúme velado, e o simples nome de outro cara, especialmente o Bernardo, poderia desencadear algo que eu não queria lidar. Então, preferi o silêncio.
Vocês podem até me julgar, pensando que eu sou uma biscate por passar o dia com um e finalizar a noite com outro. Mas entendam, eu era jovem e estava só começando a descobrir a vida. Ainda não tinha nenhum compromisso sério com nenhum dos dois, então estava navegando conforme o vento soprava. O que eu sentia pelo Caio era algo intenso, físico, uma paixão que queimava de imediato, enquanto com o Bernardo... era diferente. Era profundo, mexia com o coração, algo que eu poderia chamar de amor.
Optar por seguir esse caminho, de viver intensamente esses dois sentimentos tão diferentes, claro que teria consequências. No fundo, eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, isso me traria problemas, conflitos. Mas o medo de errar? Esse eu não sentia. No momento, só segui o instinto. Um instinto, talvez sonso, mas que eu estava decidido a explorar até onde me levasse.
Agora, eu só queria viver o presente, sem amarras ou compromissos. Afinal, qual o sentido de ter medo de viver a vida quando você ainda está aprendendo a entender seus próprios sentimentos?
Enquanto jantávamos, eu aproveitei para contar ao Caio sobre o carro que o Sr. Alyson tinha me oferecido. Ele não pareceu surpreso e, com um sorriso meio irônico, disse:
— Eu já estava esperando isso. Acho que o Sr. Alyson está te treinando pra ser o novo ajudante de ordens dele.
Franzi a testa, um pouco confuso com a ideia. — Ajudante de ordens? E isso é bom ou ruim?
Caio riu, mas logo ficou sério ao perceber que eu não fazia ideia do que ele estava falando. — É bom, Rafa. Muito bom, na verdade. Ser ajudante de ordens do Sr. Alyson significa que ele confia em você, e isso não é pouca coisa. Ele não escolhe qualquer um.
— Mas por quê eu? — perguntei, ainda sem entender completamente.
— Olha, você é novo na cidade, não tem muitos conhecidos por aqui, e isso faz com que o Alyson confie mais em você. Ele sabe que você não está envolvido nas coisas que todo mundo já está. E mais... — Caio fez uma pausa, pegando um pouco de comida no prato. — O salário é ótimo. Quem conseguiu ser ajudante de ordens do Alyson, fez um bom pé de meia e, na maioria das vezes, se aposentou bem cedo. O cara é generoso, sabe? Apesar de ter muito dinheiro, ele sempre pagou muito bem os funcionários, seja da fazenda, da fábrica ou das pessoas próximas. E ele gosta de ver quem trabalha com ele realizar seus sonhos. Isso faz ele feliz.
— Sério? — fiquei surpreso, a ideia de trabalhar mais diretamente com o Sr. Alyson começava a soar diferente agora.
— Sim, e não só isso. Ele é o tipo de pessoa que realmente ajuda quem está perto dele a crescer, Rafa. Não seria qualquer chefe que ofereceria um carro pra um funcionário novato, entende? Ele vê potencial em você.
Eu ouvi tudo com atenção, e enquanto Caio falava, a ideia ia crescendo dentro de mim. Talvez aquilo fosse mais do que apenas uma oferta de um simples transporte. Talvez fosse o começo de algo maior, uma chance real de construir meu próprio caminho.
— Nunca imaginei isso... — murmurei.
— Pois é, cara. O Alyson não é bobo, ele sabe escolher quem ele quer perto dele. Se ele te chamou pra isso, aproveita a oportunidade. — Caio sorriu, terminando a comida. — E pensa no futuro.
Eu sorri de volta, mas dentro de mim, as palavras do Caio começaram a ecoar. O que seria esse futuro?
Entre beijos intensos e toques cheios de desejo, nos movemos da cozinha para a cama do Caio. A tensão no ar crescia a cada segundo, e cada movimento parecia carregar ainda mais calor. Enquanto eu o puxava para mais perto, sentindo a pele dele contra a minha, ele interrompeu o beijo, sorrindo de maneira provocante, com os olhos brilhando.
— Sabe... — ele começou, sua voz carregada de malícia e desejo. — Eu tava pensando... Tava com saudade de você, mas tô com vontade de fazer algo diferente hoje.
Eu ergui uma sobrancelha, curioso, enquanto passava os dedos pelo cabelo dele.
— Diferente como?
Caio se aproximou mais, mordendo de leve o lábio inferior, e deixou escapar:
— O que acha de chamar aquele amigo meu... o militar? Pra uma brincadeirinha a três?
Meu coração acelerou com a proposta. O que ele estava sugerindo era novo para mim, mas, ao mesmo tempo, excitante. A ideia de finalmente ficar com o militar, de poder experimentar algo diferente ao lado de Caio, fez uma onda de adrenalina e empolgação correr pelo meu corpo. Eu o olhei, o desejo estampado no meu rosto, e respondi com um sorriso malicioso:
— Por mim, pode ser. Vou adorar...
Ele riu baixo, me puxando para mais um beijo quente, como se já estivesse preparando o terreno para o que viria a seguir. O pensamento de que em breve estaríamos nós três juntos apenas aumentava a tensão no ar. Entre beijos e olhares, a promessa de uma noite inesquecível pairava no ambiente.
A expectativa crescia, e eu sabia que algo inesperado estava prestes a acontecer. O militar logo estaria ali, e o que viria a seguir... bem, isso ficaria para o próximo capítulo.