Chegamos de frente à minha casa, e Alysson, mais uma vez, reforçou o pedido:
— Rafa, só lembra de manter o que rolou entre a gente em sigilo, tá? — disse ele com um olhar sério, mas relaxado.
Sorri, assentindo.
— Pode ficar tranquilo, Alysson. Não vou contar a ninguém.
Ele soltou um suspiro, parecendo aliviado, e então olhou para a casa.
— Sua mãe está em casa?
— Acho que sim. Deve estar na cozinha, como sempre — respondi, já abrindo a porta do carro para sair.
— Manda um abraço meu pra ela, então. — Alysson sorriu, estendendo a mão para um cumprimento, mas acabamos nos abraçando, num gesto de despedida.
— Pode deixar, eu mando sim. Valeu por tudo, Alysson. Foi um ótimo fim de semana.
— Foi mesmo, Rafa. Se cuida, viu? — Ele deu um sorriso meio cúmplice, e, com um aceno, seguiu seu caminho, deixando-me de volta à minha realidade.
Entrei em casa com um sorriso no rosto. O fim de semana tinha sido, de fato, inesquecível. Conhecer a capital, passar tempo com Bernardo e, claro, a noite com Alysson. Senti que minha vida estava mudando. Saí de uma vida tranquila para algo muito mais agitado, e isso me fez sorrir. Eu sabia que, ao vir para o Alto, tudo seria diferente, e estava certo de que grandes coisas ainda estavam por vir.
Guardei minhas coisas rapidamente e fui encontrar minha mãe. Ela estava, como sempre, na cozinha, e, assim que me viu, veio me abraçar.
— E aí, filho! Como foi o fim de semana? — perguntou, curiosa.
— Foi ótimo, mãe! E trouxe uma coisinha pra você. — Sorri e lhe entreguei o presente que havia comprado.
Ela abriu o pacote com um sorriso e me agradeceu:
— Que lindo, Rafa! Obrigada, meu filho. Você sabe como me deixar feliz.
— Só retribuindo todo o carinho, mãe. — A abracei de novo, sentindo o calor da sua presença familiar.
Ela riu, satisfeita, e voltamos a conversar sobre como tinha sido na capital, ela ouvia tudo atentamente e feliz por mim.
Após terminar a conversa com minha mãe, peguei o celular e mandei uma mensagem para o Caio.
Rafael: "Acabei de chegar na cidade. Tava com saudades de você."
Não demorou muito, e a resposta veio.
Caio: "Saudades também, Rafa! Mas por que não veio direto pra cá?"
Sorri, imaginando o tom provocativo na resposta dele.
Rafael: "O Alysson me deixou em casa... Ia ficar estranho, né? Depois de um fim de semana todo fora, aparecer direto na sua casa."
Caio: "Estranho? Só se ele desconfiasse de alguma coisa... Ou será que tem algo que ele deveria desconfiar?"
Caio: [emoji de sorriso malicioso]
Ri sozinho, pensando na ironia da situação. Mal sabia Caio o que realmente havia rolado naquele fim de semana.
Rafael: "Não é isso... Só achei melhor evitar qualquer fofoca. Mas amanhã a gente se vê."
Caio: "Amanhã, então. Mas tô com saudades de sentir você... e não vai ser fácil dormir sem o teu cheiro hoje."
Senti o corpo esquentar com a mensagem. Caio sempre sabia como me provocar.
Rafael: "Também tô com saudades, de tudo... Amanhã a gente compensa."
Caio: "Amanhã a gente faz mais do que compensar, Rafa. Fica preparado."
Dei uma última risada silenciosa, sentindo o cansaço do fim de semana bater. Despedi-me de Caio e coloquei o celular de lado, mas antes de descansar, mandei uma mensagem para o Bernardo.
Rafael: "Cheguei em casa. Já tô com saudades de você."
Logo, o celular vibrou com a resposta.
Bernardo: "Já? Mas a gente acabou de se despedir... também tô com saudades."
Sorri, sentindo o calor das palavras dele no peito. Bernardo sempre tinha esse efeito sobre mim, como se cada palavra fosse capaz de acalmar qualquer confusão interna.
Rafael: "Foi rápido demais o nosso tempo juntos. Já quero te ver de novo."
Bernardo: "Também quero... Já tô contando os dias pra isso. Quando a gente se encontra de novo?"
Rafael: "Logo, logo. Não consigo ficar muito tempo longe de você."
Houve uma breve pausa antes de ele responder.
Bernardo: "É tão bom saber disso. Não sei o que tá rolando com a gente, Rafa, mas tá me fazendo um bem que eu nem sei explicar."
Ler aquilo me fez sentir algo profundo. Sabia que também estava apaixonado por ele, e a intensidade do que sentia só crescia.
Rafael: "Eu sinto o mesmo, Bernardo. Nunca pensei que conhecer você fosse mexer tanto comigo... Só quero que isso dê certo entre a gente."
Bernardo: "Vai dar, Rafa. A gente tem algo especial. E eu não vou desistir fácil."
Senti meu coração acelerar, e sorri, respondendo de forma simples, mas sincera.
Rafael: "Eu também não."
Aquele diálogo breve me deixou em paz. Ficamos trocando mais algumas mensagens leves até que o sono me venceu. O último pensamento antes de fechar os olhos foi no Bernardo, e em como ele já tinha um espaço enorme na minha vida.
Durante o mês que se passou, tudo correu bem, e a rotina seguiu tranquila. No dia seguinte à minha chegada, encontrei o Caio e matamos a saudade do jeito que sempre fazíamos. Nosso reencontro foi intenso — transamos várias vezes, conversamos, e até acabei falando um pouco sobre o Bernardo. Para minha surpresa, ele não demonstrou incômodo. Na verdade, isso foi um grande alívio, e eu senti que aquele era um passo importante na nossa relação. Mas algo começou a pesar em mim. Eu estava dividido entre duas pessoas. Com o Caio, era uma mistura de amizade e desejo carnal; já com o Bernardo, o sentimento era diferente, mais profundo, mais próximo do amor. No fundo, eu sabia que aquela situação não poderia durar para sempre. Mais cedo ou mais tarde, eu teria que escolher, ser fiel a alguém, e essa ideia começou a me angustiar.
No trabalho, as coisas fluíram normalmente, e, apesar de tudo que havia rolado com o Sr. Alysson, nada ficou estranho entre nós. O que foi um alívio. Agora que ele sabia sobre o meu "quase-namoro" com o Bernardo, ele começou a me "ajudar", de certa forma. Sempre que surgia a oportunidade, viajávamos para a capital, e durante esse tempo eu vi o Bernardo várias vezes. Cada encontro nos aproximava mais, e o sentimento entre nós crescia a cada dia. Nossa conexão só ficava mais forte, e eu me pegava ansiando pelos momentos que passávamos juntos.
Houve também algumas noites em que o Alysson e eu acabamos dormindo juntos nas viagens. No entanto, nada além disso aconteceu, o que, pra ser honesto, me deixou um pouco frustrado. Eu estava disposto, pronto para repetir o que havia rolado da primeira vez, mas ele claramente havia decidido que aquilo tinha sido apenas um lance casual, algo que não se repetiria. Eu entendi e respeitei isso, embora, internamente, desejasse que fosse diferente.
A vida parecia estar tomando um rumo interessante. Entre o trabalho, as viagens e os encontros com Bernardo, o mês passou rápido. A cada dia que se passava, eu me sentia mais conectado ao Bernardo, mas, ao mesmo tempo, sabia que, eventualmente, teria que resolver essa confusão de sentimentos entre ele e o Caio.
Outro ponto importante que marcou esse mês foi a criação de um grupo no WhatsApp pelo Luis Ricardo, amigo do Bernardo. Ele reuniu os amigos daquele dia no bar, e desde então, vez ou outra, o Luis Ricardo puxava assunto comigo no privado. Nada de muito significativo, mas foi o suficiente para me deixar com uma pulga atrás da orelha. Em uma das minhas idas à capital, acabamos saindo juntos, e como sempre, o Luis tinha aquele olhar indecifrável, algo que me fazia pensar, mas nunca agi.
Chegou o início de junho, e com ele, o São João, que é uma tradição forte no Nordeste. Durante os finais de semana, as ruas ficavam cheias de vida com grandes festas. Um desses fins de semana acabou se tornando um ponto-chave no desenrolar da trama da minha vida. Foi o momento em que novos caminhos surgiram e segredos começaram a ser revelados.
Nesse final de semana específico, o Bernardo veio para o Alto, e os amigos dele também. Todos ficaram hospedados na fazenda da família, e nós fomos juntos para a festa. O Caio também estava lá, e eu confesso que temi que pudesse haver algum momento de tensão, mas, surpreendentemente, tudo correu bem... até certo ponto.
Em um determinado momento da festa, eu me afastei para ir ao banheiro. Com o álcool já circulando pelo meu corpo, tudo parecia fluir sem preocupações. Pouco tempo depois, o Luis Ricardo apareceu ao meu lado e perguntou se podia mijar ali também. Achei aquilo uma situação normal e respondi que não tinha problema. Mas, antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, o Luis me puxou para um beijo.
A surpresa me atingiu em cheio, mas o verdadeiro choque veio logo depois. Ao me afastar do Luis, senti a presença de alguém e, quando olhei, era o Bernardo, parado, com os olhos cheios de lágrimas. O mundo pareceu parar naquele momento. Ele me encarou, devastado, e sem dizer uma palavra, virou-se e foi embora. Eu tentei correr atrás dele, mas foi em vão. Ele estava magoado, e eu sabia que, por enquanto, não havia nada que eu pudesse fazer para consertar aquilo.
Desesperado e sem saber o que fazer, contei ao Caio o que tinha acontecido. Ele tentou me acalmar, dizendo que eu deveria relaxar, já que, tecnicamente, eu e o Bernardo ainda não tínhamos oficializado um relacionamento. Suas palavras fizeram sentido por um breve momento, mas a culpa ainda me corroía por dentro. O Luis Ricardo, sem coragem de voltar para a fazenda do Bernardo depois do ocorrido, acabou indo para a casa do Caio, e eu também fui. Afinal, o estrago já estava feito, e não havia mais como mudar a situação naquele instante, acabou que transamos os 3. Eu sabia que o melhor seria conversar com o Bernardo quando ele estivesse mais calmo.
Esse havia sido o primeiro grande desvio nos caminhos que aquele mês tomou. E eu sabia que as consequências viriam logo.
No dia seguinte, mandei uma mensagem para o Bernardo pedindo desculpas. Tentei justificar o ocorrido, colocando a culpa no álcool — uma desculpa batida, mas era o que eu tinha naquele momento. Ele não respondeu, e eu respeitei seu silêncio. Sabia que, em algum momento, ou nós nos encontraríamos, ou ele viria me procurar. Contei o que aconteceu ao Alysson, que ouviu atentamente e, com sua calma habitual, me disse que não havia muito o que fazer, além de esperar o tempo curar as coisas.
O Alysson, curiosamente, havia se tornado um confidente valioso quando o assunto era o Bernardo. Por mais estranho que fosse, considerando que ele era o pai e o Bernardo e não sabia sobre sua sexualidade — e muito menos sobre nosso envolvimento —, eu me sentia à vontade para conversar com ele. Era um alívio poder desabafar com alguém que, de certa forma, compreendia o que eu estava passando.
Além da situação com o Bernardo, outro ponto de virada naquele mês foi a notícia de que o Caio precisaria se ausentar da cidade. Ele tinha conseguido um trabalho com o primo, que estava envolvido na campanha de um candidato a deputado estadual. O Caio ficaria viajando pelo estado, e o Sr. Alysson desejou boa sorte a ele, deixando claro que as portas da fábrica sempre estariam abertas caso ele quisesse voltar.
A partida do Caio me pegou de surpresa, e a sensação de perda começou a se intensificar. Primeiro o Bernardo, e agora o Caio. Me dei conta de como ele tinha se tornado uma parte essencial da minha rotina. Passávamos tanto tempo juntos que, só agora, prestes a perdê-lo, eu percebia o quanto sua companhia era importante. Durante o tempo que restava, aproveitamos ao máximo, como se cada momento fosse o último.
Então, o mês terminou de forma inesperada, com o surgimento de um segredo que parecia ser o mais importante de todos — um segredo ligado a mim.
Certo dia, eu havia saído para ir à academia. Quando voltei, ainda de longe, vi minha mãe e o Alysson conversando na calçada de casa. Eles estavam de lado e não me viram chegar. Conforme me aproximei, uma frase dele cortou o ar como uma lâmina:
— Se você não contar a verdade pra ele, eu mesmo vou contar!
Meu corpo paralisou por um segundo, e então dei boa noite, tentando parecer casual. Os dois se viraram bruscamente, visivelmente surpresos. O rosto do Alysson estava pálido, como se ele não tivesse esperado minha presença naquele momento.
Ele se apressou em falar:
— Rafinha, acho que sua mãe quer conversar com você... Qualquer coisa, me procure depois.
Com isso, ele entrou no carro e foi embora, me deixando sozinho com minha mãe. Ela me olhava com uma expressão difícil de decifrar, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas para o que viria a seguir. Algo grande estava prestes a ser revelado, e eu já podia sentir que não seria algo fácil de ouvir.
O mês tinha terminado com esse mistério, e eu sabia que o que viria a seguir mudaria tudo, mas, naquele momento, eu não estava preparado para o que estava prestes a descobrir.