~ Lembrem daquela nota!
Nas férias, conseguimos o tempo necessário para nos dedicar à tentativa de fertilização. Agora seria um pouco mais complicado, por causa do retorno ao trabalho, principalmente pelo clima ruim que já existia entre Júlia e a gestão da escola. Com certeza, saídas não seriam vistas com bons olhos, então começamos a procurar lugares que funcionassem 24 horas para os exames.
Juh decidiu seguir sua própria linha de raciocínio, tentando a Inseminação Intrauterina após a FIV. A equipe médica incentivou a continuidade da mesma técnica, mas ela não quis. Disse que, se não desse certo mais uma vez, estaria pronta para dar uma nova chance, mas, por enquanto, preferia intercalar os métodos.
Eu disse anteriormente que a apoiaria em qualquer decisão. Tudo estava acontecendo no corpo dela; nada mais justo que deixá-la decidir como proceder.
O bom da Inseminação Artificial é que, para quem enfrentou a FIV, é fichinha. Tudo parece mais "simples" e rápido: dias, exames, estímulos, resultados... Depois da explicação, percebemos que dava para planejar direitinho e fazer o procedimento em um sábado, de forma que não a comprometeria no trabalho.
Não abri mão de acompanhar tudo, mas para mim era bem mais simples. Minhas responsabilidades eram a administração da clínica, pacientes pré-agendados e palestras, onde eu mesma montava a minha agenda. Facilmente conseguiria manipular tudo a meu favor, sem deixar ninguém na mão.
A doutora explicou que os hormônios dessa vez poderiam ser tomados oralmente, caso fosse preferível, mas ainda existia a opção de serem injetáveis. Achei que seria uma decisão fácil para a minha gatinha, já que é de conhecimento geral o seu pavor de agulhas, mas ela pediu a minha opinião.
— Amor, o que você acha melhor? — perguntou-me.
Fazendo um leve carinho em suas mãos, respondi: — Acredito que você ficaria bem menos tensa com a medicação oral, amor. Seu bem-estar deve ser levado em conta. Já sei as prováveis reações que você terá — nós rimos — e acho que vai ser positivo ter menos um estresse para você.
— Então eu quero os comprimidos — disse firmemente à médica, sorrindo.
Começamos o processo, esperamos o primeiro dia da menstruação e a levei no dia seguinte para fazer uma ultrassonografia assim que saímos da escola. Estava tudo normal, o que significava que, durante os próximos cinco dias, ela começaria a fazer uso dos medicamentos.
— Vou ficar insuportável de novo, já estou sentindo pena de você — disse-me.
— Cada vez que você procurar uma briga besta, eu vou enfiar minha língua na sua garganta — falei, e rimos.
— Vou tentar controlar mais, tá bom? — disse-me enquanto segurava meu rosto para um beijo.
— Você não fica insuportável, fica engraçada. O insuportável é não poder rir, porque senão você fica brava — falei e dei alguns selinhos.
Ela marcou acupuntura e, como eu esperava, não deu muito certo. Eu fiz questão de presenciar, sabia que seria no mínimo engraçado.
A moça, toda simpática, dizia que várias pessoas que têm medo de agulha fazem, porque é tão fininha e delicada que às vezes nem sentem, e Júlia tremia, encarando a agulha como se fosse uma arqui-inimiga.
Em menos de 15 minutos, ela desistiu, saiu correndo com a barriga cheia de agulhas, implorando para que EEEU tirasse aquilo dela.
Ri tanto, mas retornei com ela para a maca. A mulher ficou muda e com os olhos arregalados olhando para Júlia, que chorava em agonia extrema. Antes de sair, Juh deu um abraço nela e pediu desculpas, mas, pelo olhar da moça, eu senti que ela estava pensando: "Meu Deus, que mulher louca!".
Durante os cinco dias de preparação, senti que, dessa vez, tudo foi mais brando. Juh não ficou muito irritada, apenas bem emotiva como sempre, chorando por motivos que não a tocariam tanto se não fossem os hormônios manipulados. Isso deixava as crianças confusas, mas era bem engraçado quando contavam alguma coisa.
— A mamãe hoje chorou porque eu fechei a prova — disse Mih com um olhar desconfiado. — Eu sempre fecho provas de ciências!
— É porque você é muito inteligente, filha. Fiquei orgulhosa — se justificou.
Eu apenas ri e continuei dirigindo para casa.
Outra vez, foi com Kaká, e ele se assustou um pouco.
— Mãe! Vem rápido! — gritou, saindo do quarto.
Subi as escadas correndo e, quando cheguei, minha mulher estava em lágrimas, se derretendo, toda encolhida.
— O que houve, amor? Está sentindo alguma dor? — perguntei, preocupada, passando a mão sobre sua barriga.
— Não... — respondeu, enquanto buscava ar para respirar.
A abracei e pedi que nosso filho pegasse um pouco d'água. Quando ele voltou, já estava com Milena, e os dois apenas olhavam, tentando entender a situação. Quando percebi que Juh não ia conseguir me dizer nada, perguntei a Kaique, que foi quem estava com ela.
— Não fiz nada de errado, mãe — disse pensativo e depois complementou — Eu acho, né...
— Eu sei, amor, só quero entender — o tranquilizei.
— A gente estava assistindo Os Padrinhos Mágicos e o professor estava sendo mal-educado com a mãe que tinha feito um bolinho para ele, e ela chorou. Falei pra mamãe que nunca ia fazer ela chorar agindo assim, mas aí não entendi nada; ela começou a chorar também. Eu abracei e disse que a amava muito, mas foi piorando. Fiquei com medo de ter feito alguma coisa errada e chamei a senhora — se explicou.
Juh esticou o braço e os dois vieram ao nosso encontro e a abraçaram. Meu amorzinho não parava de chorar um segundo. Eu estava mais aliviada e só tinha um riso frouxo nos lábios, observando a cena, eis que Milena não se controla e começa a dar a risada mais gostosa do mundo. Em poucos segundos, todos nós estávamos rindo junto com ela.
— A mamãe só está um pouquinho sensível — expliquei para eles, que ainda estavam dentro do abraço.
Após o uso da medicação, fizemos alguns exames para monitorar os hormônios e uma nova ultrassonografia para observar os folículos. Eles ainda não estavam prontos, mas estavam progredindo bem. Dois dias depois, refizemos e Juh estava pronta para receber o hormônio injetável para, 34 horas depois, ser inseminada.
A bichinha não sabia e ficou um pouco inquieta. Sentei ao seu lado e segurei suas mãos frias, afirmando que ia ser rapidinho. A aplicação realmente foi, mas foi a agulha entrando de um lado e ela caindo para o outro. Desmaiou.
— Calminha, tá tudo bem — falei enquanto ela abria os olhos.
— Podemos ir embora? — me perguntou, e eu afirmei depois de dar um beijinho nela.
No sábado, já acordamos ansiosas e recebemos notícias da clínica de que os espermatozoides já tinham sido selecionados. Nos apressamos e tivemos que esperar intermináveis 30 minutos para viver novamente um dia mágico e emocionante.
Foi lindo. O fato de não ter dado certo uma vez não atrapalhou em nada a beleza daquele momento. Mesmo diante das incertezas, Juh sempre foi tão forte, e eu só queria ser seu porto seguro. Nossos olhares se intercalavam entre nós duas e o monitor, transbordávamos em ansiedade. Segurei suas mãos, tentando passar a calma que, naquele momento, eu não tinha.
Quando finalizou, encostei meu rosto ao seu e disse: — Vai dar certo, com fé em Deus, amor!
— Amém, amor! — respondeu-me, passando o rosto no meu.
Independente do resultado, eu tinha plena certeza de que o amor que nos unia era mais forte do que qualquer desafio que já enfrentamos, que estávamos vivendo e os que futuramente poderiam vir.
— Môh, só quero fazer o teste se eu sentir algo. Não vou fazer logo após os dez dias... — falou enquanto entrávamos no carro.
— Você não vai ficar curiosa? — perguntei.
— Vou... Mas não quero ver outro negativo, então vou só prosseguir, caso não dê certo... — falou, e eu concordei.
— Se acontecer e para você for menos dolorido assim, tudo bem... — concluí.
Os dias foram passando e Victor e Lorenzo comentaram sobre um fut que teria. Cheguei em casa para perguntar à minha mulher se eu queria ir antes de confirmar e me deparei com uma das cenas fofas que mais gosto de ver: meus três amores dormindo bem grudadinhos. Eu não ia atrapalhar aquilo de jeito nenhum, então resolvi usar a tática dela de deixar um bilhetinho.
Enquanto escrevia onde estava indo, a trilha na minha cabeça era: “Vai dar merda, vai dar merda, vai dar merda, vai dar merda, vai, vai dar merda, vaiaaaaaaai.” Porém, resolvi tentar a sorte, e também, eu não pretendia demorar muito.
Fiquei olhando os pernas de pau e dando risada do tanto que meu irmão é desengonçado jogando. Na arquibancada, tinham algumas mulheres (tomando conta dos boyzinhos), e o organizador deu a ideia de formar um time feminino. Até coloquei meu nome na lista, porque sempre gostei desse tipo de resenha, mas decidi não jogar naquele dia.
Voltei para casa e encontrei Kaká e Mih regando as plantas (se molhando também) e Juh ainda dormindo, quase na mesma posição no sofá.
— Ela ainda não acordou? — perguntei, e os dois negaram com a cabeça.
Resolvi então acordá-la para saber se estava tudo bem.
— Gatinha? — a chamei. — Tá tudo ok contigo? Já cheguei, saí e voltei e você dormindo há horas — dei um beijinho em seu rosto.
— Só estou cansada, amor... — falou, me puxando para ela.
— Mas ainda bem que você ficou apagadinha. Fui ver o jogo de Lorenzo e Victor na quadra, e como não consegui te avisar, achei que ia ficar bravinha comigo — disse-lhe em um tom leve, fazendo carinho em sua pele.
— E como foi lá? — me perguntou.
— Foi legal, eles perderam, rs! — ela também riu. — Formaram um time feminino, coloquei meu nome lá, talvez eu jogue um pouquinho.
Júlia pegou a minha mão, formou um "L" com o indicador e o polegar e depois fechou mais, formando um "J".
— Quando você fizer um gol, comemora assim pra mim — disse-me, rindo.
— Você vai estar lá na arquibancada? — perguntei, dando uma sequência de selinhos.
— Vou! — respondeu, como se fosse óbvio. — Se criaram um time feminino, então quer dizer que tem bastante mulher lá. Vou ficar com ciúmes se eu não for.
— Aaaah, não fala assim que eu morro de amores — brinquei enquanto a gente se beijava mais e mais.
— As crianças! — me alertou quando o clima esquentou e minha mão já estava dentro do seu vestido
— Precisamos subir pra resolver um negócio ali — falei carregando-a no colo enquanto ela ria
Entramos no banheiro, liguei o chuveiro e já agachei procurando sua pepeca para fazer um oral. Minhas mãos apertavam seus seios enquanto minha língua deslizava de cima para baixo com uma boa movimentação e as vezes adentrava com vontade. Ao ouvir seus gemidos, comecei a sugar com força, já esperando o melzinho que viria adoçar meus lábios.
Levantei-me agarrando Júlia pela cintura e dei um beijo apaixonado, lento. Lenti seus dedos sendo enfiados em mim, involuntariamente fui abrindo as pernas querendo mais. Percebendo isso, aumentou o ritmo e pouco tempo depois, gozei deixando seus dedos meladinhos.
Nossa vida sexual estava bem ativa ultimamente, não eram transas longas, mas estavam acontecendo com mais frequência, principalmente pela manhã. E eu estava adorando isso!
Depois do banho, descemos. Me joguei no sofá para assistir ao jogo do Flamengo, e Juh foi ver os meninos. Instantes depois, me chamou. Quando cheguei na área externa, tinha água para todo lado. Eles enroscaram a mangueira no pé de acerola e ficavam brincando embaixo. A nossa casa tem uma área enorme, e eu não conseguia enxergar um lugar seco. Pisei na grama e meu pé afundou de tanta água que havia.
— Meu Deus, a conta! — exclamei, com a mão no rosto.
— Você reclama com eles, porque eu não vou conseguir sem dar risada — disse-me.
Kaique e Milena ainda não tinham nos visto, estavam tão felizes enquanto brincavam. Quando cheguei, os vi brincando com água e deveria ter alertado para não demorarem. Fiquei com pena de dar uma bronca pesada, mas com certeza nosso bolso sentiria.
— Acaboooou — falei para eles, que lamentaram, mas recolheram a mangueira e guardaram.
Já estava um pouco frio e pedi que fossem tirar a roupa molhada para conversarmos depois. Quando voltaram, falei que desperdiçaram muita água e que essas coisas não podem acontecer. Meti o planeta Terra no discurso e apelei no final. Disse que, se fizessem isso novamente, Juh e eu teríamos que trabalhar muito mais para poder pagar as contas e aí não sobraria tempo para cuidar deles.
Foi a noite inteira espirrando e, no outro dia, Kaique não conseguia nem levantar da cama, com a garganta bem irritada, congestão nasal, dor de cabeça e muscular. Fiquei cuidando dele em casa, enquanto Juh foi com Mih para a escola.
Ficou todo manhosinho no meu colo o dia inteiro. Após o almoço, deixei-o dormindo na casa de Loren, porque eu tinha uma palestra em uma escola. Victor estava por lá e ia fazer de babá para mim; caso meu neném sentisse algo a mais, eu voltaria correndo.
Demorou um pouco mais do que eu previa, aí enviei uma mensagem para Júlia dizendo que talvez não conseguisse buscá-la. Se desse o horário e eu não chegasse, era para ela pegar um Uber...
A muié ficou brava comigo!
Não achou justo de maneira nenhuma, mandou várias mensagens e sumiu. Adiantei tudo que dava e saí antes que o evento acabasse para dar um fim naquela briguinha besta. Antes, comprei algumas coisinhas para ela.
Fiquei esperando dentro do carro e, logo que as vi, me aproximei. Milena ao entrar, perguntou pelo irmão, e eu falei que estava bem e na casa de Loren. Ela pediu para ficar lá um pouco quando chegássemos em casa, e eu concordei.
Júlia estava visivelmente chateada e eu não estava entendendo direito, mas entreguei uma rosa que comprei para ela. Ela pegou e jogou a cabeça para trás; quando observei seu rosto, tímidas lágrimas deslizavam sobre sua pele. Ela limpou rapidamente, não queria que ninguém visse. Fiquei fazendo carinho na sua perna o caminho inteiro.
Deixei nossa filha na casa da minha irmã, conferimos se nosso filho estava melhor e, pelo menos, agora estava sem dores. Segui com meu amorzinho para casa e ela foi direto para o banheiro. Segui seus passos, entrei junto e, quando ela virou para mim, eu tinha um teste de gravidez nas mãos.
— Faz — falei, entregando para ela.
— Você acha??? — me perguntou, surpresa.
— Sonolência, apetite sexual alterado e emoções à flor da pele. Acho que temos motivos — falei, segurando seu rosto e sorrindo.
Juh fez o teste e me agarrou, enfiando o rosto em mim, dizendo que estava com muito medo do resultado. Tentei acalmá-la e ficamos ali conversando um pouquinho. Ela me pediu desculpas e só dava vários beijinhos, dizendo que estava tudo bem.
— Saiu o resultado — falei, pegando o teste.
— Não quero ver — falou, com o rosto cravado em mim.
— Não quer ver que agora somos mães de três? — perguntei.
— Mentira!!!!! — reagiu, assustada, olhando para mim.
— VERDADE! — comemorei, dando um beijo e entregando o teste em suas mãos.
— Meu Deus, amor!!!! — gritou.
— Tem um bebezinho bem aqui — passei a mão na sua barriga e dei um beijinho.
— Eu estou grávida!!!!!! — exclamou de felicidade.
— Por isso que ontem, quando a gente estava fazendo amorzinho, eu senti alguém mordendo minha língua — brinquei, e quando ela entendeu, me deu um tapinha, rindo.
(perdoem o meu péssimo time para piadas 😂)
Eu a beijei, estava me sentindo extremamente feliz. Era como se eu tivesse perdido uma peça do quebra-cabeça e a encontrado. Tudo fazia sentido agora; depois de meses angustiantes, veio uma surpresinha linda, mais que especial, para nos alegrar.
Ver a felicidade de Juh foi como se meu peito explodisse, seu sorriso era genuíno, seus pulinhos de alegria. Ela me abraçava, olhava para o teste sem acreditar, fazia carinho na barriguinha... Definitivamente, eu me apaixonava a cada dia mais por aquela mulher!