Foi um dia daqueles, super puxado.
Eu corri como louco digitando sei lá quantas palavras por minuto para conseguir entregar o texto no prazo. A culpa não foi minha, foi da minha cabeça: Passei dias tocando projetos pessoais e, quando percebi, eu já estava no limite do prazo. Mas tudo bem, eu consegui, fiquei acabado, mas consegui.
Entregar a tempo era importante, esse era um cliente sério e eu não desejava ficar mal. Por mais que revisar seus textos sobre física quântica fosse chato, eu queria deixá-lo satisfeito. Pelo visto funcionou, pois nem bem o cara recebeu meu email, escreveu convidando para celebrar o fim daquele pesadelo num bar mexicano.
E foi assim que eu encontrei-me pela primeira vez com o Professor Negão - decidi chamá-lo assim porque o cara é muito gente fina e não quero revelar seu nome, já que ele é uma espécie de celebridade entre a comunidade acadêmica da física quântica avançada.
Por trás daquele blazer xadrez fora de moda e dos óculos de fundo de garrafa e armação negra, sob todo o coeficiente intelectual necessário para destacar-se em seu ramo, lá no fundo daquela inabilidade social que costuma ser a maior característica de qualquer nerd, percebi entre um shot de tequila e outro que ali batia um coração.
Eu sei, eu estou aqui falando do Negão e vocês já estão quase desistindo de ler, mas esperem por favor, que esse não é um conto homossexual - juro que anda vou chegar na parte da tal Penélope que está no título!
Lá pelas tantas, conversávamos sobre temas pessoais e fiquei sensibilizado - bem, não era exatamente uma conversa, o professor estava meio bêbado e falava de suas desilusões amorosas enquanto eu só bebia e escutava. Senti necessidade de dizer qualquer coisa, sei lá, manifestar minha solidariedade, dar algum conselho útil.
Mas o que é que se diz para um cara que só teve duas namoradas nos últimos trinta anos e que foi chifrado pelas duas?
Dizer para ele ter esperança porque sua parceira ideal ainda não apareceu? Para ele esquecer e tocar a vida porque “mulher é tudo igual”? Para ele comprar uma arma e se matar, porque já é um caso perdido? Não, sinceramente não, nada disso faz o meu estilo, eu sou muito prático nas minhas coisas e só sei desembolar os assuntos agindo.
Dei uma olhada no local, encontrei o que buscava e disse ao Professor para esperar um pouco, porque dor de corno só passa com uma bela duma sacanagem - e eu iria descolar uma alma caridosa disposta a ajudá-lo a aliviar sua dor. Daí me levantei e fui até o balcão do bar, atrás do que tinha visto.
Eram duas mulheres, ambas bancas de cabelos negros com coque preso atrás da cabeça. Pareciam duas secretárias que trabalhavam juntas que decidiram ir tomar algo após o expediente, considerando os uniformes comportados de saia e terninho com camisa social e os sapatos negros com salto agulha que ambras traziam.
Uma delas era um pouco mais alta e muito mais atraente - e, por isso, a cada cinco minutos aparecia um carinha querendo puxar assunto com ela, pagar bebida e essas coisas. Já a outra era mais baixinha, menos bonitinha e ficava só tomando sua margarita - não pergunte como sei que era margarita, tenho faro para bebida desde os dezoito anos.
Obviamente que, considerando o tipo de ajuda que estava prestes a solicitar para o Negão, escolhi a mais baixinha - se a coisa já era difícil, não havia porque complicar mais, não é?
Coloquei-me estrategicamente entre as duas para pedir mais dois shots de tequila - e para separar uma da outra, é claro. Enquanto esperava, sorri para a mulher e pedi desculpas por estar ali, incomodando, mas é que meu amigo tinha uma emergência amorosa e precisava de um fluxo de bebida constante para superá-la.
A baixinha riu e disse que não tinha problema. Sua voz era meio estranha, meio esganiçada - mas eu não a queria para ficar batendo papo com o Negão, então tanto fazia. Aproveitei que havia falado comigo e entrei no assunto, dizendo que era problema com mulher, que ela devia saber como era, o cara teve duas namoradas, foi chifrado em dobro e sua inabilidade social o impedia de esquecer e seguir adiante - ou seja, fui totalmente honesto.
“E o que você pensa em fazer para ajudar o seu amigo, além de deixá-lo de porre?” - foi a pergunta que saiu de seus lábios meio sensuais demais para o resto de seu rosto. Ôpa, isso era um golaço, ela havia mordido a isca e aberto a porta para eu seguir!
Respondi que, até o momento, tudo o que me ocorrera foi convencer uma garota bonita a ir no depósito do bar com ele para “dar uma mãozinha”. A baixinha arqueou as sobrancelhas e ficou girando o canudinho da margarita na taça, refletindo. Resolvi aproveitar o momento e disparei: “Será que a senhorita não estaria disposta a fazer essa caridade para uma das mentes mais brilhantes de nosso tempo? Olha que o Professor é quase uma celebridade!”
Pelo visto esse não era o momento de dar o golpe, pois a baixinha se indignou e virou a margarita na minha cara, tecendo referências desagradáveis sobre minha mãe. A tática não funcionou, mas é assim, as coisas nem sempre saem como imaginamos. Resignado, pedi desculpas e fui me virando para sair rapidinho com o rabo entre as pernas, mas aí fui interrompido por uma mão me segurando pelo cotovelo.
Essa não, aquilo ia acontecer de novo, provavelmente a baixinha estava acompanhada e eu não percebi. Eu até já ia me encolhendo para receber um tabefe de seu namorado oculto, quando em vez disso ouvi uma voz doce e melódica: “Ei, você disse que aquele senhor sentado na sua mesa é uma celebridade? Se for isso mesmo, eu posso até ajudá-lo, sabe? Eu nunca conheci uma celebridade!”
Era a mais alta e mais bonita das duas, que esteve esse tempo todo ouvindo minha conversa com sua amiga e que, para meu espanto, se interessou pela proposta rejeitada pela baixinha. Ela se apresentou como Penélope e quis saber mais sobre o professor. Qual era o perfil dele no Insta? E no Tiktok? Quantos seguidores tinha? Aparecia na televisão? Dava entrevistas para sites da moda? Possuía jatinho ou carro importado? E helicóptero?
A cada pergunta de Penélope, eu via escorrendo pelo ralo o plano de arranjar alguém para o Negão comer - ele definitivamente não era nada do que ela procurava.
Como um último recurso, argumentei que ele havia recém escrito um trabalho sobre “O entrelaçamento quântico de duas partículas subatômicas baixo o efeito de pulsos de luz de attossegundos” - essa era uma mera reunião de palavras que me lembrava do trabalho do Professor e que não fazia sentido nenhum, mas duvido que ela se desse conta.
Vendo certa confusão em seu rosto bonito, arrematei dizendo que era algo ultra inovador, tipo revolucionário, e que quando publicassem ele certamente seria o mais rico e famoso em seu meio - o que provavelmente era verdade, considerando não haver muitos expertos em física quântica avançada no país…
Enfim, funcionou: as pessoas acreditam porque querem acreditar, não necessariamente porque é verdade!
Contudo, enquanto Penélope e o Professor se acabavam no depósito, dei-me conta de que eu sentia um certo arrependimento. Se fosse a baixinha dando para o Negão eu nem me importaria, mas quem estava lá era Penélope, alta, bonita, tesuda, objeto de desejo dos caras do bar - e eu, idiota, ao invés de estar desfrutando daquele corpão, dei a mulher de mão beijada para outro homem!
Inconformado, fui até o depósito ver o que estava acontecendo. Entrei de surdina, discretamente, procurando onde estavam. Quem sabe a generosidade de Penélope fosse tanta que sobrasse um pouquinho para mim? Quando os encontrei em meio à penumbra, Penélope estava nua em pêlo, de pé apoiada numa estante, com o Professor metendo bronca por trás dela.
Seu corpo era um espetáculo, quem a visse vestida não diria. Suas pernas longas estavam tensas e os músculos viam-se retesados nas coxas e nas panturrilhas, o Negão a retinha agarrada pela cinturinha fina e os peitos de Penélope pareciam duros e consistentes, balançando ao ritmo dos golpes em sua bucetinha - aquilo devia estar uma delícia!
Fiquei animado, Penélope gemia e rebolava, estava tão entregue às investidas do Professor que nem conseguiria negar se eu fosse lá para comê-la também. Mas bastou eu dar um passo e o Negão tirou a rola de dentro e começou a ejacular naquela bundinha linda.
Céus, aquela jeba escura era enorme, quase o dobro da minha, parecia uma garrafa de cerveja! E a quantidade de esperma que jorrava? O que era aquilo? Parecia uma garrafa de cerveja… Caraco, só aí eu me dei conta: aquilo era realmente uma garrafa de cerveja!
Broxei. Como eu ia comer Penélope depois de ter visto ela encarar uma garrafa de cerveja na bucetinha cheia de tesão? Saí do depósito de fininho, arrasado, pois aquela visão provavelmente me assombraria pelo resto da vida. Justo quando eu ia embora, já estava na porta do bar quando uma mão me segurou pelo cotovelo. Pronto, era agora que vinha algum namorado me bater, eu já sabia.
Mas não, não foi isso. Era a tal da baixinha, já bem goró, trazendo uma garrafa de tequila em baixo do braço, e falando arrastado para perguntar se eu não queria esticar e ir com ela no seu apartamento para ela me “dar uma mãozinha”.
Eu fui, mas juro que não usei nenhuma garrafa. Depois disso, nunca mais encontrei a baixinha. Eu nem sequer lembro-me do seu nome - e esse foi o efeito do conteúdo da garrafa de tequila.
Mas tudo bem. Tudo muito bem!
ARQUIVO MENTAL:
Angélica: falsa tímida, boquinha de ouro, gosta de fazer garganta profunda em banheiro de bar.
Débora: prática e objetiva, peitos fantásticos, gosta de pagar espanhola atrás da padaria depois do café.
Olívia: mãe de dois pentelhos, dentes extraordinários, gosta que masturbem seu grelinho dentro do carro.
Amandinha: advogada estelionatária pseudolésbica, magrelinha e tesuda, gosta de ser chupada no parque.
Penélope: secretária vidrada em celebridades, alta e bonitona, gosta de tomar cervejada no depósito do barzinho.