Voltei bem abalada para o meu quarto depois daquela sessão. Eu senti uma agonia terrível e não sabia o porquê. Mas também não foi nada que pudesse me tirar sono. No outro dia acordei mais tranquila e animada a continuar. Porém fui informada por Carol que a psicóloga pediu para a gente dar um tempo e só voltar às sessões depois de dois dias. Aproveitei e passei o dia quase todo na fisioterapia. Carol me acompanhou o tempo todo. Eu já conseguia andar com auxílio de duas muletas e até dar alguns passos sem elas. Carol era uma verdadeira incentivadora nesses momentos. Até palmas ela batia quando eu fazia algum novo progresso. Ela também era do tipo de pessoa sempre animada e isso acabava me contagiando. É sempre bom ter pessoas assim ao redor da gente. Digo isso porque Marina era assim, as duas eram muito parecidas nesse sentido. Acho que por isso o lance delas estava indo de vento em popa.
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Carol se foi e quando Maria chegou já trouxe o meu jantar com ela. Depois do jantar assistimos dois filmes juntas. Nas duas gostávamos de Romances, mas resolvemos mudar e assistimos dois filmes de comédia. Foi Maria que sugeriu, ela disse que rir sempre fazia bem e concordei com ela. E realmente rimos bastante durante os filmes, Maria acho que ria mais das minhas gargalhadas do que das cenas. Depois eu fui dormir e Maria provavelmente dormiu um pouco no sofá. Acordei no outro dia e ela já tinha saído. Carol estava sentada no sofá mexendo no celular. Me levantei da cama e ela ficou me olhando. Consegui ir sem as muletas até o banheiro e escutei as palmas dela lá de dentro. Eu dei um sorriso e pensei como seria depois que eu saísse do hospital. Carol provavelmente eu iria ver novamente várias vezes, mas talvez eu não veria mais a Maria. Aquilo me deu um aperto no peito, eu acho que eu já tinha me apegado bastante as duas naqueles dias que passei ali com elas.
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Depois do café da manhã a gente ficou conversando, às nove horas Marina apareceu. Ela entrou no quarto, foi até Carol e deu um selinho nela. Achei muito fofo. Depois ela pegou na mão da Carol e vieram até perto de mim.
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Marina: Eu pedi para Carol não te contar nada antes que eu chegasse. Mas quero que você seja a primeira pessoa a saber que estamos namorando.
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Aline: Até que enfim uma notícia boa! Fico muito feliz por vocês duas. Desejo toda felicidade do mundo para vocês.
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Marina: Obrigada! Mas tenho mais uma notícia boa para você. A Rafaela veio te visitar. Eu já tinha explicado tudo para ela durante o caminho, mas achei melhor ela falar com sua psicóloga antes de te ver. Daqui a pouco elas devem aparecer por aqui.
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Aline: Poxa duas notícias boas em sequência era realmente o que eu estava precisando. Você buscou ela na casa da Michele?
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Marina: Eu a busquei na casa dela, mas por favor não me faça muitas perguntas e especialmente não faça esse tipo de perguntas a ela. Ela é uma criança e já vai ser complicado para ela ter que evitar falar certas coisas. Então tenta ajudar ela. A psicóloga com certeza vai vir com ela, se não acontecer nada de errado as visitas dela podem virar rotina, mas se ela falar algo que não deva, as visitas certamente serão proibidas. Então preciso que você ajude ela nisso.
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Aline: Eu vou ajudar sim, pode ficar tranquila que não vou fazer perguntas desse tipo para ela não. Por mais curiosa que eu esteja, eu já entendi que é pro meu bem e a última coisa que quero é perder a chance de ter as visitas dela aqui.
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Marina: Desculpa ficar te pedindo essas coisas. Desculpe por não poder responder às suas perguntas às vezes. Eu sei que é difícil para você.
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Aline: Você não tem do que se desculpar, eu realmente entendo. Eu não vou negar que é difícil mesmo ficar assim no escuro, mas eu sei que é difícil para você também. Já passamos por muita coisa juntas, vamos passar por mais essa!
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Carol: Gente, até eu estou ficando triste aqui, vamos mudar de assunto que daqui a pouco a visita chega e vai encontrar as três chorando aqui.
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Marina: Você tem razão amor!
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Aline: Meus Deus eu entendi agora porque eu sobrevivi! Foi para ouvir isso!
Que fofo meus Deus! Kkkkkkkkk
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Marina: palhaça! Kkkkk Se acostume viu!!!
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A gente ficou se implicando ali um pouco por causa disso e o clima ficou mais leve. Não demorou muito e minha psicóloga apareceu com Rafaela que abriu um sorriso quando me viu e veio correndo me abraçar. Ela estava um pouco maior, mais gordinha e muito bem vestida por sinal. Quando ela me abraçou, disse que estava com muita saudades e me chamou de mãe, eu não aguentei segurar as lágrimas. Mas eram lágrimas de felicidade, meu sorriso não saiu do meu rosto um momento sequer. Ela limpou meu rosto com suas mãos e pediu para eu não chorar, mas ela também tinha lágrimas nos olhos. Ela me deu um beijo no rosto e me abraçou de novo. Depois perguntou como eu estava e quando eu iria para casa. Eu disse que eu estava bem melhor e que não iria demorar muito mais ali. Ficamos conversando um tempo e ela sempre olhava para a psicóloga quando eu perguntava algo. Ela só respondia quando a psicóloga dava um sinal de positivo com a cabeça. Rafaela era muito esperta e inteligente. Ela sabia que não podia cometer erros e seguiu tudo que a psicóloga pediu. Sua visita durou muito menos do que eu queria, mas foi bom demais ver ela de novo. Quando ela foi sair, ela disse que voltava assim que ela pudesse. Me deu um abraço, vários beijos e disse que me amava muito. Aquilo me fez um bem tão grande. Eu tinha mais um motivo para fazer de tudo para sair dali o mais rápido possível. Eu precisava voltar a conviver com as pessoas que eu amava e Rafaela era uma delas.
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Depois que ela se foi eu agradeci muito a Marina por ter conseguido trazer ela para me ver. Marina disse que isso foi fácil. Que Rafaela só não poderia vir todos os dias por causa da escola dela, mas que a não ser por isso ela estava liberada para vir quando quisesse, desde que a psicóloga liberasse, claro. Como a visita dela não causou nenhum problema, provavelmente a psicóloga iria deixar ela vir mais vezes. Aquilo me deixou muito animada de verdade.
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Naquele dia eu nem fui à fisioterapia. Carol e Marina ficaram comigo o resto do dia e fizemos alguns exercícios no quarto mesmo. Estávamos descansando sentadas no sofá quando alguém chamou na porta do quarto e perguntou se podia entrar. Era a voz de um homem e Carol mais que depressa se ajeitou no sofá. Falou baixinho que era seu chefe e disse em voz alta que ele podia entrar sim. Quando a porta se abriu entrou um homem loiro, alto e de olhos azuis. Ele tinha aproximadamente uns 40 anos mais ou menos. Quando eu olhei no rosto dele senti uma pequena tontura. Ele percebeu e perguntou se eu estava bem. Eu disse que sim e ele se aproximou. Disse que seu nome era Carlos e era o dono do hospital. Ele disse que resolveu me visitar para ver como eu estava e saber se eu estava sendo bem tratada pelo pessoal do hospital. Antes que eu pudesse responder ele estendeu a mão e comprimentou Marina e Carol. Acho que pelo jeito ele já conhecia Marina, porque ele me pareceu ser bem educado e não se apresentou a ela. Eu disse a ele que eu estava muito bem em vista de semanas atrás e que eu estava sendo muito bem tratada. Ele sorriu e mais uma vez aquela tontura voltou, mas eu respirei fundo e tentei me controlar. Eu perguntei a ele se a gente já não se conhecia, porque ele me parecia muito familiar. Ele disse que a primeira vez que me viu foi na mesa de operação do hospital. Mas talvez eu já tivesse visto ele na TV ou em algum artigo sobre o hospital. Mas que pessoalmente provavelmente eu não o conhecia antes. Eu disse que provavelmente era isso mesmo.
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Perguntei a ele se eu poderia saber quem estava pagando meu tratamento, mas disse que se fosse algo que eu não pudesse saber, eu entenderia. Ele disse que ninguém estava pagando nada, que meu tratamento era por conta do hospital, que não era para eu me preocupar com isso. Que não podia falar muito sobre o assunto porque se não teria a orelha puxada por uma das suas funcionárias. Que por sinal era muito competente e também sua esposa. Então era melhor ele ficar calado para não correr o risco de ter que se mudar para o quarto ao lado. Aquilo realmente me arrancou um sorriso. Não fazia ideia que ele era Marido da minha psicóloga. Ele disse que só tinha passado rápido porque estava muito atarefado, mas que era para eu ficar tranquila e focar apenas na minha recuperação. Que eu estava nas mãos de ótimas pessoas e se eu tivesse qualquer problema era só pedir para Carol chamar ele que seria resolvido. Eu o agradeci, ele se despediu e saiu do quarto.
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Quando ele saiu eu estava com um sentimento estranho no peito. Não era um sentimento ruim, era algo estranho. Era como se eu tivesse visto um amigo de longa data que a muito tempo eu não via. Ou se eu tivesse acabado de ver alguém por quem eu tivesse um sentimento muito forte. Aquilo foi muito estranho e mais estranho foi os olhares das duas que estavam ali do meu lado para cima de mim.
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Aline: Porque vocês estão me olhando assim?
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Carol: Eu achei que você iria passar mal. Você está bem?
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Marina: Pensei a mesma coisa.
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Aline: Eu estou bem. Só tive umas tonturas e não sei porque, mas a visita do Carlos me deixou com umas sensações estranhas.
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Marina: Como assim?
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Aline: Eu não sei explicar. Mas não é algo ruim. Seila, mas parece que eu o conheço de algum lugar. Provavelmente vocês sabem de onde, mas não podem me dizer.
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Carol: Posso te garantir que o que ele disse é verdade, ele te viu pela primeira vez na mesa de operação do hospital. Você pode mesmo ter visto ele em algum lugar porque ele é bem conhecido, mas como ele disse, pessoalmente eu acho bem difícil.
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Marina: Talvez ele te lembre alguém ou se parece com alguém que você conhece. Eu não sei, eu mesmo não o conhecia antes de falar com ele aqui no hospital.
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Aline: Pode ser, eu não sei. Olha essa história do meu tratamento também está muito estranha para mim, mas nem vou perguntar nada a vocês. Como eu disse, eu entendo que vocês não podem me falar. A voz que eu ouvia eu também não sei de quem é e se ao menos ela é real ou algo da minha cabeça.
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Carol: Sabe o que é estranho sobre essa voz? Eu conversava com você. Eu e Marina as vezes ficava de papo ao lado da sua cama. Maria provavelmente conversava com você também. Mesmo sem você poder nos ouvir a gente falava com você às vezes. Vários médicos conversaram dentro do quarto e ao lado da sua cama. Mas você só se lembra dessa voz. É muito estranho isso. O mais estranho é que eu não faço ideia de quem seja.
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Aline: Isso deve ser coisa da minha cabeça mesmo!
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Marina: Talvez seja, ou talvez não. Mas eu também não faço ideia de quem pode ser.
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Ficamos ali de papo e perguntei a Carol se eu não podia andar um pouco no corredor do hospital. Eu queria sair dali um pouco. Carol disse que sim, eu podia sair desde que não fosse sem ela. Saímos nós três e ficamos andando de um lado para o outro. Eu estava com as muletas, mas praticamente não me apoiava nelas mais. Minhas penas estavam quase recuperadas graças a Deus 🙏🏻
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No outro dia eu fui na psicóloga. Mas não teve sessão de hipnose. Mas eu conversei bastante com ela. Inclusive falei da visita do marido dela. Das sensações que senti e da piada dele. Ela confirmou que provavelmente eu não o conhecia antes. Depois voltei para meu quarto e fui para a fisioterapia. Meu fisioterapeuta disse que eu tinha progredido muito e até mais rápido do que ele esperava, que já estava na hora de eu começar a fortalecer mais meus músculos da perna. Ele me levou até uma bicicleta ergométrica e me colocou para pedalar. Eu estava ali pedalando e ele conversando com Carol. Provavelmente passando algumas orientações para ela. Eu em um momento olhei para cima O teto era bem alto e tinha algumas janelas de vidro na parede, provavelmente a um andar acima do que eu estava. Fui olhando elas até que vi alguém se aproximando de uma. Quando a pessoa chegou perto do vidro eu vi a figura de uma mulher de cabelos claros, mas por algum motivo quando olhei no seu rosto minhas vistam começaram a embaralhar. Eu tentei firmar minha visão, mas não consegui. Do nada minhas vistam foram escurecendo e eu só não caí porque Carol me segurou.
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Eu olhei de novo em direção a janela, mas a pessoa não estava lá. Carol perguntou o que houve e eu disse que eu tinha visto uma mulher ali naquela janela, mas não consegui ver direito quem era porque minhas vistas escureceram. Carol olhou e disse que não tinha ninguém lá e que as janelas eram do depósito de equipamentos do hospital e raramente entrava alguém ali. Eu disse que tinha certeza que vi alguém ali, ou realmente eu estava ficando doida. Carol disse que era melhor a gente ir para o quarto. Eu concordei, mas a imagem daquela mulher não saia da minha cabeça. O único problema é que eu não consegui ver o rosto dela direito.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper