Após Bernardo terminar de se arrumar, descemos para o jantar. A mesa estava belamente posta, decorada para a primeira celebração do aniversário de Alysson, um evento reservado para a família e alguns amigos próximos. A grande festa, um churrasco, seria no dia seguinte, como ele havia mencionado antes. O ambiente parecia confortável e acolhedor para todos, exceto para mim.
Assim que entrei na sala ao lado de Bernardo, senti o olhar de Silas sobre nós. Era um olhar distante, confuso, que carregava um peso difícil de ignorar. O clima entre nós estava tenso, mas apenas eu, Alysson, Silas e Bernardo sabíamos realmente o que estava por trás daquele silêncio. Decidi não deixar esses pensamentos tomarem conta de mim e me manter focado no momento.
Logo depois, Alysson veio até mim e, com um gesto discreto, me chamou para irmos ao escritório. Lá, em um ambiente mais reservado, ele me perguntou:
— Está tudo bem?
Eu respirei fundo, tentando organizar os pensamentos, e respondi:
— Sim, está tudo bem. Não deixaria de vir comemorar o seu aniversário por causa do Silas. Falei com o Bernardo mais cedo, e ele me ajudou a acalmar a cabeça.
Alysson pareceu aliviado ao ouvir isso. Ele se aproximou e, em um gesto carinhoso, me puxou para um abraço apertado. Seu apoio sempre foi algo que me confortava, e naquele momento não foi diferente.
— Você está indo muito bem — ele disse com um sorriso sincero. — Continue seguindo seus instintos e, principalmente, o seu coração.
Ao sentir o abraço apertado de Alysson, uma onda de lembranças da nossa última noite intensa invadiu minha mente. O calor do momento me fez querer mudar o tom da conversa, tornar aquilo mais provocante. Olhei nos olhos dele e, com um sorriso malicioso, disse:
— Bom, não trouxe um presente, mas posso te dar outra coisa depois.
Pisquei, provocando. Alysson rapidamente olhou para a porta, como se quisesse garantir que estava fechada, e então se inclinou, me dando um selinho rápido. Ele sorriu com um brilho nos olhos e disse em um sussurro:
— Deixa de ser safado, moleque.
Aproximando-se do meu ouvido, ele sussurrou de volta, com a voz baixa e cheia de intenção:
— Posso pedir qualquer coisa que você me daria?
Respondi com o mesmo olhar malicioso:
— Pode sim.
Ele riu, afastando-se um pouco, mas ainda com um sorriso provocante nos lábios, e balançou a cabeça.
— Melhor a gente parar com esse papo agora, ou vai ficar complicado.
Mudando o foco, ele perguntou:
— Então, quer dizer que você e o meu filho se resolveram?
Assenti e respondi:
— Ainda vamos conversar mais, mas está tudo bem entre a gente.
Decidi provocar mais uma vez, inclinando-me para ele e, em um quase sussurro, disse:
— Já transei com você sendo meu patrão... Já transei com você sendo meu tio... Agora só falta transar com você sendo meu sogro.
Minha voz foi tão baixa quanto possível, para garantir que ninguém mais escutasse. Alysson soltou um sorriso malicioso, claramente mexido pela provocação, mas manteve o controle. Ele me olhou nos olhos e, com a mesma intensidade, murmurou:
— Moleque, para de me provocar. Não posso ficar "aceso" agora. – Falou e deu uma apertada na sua mala – Vamos voltar pra sala antes que alguém sinta nossa falta.
Com um último sorriso cúmplice, ele me puxou pela mão e voltamos para a sala, onde todos os outros já estavam reunidos.
Me aproximei de Bernardo e Sofia, tentando manter a naturalidade enquanto conversávamos. Sofia, sempre agradável, falava animadamente, mas, como sempre havia alguém por perto ou passando, a conversa se mantinha leve e sem profundidade. Em alguns momentos, senti o olhar de Silas sobre nós, distante, talvez surpreso pela nossa afinidade repentina. Havia uma certa tensão no seu olhar, quase como se estivesse com medo de que eu pudesse contar algo para Sofia.
Esses olhares me incomodavam, mas o conselho de Alysson ecoava na minha cabeça: seguir meu instinto e meu coração. E foi o que decidi fazer. Observei Silas indo para a varanda, um pouco afastada de onde todos estavam reunidos. A oportunidade parecia perfeita, ele estava sozinho, e aquele era um lugar discreto, longe de olhares curiosos.
Virei para Bernardo e Sofia e disse casualmente:
— Vou tomar um ar, já volto.
Eles assentiram, sem dar muita atenção. Caminhei em direção à varanda, sentindo meu coração acelerar a cada passo. Enquanto me aproximava, me certifiquei de que estávamos realmente sozinhos. O silêncio da noite envolvia o ambiente, e eu sabia que aquele era o momento que tanto evitei, mas que, de alguma forma, precisava acontecer.
Ao chegar à varanda, Silas me olhou com uma expressão de surpresa e um pouco de desconfiança. Ele parecia meio assustado, e eu me senti um pouco tímido diante da situação.
— Boa noite — disse, tentando transmitir tranquilidade. — Bom, não sei o que você está pensando, mas saiba que não contei nada para a Sofia. Ela e o Bernardo são bem amigos, e passamos a tarde conversando. Ela é muito simpática e comunicativa.
Silas permaneceu em silêncio, ainda me observando, e eu senti que precisava continuar.
— Mas, enfim, não é sobre ela que eu quero falar, Silas. Não que eu me importe muito com você, mas estou notando que você está tenso, triste, sei lá... Enfim, quero te propor uma trégua. Talvez, em algum momento lá na frente, a gente possa conversar. Você pode me ouvir com calma e sem as minhas emoções à flor da pele, e eu também posso ouvir o seu lado.
Ele franziu a testa, claramente cético, mas eu não queria desistir.
— Mas saiba que não é algo que será amanhã ou depois. Quero tempo, tempo para pensar. Tente não pensar nisso, siga sua vida. O que passou, passou. Isso não é um pedido de desculpas nem uma semente de esperança de que a gente possa ter uma relação saudável. Acredito que precisamos ter uma conversa, ambos calmos.
Silas ainda não disse nada, então respirei fundo antes de finalizar.
— Até lá, tente me ver como uma pessoa normal, um funcionário da fazenda, e não como o “filho que você abandonou”. Eu sei que isso é complicado, mas precisamos encontrar uma maneira de lidar com isso. Aproveite o aniversário do seu irmão e tente relaxar.
Olhando nos olhos dele, percebi que havia um misto de confusão e compreensão. A tensão no ar parecia se dissipar um pouco, e a sensação de que algo poderia mudar entre nós, mesmo que lentamente, começou a surgir.
— Peço desculpas, Rafael — Silas começou, mas eu o interrompi.
— Cara, não precisa se desculpar. Como te disse, quero propor essa trégua. Deixe as coisas esfriarem e, quem sabe, a gente conversa depois. Mas siga sua vida e tente não buscar ou saber informações sobre mim.
Era tudo o que eu tinha a dizer. Me virei e saí sem esperar por uma resposta. Havia algo dentro de mim que me impelia a falar aquelas coisas. Ao retornar, vi que Alysson nos observava de longe, lançando um olhar que parecia perguntar se estava tudo bem. Sorri para ele, dando a entender que sim.
Retornei ao lado do Bernardo e da Sofia, e continuamos a conversar animadamente. O clima leve da noite parecia afastar qualquer resquício de tensão que ainda pairasse no ar. O momento dos parabéns chegou, e o Sr. Alysson agradeceu a presença de todos, fazendo com que os convidados se sentissem bem-vindos e valorizados.
À medida que a noite avançava, os poucos convidados foram se dispersando. No final, ficaram apenas eu, Bernardo, Sofia, Alysson, Cláudia, Silas e Yves. Foi então que Yves, com seu jeito meio arrogante, perguntou se eu não ia embora.
Fiquei sem saber o que responder, tentando encontrar alguma palavra que fosse apropriada. Mas, ao perceber meu constrangimento, Alysson interveio rapidamente.
— Ele vai dormir aqui hoje — disse, — pois já havia bebido. Pode dormir no quarto do Bernardo, já que os outros estão ocupados.
Yves me olhou, sorrindo de um jeito que parecia falso, e eu senti um frio na barriga. A tensão estava de volta, mas tentei ignorar. Agradeci a Alysson com um olhar, aliviado por sua intervenção.
A noite continuou, mas a presença de Yves, com seu olhar crítico, parecia tornar o ambiente um pouco mais pesado. Tentei manter a conversa leve e divertida com os outros, lembrando que, por enquanto, o mais importante era aproveitar aquele momento a e esquecer as tensões do dia.
Fomos para o quarto, e Bernardo trancou a porta. Assim que ele virou a chave, avancei e o puxei para um beijo quente e intenso, com minhas mãos explorando seu corpo. Nossas línguas se cruzavam em uma dança apaixonada, enquanto as roupas iam sendo jogadas no chão, criando um rastro de desejo que nos levava até a cama.
Caímos sobre o colchão, e o beijo se tornava cada vez mais fervoroso até que, de repente, Bernardo se afastou um pouco, olhando nos meus olhos.
— Rafa, precisamos conversar — disse ele, sua voz um misto de determinação e vulnerabilidade.
Fiz uma carinha de cachorro triste, um olhar suplicante que sempre funcionava com ele.
— Por que a gente não conversa depois de transar? — sussurrei em seu ouvido, mordendo levemente sua orelha.
— Rafa, não tente me ganhar assim. Sério, precisamos conversar — ele insistiu, sua expressão ficando mais séria. — Quero uma conversa calma. Precisamos ajustar alguns pontos.
Eu me deixei levar pela urgência da situação, mas a preocupação no olhar dele começou a me inquietar. Aquele momento estava perfeito, mas a ideia de uma conversa pesada me fazia hesitar.
— Só um beijo a mais — pedi, me aproximando novamente, mas ele balançou a cabeça, frustrado.
— Não, Rafa. Isso é importante.
Suspirei, sentindo a tensão crescer entre nós. Bernardo estava certo, e eu sabia que tínhamos questões a resolver. Mas, por dentro, eu ainda lutava para entender como equilibrar a paixão que nos consumia e a seriedade da conversa que nos aguardava.
— Rafa, bom, você gosta de mim, certo? — perguntou Bernardo, com um olhar sério.
— Sim, Bernardo, eu gosto de você — respondi, puxando-o para um selinho.
— Eu também. Mas como vamos ficar? Seremos namorados de agora em diante? — ele falou com firmeza.
— Por mim, sim.
— E a distância, Rafael? Não é sempre que estou aqui no Alto, e não é sempre que você vai para a capital.
— A gente tenta. Quem quer faz acontecer.
Bernardo sorriu, e isso me deu um pouco mais de confiança. Mas logo a expressão dele mudou para um semblante mais sério.
— Bom, então vamos lá. Como ficamos com a questão da “fidelidade”?
— Se o combinado for não ficar com outras pessoas, eu topo!
— Você não vai me trair novamente? — ele perguntou, a frustração evidente em sua voz. — Saiba que fiquei muito triste ao ver você aos beijos com o Luís Ricardo. E o pior de tudo foi quando fui na casa do Caio. Eu vi vocês três juntos.
Arregalei os olhos, não esperando que ele soubesse sobre isso. Na minha cabeça, Bernardo só tinha visto o beijo, não o que rolou depois. Então ele continuou.
— Relaxa, não quero pensar nisso. Mas saiba que, de agora em diante, somos somente eu e você. — Ele fez uma pausa e completou. — Bom, e acho que você sabe que eu e Caio tivemos um lance e não deu muito certo, não é mesmo?
Fiz um aceno afirmativo com a cabeça.
— Naquele dia, eu resolvi procurar o Caio. Não fique com raiva, mas eu estava com raiva de você. Só que ao chegar lá, percebi que vocês três estavam juntos, e aquilo me deixou triste. Por isso, mantive um silêncio por tanto tempo. Eu estava analisando meus sentimentos. Eu gosto de você, Rafa, mas eu já gostei muito do Caio. E, devido à nossa briga, eu meio que quis consolo nele, se é que você me entende.
— Entendo — respondi, sentindo uma mistura de empatia e dor. — Mas o que isso significa para nós?
— Significa que quero deixar tudo em pratos limpos de agora em diante. Acredito que você e Caio já tenham ficado, e eu não quero que isso atrapalhe o que estamos construindo juntos.
Resolvi ser sincero com Bernardo e falei:
— Bom, não vou mentir. Enquanto ficava com você, eu também estava com o Caio. Mas o Caio é como se fosse uma amizade colorida. Somos amigos que transam, em outras palavras. É diferente do que eu sinto por você, Bernardo. Sei lá, quando estou com você, é diferente; não é só sexo. É amor, conforto, felicidade. E eu não sinto essas coisas quando estou com o Caio. O sexo com ele é muito bom, mas, no fim, a gente é amigo. E como te disse naquela mensagem, a gente não tinha nada. Reconheço meus erros e quero deixar tudo em pratos limpos para que possamos fazer esse relacionamento dar certo.
Ao terminar de falar, dei um selinho em sua boca. Bernardo suspirou fundo e disse:
— Tudo bem, eu sei muito bem como transar com o Caio é bom.
Interrompi-o rapidamente.
— Ah, não sei se você sabe, mas o Caio vai trabalhar fora durante um tempo, e não teremos tanto contato assim. Então, se você sentia alguma insegurança ou ciúmes do Caio, saiba disso agora.
Bernardo pareceu surpreso com o que eu havia dito. Ele sorriu sem graça e respondeu que estava pronto para tentar fazer acontecer.
Sorri de volta, um pouco sem jeito, e puxei-o para um beijo calmo. Olhei em seus olhos esverdeados e, com um misto de nervosismo e expectativa, perguntei:
— Bernardo, quer namorar comigo?
O sorriso dele se ampliou, e, em um gesto suave, ele segurou meu rosto com as mãos.
— Sim, Rafa! Eu quero! — disse ele, com um brilho nos olhos que me fez sentir uma onda de felicidade.
Aquele momento era tudo o que eu queria. A confirmação do que estava nas entrelinhas dos nossos olhares, a promessa de que iríamos construir algo juntos, mesmo com os desafios que ainda poderíamos enfrentar.
Começamos a nos beijar com uma intensidade que fez o mundo ao nosso redor desaparecer. As carícias fluíam como uma dança, enquanto nossas almas se conectavam em um ritmo envolvente. O calor que emanava de nós transformava o quarto em um refúgio onde os limites se dissolviam.
A noite se desenrolou em um turbilhão de sussurros e risadas, nossos corpos se encontrando de maneiras que pareciam naturais, como se estivéssemos sempre destinados a isso. Cada toque despertava novas sensações, e o tempo passou sem que percebêssemos, enquanto a luz da manhã começava a espreitar pela janela.
Foi uma noite de reconciliação, onde a paixão e o desejo se entrelaçaram, deixando um rastro de felicidade e cumplicidade. Quando finalmente nos entregamos um ao outro, foi como se todo o universo tivesse conspirado para nos unir naquele momento, um espaço só nosso, repleto de ternura e conexão profunda.