Fui para meu quarto depois de uma longa conversa com minha psicóloga. Eu já estava mais tranquila. Eu sabia o que ia acontecer a seguir, era algo que mexeu muito comigo no passado. Mas era algo já superado graças a Deus. O meu medo acho que era de reviver aquilo tudo, mas infelizmente eu precisava. Falei para minha psicóloga que eu poderia prosseguir no outro dia mesmo. Ela no início não achou uma boa ideia, mas eu acabei convencendo ela. Então eu estava voltando para meu quarto para descansar e me preparar mentalmente para relembrar o pior dia da minha vida.
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Carol me acompanhou até o quarto e como sempre me perguntou como foi a sessão, se eu estava bem e se eu precisava conversar sobre o que houve. Ela realmente se preocupava comigo, eu sentia isso tanto nela como na Maria. Claro que elas tinham obrigação de tomar conta de mim, mas eu sentia que não era só por obrigação. Até porque elas faziam coisas por mim que não era obrigação delas e tínhamos conversas ótimas e às vezes até íntimas. A nossa relação não era só de enfermeira e paciente. Eu falei para Carol que eu estava bem, mas minha regressão chegou em um ponto da minha vida que eu não gosto de lembrar. Eu ia até contar a ela sobre tudo que aconteceu, mas aí me toquei que ela era a atual namorada da Marina. Acabei travando e claro ela percebeu.
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Carol: O que houve? Parece que você ia me falar algo mas se calou.
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Aline: É mais ou menos isso, é que lembrei de uma coisa que complicou a situação. Posso te fazer uma pergunta meio pessoal?
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Carol: Claro que pode Aline. Pode me perguntar o que quiser.
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Aline: A Marina já te falou como a gente se tornou amigas?
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Carol: Já entendi o que te travou. Kkkkkkkkkkk
Relaxa, ela já me contou sobre vocês. Bom e se sua regressão está nessa fase, eu sei o que você tem medo de relembrar.
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Aline: Ainda bem que ela já te contou, sinal de que você sabe que apesar do início meio diferente, nós somos somente amigas. Na verdade, melhores amigas.
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Carol: Sim, eu sei. Quando Marina me contou a histórias de vocês eu fiquei admirada. Provavelmente por isso eu comecei a ver ela de forma diferente e a você também. Hoje ela é minha namorada e você minha amiga. Acho que tudo começou ali. Vocês tem uma história linda, uma ajudou muito a outra, isso é raro de se ver hoje em dia.
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Aquela conversa me deixou tranquila novamente. Acabei contando como foi a sessão. Lógico que poupei Carol dos detalhes das minhas transas com Marina. No mais contei tudo. Mas fiquei com a impressão de que ela já sabia de tudo que contei a ela. Provavelmente Carol sabia mais da minha vida do que eu. Já que ela provavelmente sabia o que aconteceu nesse último ano e eu não sabia. Mas valeu pelo desabafo.
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No outro dia acordei um pouco tarde porque eu e a Maria ficamos de papo até tarde. Quando Carol viu que acordei foi buscar meu café e eu fui fazer minha higiene. Ficamos de papo até a hora do almoço e depois eu fui andar no corredor e conversar mais com Carol. Depois banho e mais uma sessão com a psicóloga. Carol mais uma vez me acompanhou e disse que Marina avisou que iria vir me ver no início da noite. Fiquei feliz com aquela notícia. Já na sala da psicóloga a gente conversou um pouco e mais uma vez ela perguntou se eu estava mesmo segura de voltar a reviver aquela cena naquele dia. Ela disse que eu podia esperar uns dias, ela podia conversar mais comigo e talvez achar um jeito de deixar aquilo mais leve para mim. Mas eu mais uma vez disse que eu estava segura daquilo. Que queria logo passar por aquilo porque depois a minha vida tinha só lembranças boas na maioria do tempo. Ela disse que então iríamos fazer o que eu queria. Eu me deitei e mais uma vez segui todos os procedimentos que eu já sabia de cor.
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Mais uma vez eu estava ali caminhando de braços dados com Marina em direção a nossa mesa. Quando ouvi a mesma voz dizer a mesma frase. Que era um desperdício uma gata como a Marina estar andando com uma sapatão. Quando me virei vi meu irmão e seu amigo rindo. Vi que Marina foi dizer algo, mas eu pedi para ela não falar nada. Ela respirou fundo e se calou, mas infelizmente a intenção do idiota do amigo do meu irmão era nos provocar. Ele disse mais uma vez em alto e bom som que provavelmente Marina tinha arrumado uma sapatão porque meu irmão não a tinha comido direito. Mas isso infelizmente não foi o pior. Meu irmão, provavelmente para não passar vergonha disse que não era culpa dele não, que ele tinha fudido ela direitinho. Nessa hora eu vi que ia dar merda. Marina soltou do meu braço e já virou o corpo e caminhou na direção onde eles estavam.
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Marina: Como é que é Lucas? Quando foi que você me fudeu idiota? Quero ver se você é homem de sustentar essa mentira na minha frente seu babaca.
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Nessa hora meu irmão perdeu o sorriso da cara e começou a engasgar. Alguns curiosos foram se amontoando para ver a confusão. Marina estava muito puta e falou o que devia e o que não devia.
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Marina: Fala seu babaca? Onde foi que você me fudeu? Foi no lote vago no dia que você é esse idiota aí me arrastaram bêbada para abusar de mim? Vocês dois acham que eu não lembro porque eu estava bêbada? Eu lembro sim seus retardados. Vocês tentaram abusar de mim, se não fosse a Aline me salvar eu não sei o que vocês teriam feito comigo. Eu só não denunciei vocês dois porque eu no quis causar problemas para minha amiga já que ela deu azar de ser irmã de um idiota feito você Lucas.
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Quer saber, eu estou sim com sua irmã e ela é incrível, nunca gozei tanto na vida. Algo que provavelmente nenhum dos dois tem a capacidade de proporcionar a uma mulher, já que a vida de vocês é beber, vender drogas e tentar abusar de mulheres bêbadas. Mas eu vou dar um aviso para vocês dois, não se metam comigo de novo ou vou na polícia contar o que vocês fizeram comigo. Eu tenho uma testemunha que viu tudo, e vou falar para eles ficarem de olho nos dois traficantezinhos aqui da faculdade.
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Só mais uma coisa Lucas. Sabe porque eu não transei com você no dia que ficamos. Eu senti sua minhoquinha me cutucar. Eu não ia perder tempo com algo tão inútil como isso que você tem no meio das pernas. Talvez seu amigo aí goste mas eu não.
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Nessa hora um dos alunos que estavam olhando a discussão soltou um grito que simplesmente acabou com a vida do meu irmão.
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Aluno: Nossa ela acabou com você MINHOQUINHA kkkkkkkkkk
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Acho que não teve ninguém que não riu. O pior é que outros alunos começaram a zuar meu irmão chamando ele de minhoquinha. O amigo do meu irmão foi dar um de machão e foi para cima da Marina, mas os outros alunos o cercaram. Umas meninas começaram a chamar eles de abusadores, a falar que lugar de homem assim era na cadeia vestindo roupa de mulherzinha. Na confusão o amigo do meu irmão acabou levando uns murros e uns chutes. Meu irmão saiu dali o mais rápido possível. Essa foi a última vez que eu vi ele e o amigo na faculdade.
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Marina veio até onde eu estava e se desculpou por ter perdido a linha. Eu disse que estava tudo bem. Mas eu sabia que não estava. Minha mãe sempre protegeu meu irmão. Quando ele era criança ele teve anemia. Ele era muito fraquinho e vivia doente. Minha mãe era super protetora com ele. Mas ele cresceu e com a ajuda de várias dietas e alguns remédios, ele superou isso. Mas minha mãe o tratava do mesmo jeito. Ele claro aproveitava da situação. Eu sabia que ele iria inventar algo para minha mãe e ela iria me encher a paciência em casa. Se ele contasse para ela que eu era lésbica, aí com certeza ela iria me xingar muito. Mas aulas continuaram e eu até esqueci daquilo. No fim da aula Marina me levou até minha casa. Nos despedimos e eu entrei. Quando abri a porta da sala, minha mãe me esperava com meu irmão do lado. Mas não era só ele que estava do lado dela. Tinha uma mala também. Ali eu já imaginava o que vinha a seguir.
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Aline: O que é isso mãe?
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Mãe: Suas roupas. Quero você fora dessa casa agora!
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Aline: Mas porque? O que eu fiz?
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Mãe: Você e sua namorada acabaram com a vida do seu irmão! Como você acha que ele vai voltar a estudar agora depois do que vocês fizeram? E não quero uma doente aqui dentro da minha casa. Quando você se curar e pedir perdão ao seu irmão você volta.
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Aline: Eu não fiz nada com o Lucas. A Marina não é minha namorada e eu não estou doente! Ninguém inventou nada do Lucas. Eu e a Marina estávamos quietas e o amigo do Lucas que mexeu com ela. Eu não falei nada, mas ela se defendeu, ela não falou nenhuma mentira.
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Lucas: Eu não disse mãe, as duas estão juntas nisso. Elas inventaram isso só porque elas não gostam de mim. Eu nunca fiz nada com elas.
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Aline: Você é um mentiroso, você e seu amigo arrastaram ela para um lote vago e tentaram abusar dela. Se eu não tivesse ajudado ela eu não sei o que teria acontecido.
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Mãe: CALA A BOCA SUA DOENTE! VOCÊ NÃO VAI PREJUDICAR MEU FILHO!
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Aline: Mãe eu também sou sua filha! Eu não fiz nada de errado.
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Mãe: Você não é mais minha filha, eu não tenho filha sapatão. Agora pega suas coisas e sai daqui.
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Aline: Não tem filha sapatão, mas tem um filho abusador e traficante. A senhora não sabe o monstro que a senhora está criando debaixo do seu teto. É tomara que a senhora não descubra isso tarde demais.
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Lucas: Olha como você fala comigo, sua sapatão de merda!
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Aline: Porque? Você vai me bater? Claro, você só dá uma de machão com mulheres. Encosta em mim para você ver se não te coloco atrás das grades, seu covarde, abusador, machista de merda!
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Mãe: JÁ CHEGA! SAI DA MINHA CASA AGORA! SAI DAQUI!
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Eu nem peguei a porcaria da mala. Eu só virei as costas e saí dali já chorando de raiva. Quando passei do portão para fora eu já liguei para Marina. Ela tinha acabado de chegar em casa, mas voltou para trás quando pedi a ela chorando para me ajudar. Logo ela chegou na esquina onde eu a esperava. Assim que entrei no carro ela me perguntou o que tinha acontecido. Eu não consegui falar direito porque eu estava chorando muito. Mas acho que ela entendeu porque eu ouvi ela pedindo desculpas e dizendo que eu iria morar com ela. Eu chorei muito, de raiva, de decepção e de tristeza por ser tratada daquele jeito por minha mãe. Eu nunca fiz nada de errado para ela ter me tratado daquela forma.
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Quando cheguei no apartamento da Marina ela me pediu um monte de desculpas. Ela se culpou por ter acontecido aquilo comigo. Eu tive que repetir várias vezes que eu não tinha em nenhum momento culpado ela. Eu disse que não sabia o que eu ia fazer da vida dali para frente e foi nesse momento que eu vi que Marina era realmente uma pessoa diferente.
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Marina: Eu já disse que você vai morar comigo. A partir de hoje eu vou cuidar de você como você cuidou de mim naquele maldito dia que me arrastaram para dentro daquele lote. O que eu comer você vai comer, as roupas que eu comprar para mim eu vou comprar para você. Na faculdade que eu estudar você vai estudar. Você vai ser minha protegida de hoje em diante. Quando você conseguir um bom emprego e puder ganhar seu dinheiro eu solto sua mão para você viver sua vida do jeito que você quiser. Mas até lá eu não solto sua mão de jeito nenhum. E não tem discussão sobre isso.
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Aline: Mas Marina..
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Marina: Sem mas, vou fazer uma ligação e já volto.
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Ela se levantou e foi para sala. Eu fiquei ali de boca aberta pensando em tudo que ela tinha falado. Eu sabia que Marina era rica, ou melhor, seus pais eram ricos. Até porque ter um apartamento daquele não era para qualquer um. Mas eu não sabia o quanto os pais eram ricos. Eu não queria arrumar problemas para a vida dela. Mas eu nem tinha forças para discutir. Ela sumiu por quase uma hora e depois voltou com um sorriso enorme no rosto.
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Marina: Contei tudo para minha mãe e ela concordou em ajudar você. Vai falar com meu pai e vamos cuidar de você. Não se preocupe.
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Aline: Você contou tudo? Tudo mesmo?
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Marina: Contei, minha mãe é cabeça boa. Não escondo nada dela. Não se preocupe com isso não. Ela queria que eu denunciasse seu irmão e sua mãe. Ela disse que você tem parte na casa e não poderia ter sido expulsa de lá. Mas consegui tirar isso da cabeça dela. Olha, vai dar tudo certo, a gente vai ficar bem. Te prometo.
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Eu conferi nela e naquela noite conversamos muito sobre o nosso futuro e deitamos abraçadas para dormir. Eu me sentia segura nos braços dela. Eu tive a sorte de ter ela comigo naquele momento, se não fosse ela eu não sei o que poderia ter me acontecido. Eu não chorei mais naquela noite e acabei dormindo ali agarrada com Marina. Acordei com o barulho do relógio de parede e quando abri os olhos minha psicóloga me olhava com uma carinha boa. Eu não sei porque, mas me levantei do divã e dei um abraço nela.
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Psicóloga: Não me abrace ainda porque temos muitos caminhos para percorrer ainda.
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Aline: Mas o pior já passou.
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Psicóloga: Tomara que sim. Mas estou com muito medo do que tem nesses meses que seu cérebro escondeu. Você disse que sua vida depois disso é de boas lembranças. Então provavelmente seu problema está nesses seis meses. Eu já não acredito que sua amnésia foi por causa do seu acidente. Mas vamos com calma que a gente vai descobrir.
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Aquelas palavras dela me deixaram preocupada. O que será que aconteceu nesses seis meses? Até onde eu me lembro, eu estava bem e feliz com a Michele. Mas provavelmente alguma coisa aconteceu, mas o que exatamente?
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper