A viagem para o Rio tinha sido realmente transformadora. Meu coração agora estava cheio de planos e sonhos sobre morar lá. Claro, eu sabia que seria algo a longo prazo, já que ainda tinha mais quatro anos de medicina pela frente e muita coisa para viver até lá. Mas algo dentro de mim mudou: o Rio era mais do que um destino turístico, era um objetivo de vida.
Quando voltei, me senti renovado, com uma energia nova e uma conexão ainda mais forte com meu pai. Nossa relação parecia ter atingido outro nível, algo que nunca imaginei que seria possível. Eu estava em paz, minha vida fluía de forma tranquila, e tudo parecia estar no lugar certo.
Naquela mesma noite, Bernardo foi dormir comigo. Assim que ele entrou no quarto, me abraçou apertado, e eu percebi o quanto sentia falta daquele toque familiar. Passamos horas conversando, matando a saudade e atualizando um ao outro sobre os dias que passamos separados.
— E aí, conta tudo, como foi o Rio? — ele perguntou, jogado na cama enquanto eu terminava de organizar as coisas da viagem.
— Incrível! Acho que encontrei o lugar onde quero morar quando terminar a faculdade. E, claro, conheci algumas pessoas... — falei com um sorriso provocador.
Ele riu, já entendendo onde eu queria chegar.
— Vai, conta, quantos foram?
— Alguns... Mas o mais importante é que eu conheci uma galera incrível, fui a lugares lindos, e... tá, beijei uns boys na Le Boy — admiti, rindo.
Bernardo não parecia incomodado, muito pelo contrário.
— E quem eram eles? Quero detalhes! — disse, com um brilho curioso nos olhos.
Contei tudo, desde as aventuras na praia até os momentos mais inusitados da balada. Para minha surpresa, ele ouviu tudo com atenção, sem qualquer sinal de ciúmes.
— Acho que nosso relacionamento finalmente chegou no equilíbrio que eu sempre quis — comentei, observando sua reação.
Ele sorriu e me respondeu com a mesma sinceridade:
— É, Rafa. Acho que agora estamos no lugar certo. Sem cobranças, só vivendo. E já que você contou dos seus boys, é justo que eu conte dos meus, né?
– Claro – Respondi sorrindo entusiasmado.
– O JP me fez companhia alguns dias, transamos aqui inclusive na sua cama.
– Nem pra respeitar a cama do seu namorado? – Puxei o Bernardo para um beijo
– Ué, você estava no rio, nem vem com esse drama, mas nada de mais rolou com o JP, bom mesmo foi um carinha que conversei no grindr, fiz uma pequena encenação, disse a ele que meu namorado estava viajando e que eu estava sozinho no apartamento dele, o que não era mentira né? Dai falei que tinha que ser no sigilo, que eu nunca tinha traído, daí ele topou, meu comeu aqui olhando pra nossa foto, e falava altas baixarias, como seu namorado te come assim? Olha a cara desse corno, não sabe o que tá perdendo, eu achei tudo isso tão excitante e me entreguei ao personagem, foi ótimo.
– Nossa que delicia Bernardo, olha meu pau como tá, não sabia que eu sentiria tanto tesão por ser chamado de corno – Falei sorrindo.
Então puxei o Bernardo para um beijo, e logo fizemos sexo, sim naquela noite fizemos sexo e não amor, eu estava com sede do Bernardo, estava com saudades do seu corpo, do seu toque, do seu cheiro, transamos a noite toda.
No dia seguinte, aproveitei a manhã para matar a saudade do meu filho, Bruninho. Acordei cedo, e ele já estava cheio de energia, querendo brincar. Passei horas com ele, cada risada dele parecia carregar a minha bateria, me lembrando de como é bom ser pai.
Na hora do almoço, fui até a casa do meu pai, eu estava animado para contar sobre a viagem ao Rio, para minha mãe e a Sofia, que estavam curiosas com os detalhes. Contei tudo, desde a minha experiência de andar de avião pela primeira vez até a sensação indescritível de voar de asa delta. Todos ouviram com atenção, principalmente minha mãe, que fazia perguntas a cada pausa na história:
— E o medo, Rafa? Não ficou com as pernas bambas antes de saltar? — ela perguntou, rindo, enquanto tomava um gole de café.
— Confesso que quase desisti, mãe. Mas depois que saltei... nossa, foi incrível, como se eu estivesse nas nuvens. Literalmente — respondi, arrancando um sorriso dela.
Passamos a tarde juntos, num clima de família que aqueceu meu coração. Era bom estar ali, rodeado de pessoas que se importavam comigo e estavam sempre ao meu lado.
Quando a noite chegou, recebi uma mensagem de Brenda:
“Preciso te encontrar. Podemos conversar hoje?”
Já sabia que o assunto era Lucas. Brenda sempre procurava minha opinião quando algo a incomodava no relacionamento deles. Fui encontrá-la no nosso lugar habitual, um barzinho tranquilo perto da minha casa.
Brenda estava sentada em uma das mesas, parecendo um pouco tensa. Assim que me viu, abriu um sorriso, mas seus olhos entregavam a preocupação.
— Oi, Rafa. Que bom que veio rápido.
— Claro, Brenda. O que aconteceu? É o Lucas, não é?
Ela suspirou, assentindo.
— Sim, é sobre ele. Não sei se sou eu que estou vendo coisas ou se ele realmente está... diferente comigo. Parece distante, sabe? Como se estivesse com a cabeça em outro lugar.
Senti meu coração acelerar ao ouvir aquilo. A proximidade que comecei a sentir por Lucas nos últimos tempos me fazia questionar muitas coisas, mas tentei ser racional.
— Já tentou conversar com ele? Perguntar o que está acontecendo? — sugeri, tentando disfarçar qualquer sinal de nervosismo.
Brenda balançou a cabeça.
— Ainda não, Ele tem passado tanto tempo longe, às vezes inventa umas desculpas estranhas. Não sei, Rafa, tô confusa.
Olhei para ela, sentindo um misto de preocupação e culpa. Queria ajudá-la, mas sabia que a situação era mais complicada do que parecia.
— Brenda, você devia procurar um psicólogo, e fazer uma terapia, você precisa começar a se entender primeiro, para então poder entender o Lucas ou qualquer outra pessoa que você venha a se relacionar, a questão é que você aceita viver de migalhas, e o Lucas vai sempre pintar e bordar pra cima de você, enquanto você admitir certas coisas, e aceitar esses sumiços, ou ele distante, ele vai fazer o que bem entende.
Ela assentiu, mas ainda parecia perdida.
— Obrigada, Rafa. Você sempre sabe o que dizer. Vou tentar procurar um psicólogo.
Conversamos mais um pouco, contei a ela como foi o rio, ela me contou algumas fofocas da fábrica, e do Gustavo, e assim terminamos a noite, eu gostava da Brenda, ela era uma ótima amiga, porém ela não se dava valor, e aceitava as coisas do Lucas.
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> 3 meses depois!
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Três meses se passaram, e a vida parecia seguir em um ritmo tranquilo. Meu relacionamento com Bernardo ia bem. A gente mantinha aquela liberdade de vez em quando, ficando com outras pessoas, mas não era algo frequente, só quando a situação realmente pedia. Eu estava gostando de como tínhamos encontrado um equilíbrio. Havia confiança e honestidade, e isso deixava tudo mais leve.
Era agosto, e no Alto, as coisas começaram a esquentar com o início oficial da campanha para a prefeitura. Meu tio estava radiante, cheio de energia e confiança. Ele tinha uma ótima equipe trabalhando ao lado dele, incluindo Caio, que tinha assumido um papel ativo junto com o primo. A campanha no interior era algo único, quase como um carnaval fora de época. Havia festas, paredões de som, ruas lotadas, bandeiras e camisas personalizadas por todos os lados. Era um clima de euforia que só quem vivia sabia explicar.
Sempre que dava, eu e Bernardo íamos ao Alto. Além de ajudar na campanha quando possível, aproveitávamos para matar a saudade de Caio. Quando estávamos juntos, a química entre nós três continuava forte, como sempre, e os momentos que compartilhávamos eram intensos e cheios de tesão.
Nesse período, Brenda deu um grande passo para cuidar de si mesma. Depois de meses tentando convencê-la, finalmente ouviu meu conselho e procurou uma terapia. O resultado foi nítido. Ela estava mais calma, mais centrada, e até sua relação com Lucas parecia estar em um caminho mais saudável. Os ciúmes diminuíram, e os surtos que antes eram frequentes se tornaram raros. Eu fiquei aliviado de vê-la assim. Brenda era uma amiga preciosa, e vê-la melhorar foi uma grande vitória.
Quanto a Lucas, nossa amizade começou a ganhar forma aos poucos, Lucas se permitiu estar mais próximo de mim, e nossas conversas deixavam claro que ele também apreciava a conexão que estávamos construindo. Claro, havia uma tensão latente que eu não podia ignorar, mas, por enquanto, tudo seguia no ritmo certo, sem pressa.
Entre viagens ao Alto e os momentos na capital, a vida parecia estar se ajeitando de forma tranquila, sem grandes reviravoltas. Mas, de alguma forma, eu sabia que aquele período de calmaria não duraria para sempre. Afinal, minha vida nunca foi exatamente previsível.
Numa dessas viagens ao alto, teve um momento que fiquei a sós com o meu tio e podemos conversar um pouco enquanto cavalgamos pela fazenda, ele estava com a agenda de campanha para esse dia sem nenhum compromisso, então aproveitamos para botar o papo em dia e o ambiente era perfeito para um papo aberto. O som dos cascos dos cavalos no chão e o vento leve criavam um cenário quase cinematográfico.
– Tio, animado pra campanha? Quero saber se vai cumprir aquela promessa que me fez quando decidiu se candidatar – perguntei, olhando para ele com um sorriso sacana.
Alysson riu de leve, dando um tapinha no pescoço do cavalo que montava.
– Claro que vou! Vai ser a primeira coisa que eu faço assim que assumir vai ser meter pica em você em cima da minha mesa na prefeitura – respondeu, piscando pra mim, mantendo aquele tom safado.
– Já estou de pau duro só de pensar nisso tio.
Aproveitei o momento para tocar em um assunto que sempre me deixava curioso, mas que nunca havíamos conversado abertamente.
– Tio, e o senhor e a tia Claudia? Nunca falamos sobre isso. Como é a relação de vocês?
Ele respirou fundo, como quem organiza os pensamentos antes de responder.
– Então, Rafinha, a gente tem um certo acordo, sabe? Estamos juntos até o final do meu primeiro ano de mandato caso eu vença as eleições. É algo estratégico. Preciso da imagem de uma família completa para os eleitores.
Aquilo me pegou de surpresa, e minha curiosidade aumentou.
– Como assim, tio? Quer dizer que vocês não estão mais... juntos de verdade?
Ele soltou um riso baixo, meio amargo.
– Não. Faz alguns anos que terminamos, na verdade. Continuamos juntos por causa do Bernardo e, claro, por conta da campanha. Era algo que fazia sentido pra gente. Não é um casamento no sentido tradicional, sabe? Ela segue a vida dela, e eu sigo a minha. Vez ou outra... a gente fica, mas é algo mecânico, sem emoção. Só uma convivência confortável, nada mais.
– E a tia Claudia sabe que o senhor fica com homens? – perguntei, curioso.
Ele hesitou por um instante, mas respondeu com naturalidade.
– Não sei se ela sabe, mas acho que suspeita. Uns anos atrás, a gente foi a uma festa de swing, e ela me viu com o marido de uma mulher com quem ela estava ficando. Mas, como eu disse, a gente não pergunta nada um do outro. É um acordo silencioso. Ela tem a imagem dela como médica, eu tenho a minha como um futuro político, e funciona assim.
Fiquei boquiaberto.
– Nossa, tio... a tia é mais moderna do que eu imaginava.
Alysson riu com gosto, me olhando de lado.
– Ah, Rafa... você não sabe nada sobre as pessoas. A Claudia é incrível, mas ela também tem suas necessidades e entende que eu tenho as minhas. A gente não se prende a isso, só tenta manter as aparências.
– Não deve ser fácil manter tudo equilibrado – comentei, pensativo.
– Não é, mas é o que funciona pra gente. Nem todo mundo vai entender, mas a vida é cheia de nuances, Rafa. E no fim, o importante é que ninguém sai machucado.
Seguimos em silêncio por um tempo, com o som do vento e o movimento tranquilo dos cavalos preenchendo o espaço. O dia ensolarado e a paisagem ao nosso redor pareciam distantes do peso daquele diálogo. Mais uma vez, meu tio me surpreendia com sua honestidade crua e sua visão prática da vida.
Seguimos até a famosa cachoeira da família, um lugar que carregava histórias e segredos entre gerações. A trilha, com os cavalos avançando devagar, nos levou ao som relaxante da água caindo. Assim que desmontamos, admiramos os cavalos por um instante antes de nos aproximarmos da cachoeira. Aquele lugar tinha uma energia especial, como se fosse um refúgio onde o tempo parava.
Entramos na água, deixando a correnteza leve envolver nossos corpos. O frescor do rio era revigorante, e enquanto nadávamos, meu tio se aproximou, me puxando para um beijo intenso e carregado de desejo, o beijo do meu tio era um dos melhores, modéstia parte. Ficamos nos beijando por tanto tempo que o mundo ao nosso redor parecia ter desaparecido. A água nos envolvia como cúmplice silenciosa, e a conexão que tínhamos era algo que eu não conseguia explicar, logo nossos paus estavam mais que duros, estavam rígidos feito ferro, tocamos uma punheta um para o outro, enquanto trocavamos beijos calorosos, meu tio me virou de costas e dentro da água mesmo começou a meter lentamente em mim, estávamos na parte rasa, então as metidas eram suaves, e calmas, não tínhamos uma pressa, estávamos com tempo e de sobra, fazia tempo que eu e meu tio não transavamos, e sempre era bom transar com ele. Foi uma transa leve e tranquilha, quando meu tio gozou, ele entrou novamente na água para se limpar e com um brilho nos olhos que demonstrava um misto de cumplicidade e afeto.
– E você e o Bernardo, como estão? – perguntou, com aquela voz calma e interessada.
– Ah, tio, estamos ótimos. Hoje somos completamente sinceros um com o outro. Não tem mais crises de ciúmes, nem cobranças absurdas. Eu amo o Bernardo, e acho que vamos seguir assim até onde der.
Ele sorriu, orgulhoso.
– Fico feliz em ouvir isso. Sinal que ele aprendeu direitinho a te comer, né?
Dei uma risada.
– Com certeza. O senhor foi um ótimo professor, meu sexo com ele melhorou 100%.
– Falando em sexo, o Silas me conto que rolou no rio entre vocês, confesso que fiquei exitadicissmo, quando ele me contou.
– Hahaha, você e meu pai não conseguem guardar segredo um do outro não é?
– Claro, ele me conta tudo e eu conto tudo, somos irmãos.
– Mas infelizmente só rolou lá, depois não teve mais clima ou oportunidade, até falei para ele que queria comer o Bernardo junto com ele, ele disse que topava, mas disse que teria quer ser no tempo dele.
– Sim, ele me contou isso também, Rafinha seu pai por um certo tempo foi muito viciado em sexo, eu e ele o primo Raul transamos direito, mais depois que ele se casou, e foi morar na capital ele meio que entrou nos “trilhos” então ele quis participar de certas coisas, e o sexo que a gente foi fazendo foi se tornando raro, porém sempre intenso.
– Deve ser uma delicia ver vocês dois fudendo.
– Deve ser uma delicia ver você comendo seu pai. – Meu tio rebateu.
– O senhor comeria o Bernardo? – Perguntei
– Sim, o Bernardo é gostoso, assim como você, o Silas também me falou de uma possível suruba familiar e me perguntou a mesma coisa que você, acredito que se o Bernardo tiver tesão em transar comigo, porque não?
– Já estou ansioso por esse momento – Falei com meu sorisso sacana.
Depois de um momento de silêncio, perguntei:
– Tio, e o JP? Como estão as coisas entre vocês?
Ele suspirou, dando de ombros.
– Ah, Rafinha... o JP é muito emocionado. Estou evitando. Acho que ele esperava que eu fosse largar tudo e viver um romance com ele. Coisa que jamais iria acontecer, né? Até porque não me considero gay. Sou um cara que sai com outros caras, mas tenho minha campanha, minha vida pública, e a imagem de família tradicional para passar de exemplo. Conversamos e cada um foi pro seu lado. Foi uma pena, porque eu curtia meter rola nele, mas com ele se emocionando desse jeito, não dá certo.
Assenti, compreendendo.
– Entendi, tio. Eu até falei com ele sobre isso, mas enfim... cada um tem seu jeito de lidar com as coisas.
Ele riu, mudando o tom da conversa.
– E o Caio? Como está nessa campanha? – perguntei, curioso.
Alysson levantou uma sobrancelha, jogando água em mim com a mão.
– Ah, aí você já quer saber demais, Rafinha!
Ficamos rindo, deixando a conversa mais leve. Aquele momento na cachoeira, entre risadas e confidências, só reforçava o quanto nossa relação ia além dos padrões, cheia de nuances, segredos e uma intimidade que poucos poderiam entender.
Outubro chegou trazendo a tensão e a expectativa das eleições. Cada dia parecia mais longo que o anterior, com o Alto fervendo de especulações, boatos e entusiasmo. No grande dia, a apuração dos votos foi uma verdadeira montanha-russa de emoções. A disputa era acirrada, e a diferença final foi mínima: apenas 500 votos separaram meu tio da vitória. Quando o resultado oficial foi anunciado, a explosão de alegria foi indescritível.
Meu tio, Alysson, havia conquistado o posto de prefeito do Alto, encerrando quase duas décadas de domínio da antiga família no poder. Era o início de uma nova era, e a mudança trouxe consigo uma onda de esperança e entusiasmo.
A fazenda se transformou no epicentro das comemorações. Uma festa grandiosa tomou conta do lugar, com direito a música, comida e muita gente. Parecia que todo o Alto estava ali para celebrar o feito histórico. Alysson estava radiante, recebendo abraços e palavras de parabenização de todos os lados.
Na praça principal, a comemoração continuava com ainda mais intensidade. Bandeiras tremulavam, fogos iluminavam o céu, e as pessoas gritavam de alegria. Ver meu tio no palanque improvisado, sorrindo e agradecendo ao povo, foi emocionante. Ele sempre teve um carisma único, e naquele momento, estava no auge de sua popularidade.
Enquanto observava tudo aquilo, senti um misto de orgulho e satisfação. A família Carneiro havia alcançado algo grandioso, e meu tio era o líder que o Alto precisava. Naquele instante, o futuro parecia promissor, e estávamos todos prontos para fazer parte dessa nova era.
Final de outubro tive outra conversa com a Brenda, ela havia me chamado para jantar e colocar o papo em dia. Desde que começou a fazer terapia, parecia uma pessoa diferente, e eu estava curioso para saber mais sobre suas reflexões. Passamos os primeiros minutos falando sobre coisas triviais, atualizações de nossas rotinas, até que ela soltou a bomba:
– Rafa, nem te conto... estou amando a terapia. Sabe, acho que pela primeira vez estou me enxergando como a mulher que sou. Que posso ter os homens aos meus pés e não ficar aos pés deles, correndo atrás de migalhas, como você já disse várias vezes. – Seus olhos brilhavam enquanto falava. – A sensação que eu tenho é que acordei pra vida, que cansei de ser a princesa que espera o príncipe e o casamento.
Dei um sorriso de aprovação. Era a Brenda que eu sempre soube que existia, mas que estava escondida sob anos de inseguranças.
– Sabe, Rafa, eu amo o Lucas, amo nossa história... mas hoje vejo que ele não é o homem para mim.
Eu franzi o cenho, surpreso.
– Brenda, o que você está dizendo?
– Preciso confessar uma coisa. Durante a terapia, acabei transado com o meu psicólogo. Sei que é antiético, mas aquilo serviu para mim, para eu acordar, sabe? Foi tão bom, foi tão gostoso sentir outro homem... – Ela pausou, respirou fundo e continuou. – E tem mais. Estou saindo com um cliente da fábrica, um cara um pouco mais velho, sabe? Tem uns 40 anos, cabelos brancos, porte atlético, recém-separado... e, NOSSA, ELE É UM HOMEM de verdade, não um moleque como o Lucas. Estou pensando seriamente em dar um pé na bunda do Lucas.
Tentei processar tudo aquilo, boquiaberto.
– Gente, como assim?! Estou passado com tudo isso que você relatou. Estou orgulhoso e surpreso ao mesmo tempo! Quem te viu, quem te vê, hein?
Ela riu, claramente satisfeita com a minha reação.
– Pois é, amigo. E devo tudo isso a você, né? Que abriu meus olhos. Você acha que o Lucas vai aceitar bem o término? Acho que vai, né? Afinal, sei que ele me traiu várias vezes. Pelo menos ele agora será livre.
– Eu também acho que ele vai aceitar bem, mas é sempre bom dosar as palavras para não sair como a vilã da história.
– Sim, claro.
A conversa seguiu tranquila, com Brenda contando mais detalhes sobre suas novas experiências, do psicólogo ao cliente da fábrica. Ela parecia radiante e mais segura de si, como nunca antes.
Quando finalmente chegou o momento dela conversar com Lucas, Brenda estava preparada para uma reação mais amigável e de aceitação, e a reação do Lucas foi totalmente ao oposto do que ela esperava, ele teve uma explosão de raiva e lágrimas. O Lucas não aceitou o término bem. Ele ficou completamente sem chão.
A notícia o atingiu como um golpe inesperado, deixando-o perdido, questionando tudo o que tinha acontecido entre eles. Mais do que tristeza, parecia que algo dentro dele tinha se quebrado, como se só naquele momento ele percebesse o que estava prestes a perder.
Mas isso é assunto para outro capítulo. A verdade é que, muitas vezes, só damos valor quando a gente perde. E talvez fosse exatamente isso que Lucas estava aprendendo agora.