Carla me disse que minha mãe teve um infarto. Mas nada muito grave, porém Carlos fez um cateterismo e ela está com uma veia do coração muito prejudicada. Que provavelmente o problema aconteceu por causa do colesterol alto que ela tem e a veia entupiu. Que Carlos ligou para ela vir ao hospital para fazer uma angioplastia na minha mãe porque o irmão está meio cansado e teve algumas dificuldades de fazer o cateterismo. Ele então pediu para ela fazer porque ela tem mais prática e as mãos mais firmes e leves. Então ela veio e queria saber se eu me importava. Eu disse a ela que não me importava nem pro bem e nem pro mal. Que eu realmente queria sentir alguma coisa porque era minha mãe, porém eu não sentia. Ela disse que iria fazer, que era rápido e depois vinha falar comigo.
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Eu achei que era demorado, mas só soube quando ela voltou que não era uma cirurgia e sim um procedimento não cirúrgico. Ela me explicou como era feito e eu fiquei de boca aberta com a explicação dela. Eu realmente não entendia bem dessas coisas.
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Carla acabou tomando um banho no meu banheiro e dormiu na minha cama. Eu fiquei deitada com ela até ela dormir e depois fui sentar no sofá e ver uma série com Carol. A gente ficou conversando baixinho sobre a série que a gente estava vendo, mas a Infeliz dormiu e eu nem vi. No fim eu fiquei vendo a série sozinha e as duas dormindo. Resolvi voltar para cama e dessa vez eu que dormi ao lado do meu amor. Acordei e ela não estava. Olhei no sofá e Carol também não estava. Eu realmente estava a pé com aquelas duas. 🤭
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Quando fui levantar, Carla saiu do banheiro. Ela disse que Carol tinha acordado ela antes de sair porque sabia que ela tinha que trabalhar. Eu fiz um biquinho e ela sorriu. Ela disse que iria pegar o jantar para nós duas. Me deu um selinho e saiu. Eu fui ao banheiro e quando eu saí ela já tinha voltado. Jantamos e eu perguntei a ela se ela me achava uma pessoa ruim por não ligar para minha mãe. Ela disse que não, que conhecia minha história e não me julgava por essa indiferença com a minha mãe. Seria estranho se eu a odiasse, mas eu só não ligava para alguém que não ligava para mim. Que mesmo eu tendo motivo para odiar eu não odiava, mas não ter sentimentos por ela era compreensivo. Eu disse que eu estava me sentindo mal por isso. Que eu realmente queria estar preocupada com ela, mas por algum motivo eu não estava. Carla me disse que queria ter uma mente igual a minha, que minha mente parecia cuidar de mim mais do que o normal. Sempre arrumava um jeito de bloquear o que me fazia mal. Eu ri dela, mas até que fazia sentido, minha mente tinha algo de diferente.
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Carla saiu depois do jantar e só voltou às dez da noite. Ficou comigo até às duas da manhã, conversamos bastante e fizemos planos para nosso futuro. Acho que foi a primeira vez que ficamos tanto tempo perto uma da outra comigo acordada que não nos pegamos, mas foi incrível. A gente tinha ideias muito parecidas e isso era ótimo para duas pessoas que queriam construir uma vida juntas. Logo depois que ela se foi eu dormi e só acordei de manhã com ela dormindo ao meu lado. Aquilo era tão perfeito que eu tinha medo de me mexer e estragar o momento. Infelizmente minha bexiga fez isso. Tive que ir ao banheiro, quando eu saí ela já tinha acordado. Enquanto ela usava o banheiro Carol chegou com nosso café. Ela me deu bom dia e eu perguntei se ela ainda se lembrava de como era trabalhar de enfermeira e ela sorriu.
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Tomamos nosso café e meu amor se foi. Logo Marina apareceu com um presente para mim. Era um celular novo e com meu número antigo nele. Ela disse que como estava com meus documentos em posse, ela conseguiu recuperar meu número. Eu perguntei como ela conseguiu meus documentos. Ela disse que pegou com a polícia.
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Marina: Seus documentos estavam sumidos. Sua mãe disse que não sabia onde estavam, que provavelmente seu irmão tinha jogado fora com sua bolsa e suas coisas. Mas ontem quando ela passou mal os policiais procuram os documentos dela na casa para entregar para os paramédicos. Encontram a bolsa dela e acharam os documentos dela e os seus também. Por isso te acharam aqui no hospital. Um dos polícias perguntou para o vizinho se ele sabia como te localizar para avisar da sua mãe. O seu vizinho contou que você estava em um hospital internada, mas não sabia qual. Ele também contou que seu irmão estava preso. O policial informou isso aos paramédicos e eles acharam você aqui, por isso ligaram pedindo autorização para trazer sua mãe para cá.
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Aline: E como você sabe disso?
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Marina: Porque o paramédico contou para a recepcionista que me parou ontem na saída e me avisou que seus documentos estavam com ela. Falei com Carlos e os peguei, já que são seus, você está aqui no hospital e eu sou sua curadora, eu tenho direito.
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Aline: Você é minha curadora?
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Marina: Sim. Pode me chamar de mamãe se quiser. Kkkkkkkkkkkk
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Aline: Mamãe me deu presente, gostei! Kkkkkk
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Carol só se divertia ali ouvindo nossas palhaçadas. Marina disse que já tinha configurado o celular mais ou menos já que ela sabia meu e-mail e minha senha tosca. Então minha agenda, meus aplicativos e tudo mais já estavam instalados. Que eu já podia usar e ela tomou a liberdade de salvar os números da Carla, Carol, Maria, Carlos e da Catarina . Eu a agradeci, seria ótimo ter contado com essas pessoas. Ela disse para a gente se sentar que ela iria terminar a história do meu irmão. Nós sentamos e ela continuou.
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Marina: Depois que o detetive me ligou eu fui direto para delegacia que ele trabalha. Ele me falou que sua amiga detetive tinha ligado. Que invadiram a casa do Lucas às seis da manhã e encontraram seis quilos de cocaína e três quilos de craque. Fora dinheiro, celulares, notebook e várias joias. Que encontraram também algumas coisas que tudo indicava que eram suas. Ele me disse que a detetive pediu para eu ir na delegacia que ela iria me levar na casa para mostrar essas coisas que ela achava que poderiam ser as que foram roubadas do seu apartamento. Eu pedi o endereço e fui na delegacia. Logo achei a sala da detetive. Ela pediu para eu esperar um pouco que a gente já ia.
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Depois de uns dez minutos a gente foi até a casa. Ela me levou em um quarto e quando abriu a porta eu vi um monte roupas, sapatos, bolsas e produtos de beleza. Reconheci algumas peças suas. A detetive me mostrou uma sacola plástica cheia de jóias. Reconheci a maioria, eram suas. Também reconheci seu notebook. Perguntei à detetive se eles que tinham separado aquelas coisas e ela disse que não, que aquele cômodo estava trancado e todas aquelas coisas estavam separadas ali. Eu peguei o celular e tirei algumas fotos e liguei na clínica que Michele estava. Perguntei à recepcionista se tinha algum número de celular para eu enviar umas fotos para ela mostrar a uma paciente. Que era muito importante e eram só fotos de umas roupas que provavelmente foram roubadas dessa paciente, eu precisava só da confirmação se eram as roupas dela. A recepcionista me perguntou o nome da paciente e meu nome. Eu falei e depois de um tempo ela disse que tinha olhado a ficha da paciente. Ela disse que iria me passar o número particular dela e eu podia enviar as fotos que ela mesmo mostraria à paciente. Assim fizemos e depois de uns 10 minutos eu recebi um áudio da recepcionista.
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Quando abri o áudio era a voz da Michele. Ela dizia que a maioria das coisas que ela viu nas fotos eram dela e as que não eram dela, eram suas. Eu respondi dizendo que mais tarde eu iria ver ela para a gente conversar. Que eu tinha boas notícias para dar para ela. Quem respondeu foi a recepcionista dizendo que Michele teve uma crise de choro e não quis mais falar. Naquela hora eu decidi que contar tudo a ela não seria uma boa ideia. A detetive me disse que eu não poderia levar nada ainda. Mas assim que eu pudesse ela me avisaria. Ela disse que se Michele pudesse depor seria bom, mas que isso podia ser mais adiante. Que ela iria dar um jeito de deixar a denúncia por roubo ser a última, assim minha amiga teria mais tempo para se recuperar.
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Ela me mostrou o seu carro e eu confirmei que era mesmo o seu e depois seguimos para a delegacia. Ela disse que meu depoimento seria importante, e era melhor eu fazer um novo. Eu falei para ela dos vídeos do hospital. Ela disse que conseguiria um mandado fácil e ela mesmo iria buscar os vídeos. Ela disse que me manteria informada. Eu perguntei a ela se eu poderia por um advogado meu no caso. Como um advogado de acusação. Ela disse que eu tinha que ser parte interessada para fazer isso pelo que ela conhecia de lei, mas não tinha certeza. Eu disse que iria falar com minha mãe e me aconselhar com ela.
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Eu fui na clínica e conversei com a psicóloga da Michele. Ela disse que eu poderia contar sim, mas evitar partes que a fizesse se sentir mais culpada. Por exemplo do Lucas ter pegado a chave na bolsa dela. Mas contar que ele foi preso e as coisas dela recuperadas seria até bom. Ela estava precisando de boas notícias. Então assim eu fiz, mas foi complicado ver ela naquele estado meio que de um zumbi. Provavelmente ela estava tomando alguma medicação forte para ajudar a suportar a abstinência. Mas deu para conversar com ela e quando fui sair ela me abraçou de novo e chorou um bom tempo sem dizer nada. Acho que nem precisava, o choro dela já era bastante significativo para mim.
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Vou dar uma resumida agora, minha mãe me aconselhou entrar com um pedido para ser sua curadora. Ela disse como seu irmão estava preso e sua mãe poderia ser até considerada cúmplice, eu tinha total chances de conseguir. Como sua curadora, eu poderia resolver tudo relacionado a você. Tudo que era seu, eu tomaria conta e com as provas da nossa amizade de anos, da minha denúncia por roubo das suas coisas e com o testemunho das pessoas do hospital, era quase certeza que eu conseguiria. Ela disse que colocar sua mãe como cúmplice no roubo era fundamental, mesmo se ela não fosse condenada, seria fundamental no processo de pedido de curatela. Eu claro, concordei e minha mãe disse que iria resolver isso. Se desse certo aí sim eu deveria colocar um advogado no caso para ferrar com o Lucas o máximo possível.
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Os detetives me ajudaram muito nisso. Quando eles foram enviar o processo de roubo para o ministério público eles colocaram sua mãe como cúmplice. Com o vídeo do hospital em mãos deu para ver que ela entrou e ficou com seu irmão o tempo todo no seu quarto enquanto ele roubava sua conta bancária. Os vídeos do hospital são só dos corredores, de dentro do quarto não tem. Mas foi o suficiente para indiciar sua mãe. Michele deu seu depoimento depois de um mês, ela conseguiu repetir tudo que contou para mim. Mas infelizmente duas coisas ruins aconteceram nesse tempo. Sua mãe e seu irmão entraram com um processo infundado contra Carla, eles tiveram a cara de pau de pedir cinquenta mil reais de indenização. O problema é que eu ainda não tinha conseguido o pedido da curatela. Mas eu consegui, graças aos testemunhos dos meus pais, da Michele, da Carla, Carlos, Carol, Catarina e até do Fernando, o pai da Rafaela. Mas infelizmente demorou muito. Mas pelo menos consegui e recuperei suas coisas. Só seus documentos e seu antigo celular que não. E infelizmente nem seu dinheiro.
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Coloquei um advogado de acusação contra o Lucas e um para defender a Carla. O processo contra a Carla era algo que não ia dar em nada, porém deu dor de cabeça. Principalmente para ela, aquela ordem de restrição deixou ela muito triste. Mas graças a Deus isso acabou. A outra coisa ruim foi uns vídeos que acharam no celular do seu irmão. Não vi, não deixei mostrarem a Michele e não vou deixar você ver. Mas me disseram o que tinha. Seu irmão gravou vários vídeos para te humilhar, para isso ele usou a Michele. O meu advogado disse que em uns ela estava totalmente drogada, dava para ver que ela não tinha noção do que estava fazendo. Em outros ela estava inconsciente. Os vídeos são praticamente seu irmão mantendo relações com ela e te xingando. Tem alguns vídeos que ela está mantendo relações com os dois amigos do Lucas. Esses ela está muito drogada, mas em nenhum ela está inconsciente. Nesses o Lucas não fala nada diretamente para você, mas solta algumas piadinhas dando indiretas. Da para ver que esses vídeos foram gravados escondidos, parece que os amigos dele não sabia. Isso acabou sendo confirmado nos depoimentos dos amigos dele. Eles falaram que o Lucas dizia que a namorada dele gostava disso. Eles disseram que jamais faria isso com ela inconsciente. Como ela vivia drogada, eles achavam que ela realmente curtia aquilo. Isso tudo foi meu advogado que contou. Michele sabe disso e ela tinha falado antes de acharem os vídeos que ela tinha flashes de lembranças do Lucas te xingando e de transar com esses amigos dele. Só que ela não sabia se era verdade ou alucinações e os vídeos provaram que era verdade.
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Aline: Meu irmão é um monstro e ele fez tudo isso com ela por minha causa! Eu achava que ela tinha culpa pelo que houve comigo, mas o que houve com ela foi muito pior e foi por minha culpa!
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Marina: Não começa! Você não tem culpa de nada. Seu irmão é o culpado de tudo e Michele mesmo com o transtorno mental poderia ter pedido ajuda para você antes de se envolver com ele. Mas sinceramente não a culpo e muito menos ela culpa você. Já conversamos muito sobre isso, pelo amor de Deus, não faz o mesmo que ela está fazendo. Se culpando por tudo.
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Aline: Você tem o número da Michele?
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Marina: Tenho sim. Porque?
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Aline: Você disse que ela não tem coragem de olhar na minha cara. Que ela se culpa por tudo e minha psicóloga disse que o remorso que ela sente pode impedir ela de ter um final feliz. Talvez eu possa ajudar, ela não precisa olhar no meu rosto para falar comigo.
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Marina: Você tem certeza que quer mesmo fazer isso?
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Aline: Tenho! Talvez a gente se ajude. Por favor.
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Marina: Tudo bem, eu te dou o número dela. Mas promete que só vai ligar depois que falar com a Catarina.
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Aline: Tudo bem, eu te prometo.
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Marina: Só para finalizar. Esses vídeos foram usados no processo, os que eu consegui também. Lucas está respondendo por tráfico internacional, formação de quadrinha, furto, estupro de vulnerável, estelionato, cárcere privado, evasão de divisas, dano patrimônial e mais uns crimes que eu esqueci. Sua mãe está como cúmplice no furto e no estelionato. Mas para ela não deve dar nada não porque seu irmão disse que ela não sabia de nada. Agora seu irmão não sai da cadeia tão cedo, ele no mínimo fica uns 20 anos fechado. Seu histórico bancário tinha registrado todas as vezes que ele usou seu cartão. Inclusive ele pagou as drogas com ele lá na Bolívia. Isso ferrou ele porque deu tráfico internacional e ele fez um depósito da conta dele para pagar uma outra parte e deu evasão de divisas. Se isso for aceito pelo juiz só vai aumentar a pena dele. Isso se ele não for morto lá, porque o homem que vendeu a droga para ele foi preso lá na Bolívia e parece que homem tem muitos amigos no Brasil. Mas isso tudo ainda vai demorar um pouco, os processos ainda estão sendo julgados.
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Eu estava em choque com aquilo tudo. Principalmente com os tais vídeos. Ninguém merece passar o que a Michele passou. Não sei como ela aguentou isso tudo sem enlouquecer. Eu estava decidida a tentar ajudá-la. A gente nunca iria voltar a ser um casal, mas pelo menos eu queria poder fazer algo para amenizar as dores dela. Se ela queria meu perdão, com certeza ela iria ter. Mas eu precisava do dela também. Aquele desgraçados só fez isso com ela para me ferir. Eu só não entendia o porquê dele fazer tudo isso só para me machucar. Eu nunca fiz nada contra ele, eu só salvei a Marina, isso tudo aconteceu por causa dele, por um erro dele e não meu!
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper