Eu agora era totalmente mulher e como uma mulher de 18 anos sentia-me curiosa com certos aspectos da minha sexualidade. Como já havia dito em capítulos anteriores eu sempre tive traços e gostos femininos, não havia como negar que o espírito feminino sempre existiu em mim, nos mínimos detalhes, porém quando ainda me reconhecia como “homem” reprimia um sentimento que eu mal sabia que estava prestes a desflorar também: gostava de homens! Homens fortes com tanquinhos, homens de verdade, não aquilo que eu achava que era antes da transição e sim um macho alfa que pudesse proteger sua companheira fêmea. Minha transição ocorreu durante as férias do mês de Janeiro, então era como se em um ano eu fosse “Pedro” e no outro Bianca. Já iria mudar de escola para fazer o meu terceiro ano, mas agora meu ano escolar seria totalmente como Bianca, para meus futuros colegas “Pedro” não existiria, iria garantir para que isso acontecesse. Chegado fevereiro era chegado também meu primeiro dia de aula, havia acordado mais cedo de tão nervosa, tomado meu banho “premium” passando todos os tipos de produtos que se possa imaginar, cremes e esfoliantes para a pele e máscaras de hidratação para o cabelo. Feito isto sai do banheiro, toalha enrolada no meu cabelo agora já tendo crescido desde minha transformação no salão, estava longo e volumoso, retirei a toalha e me olhei de lado: — Meu cabelo está maravilhoso. Puxei a gaveta de calcinhas e sutiãs e escolhi um conjunto rosa claro, era uma calcinha com um fiozinho do jeito que gostava e um sutiã de bojo. A camiseta do uniforme e uma calça jeans escuro. Coloquei a roupa e me olhei no espelho. — Ótimo! Só falta a maquiagem — Pensei comigo mesma. E lá fui eu me maquiar, nesse ponto já estava muito boa no assunto pois mamãe havia me ensinado tudo certinho. — Primeiro o primer, depois a base, o corretivo e o pó, por fim o blush e o gloss! — Já sabia de cor a ordem das coisas! Depois de terminar a maquiagem me olhei novamente no espelho, fiquei me observando por alguns minutos, quando de repente, papai bate à porta:
— Vamos logo Bianca, você vai se atrasar!
— Já vou mamãe!
Dou uma última olhada no espelho para conferir, tomo meu café da manhã e escovo meus dentes rapidamente. Entro no carro com papai já lá me esperando para me levar até a escola. Papai sai com o carro enquanto diz:
— O que mulher mais sabe fazer é enrolar mesmo!
Reviro os olhos com a fala dele. Chegamos na escola em um instante, me sinto nervosa e penso: — Será que vou fazer amizades? Já estou crescida para ter esse nervosismo todo! Me preparo para descer do carro, pego minha mochila.
— Tchau papai, 12:30 que terminam minhas aulas! Lembra de me buscar viu?
— Tá bom filhota, o papai te busca depois viu?
Dou um beijo na bochecha dele e ele me retribui com um beijo na testa. Entro pelo portão da escola, lá vejo um grupo de meninos que me olham quando passo. Vou direto para minha sala, lá encontro um grupo de meninas sentadas de pernas cruzadas fofocando, quando chego na sala já percebem que sou uma novata. Uma menina loira de olhos azuis vem em minha direção.
— Oi! Você é nova aqui na escola? Qual seu nome?
— OI! Sou sim, meu nome é Bianca e o seu?
— Larissa, mas as meninas me chamam todas de Lari. Pode sentar com a gente atrás da Dani — Ela aponta para a cadeira atrás de uma menina de cabelos cacheados pretos parecidos com os meus se não tivessem alisados. Me sento junto com minhas novas amigas, o resto dos alunos chegam com o bater do sinal, indicando o início das aulas. Senta-se do meu lado um menino moreno, corte na sobrancelha, cabelo no corte “buzzcut”, lindo. Trocamos olhares por alguns segundos quando a professora entra em sala, diz bom dia e começa a chamada:
— Agatha. — Volta seu olhar para a sala.
— Presente! — Diz a menina na minha diagonal.
A professora prossegue a chamada. Meu coração gela. Será que mamãe lembrou de ligar para a escola para explicar minha situação?
— Bianca. — Diz a professora.
Eu aguardo alguns segundos, não sabia se havia outra Bianca na sala, então tomo coragem e digo:
— Presente!
Nossa! Mamãe havia me salvado mais uma vez. Como sempre ela havia cuidado de tudo para que eu ficasse livre de preocupações.
O resto do dia de aula prosseguiu normalmente. Estava me tornando amiga meninas, havia pegado o telefone de todas elas: Lari, Dani e Agatha. No intervalo Agatha diz:
— Coloquei a gente num grupo! Olhem só!
Checo meu celular para ver o grupo, se chamava “amiguinhas ❤” e tinha como foto do grupo a foto que havíamos tirado no mesmo dia. No mesmo instante paro para pensar como era sozinha antes da transição, não me encaixava com os outros homens, nunca havia me encaixado, e as mulheres acabavam não sendo receptivas comigo por que pensavam que eu estava interessada nelas. Mas agora eu também era uma mulher, pensava em como eu ter passado toda a minha vida achando que eu era um “homem” atrapalhou a minha vida. Meu pensamento é então interrompido quando passa pelo corredor o menino que se sentava do meu lado. Fico apreensiva mas decido questionar:
— Amigas, qual o nome do menino que senta do meu lado?
— Tá interessada é? — Fala Dani rindo da situação.
Fico corada de pensar na possibilidade, de uma garota como eu ficar com um garoto como ele. Eu não era uma garota como as outras e ele era lindo demais para mim. — Será que eu teria que contar para ele se alguma coisa acontecesse? — Eu pensava. Nunca tinha beijado ninguém, era BV com 18 anos, tudo pelo meu amor reprimido por homens. Todas as oportunidades que tinha tido eram com mulheres, eu fingia indiferença quando na realidade tinha era desinteresse. Volto a realidade e pergunto novamente:
— Não amiga nossa, estou só curiosa! Quero saber o nome dele.
— Gabriel, amiga. Ele é um dos meninos mais bonitos da nossa sala.
Gabriel. Gabriel. Gabriel. O nome dele ressoava em mim. Bianca e Gabriel. Me sentia nas nuvens pensando. Assim terminou meu primeiro dia de aula na escola, papai me buscou me levando de volta para casa.