— Filho da puta! Soca nesse rabo, porra! — gritava o jovem de quatro na cama, arqueando as costas e apertando os lençóis enquanto recebia estocadas fortes.
— Cala a boca, seu veado! — respondeu um jovem negro à sua frente, pressionando seu mastro na boca gulosa do cliente, forçando-o a engolir pela metade.
O branquinho, quase albino, que o penetrava não esboçava nenhuma reação no rosto; apenas o respondia, com as duas mãos firmes no glúteo do jovenzinho de apenas 20 anos, que tremia levemente diante das estocadas. Enquanto ele se deixava levar pelo prazer, os dois outros jovens homens trocavam olhares entediados.
O branquinho chamava-se Diego e era muito experiente em encerrar o sexo quando percebia que o cliente se prolongava demais. Quando encostou sua mão no pênis do jovem, seu companheiro Marcus o observou e reagiu mordendo o lábio inferior.
—Goza, veadinho! Mostra que tá gostando desse ferro enterrado na sua cuceta. — Diego dizia enquanto masturbava o jovem e o penetrava, usando apenas parte do comprimento de seu pênis.
Marcus, o negro musculoso que recebia o oral, amassava o cabelo do rapaz e perguntava se ele gostava de se engasgar com uma pica preta. O jovem respondia o olhando maliciosamente, enquanto sua respiração ficava ofegante a medida que Diego iniciava uma série de movimentos e sussurros exagerados chamando-o de vagabunda.
Próximo ao clímax, o rapaz finalmente teve sua boca liberada pelo membro de Marcus, que agora o segurava pelo pescoço e se masturbava enquanto o jovem expressava o quanto adorava aquilo, desejando que ambos gozassem. Assim, o cachê dos dois michês subiria em 100 reais cada. Acordo consensual entre os três.
— Vou gozar, puto! — exclamou o jovem, olhando para trás, vendo os movimentos frenéticos de Diego, enquanto Marcus batia levemente em seu rosto usando seu membro salivado. — Soca meu cuzinho com vontade, vai!
O prazer do jovem culminou em um suspiro profundo ao ejacular, lambuzando a mão de Diego e a coberta da cama. Gradualmente, sua expressão de prazer se transformou em desconforto. Marcus silenciou-o novamente com seu membro enquanto Diego, perdendo o controle, intensificou suas estocadas.
— Você quer porra, né, vadia? Você vai ter o que pediu, veado safado. — Diego dizia, implacável, com os músculos tensos ao continuar sua investida.
Marcus se inclinou e arrastou o excesso de sêmen na cama e levou à boca do cliente, pressionando seus dedos melados nos lábios do rapaz, que assustado esbugalhou os olhos.
— Tá doendo! — o rapaz balbuciou, seu corpo se contorcendo e a boca obstruída pelos movimentos sádicos de Marcus.
— Você não queria ser esfolada, putinha? — Diego sussurrava, esmurrando o clente discretamente.
— Tá ardendo muito... — o jovem tentava alertar.
— Cala a boca, piranha, que vou empurrar até gozar no seu rabo. — Diego era irredutível.
Marcus, mais consciente da resposta física que estava visualizando, quis sinalizar a Diego, porem temia que o cliente estivesse interpretando. Mesmo assim seus instintos o deixavam desconfortável.
— Se quiser parar, é só avisar... — disse Marcus, com o coração acelerado, já temeroso da verdade.
— Para! — gritou o jovem com a máxima intensidade que seu corpo lhe permitia.
Imediatamente, Diego e Marcus pararam, como robôs obedecendo um comando. Marcus se afastou friamente, e ao olhar para Diego, viu um sorriso estampado em seu rosto ao puxar completamente de volta seu pênis, enquanto o jovem aliviado levou a mão ao buraco que, enfim, respirava.
— Regras são regras... — Diego falou com a voz indiferente, cruzando os braços.
Ele não estava apenas falando sobre o comando do cliente e ao mover-se, Marcus notou seu olhar satisfeito.
— Melhor chamar ela. — Diego sugeriu.
— Tem necessidade disso não, cara. — Marcus respondeu, parando ao lado do companheiro de profissão. — Ele deve saber... é cliente!
Eles pareciam desinteressados no estado emocional do jovem, que agora os evitava, claramente impactado. Diego apenas torceu os lábios para Marcus, depois voltou sua atenção para o rapaz na cama.
— Você sabe, né? — Marcus perguntou ao jovem, que ao se virar exibia um olhar de vergonha.
— Desculpa! Eu não queria...
— Não se preocupe, isso acontece muitas vezes, mas só preciso tirar uma foto para provar para ela, beleza? — Diego falou com um sorriso cúmplice.
Ele tirou uma foto com o celular, sem aparente constrangimento, e depois foi ao banheiro, descartando o preservativo com um suspiro aliviado.
Marcus revirou os olhos e saiu do quarto, nu, com o aparente desejo completamente dissipado em questão de segundos.
***
Apesar do corredor ser iluminado por luz negra, Marcus, à medida que avançava, avistou Felipe sentado em um dos sofás ao longo do corredor.
Felipe, com cerca de 1,65 m de altura, era considerado a mascote da casa. Aos 45 anos, seus cabelos já estavam ralos, e ele costumava usar bonés coloridos que acentuavam sua personalidade afeminada e divertida. Vestia uma camiseta estampada e calças largas para disfarçar sua insegurança com as pernas finas. Todos o chamavam de Pipoca.
— Ei, Pipoca! — Marcus gritou, batendo levemente com a mão na parede para chamar sua atenção e tentar tirar Felipe do celular. — Pipoca!
Quando Felipe avistou Marcus, deu um salto, arregalando os olhos. — Ai, Marquinhos, avisa antes... Deixa eu ver você mais de perto, garanhão! — Ele se espreguiçou, como se quisesse se aproximar.
— Deixa de onda, Pipoca. Cadê a Bianca? — Marcus perguntou, cruzando os braços e mantendo uma expressão confusa.
— O que você quer com aquela canina? — Felipe perguntou, inclinando a cabeça para o lado e levantando uma sobrancelha, sorrindo maliciosamente.
— Código 404. — Marcus respondeu com um gesto de desdém, utilizando um código entre eles para quando algo indesejado acontece com um cliente.
Felipe olhava para ele e soltou uma risadinha. — Você também entrou nesse universo paralelo do perturbado do Hiroshi?
— Fala do boy assim não. Ele é o maior gente boa. — Marcus respondeu, um sorriso escapando de seus lábios.
— Eu jamais falaria do meu bebezinho. Se ele ficasse calado com o pau duro, seria bem mais interessante. — Felipe disse, empurrando levemente a perna de Marcus com o pé.
— Ele tá onde? Não vi ele no salão mais cedo. — Marcus perguntou, inclinando-se um pouco para frente, curioso.
— No quarto, fumando maconha... no mínimo. — Respondeu Felipe, mordendo os lábios e olhando para o pênis de Marcus, que não se sentia incomodado com a exposição e logo se apoiou no sofá, divertindo-se com a situação.
— Deve ser... — Marcus disse, pressionando o membro e levantando uma sobrancelha, notando que Felipe não desviava o olhar do seu objeto de trabalho. — Se quiser isso aqui, já sabe que tem preço, né?
— Ai, como você é indelicado. Poderia me tratar como os clientes de vez em quando... — Felipe respondeu, fazendo uma expressão de desdém e colocando as mãos na cintura.
— Você não é cliente. Responde onde está a Bianca. — Marcus insistiu, balançando a cabeça.
— Tá no quarto ajudando minha rainha a se montar. — Felipe disse, piscando um olho.
— Eu vou lá então. — Marcus disse, começando a se mover.
— Ei, garanhão! — exclamou Felipe, segurando o braço de Marcus levemente. — Vai assim, mesmo? Com esse terceiro braço balançando?
Marcus parou e lançou um olhar curioso, exibindo um sorriso provocador. — E por que não? Ela nunca me viu assim, não é?
— Ela está se montando, Marquinhos. Já disse. Sem falar que se algum cliente ver você assim vai ter que pagar.
— Foda—se! — Marcus demonstrava urgência.
— Meu anjinho, me diz aqui: o que é mesmo esse código 404 que o nerd do Hiroshi inventou dessa vez? — Felipe perguntou, inclinando-se para frente, com os olhos brilhando de interesse, pronto para soltar alguma piadinha.
Marcus ficou constrangido e gesticulou, prendendo o nariz e fazendo cara feia para Felipe entender.
— PASSADA! — Felipe exclamou, alisando Marcus e finalmente encontrando um pretexto para tocar seu membro. — Quem foi? Você quer ajuda pra eu te limpar? Foi aquela bicha pão-com-ovo, né?
— Foi no Diego, Pipoca. — Marcus respondeu rindo, afastando rapidamente a mão de Felipe.
— Ah, sim! Ele usou aquele lubrificante, foi? — Felipe perguntou, mas Marcus hesitou e não respondeu. — Pode dizer, Marquinhos. Você sabe que minha boca é um túmulo.
— Tô sabendo disso não. — Marcus respondeu, balançando a cabeça.
— Pra você sim, meu anjo! — Felipe disse, piscando maliciosamente.
— Sei! Semana passada você disse isso pro Hiroshi e hoje já tá falando dele... — retrucou Marcus, impaciente.
— Eu não falei dele, não! — Felipe respondeu, encurralado. — Só acho desnecessários esses códigos. Vocês são do exército agora?
— O cara só ajuda a gente a não ser uns escrotos. — Marcus disse, balançando a cabeça, tentando manter a seriedade.
Felipe se aproximou de Marcus e segurou seu rosto, olhando em seus olhos. — Meu anjo, não precisa ser escroto. Repete comigo, tá bem?
Marcus parecia receptivo, mas sorria do jeitinho de Felipe. — O quê?
— O cliente checou o Diego. CHECOU! O verbo é checar! Eu ensino vocês todo dia. — Felipe dizia, desviando as mãos do rosto de Marcus pra seu peitoral extremamente definido. — Vocês só não podem usar isso na frente dos clientes. Aqui entre nós está tudo bem...
— Por isso mesmo a gente não usa! Um dia a gente esquece e fala na frente deles sem perceber. — Marcus disse, enquanto removia as mãos de Felipe de seu corpo, com um movimento firme. — Eu não quero saber desse dialeto, não!
— Grosso! — Felipe reclamou, fazendo uma expressão de desapontamento, mas com um sorriso travesso nos lábios.
A porta do quarto ao fim do corredor se abriu abruptamente. — Ei, Marcus, por que você tá aí ainda? Esse pipoquinha não resolve nada não. Vá logo, meu parceiro. Tenho que voltar pro salão logo. — A voz vinda de Diego cortou a conversa, e ele estava visivelmente impaciente, com os braços cruzados.
— Cuidado, viu, branquelo! Se não, eu revelo seus podres um por um à minha majestade. — Felipe falou com convicção, mas seu olhar traía um certo receio da reação de Diego.
— Vá se catar, veado! — Diego respondeu, quase interrompendo, enquanto fechava a porta abruptamente, fazendo os dois se entreolharem, surpresos.
— É verdade, Pipoca. Melhor resolver isso logo. — Marcus disse, olhando para Felipe seriamente.
— Deixa eu ir, bebê. Você volta pro quarto antes que o desequilibrado enlouqueça. — Felipe insistiu, tentando afastar Marcus suavemente, como se o tempo estivesse se esgotando.
— Cuidado, viu, Pipoca. — Marcus falou, enquanto começava a se afastar, um sorriso brincando em seus lábios. — Olha lá o que vai aprontar...
— Mesmo que você estivesse vestido, a magnânima não gosta que vocês percam tempo fora do salão.
— Por isso queria falar com a Bianca! — Marcus disse, sem olhar pra trás.
— Aquela cascavel não resolve isso não. Espera lá e não deixa a bichinha periférica sair sem pagar. — Felipe declarou, antes de sair do corredor e subir as escadas empolgado para contar o ocorrido.
***
Felipe bateu na porta algumas vezes até que ela se abriu. De lá surgiu Bianca, uma visão encantadora, exalando uma aura de graça e calor. Seus longos cabelos castanho-escuros caíam em ondas, emoldurando seu rosto delicado e expressivo. Os olhos, de um castanho profundo, brilhavam com uma mistura de curiosidade e gentileza. Ela usava um elegante vestido de tecido leve que acariciava suas curvas, destacando sua silhueta sem exageros. Os traços suaves de seu rosto eram realçados por uma maquiagem sutil, que acentuava sua beleza natural. O sorriso dela tinha um toque de sinceridade, fazendo com que qualquer um ao seu redor se sentisse à vontade, exceto Felipe que a observava com um olhar desdenhoso.
— Olha só quem se acha a rainha do cabaré — ele disse, rindo sarcasticamente. — A diva de meia tigela que acha que todo mundo deve admirar sua presença.
Bianca, com uma expressão de raiva contida, colocou as mãos na cintura. — E você é o que, Felipe? O palhaço que faz graça para se sentir importante?
— Melhor ser palhaço do que uma piranha enrustida.
A discussão estava esquentando quando uma voz autoritária interrompeu.
— Felipe, pode entrar! — disse Sirena, a "Magnânima", com um tom que não admitia desobediência.
Felipe respirou aliviado e entrou no cômodo. Sirena estava ali, imponente e deslumbrante. Seus longos cabelos vermelhos, que caíam em ondas luxuosas, brilhavam intensamente, contrastando com seus olhos intensos que pareciam brilhar à luz suave do ambiente. Ela usava um vestido justo que acentuava sua figura curvilínea, com detalhes brilhantes que destacavam ainda mais sua presença poderosa. A maquiagem era impecável, com lábios vermelhos e olhos esfumados, emanando uma confiança que deixava claro por que todos no cabaré a respeitavam.
— O que aconteceu? — perguntou Sirena, olhando diretamente para Felipe, sua expressão tranquila.
— É uma situação complicada — disse Felipe, esfregando as mãos nervosamente. — Um cliente... aquele que falei mais cedo.
— O ambulante? — Sirena questionou, sua voz parecendo vibrar como uma canção. — Tem certeza?
— Sim, Majestade. — Felipe respondeu.
— Acho que deve ter economizado muito pra vir nos prestigiar aqui, Sirena. — Bianca comentou, tentando minimizar o clima.
— Claro, Bianca! — Sirena se dirigiu a um espelho gigantesco que cobria boa parte de uma das paredes do seu quarto. — Essas pessoas, depois que descobrem nosso ambiente, querem a todo custo aproveitar o que temos a oferecer... nem que seja por algumas horas.
Bianca franzia a testa e baixava a cabeça, envergonhada. Felipe pegou um par de luvas descartáveis que sempre deixava nos bolsos e foi apressadamente em encontro de Sirena. Bianca desaprovava com o olhar Felipe alisando os cabelos de Sirena com cautela.
— Eu estranhei, minha rainha, geralmente esse tipinho se prepara bem, sabe? Passam dias de jejum e fazem a duchinha dez vezes no dia antes de vir. — Felipe falava pelos cotovelos. — Lembra daquele último? Quase desmaiou de fome... Eles devem usar garrafas descartáveis.
Bianca imediatamente se indignou. — Felipe, como você pode falar assim? Isso é muito desrespeitoso!
Sirena ergueu uma sobrancelha, claramente intrigada. — Bianca, ele está certo! Pessoas com poucas condições financeiras geralmente, antes de vir aqui, se preparam como se estivessem indo para um grande evento.
Felipe, aproveitando a oportunidade, sorriu e acrescentou: — Pois é! Agora ele tá em cativeiro lá no quarto, e os meninos estão parados, com clientes no salão esperando por eles.
Bianca franziu a testa, claramente irritada com os comentários de Felipe. — Isso não é engraçado, Felipe! Você precisa aprender a ser mais respeitoso.
Sirena, percebendo a tensão crescente entre os dois, decidiu intervir. — Olha, acho que quem vai resolver essa situação são vocês dois juntos. Preciso que vocês se entendam melhor.
Felipe e Bianca se entreolharam, surpresos com a decisão de Sirena.
***
Bianca e Felipe caminharam em direção ao quarto, o silêncio entre eles denso e tenso. Felipe, quebrando a quietude, disse com um tom decidido:
— Eu falo com o cliente primeiro. É melhor que eu explique a situação antes que você entre com suas opiniões.
Bianca, elegantemente vestida, admirava os detalhes do corredor enquanto permanecia em silêncio, sua postura ereta e expressão serena escondendo a irritação que fervilhava por dentro. Ela simplesmente acenou com a cabeça, permitindo que Felipe assumisse a dianteira.
Ao chegarem à porta do quarto, a atmosfera era claramente desconfortável. Felipe empurrou a porta com um gesto rápido, revelando o interior. A luz suave iluminava o ambiente, mas a expressão no rosto do cliente era de puro medo, os olhos arregalados e a respiração acelerada. Ele parecia encurralado, como se estivesse prestes a sucumbir ao pânico.
Dentro do quarto estavam Diego e Marcus, que pareciam estar em uma discussão silenciosa. Diego segurava o celular na mão, e assim que Bianca entrou, ele ergueu o aparelho, mostrando a foto a ela.
— O que o cliente consumiu? — questionou Diego, com uma expressão grave.
Marcus, com um olhar desgastado, respondeu rapidamente: — Foram 10 cervejas e 2 energéticos.
Felipe fez uma rápida avaliação do cliente, que estava pálido e trêmulo, como se tudo o que aconteceu até aquele momento pesasse sobre ele. — Meninos podem voltar ao salão — disse Felipe, voltando sua atenção a Diego e Marcus, que permaneceram parados.
Bianca, observando o cliente preocupado, fez uma pausa antes de falar. — Marcus, preço padrão?
—Foi! Com aquele acréscimo da casa. – Marcus respondeu se referido ao custo do programa e ao gozo de acréscimo. — Mas não deu tempo.
—Entendi! Podem ir, Meninos! — Bianca cantava com sua voz aveludada. — A gente resolve aqui. Bom trabalho!
Marcus e Diego saíram sem falar. Felipe com ódio no rosto pela obediência cega dos dois. — Precisamos liberar o quarto. Outros clientes podem precisar usar.
Bianca ignorou Felipe e se aproximou do cliente, suavizando sua expressão. — Ei, calma — disse ela com uma voz suave, colocando uma mão reconfortante em seu ombro. — Estamos aqui para ajudar você. Vamos sair desse quarto e encontrar um lugar mais tranquilo para conversar, tudo bem?
O cliente acenou com a cabeça, ainda tremendo, enquanto Bianca o conduzia gentilmente para fora. Felipe seguiu logo atrás.
Bianca levou o cliente a um escritório próximo, onde poderiam ter mais privacidade. Assim que entraram, ela o encorajou a se sentar em uma cadeira, enquanto Felipe se aproximava da mesa, pegando uma calculadora.
— Vamos resolver isso — Felipe declarou, começando a digitar rapidamente. Ele olhou para o visor e depois erguendo os olhos para o cliente, disse: — Sua conta total é de R$ 1.439,00.
O cliente arregalou os olhos, a boca se abrindo em um gesto de choque. — O quê? Eu não tenho todo esse dinheiro!
Bianca, percebendo a angústia dele, inclinou-se um pouco mais perto. — Calma, vai dar tudo certo. Explique pra nós a conta, Felipe, por gentileza.
Felipe, arrogantemente, começou a detalhar a conta com um tom ríspido, quase mecânico. — Vamos lá, aqui está o que temos. Diego e Marcus custam R$ 250,00 cada, mas como você os checou, o valor dobra. Isso dá R$ 500,00 para cada um. Além disso, você pediu para eles finalizarem o ato, o que aumenta em mais R$ 100,00 para cada um.
— Por favor, não! — interrompeu o cliente, a voz embargada, com os olhos marejados.
— E a cerveja? R$ 9,50 cada, e você consumiu várias. O energético custa R$ 22,00 cada, e você tomou dois. A entrada pro cabaré foi R$ 50,00, e o aluguel do quarto, mais R$ 50,00. — Felipe fez uma pausa, consolidando os números em sua mente.
Bianca, horrorizada, olhou rapidamente para o cliente e então para Felipe, o coração acelerando da falta de humanidade dele.
O cliente, desolado, começou a balbuciar, com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Eu não tenho tudo isso... não posso pagar!
Felipe fez uma pergunta cortante, sua frieza algo irritante. — Você tem ideia de onde está? Se não tem dinheiro, não devia ter vindo.
O cliente chorava, a frustração e o medo transbordando. Bianca não hesitou e, movendo-se rapidamente, sentou-se ao lado dele, envolvendo em um abraço reconfortante.
— Está tudo bem, você não precisa se preocupar tanto. Vamos resolver isso juntos — ela murmurou, seu toque tranquilizador parecendo suavizar um pouco a pressão sobre ele. — Apenas respire fundo.
Enquanto isso, Felipe observava a cena com uma expressão de ceticismo, mas também uma leve compreensão. Ele sabia que, de alguma forma, precisaria criar um meio-termo.
Bianca respirou fundo e, com uma calma renovada, virou-se para o cliente. — Olha, como você só checou o Diego, posso diminuir R$ 250,00 da conta. E já que eles não ejacularam, posso baixar mais R$ 200,00.
O cliente, visivelmente aliviado, secou as lágrimas e começou a se tranquilizar. — Isso é um alívio, mas eu só bebi duas cervejas. Eles beberam as outras.
Felipe soltou uma risada curta. — Se você se sentou à mesa com eles, então todo o custo do que consumirem está na sua conta.
Bianca acenou com a cabeça em concordância, num gesto sério. — É verdade, não podemos fazer nada a respeito disso.
O cliente hesitou, mas sabia que não havia muito o que discutir. — Tudo bem, está justo — disse ele, estendendo a mão e entregando um cartão — pode parcelar em 10 vezes?
Felipe debochou com o rosto e balançou a cabeça afirmativamente. Bianca observava, seu olhar atencioso voltado para o cliente.
Depois de concluírem a transação, Bianca acompanhou o cliente para fora do escritório. Ao passarem pelo salão, o cliente viu Marcus distraído, em uma mesa, abraçando um cliente bem mais velho. Notou Diego e lhe ofereceu um sorriso tímido, mas foi ignorado com frieza de uma pessoa que não o reconhecesse.
Finalmente, Bianca abriu o portão e eles se depararam com a rua escura e deserta. O cliente se assustou e deu um passo para trás. — Posso ficar aqui dentro até meu Uber chegar?
Bianca, percebendo a ansiedade dele, balançou a cabeça. — Se você ficar aqui, vai precisar consumir alguma coisa. Estou tentando fazer o melhor pra você, de verdade.
O cliente, triste, assentiu, percebendo que não havia alternativa. — Ok, você tem razão.
— Boa noite, querido! — Bianca disse, forçando um sorriso, enquanto fechava o portão.
A última visão do cliente foi a de Bianca se afastando, sua silhueta desaparecendo na luz fraca do cabaré, enquanto ele se preparava para encarar a escuridão da noite.
De fora, o cliente escutava gargalhadas de vozes, reconhecendo a palavra “pobretão” entre outras. Aquele jovem foi um dos muitos iludidos pelo canto singular que emanava daquele cabaré de homens. E assim como ele, todos somos atraídos por canções diferentes, mas cuidado… nem todos os cantos prometem um final feliz.
Por R. Rômulo (Novatinho)
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