Depois de brincar um pouco com o Bruninho, meu coração se encheu de alegria ao vê-lo balbuciando suas primeiras palavras e começando a andar sozinho. O tempo realmente havia voado, e cada encontro com ele era um lembrete de como a vida podia ser mágica. Depois, sentei-me com Letícia e sua mãe para tomar um café. Conversamos sobre o futuro – Letícia planejava voltar ao trabalho no próximo ano, e isso significava que Bruninho teria que ir para uma creche. O peso financeiro era algo que eu já sabia que precisava administrar melhor, mas nada disso tirava a felicidade que eu sentia ao vê-lo crescer tão saudável e feliz.
Após me despedir deles, mandei mensagem para Lucas avisando que estava a caminho. Pouco tempo depois, parei em frente ao prédio dele e enviei outra mensagem dizendo que já tinha chegado. Ele não demorou muito para descer. Assim que entrou no carro, fechou a porta com força de propósito e lançou aquele olhar típico de impaciência.
– Porra, demorou hein? – reclamou, cruzando os braços.
– Uai, eu disse que ia visitar meu filho – respondi calmamente. – Ele é minha prioridade.
– Tá, tudo bem. Vou aceitar o atraso só porque é por causa do seu filho. Se fossem seus outros namorados, eu não iria perdoar. – Ele falou num tom de deboche, mas o ciúme evidente me fez sorrir.
– Tá com ciúmes, é? – perguntei, provocando. – E olha só, diz que tá com saudades, mas nem me dá um abraço ou um beijo? Que falta de consideração! – Completei, fazendo uma cara de tristeza teatral.
– Cala a boca, viado – ele respondeu com um sorriso involuntário. – Toca logo pra academia, que hoje não tô pra viadagem.
– Não parece – retruquei, rindo. – Me fez deixar meus dois machos maravilhosos em casa pra vir treinar com você. Agora, desembucha logo. O que você queria falar?
Ele suspirou e desviou o olhar, claramente desconfortável.
– Nada demais. Só tava com saudades de você. Queria saber como foi a micareta, essas coisas.
– Lucas, Lucas – falei, apertando os olhos em desconfiança. – Te conheço. Sei que não é só isso. Vai, diz logo o que você aprontou.
Ele hesitou por um momento, mas logo soltou:
– Ela te contou?
– Quem? A Brenda?
– É.
– Não. Me diz logo o que aconteceu.
Ele passou a mão pelo cabelo, visivelmente envergonhado, antes de admitir:
– Ontem ela tava no camarote com o namorado novo. Aí… bom, acabei falando umas coisas, e... saímos na porrada. Mas nada demais.
Eu olhei para ele, incrédulo.
– Como assim, Lucas? Você e o atual dela?
– Sim. E tô super envergonhado, mas, porra, eu tava bêbado, né?
– Cara, tu é muito moleque! Pra que diabos arrumar confusão com sua ex e o atual dela? Deixa a mina em paz, ela seguiu em frente, e você tem que fazer o mesmo!
Ele revirou os olhos, claramente desconfortável com meu sermão.
– Ah, para com isso. Aconteceu, já era.
– Não é só “já era”, Lucas – rebati. – Você precisa virar a página. Essa história de Brenda já deu o que tinha que dar.
Ele ficou em silêncio, olhando pela janela, e eu percebi que minhas palavras o haviam atingido mais do que ele gostaria de admitir. Decidi mudar o tom para aliviar a tensão.
– Olha – disse, sorrindo de leve. – Hoje você vai treinar tanto que não vai nem lembrar que ela existe. E, se não der certo, a gente para pra tomar um açaí depois.
Ele riu, finalmente relaxando.
– Tá bom, mas quem paga é você, moralista.
– Fechado – respondi, rindo junto.
Enquanto dirigia em direção à academia, percebi que, apesar de toda a bagunça que Lucas causava, ele ainda era alguém que eu queria manter por perto. Ele tinha seus problemas, mas também tinha um coração enorme – e uma maneira de me fazer rir, mesmo quando a situação parecia complicada.
Depois do treino pesado, realmente me senti renovado. Foi como se todo o álcool acumulado nesses quatro dias de festa tivesse evaporado junto com o suor. Lucas e eu paramos para tomar um açaí, e em seguida ficamos de frente ao prédio dele, conversando. Como sempre, nossos papos eram intermináveis. Ele me contou todos os detalhes da confusão com Brenda e, no fim, admitiu que estava errado. Eu dei alguns conselhos e tentativas de "sermão", mas também não exagerei – sabia que Lucas preferia descobrir as coisas no próprio tempo.
A conversa fluía de um assunto para outro, como sempre acontecia quando estávamos juntos, até que olhei para o relógio e levei um susto: já era quase 23h30. Peguei meu celular, que havia esquecido completamente, e vi várias chamadas e mensagens do Bernardo.
– Porra, nem percebi o tempo passar – falei, balançando a cabeça. – Bernardo me ligou várias vezes e eu nem atendi. Já tá quase meia-noite. Acho que é hora de ir.
Lucas bufou, cruzando os braços em falso desgosto.
– Que nada, tá cedo. Bernardo já teve você o suficiente esse fim de semana.
– Tá com ciúmes? – perguntei, provocando com um sorriso divertido.
– Claro – ele respondeu, num tom que misturava brincadeira e sinceridade. – Não gosto de te dividir com ninguém.
Ri baixo, balançando a cabeça.
– Bernardo é meu namorado, logo ele tem prioridade.
– E eu sou seu melhor amigo.
– Hahaha, são duas coisas diferentes, não?
Um silêncio repentino pairou entre nós. Ficamos nos olhando por alguns segundos que pareciam uma eternidade. Não era desconfortável, mas havia algo ali – uma espécie de tensão que nenhum de nós parecia saber como lidar. Finalmente, ele quebrou o momento.
– Enfim, vai lá pro seu namoradinho.
– Até quando, então?
– Amanhã, né? Vamos malhar de novo.
– Fechado. Então é isso. Boa noite, se cuida – falei, estendendo a mão para ele em um gesto de despedida.
Em vez de apertar minha mão, Lucas me puxou para um abraço apertado. A princípio, fui pego de surpresa, mas logo correspondi. Ele segurou o abraço por mais tempo do que o normal, e sussurrou perto no meu ouvido:
– Obrigado por ser meu amigo. Por me ouvir. Desculpa por ter errado com a Brenda... Você é foda.
Eu sorri, tocado pelas palavras dele, e dei dois tapinhas em suas costas antes de me afastar.
– Tamo junto, sempre – respondi, sem deixar de sorrir.
Lucas me acompanhou com o olhar enquanto eu ligava o carro. Antes de dar partida, joguei uma última provocação pela janela:
– Ah, e tenta não arrumar mais briga com ninguém, beleza?
Minhas confusões mentais sempre se intensificavam quando se tratava do Lucas. Ele tinha essa forma peculiar de falar – sempre com um tom de brincadeira, mas, ao mesmo tempo, carregado de algo mais. Algo que me fazia questionar. Ele me provocava, me testava, e eu não sabia ao certo como interpretar. Nunca tive uma amizade tão intensa com um amigo hétero. A relação mais próxima que já experimentei foi com o Caio, mas, com ele, a linha entre amizade e algo mais era bem definida porque a gente se pegava.
Com o Lucas, era diferente. Ele era um mistério. Como o mar: vasto, profundo, imprevisível. E eu, no meu pequeno barco, navegava sem saber para que lado ir, temendo as ondas e a profundidade, mas ainda assim incapaz de resistir ao chamado. Estar com ele era estar perdido – perdido em pensamentos, em teorias, em sensações. Mas, ao mesmo tempo, ele me fazia bem. As nossas conversas eram tão imersivas que, se fosse possível, eu viraria a madrugada ali, trocando histórias, opiniões e segredos. Com ele, o tempo simplesmente parava.
No caminho de volta para casa, meu celular vibrou. Era uma mensagem do Lucas.
"Me avisa quando chegar, ok?"
Só de ler, um sorriso involuntário se formou no meu rosto. Não era o conteúdo da mensagem em si, mas o gesto. Ele se importava, e, por mais que eu soubesse que aquilo não significava nada além da nossa amizade, era suficiente para aquecer meu peito.
Respirei fundo e liguei para o Bernardo.
– Oi, amor, desculpa. Não vi suas ligações. Tô voltando pra casa agora.
– E você tava onde? – ele perguntou, a preocupação evidente em sua voz. – Você saiu daqui às 16h. São quase meia-noite! Fiquei preocupado.
– Me desculpa mesmo – respondi, tentando tranquilizá-lo. – Passei um tempo com o Bruninho, depois fui pra academia. Quando cheguei lá, o Lucas tava treinando também. Malhamos pesado e acabamos conversando depois. Nem percebi o tempo passar.
– Bem que eu imaginei que você tava com ele – disse Bernardo, com um tom que misturava ciúme e resignação.
– Chegando aí, te conto os babados – falei, tentando aliviar o clima. – Desligo agora. Tô em casa em dez minutos.
Encerrando a ligação, fiquei pensativo. Era curioso como o Lucas tinha ciúmes do Bernardo, e Bernardo, por sua vez, tinha ciúmes do Lucas. Por mais que fosse uma situação complicada, eu não podia negar que aquilo massageava meu ego de uma forma quase cômica. Mas eu sabia que precisava ter cuidado.
Não era só o ciúme deles que me preocupava, mas o que eu sentia por Lucas. Eram sentimentos complexos, confusos, que eu não conseguia decifrar completamente. Ele me fazia bem, sim, mas... até que ponto? Não me permitia explorar isso profundamente, e por isso evitava tocar no assunto com Bernardo. Por ora, minha estratégia era simples: seguir o fluxo e manter as coisas como estavam, enquanto eu mesmo tentava entender o que se passava dentro de mim.
Quando cheguei em casa, vesti minha melhor cara de sonso. Entrei na sala e fui direto até o Bernardo, dando-lhe um beijo carinhoso, mas ele resmungou algo incompreensível, ainda emburrado. JP, por outro lado, apenas me observava, com aquele olhar curioso e uma pontinha de diversão.
– E então, como foi o resto da tarde de vocês? – perguntei, tentando soar casual, enquanto me jogava no sofá ao lado deles.
– Porra, Rafa, você devia ter avisado que tava com o seu amiguinho – Bernardo disse, cruzando os braços e me lançando aquele olhar acusador.
Suspirei, já esperando algo assim.
– Já pedi desculpas, amor. Prometo não fazer isso de novo. Perdi a hora, sabe como é... O Lucas tava com problemas. Ele encontrou a Brenda ontem, no camarote, e saiu na porrada com o atual dela. Um caos total.
– Esse menino é louco! – JP interveio, franzindo a testa. – Ele não segue em frente, não?
– Pois é, JP. Mas é por isso que demorei. Ele precisava de alguém pra ouvir, e... bom, eu tava lá pra dar apoio.
Bernardo bufou, mas não insistiu. Pelo menos, ele parecia estar aceitando a explicação. Ainda assim, não pude deixar de sentir aquele incômodo. Por mais que eu tivesse dito a verdade sobre a briga e os problemas do Lucas, havia omitido o essencial: o tempo que passei com ele, o quanto aquela conexão me fazia bem e o fato de que talvez eu estivesse começando a sentir algo que não deveria.
Continuamos conversando por mais um tempo, e o clima aos poucos foi ficando mais leve. No entanto, dentro de mim, o desconforto persistia. Eu sabia que estava quebrando uma promessa que tinha feito ao Bernardo: sermos sempre sinceros um com o outro. Mas como poderia ser completamente honesto, se nem eu mesmo entendia o que estava sentindo?
Após um tempo, decidi encerrar o assunto.
– Bom, gente, vou tomar um banho. O dia foi longo, e acho que preciso de uma boa noite de sono.
Fui para o chuveiro, sentindo a água quente lavar o peso das dúvidas e dos pensamentos. Quando voltei para o quarto, JP e Bernardo já estavam deitados. Me juntei a eles, e logo estávamos trocando beijos e abraços carinhosos, os três enroscados debaixo dos lençóis. Era reconfortante, aquela intimidade tranquila entre nós, e foi suficiente para me fazer esquecer, ao menos por algumas horas, os dilemas que me perseguiam.
Adormecemos juntos, vencidos pelo cansaço e embalados pelo calor um do outro.
No dia seguinte, fui encontrar meu pai para almoçarmos no restaurante de sempre. Cheguei e ele já estava lá, como de costume, com um sorriso no rosto. Me recebeu com um abraço caloroso, e começamos a conversar sobre coisas do dia a dia enquanto o pedido não chegava. Mas, na verdade, eu tinha dois assuntos importantes para tratar com ele antes que ele trouxesse o motivo do convite.
– Pai, preciso falar duas coisas com você – comecei, sentindo um pouco de vergonha.
– Pode falar, filhão – disse ele, com aquele sorriso que já denunciava que achava que eu queria pedir algo.
– É sobre o Bruninho. Quero colocá-lo em uma creche, mas as que eu vi são bem caras. Não sei se consigo bancar com a mesada que você me dá, considerando a pensão e os outros gastos.
– Claro, filho, isso nem é pedido – respondeu ele sem hesitar. – Fala com a Dani, minha assistente. Ela pode ajudar a procurar algumas opções pra você.
– Tudo bem, obrigado – respondi, mais aliviado. – A outra coisa é que, em fevereiro, o Bruninho faz dois anos. Eu queria organizar uma festinha pra ele. Acho que agora ele já entende mais e pode aproveitar. Ano passado foi complicado por causa do assalto...
Meu pai assentiu, sua expressão ficando mais séria por um momento ao lembrar do passado.
– Pode organizar o que quiser, filho, e manda a conta pra mim. Meu neto merece o melhor. Tem mais alguma coisa?
– Não, só isso – falei, ainda com um pouco de vergonha. – Mas o que o senhor queria falar comigo?
– Relaxa, já disse que pode contar comigo pra tudo. Agora é a minha vez.
Aquela introdução me deixou tenso.
– Fiz alguma coisa? – perguntei, tentando adivinhar o que vinha.
– Não, filho. Já falei pra relaxar – riu. – Na verdade, é uma novidade. Finalmente me divorciei da Yves. Fizemos a divisão dos bens, e comprei um apartamento novo, ali perto de onde eu morava, porque adoro aquele bairro. O apartamento é grande, tem cinco quartos, e eu queria te fazer um convite.
– Convite?
– Pensei que seria legal você morar com a gente. Comigo, sua mãe, a Sofia e o Juninho. Sei que você gosta da sua liberdade e do seu apartamento, mas seria uma oportunidade de convivermos mais. Claro que você pode continuar com o seu apê pra receber os amigos, estudar ou fazer suas... “festinhas particulares.”
O convite me pegou de surpresa, mas ao mesmo tempo, a ideia me animou.
– Pai... acho que eu iria adorar – falei com entusiasmo.
– Sério? Estava com medo de você não querer.
– Às vezes me sinto meio sozinho no apartamento, e acho que vai ser bom. Além disso, como o senhor disse, ainda fico com meu espaço pra quando precisar de privacidade.
– Que bom, filho! Então, que tal irmos conhecer o apartamento agora?
– Sério? Vamos!
Terminamos o almoço e seguimos para o novo apartamento no carro dele. Quando chegamos, fiquei impressionado. O prédio era luxuoso, e o apartamento, simplesmente incrível. Era amplo, com uma vista espetacular para o mar e o calçadão. Meu pai foi me mostrando cada detalhe, dos cômodos às varandas, e quando finalmente chegamos ao quarto que seria meu, fiquei sem palavras.
– E aí, o que acha? – perguntou ele, orgulhoso.
– É perfeito – respondi, olhando ao redor. O quarto era grande, com um banheiro privativo e uma janela enorme que deixava a luz entrar.
– Fico feliz que tenha gostado. Vamos providenciar tudo o que for preciso.
– Obrigado, pai – disse, emocionado. – Vai ser bom conviver com o senhor diariamente.
– Digo o mesmo filhão.
– O senhor bem que podia me fazer umas visitas noturnas hein?
– Para de coisa filhão, respeite seu pai.
Então me aproximei do meu pai, passei a lingua nos meus lábios, e eu disse.
– Ah pai, bora aproveitar que estamos sozinhos… naquele dia no rio foi tão bom – Falei me aproximando e alisando seu peitoral.
– Filho, melhor você parar, tu sabe que a carne do papai é fraca.
Então fiquei bem próximo do meu pai, e puxei ele para um beijo, onde ele relutou nos primeiros segundos e depois se entregou, e trocamos um beijo cheio de luxúria, tesão e emoção.